domingo, 18 de dezembro de 2022

Cartões no futebol surgiram por causa de argentino Rattín

O título mundial conquistado pelo selecionado argentino, contrariando expectativa do início da competição no Catar, reverbera sobre craques do passado daquele país, um deles Antonio Ub Rattín, ex-volante de Boca Junior, com passagem pela seleção do país nas Copas de 1962 e 66, período em que atletas e árbitros, de idiomas diferentes, não conseguiam se comunicar adequadamente.

Assim, com justificativa de ato indisciplinar de Rattín, em jogo contra a Inglaterra que sediava aquele Mundial, o árbitro alemão Rudolf Kreitlein o expulsou, o que desencadeou paralisação da partida por dez minutos, pois o volante havia se recusado deixar o gramado, reivindicando um intérprete para esclarecimento sobre os motivos que o levaram àquela situação.

Foi necessário ser escoltado por policiais para deixar o gramado, mas em rebeldia amassou a bandeira do Reino Unido. Como a FIFA decidiu suspendê-lo, ele voltou a jogar pela Argentina apenas na temporada seguinte, o que se estendeu até a participação do país nas Eliminatórias à Copa de 1970, no México, sem que a vaga fosse conquistada, após derrota para a Bolívia por 3 a 1, em La Paz. De positivo, naquele episódio, a implantação de cartões amarelos e vermelhos, para sinalizar o tipo de advertência a ser aplicado.

Nascido em maio de 1937, Rattín fez carreira de atleta apenas no Boca Juniors, entre 1956 e 1970, no velho estilo raçudo dos argentinos e preponderância no jogo aéreo. Ranzinza, trocou socos com o saudoso zagueiro brasileiro Orlando Peçanha - companheiro de equipe -, durante desentendimento em treino. Por isso ficaram dois anos sem se falar, mesmo atuando juntos.

Na época, 'encrespou' até com Pelé, em jogo contra o Santos, após recomendação para jogar apenas na bola e evitar entrada mais dura. Embora tivessem bom relacionamento, na ocasião Rattín se irritou e respondeu: “Fique tranquilo, sem bola nada, mas com bola te arrebento!’

No Boca Junior disputou 352 jogos, marcou 26 gols e conquistou quatro títulos. Incontinenti assumiu o comando técnico do time B do mesmo clube, rodou em outros, até a volta à origem em 1980, já na equipe principal, sem que se firmasse. Por isso foi vender seguros e voltou ao Boca Junior em 1995, como coordenador técnico, até que em 2001 tornou-se o primeiro atleta daquele país ao se eleger deputado federal.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Adeus a Beto Fuscão, zagueiro do passado

Seis de dezembro passado marcou a morte do então zagueiro Beto Fuscão, aos 72 anos de idade, vítima de câncer no estômago. Dizem que os avanços da medicina têm provocado incontáveis curas de tumor maligno, mas na prática ele continua traiçoeiro e destrutivo.

Imaginem se cartolas e empresários de hoje, que policiam jogadores, admitiriam o apelido Fuscão para Rigoberto Costa, catarinense de Florianópolis? Por que do apelido? Há versões que teria sido em decorrência do 'traseiro' avantajado, assim como comparação a Luiz Pereira, chamado de 'Chevrolet', sem que ambos tivessem atuado juntos.

Seja como for, quem não o viu jogar, que não se deixe enganar por narrativas que tivesse sido craque, assim como jornalistas têm por hábito acrescentar virtudes quando a pessoa morre. Beto Fuscão tinha estilo clássico para desarmar jogadas e tranquilidade para limpá-las antes do passe. Precisam contar, também, que foi um zagueiro lento e batido no enfrentamento com atacantes velozes.

Discussões sobre qualidade técnica a parte, o certo é que após início de trajetória profissional no Figueirense (SC) em 1968, que se estendeu por três anos, ainda teve passagem pelo América (SC), antes de chegada ao Grêmio em 1973, no período de predominância do Inter no futebol gaúcho. Apesar disso, ainda foi eleito para a seleção da Bola de Prata em 1976, o que pesou para que o Palmeiras o contratasse na temporada seguinte, despedindo-se do clube num empate contra o Marília em 26 de outubro de 1980. Portanto, atuou em 207 partidas e marcou dois gols.

Desde 1976 passou a integrar a Seleção Brasileira, chamado pelo saudoso treinador Oswaldo Brandão, com participação em 15 jogos, alguns deles válidos às Eliminatórias da Copa do Mundo, e outros pela Taça do Atlântico, Copa Roca, Taça Oswaldo Cruz e Torneio Bicentenário dos EUA, todos em 1976.

Em 6 de outubro de 1976 disputou a Taça Geraldo Cleofas Dias Alves, em amistoso contra o Flamengo. Na ocasião, atuou ao lado de Carlos Alberto Torres, Marinho Peres, Clodoaldo, Rivelino, Jairzinho, Paulo César Cajú e Pelé,

Nos anos 80, quando as pernas já se mostravam nitidamente cansadas, iniciou a penosa trajetória de estrada da volta no futebol, com passagens por São José (RS), Araçatuba (SP), Uberaba (MG) e 1988 no Tiradentes do Distrito Federal, ocasião em que comemorou título.

domingo, 4 de dezembro de 2022

Gil Baiano chegou até a Seleção Brasileira

Oriundo das categorias de base do Guarani, quando o lateral-direito Gil Baiano estreou na equipe principal, em 25 de outubro de 1987, na vitória sobre a Portuguesa por 2 a 0, a mídia de Campinas ficou dividida entre identificá-lo apenas pelo apelido de Baiano - como havia sido a trajetória nos juniores - ou atender apelo da diretoria do clube para acrescentar também o apelido Gil, do nome José Gildásio Pereira de Matos.

Prevaleceu o desejo dos cartolas, e em seis jogos subsequentes ele foi mantido como titular pelo saudoso treinador Pedro Rocha. A chance ocorreu porque Ricardo Rocha, que ocupava a posição, foi remanejado ao miolo de zaga, para formar dupla com Gílson Jader, o que implicou na saída da equipe do central Valdir Carioca.

Como na sequência Pedro Rocha efetivou o saudoso Giba na lateral-direita, Gil Baiano perdeu espaço no Guarani, e o Bragantino reservou-lhe chance de recomeço na carreira, para colocar em prática rápida transição ao ataque e chutes fortes à meta adversária, inclusive em cobranças de faltas. Assim, no biênio 1990/91, conquistou o inédito título do Paulistão e vice do Brasileirão, o que serviu para abrir-lhe as portas da Seleção Brasileira e registrar participação em sete jogos.

Assédio de grandes clubes foi sintomático e prevaleceu o Palmeiras na era Parmalat, por indicação de Vanderlei Luxemburgo, que havia sido treinador dele no Bragantino. Assim, juntos, sagraram-se campeões do Brasileirão de 1993, sobre o Vitória da Bahia, num time formado por Sérgio; Gil Baiano, Antonio Carlos, Cléber e Roberto Carlos; César Sampaio, Mazinho, Edílson e Zinho; Edmundo e Evair.

Depois de passagens por agremiações como Vitória e Paraná Clube, Gil Baiano jogou até no Sporting de Portugal, para na sequência entrar na estrada da volta em clubes de menor expressão, com episódio de suspensão por seis meses, em 1998, porque exame antidopagem acusou a substância proibida femproporex.

Gil Baiano encerraria a carreira em 2002, após sua terceira passagem pelo Bragantino, mas decidiu retomá-la quatro anos depois no Ceilândia (DF), aos 40 anos de idade. Agora, aos 56 anos, completados em três de novembro passado, está aposentado do futebol após atuar em comissões técnicas, com registro de experiências como auxiliar-técnico de Bragantino e Atibaia, e comando do sub-20 do Comercial de Ribeirão Preto.

domingo, 27 de novembro de 2022

Dez anos sem Fidélis, o ‘Touro Sentado’

O saudoso José Maria Fidélis dos Santos, que morreu no dia 28 de novembro de 2012, em São José dos Campos (SP), sua cidade natal, foi um lateral-direito de 1,70m de altura, se muito, e identificado como 'Touro Sentado', por aplicar carrinhos com intensidade, embora haja versão que o apelido teria sido referência a Tatanka Iyotake, índio norte-americano chefe da tribo dos sioux hunkpapa, que viveu entre os anos 1834 e 1890.

Fidélis morreu aos 68 anos de idade, após ter sido vitimado por um câncer no estômago durante sete meses. Vaidoso, esticava o cabelo com brilhantina, um cosmético em forma de pomada de aspecto gorduroso, usado em larga escala até nos anos 70. E vejam que a brilhantina inspirou até o saudoso músico Raul Seixas em letra de composição intitulada ‘Teddy Boy, Rock e Brilhantina’. Eis a citação da primeira estrofe: 'Eu quero avacalhar com toda turma de esquina, com meu cabelo cheio de brilhantina'.

O então lateral, que atuou nos anos 60 e 70, tinha limitações técnicas ao passar do meio de campo, e valia-se basicamente da força física para ser notado como marcador implacável, para anular antigos ponteiros. Por isso foi levado pelo saudoso treinador Vicente Feola à Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. E atuou na derrota para Portugal por 3 a 1, resultado que decretou a eliminação daquela competição.

Nascido em 13 de março de 1944, Fidélis chegou ao Bangu em 1963, e estranhou a generosidade do saudoso bicheiro Castor de Andrade, patrono do clube, que pagava bichos aos atletas até em treinos coletivos. Três anos depois, comemorou o título carioca na goleada por 3 a 0 sobre o Flamengo, no Estádio Maracanã, em finalíssima encerrada aos 25 minutos do segundo tempo, devido à confusão generalizada entre jogadores, tendo como pivô o flamenguista Almir Pernambuquinho, já falecido.

À época, o Bangu mandava jogos até contra grandes clubes do Rio de Janeiro no Estádio Proletário Guilherme da Silva, chamado de Moça Bonita, cuja capacidade foi reduzida de 17 mil pessoas - em jogo contra o Fluminense de 1949 - para 9,5 mil pessoas, por medida de segurança.

Em fevereiro de 1969, Fidélis trocou o Bangu pelo Vasco, e foi recompensado com a conquista do título brasileiro de 1974, após vitória por 2 a 1 sobre o Cruzeiro, no Estádio do Maracanã, com 112.993 torcedores presentes.


Carlito Tévez, de tormento a zagueiros para treinador

Desde julho passado, o argentino Carlos Alberto Martinez Tévez, 38 anos de idade, que já havia abandonado a carreira de atleta, migrou à função de treinador, no comando do Rosário Central. E quem sugere que um aprendiz como comandante fosse adotar estilo conservador, se enganou. Com a mesma irreverência que enfrentava zagueiros, não titubeou em fazer três substituições ainda no primeiro tempo, em jogo de outubro passado contra o Unión, quando o seu time perdia por 1 a 0, mas reagiu e empatou por 1 a 1.

Hoje, barbudo, a fisionomia de Carlito Tévez contrasta com os tempos de atletas, quando adotava trancinhas no cabelo. Se vai vingar como treinador, só o tempo dirá. Como atleta, na posição de meia-atacante, cravou seu nome na história do futebol mundial brilhando por onde passou. E tudo começou no Boca Júnior em 2001, equipe de seu coração, com saída quatro anos depois para incorporar o milionário time montado pelo Corinthians, após ter sido eleito o melhor jogador sul-americano e conquistado medalha de ouro olímpica pelo selecionado argentino.

No Timão, o retorno técnico foi sintomático: foram 25 gols em 40 jogos no Brasileirão. Outros 13 em 20 atuações pelo Paulistão. Quatro gols no dobro de jogos da Libertadores. E outros quatro gols em seis jogos pela Copa do Brasil.

Claro que aquele histórico sensibilizaria o mercado europeu, e assim, já na Inglaterra, perturbou a 'becaiada' adversária, principalmente pelo Manchester City em 2010, onde marcou 22 gols em 30 partidas. Ele também deixou a sua marca nas passagens por West Ham e Manchester United, do mesmo país.

Na Juventus da Itália, transformou-se num dos principais artilheiros nas temporadas 2013/14, com 19 gols. Depois retornou à Argentina em 2015, no mesmo Boca Júnior, intercalando a última saída de seu país ao ser emprestado ao Shanghai Shenhua, da China, com a mesma bravura ofensiva e fome de gols, que só rarearam na temporada de 2021, no próprio clube argentino, quando o deixou para dar uma pausa na carreira, ocasião em já cogitava a possibilidade de se aposentar, embora tivesse proposta para jogar nos Estados Unidos.

Tévez foi jogador de três Copa pelo selecionado argentino, a partir de 2006. No geral, marcou 20 gols em 76 atuações com a camisa principal daquele país, mas começou a ser requisitado a partir do sub15. 


sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Vasco sobe, mas tem a pecha de maior rebaixado

Torcedor vascaíno esgoelou de emoção ao final da partida contra o Ituano, quando finalmente acabou o pesadelo como integrante do Campeonato Brasileiro da Série B, e acesso garantido ao Brasileirão de 2023, com a vitória por 1 a 0 sobre o Ituano, na noite de domingo.

Dos grandes clubes do futebol brasileiro, o Vasco foi aquele com maior registro de rebaixamentos à Série B, em quatro ocasiões: 2008, 2013, 2015 e 2020. Em seguida aparece o rival Botafogo (RJ), que caiu três vezes: 2002, 2014 e 2020. Logo, passou a angústia do vascaíno, embora as imagens da televisão flagraram o clima de tensão em Itu.

Exatamente para recapitular esse vaivém de divisão do clube carioca, a coluna troca a habitual abordagem de um personagem pelo fato. No primeiro mandato do ex-centroavante Roberto Dinamite na presidência do Vasco, em 2008, a derrota por 2 a 0 para o Vitória (BA) decretou o primeiro dos quatro rebaixamentos.

Foi quando um gaiato ameaçou se jogar da marquise do Estádio São Januário, criando clima de apreensão. Para evitar tragédia, torcedores estenderam um 'bandeirão', com a finalidade de amortecer eventual queda do desequilibrado, enquanto em outra linha de atuação bombeiros conseguiram imobilizá-lo.

Assim como nos tempos de jogador, Dinamite deu a volta por cima na administração, ao revigorar o elenco na temporada seguinte, que resultou em retorno ao Brasileirão e conquista da Copa do Brasil. Aquela campanha foi suficiente para desmobilizar a tímida oposição do clube capitaneada pelo saudoso presidente Eurico Miranda.

Em 2013, o Vasco terminou participação na Série A como 18º colocado, com 44 pontos e aproveitamento de 39% daquela disputa. Na ocasião, a equipe dirigida pelo treinador Adílson Batista contava com jogadores como Marlone, Guiñazú e o lateral-direito Facner, hoje no Corinthians.

O acesso ocorreu na temporada seguinte, mas o clube entrou num processo de bate e volta, pois caiu novamente em 2015. E por capricho do futebol, o treinador era o mesmo Jorginho que agora conseguiu o acesso, como Nenê também participava, e até sofreu pênalti no empate sem gols com o Coritiba, debaixo d'água, não marcado pelo árbitro Anderson Daronco.

Por fim, a última queda em 2020 contou com o treinador Vanderlei Luxemburgo no comando, e paradoxalmente o centroavante era Cano - hoje artilheiro do Brasileirão pelo Fluminense.


Diego Ribas, 20 anos de sucesso no futebol

 Perfil da coluna é retomar históricos de craques do passado, na maioria das vezes no ostracismo. Todavia, cabe abordagem sobre um que acabou de sair de cena: o meia Diego Ribas, que no encerramento da temporada do Flamengo, neste 20 de novembro, contra o Avaí, anunciou que as botinas estão penduradas. É o fim de uma trajetória de quem aos 16 anos de idade integrava o elenco profissional do Santos, que teve repassagens por renomados clubes europeus, integrou a Seleção Brasileira a partir de 2003, e outrora foi apontado pela Fifa como um dos 23 melhores jogadores do planeta.

Com este cartão de visita, difícil compreender como admitiu longo período na reserva do Flamengo, com raras aparições durante partidas. Há casos de atletas tão enraizados ao meio que a hipótese de separação provoca trauma. No caso do paulista Diego Ribas, 37 anos de idade, pressupõe-se que teria gás para alongar a permanência enquanto atleta em clube de menor exigência, mas a decisão foi tomada.

No Santos do atacante Robinho de 2002, Diego já era referência com dez gols, assistências, título do Campeonato Brasileiro e integrante da Seleção Brasileira a partir de 2003. Assim, o Santos conseguiu mantê-lo por dois anos, quando participou de duas Libertadores seguidas. Aí, com cobiça do mercado europeu, transferiu-se para o Porto, de Portugal.

A trajetória internacional se prolongou no Werder Bremen da Alemanha, com rasgados elogios do ex-ídolo Franz Beckenbauer. Se na Juventus da Itália não conseguiu repetir a regularidade, obteve êxito nas duas passagens pelo Wolfsburg (ALE), empréstimo ao Atlético de Madrid (ESP), Fenerbahçe da Turquia, e por fim o Flamengo, a partir de 2016.

Em 2020, com Rogério Ceni como treinador, foi recuado à função de volante, e teve adaptação aceitável. Agora, ao sair de cena, máculas no início da carreira são reproduzidas, como publicação da Placar, de abril passado, que recapitulou 2004, ano que ficou marcado por polêmicas e desafetos, e por isso chamado de 'metidinho'.

O texto lembra que pisou no escudo do São Paulo durante comemoração de um gol em 2002, no Estádio do Morumbi, ocasião em que também foi acusado de racismo por jogador do Corinthians, na decisão do Campeonato Brasileiro daquela temporada. “Só porque sou branquinho, classe média e meu cabelo é liso alguns ficam com o pé atrás”, falou.

domingo, 30 de outubro de 2022

Paulo Rink, brilho no futebol e frustração na política

São incontáveis as personalidades do mundo do futebol que migram para a política, dentre elas o ex-atacante Paulo Rink, com ápice na carreira pelo Athletico Paranaense e futebol alemão. Quando largou a bola, veio a cobiça para se eleger vereador em Curitiba (PR), em 2012, pelo PPS (Partido Popular Socialista). Eleito com 5.625 votos, seu projeto que isentaria clubes profissionais da cidade de pagamento do IPTU foi rejeitado, e o mandato foi cassado pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Paraná por infidelidade partidária, quando se filiou ao PR (Partido Republicano).

Na candidatura do pleito de 2016 ao legislativo municipal, conseguiu a reeleição, mas sonhou com cadeira de deputado federal dois anos depois, e obteve 19.307 votos, insuficientes para se eleger. Assim, em outra tentativa ao parlamento, em dois outubro passado, pelo Partido Solidariedade, a constatação de que a sigla não elegeu um deputado sequer no Estado, e que até o presidente do partido, Paulinho da Força, não se reelegeu por São Paulo, após quatro legislaturas.

Em contraposição, Paulo Rink teve trajetória histórica no futebol. De goleiro de futsal, na pré-adolescência, foi transformado em talentoso atacante. Mesmo aprovado na base do Atlhletico Paranaense, em meados da década de 90, acabou emprestado ao Atlético Mineiro e Chapecoense, para brilhar no clube de origem a partir de 1995, ao formar dupla de ataque com Oséas, revivendo a ‘dobradinha’ Assis/Washington - ambos falecidos - da década de 80, no próprio clube.

Paulo Rink foi um canhoto que driblava em velocidade e chutava forte ao se aproximar da área adversária. A boa pontaria e facilidade para enfrentar goleiros o transformaram num dos principais artilheiros do Brasil da época, fato que despertou cobiça do Bayer Leverkusen, que o levou dois anos depois.

Devido à descendência de avós paternos alemães, bastou um ano para a naturalização, convocação ao selecionado do país, e registro de 23 jogos. Assim, afora o hiato de 1999, quando regressou ao Brasil para jogar no Santos, na sequência continuou no exterior em outros clubes alemães de menor expressão, Chipre, Coréia do Sul, até o retorno ao Atlético Paranaense em 2006, com propósito de jogar mais um ano e, incontinenti, iniciar trajetória como dirigente do clube e posteriormente na política.


terça-feira, 25 de outubro de 2022

Antonio Carlos Zago, destaque como atleta e treinador

Como o espaço é destinado ao retrato de ídolos do passado, cabe lembrar do talentoso zagueiro Antonio Carlos Zago, 53 anos de idade, paulista de Presidente Prudente, que na função de treinador também obteve sucesso. Todavia, há três anos está fora do noticiário nacional, quando tomou a decisão de apostar na carreira internacional. A experiência no Kashima Antlers (JAP) durou um ano, a partir de janeiro de 2020. Incontinenti, assumiu o Bolívar, da Bolívia, em contrato assinado por duas temporadas.

A última passagem marcante dele no Brasil foi no Red Bull Brasil/Bragantino, quando sagrou-se campeão da Série B do Campeonato Brasileiro em 2019. A trajetória nesta função começou dez anos antes, no São Caetano, intercalada a clubes renomados e de menor expressão: Palmeiras, Grêmio Prudente, Mogi Mirim, Vila Nova (GO), Audax (SP), Juventude, Inter (RS) e Fortaleza.

O aceitável trabalho no Juventude em 2015 resultou no vice-campeonato gaúcho e acesso à Série B em 2016, culminando com acerto no Internacional, na temporada seguinte. A carreira foi recauchutada na função de auxiliar-técnico de clubes europeus como Shakhtar Donetsk da Ucrânia e Roma, ocasião em que obteve três licenças da UEFA como treinador. A intenção foi atualizar-se em conceitos táticos, aliados a cursos credenciados pela entidade. Também acumulou experiência como diretor-técnico do Corinthians, em 2008.

Curiosamente, como atleta do Ubiratan E.C., de Dourados (MS), primeiro clube, aos 17 anos de idade, foi centroavante e artilheiro. Aí, ao se submeter a testes no São Paulo em 1988, julgaram-no que teria carreira mais longa como zagueiro, com 1,84m de altura, passagens em grandes clubes e até na Seleção Brasileira de forma intercalada, de 1991 a 2001, participando de 37 partidas e marcando três gols.

A partir de 1991, no São Paulo, conquistou títulos do Paulistão, Brasileiro e Libertadores. A visibilidade internacional resultou em transferência ao Albacete, da Espanha, mas a chegada da multinacional Parlamat ao Palmeiras implicou na volta dele ao Brasil e novas conquistas. Em 1995, foi jogar no Kashiwa Reysol do Japão, mas a vida dele foi um vaivém, pois o Corinthians o contratou em 1997 para, incontinenti, se transferir a Roma e Beşiktaş da Turquia, até o retorno para atuar no Santos e rápido período pelo Juventude.

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Mané Garrincha, história dos dribles aos pileques

Fosse vivo, Mané Garrincha completaria 89 anos de idade neste dia 28 de outubro. Como ídolos caem no esquecimento, doze anos depois reescrevo um pouco da história dele, seguramente um dos dez melhores jogadores do planeta de todos os tempos, embora alguns exageram com citação de que teria superado Pelé.

Por ironia do destino, Mané chegou ao fim da vida de pileque em pileque até a morte em 20 de janeiro de 1983, um exemplo descartável a boleiros quando do encerramento da carreira, embora ele tenha sido um beberrão quando jogava. Na farra, contava piadas, sorria à toa e torrava o dinheiro sem dó. Após a 'saideira', socava a mesa e alardeava que em sua companhia ninguém pagava conta de bar.
Mané não se apegava a bens materiais. Sustentava pais, irmãos, parentes e mulheres, jamais dimensionando que o ídolo é mirado como exemplo. No auge da fama, abandonava os treinos do Botafogo (RJ) para caçar passarinhos e tomar cachaça com amigos de infância no distrito de Pau Grande, município de Magé, interior do Rio de Janeiro. Foi lá que nasceu e foi registrado como Manoel Francisco dos Santos.

Saudoso jornalista, escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues dizia que ele era a única sanidade mental do País”. Por quê? “Ele não precisava pensar”, justificava. Mané, com as pernas tortas - a esquerda cinco centímetros mais curta que a direita - infernizava marcadores ao aplicar dribles desconcertantes. E os ironizavam ao chamá-los de ‘João’.

Ele ‘explodiu’ na Copa do Mundo na Suécia, em 1958. Chegou à competição como reserva do flamenguista Joel, e entrou na equipe brasileira só na terceira partida, contra a extinta União Soviética. Aí, ‘arrebentou’ com o jogo. Posteriormente teve participação decisiva na conquista daquele título mundial e, folclore ou não, em meio às comemorações, dizem que se aproximou do capitão Bellini e murmurou: “Eta torneinho curto e sem graça. Não tem nem segundo turno”.

Sem consciência dos malefícios de jogar contundido, as lesões em seu joelho foram se agravando e a queda de rendimento foi sintomática. Depois, quando as pernas já não obedeciam ao cérebro, teimava entrar em campo e passava vergonha. Era anulado com facilidade pelos adversários.
Corinthians e Flamengo acreditaram que poderia repetir em campo algumas das incontáveis boas jogadas, porém sem sucesso.

PALHINHA, CAMPEÃO PELO SÃO PAULO

 PALHINHA, CAMPEÃO PELO SÃO PAULO

eder jofre

 eder jofre

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Gomes, zagueiro bi do Brasileirão em clubes médios

O nove de setembro passado marcou o 66º aniversário do ex-zagueiro Gomes, capixaba de Vitória (ES) duas vezes campeão brasileiro, e que colocava em prática um futebol de marcação firme, soberano no jogo aéreo e simplificação nos passes. Da carreira estendida até 1989 no Goiás, conquistou três títulos estaduais naquele clube, visto que um ano antes havia sido emprestado ao Bragantino.

Quando iniciou a carreira no Saad E.C., no biênio 1975/76, à época com sede em São Caetano do Sul (SP), foi uma tortura ser identificado apenas pelo apelido de Nega. E assim continuou com a chegada ao Guarani em 1977, até que pediu à mídia local pra ser chamado apenas pelo sobrenome de registro, como Edson Bonifácio Gomes. Pior é que à princípio houve relutância de alguns, para posterior compreensão.

AMARAL

No consistente miolo de zaga bugrino formado por Amaral e Edson, natural que Gomes fosse esquentar o banco de reservas até o ano seguinte, só assumindo a titularidade com a transferência de Amaral ao Corinthians. Aí começava a ganhar confiança de torcedores e a recompensa de ter atuado na única equipe do interior do Brasil a conquistar o título do Brasileirão, em 1978.

Após três anos absolutos no Guarani, transferiu-se ao Corinthians, sem que conseguisse espaço no time titular, e por isso foi emprestado ao Criciúma (SC). Mesmo no retorno, na temporada seguinte, demorou um pouco para que ganhasse vaga no time campeão paulista de 1982, formado por Leão; Zé Maria, Gomes, Wágner Basílio e Wladimir; Paulinho, Biro-Biro e Zenon; Eduardo Amorim, Casagrande e Sócrates.

CORITIBA

Após retrospecto de 71 jogos pelo Corinthians, e apenas um gol diante da Portuguesa, o destino reservou-lhe a postura de cigano da bola, com cada temporada em um clube, passando por Santa Cruz, Coritiba, Sport Recife e outra vez Coritiba já em 1985, quando atuou no time que conquistou o título brasileiro em memorável final contra o Bangu (RJ), ao lado de jogadores como o goleiro Rafael, volante Almir, lateral-esquerdo Dida e atacante Lela, entre outros.

Aposentado, voltou ao Guarani em 2006 como auxiliar-técnico, porém com curta duração, quando repassou a experiência do melhor time de todos os tempos do clube, formado por Neneca; Mauro, Gomes, Edson e Miranda; Zé Carlos, Renato e Zenon; Capitão, Careca e Bozó. Ele também trabalhou no Bragantino.

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Dinho, volante que conquistou o tri da Libertadores

Ex-volante Dinho, dos tempos de São Paulo, Santos e Grêmio nos anos 90 e até a virada do século, foi um botinudo assumido, tanto que no futebol gaúcho foi apelidado de 'cangaceiro dos pampas', por causa de suas chegadas duras, por vezes violentas em adversários. Boleiros que ousassem fazer 'gracinhas' em cima dele, recebiam botinadas. “Se o 'cara' fosse em direção ao gol, tudo bem, mas pedalar por pedalar na minha frente levava machadada”, confessou.

A fama de truculento ficou caracteriza na passagem pelo Grêmio, por influência do treinador Luiz Felipe Scolari - o Felipão -, quando foi fixado como primeiro volante, com atribuição de cobrir defensores e se transformar em 'cão de guarda', estilo que contrasta com os tempos de São Paulo, quando qualificava a saída de bola, chegava ao ataque com chute forte de fora da área e participava de cobranças faltas.

Com essa mesclagem de estilo, teve a carreira premiada com conquistas de títulos significativos. No São Paulo, na era do saudoso treinador Telê Santana, foi bicampeão quer da Libertadores, quer do Mundial de Clubes, no biênio 1992/93, sendo que no último ano de clube ainda foi relacionado à Seleção Brasileira e jogou uma vez. Das 113 partidas pelo Tricolor, marcou 12 gols.

No Grêmio, a partir de 1994, os títulos foram pela Copa do Brasil, Libertadores da América, Recopa Sul-Americana e Campeonato Brasileiro. Apesar do currículo, foi estranha a forma com que foi dispensado do clube em 1998, através de telefonema, com justificativa de peso da idade e proposta de rejuvenescer o elenco. Aí, ele foi para o América Mineiro e a trajetória como atleta foi encerrada no Novo Hamburgo, no interior gaúcho, em 2002.

Entre São Paulo e Grêmio, ele teve passagem efêmera e discretíssima pelo Santos. A carreira de atleta foi iniciada em 1985 no Confiança de Aracaju (SE), e de lá seguiu para o Sport (PE), até que em 1990 foi jogar no futebol espanhol, no Deportivo La Coruña. Anos depois do último estágio como atleta no Novo Hamburgo, iniciou trajetória como treinador no Luverdense (MT) e ainda trabalhou nas categorias de base do Grêmio. Foi quando fixou residência em Porto Alegre e chegou a postular ingresso na carreira política, propagando o nome de registro de Edi Wilson José dos Santos, sergipano de Neópolis, nascido em 15 de outubro de 1966.

domingo, 4 de setembro de 2022

Dois anos sem o artilheiro Bira Burro

O próximo dia 14 de setembro vai marcar o segundo ano da morte de Ubiratã Silva do Espirito Santo, o Bira Burro, aos 65 anos de idade, em Belém (PA), vítima de câncer. Ele marcou época como centroavante de Inter (RS) e Remo (PA) e não se incomodava com o apelido pejorativo, natural no período em que futebol e folclore se misturavam sem preconceitos.

Por que o apelido? Duas versões são contadas. Nos tempos em que emissoras de rádio presenteavam com motorádio - aparelho instalado em automóvel - o atleta que se destacava em partida, Bira teria produzido essa pérola ao ser distinguido: “A moto vou dar pro meu pai, e o rádio pra minha mãe”. Todavia, jurou à mídia gaúcha que o apelido foi decorrente da rejeição à proposta para jogar no Flamengo de Zico e Júnior, para que a escolha recaísse sobre o Inter (RS) de Falcão e Mário Sérgio. “Disse isso para uma rádio do Rio de Janeiro e os caras começaram a me chamar de Bira Burro”.

Como a preocupação dele era manter o histórico de artilheiro, jamais se opôs ao apelido pejorativo. A compleição física avantajada e estilo trombador preocupavam zagueiros. Há quem o comparasse ao também desengonçado Dario naquela final da década de 70. Ainda no Remo, em 1978, na goleada por 5 a 1 sobre o Guarani, em Belém (PA), ele foi autor de todos os gols, e paradoxalmente aquele jogo passou a marcar sequência ininterrupta de vitórias do time bugrino, que culminou com a conquista do título do Brasileirão.

Natural de Macapá (AP), Bira iniciou trajetória em equipe da cidade. Já em 1976 estava no Paysandu (PA), mas o reconhecimento nacional deu-se no rival Remo, no bicampeonato paraense de 1978, temporada que marcou oito gols em um só jogo, na vitória de 10 a 0 sobre o Liberato de Castro, ocasião em que terminou a competição na artilharia com 32 gols.

No Inter, ano seguinte, participou da equipe que conquistou o título brasileiro de forma invicta, vice-campeão da Taça Libertadores de 1980 e título gaúcho de 1981, quando sonhava ser lembrado para a Seleção Brasileira, mas a cogitação foi desconsiderada após lesões no joelho. Assim, transferiu-se para o Chivas (Rayadasdel) Guadalajara do México, depois Galo mineiro, Juventus (SP) e outros clubes de menor expressão. Em 1989 iniciou a carreira de treinador no Vila Nova de Castanhal (PA), sem contudo prosperar na função.

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Bismarck, meia que ganhou lugar de Neto na Seleção

Quando o personagem em questão é o meia-atacante Bismarck, campeão brasileiro pelo Vasco em 1989 e passagem pelo futebol japonês, logo o foco é como o ex-treinador Sebastião Lazaroni, que comandou a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1990, na Itália, o convocou àquela competição relegando o meia Neto, vinculado ao Corinthians, que atravessava à época a melhor fase da carreira?

A justificativa da preferência por Bismarck foi ter sido apontado como um dos melhores jogadores sul-americanos, mas até hoje o ex-meia Neto discorda. Não perdoou o então treinador do selecionado e se irritou com o deboche de que ele era 'balão japonês'. “Ele (referência a Lazaroni) perdeu aquela Copa, e se eu viver 200 anos ele vai ter que responder por que não me levou”.

Ao resgatar esse dado histórico, cabe singularizar a trajetória de Bismarck Barreto Faria, iniciada nas categorias de base do Vasco e júbilo pela conquista do título brasileiro de 1989, na vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo, no Estádio Morumbi, gol de Sorato, com esse time comandado pelo treinador Nelsinho Rosa: Acácio; Luís Carlos Winck, Marco Aurélio, Quiñónez e Mazinho; Zé do Carmo, Boiadeiro e Bismarck; Bebeto, Sorato e William.

Fluminense de São Gonçalo (RJ), que no próximo 17 de setembro vai completar 53 anos de idade, Bismarck faz questão de citar que na base do Vasco contou com treinadores que nada tinham a ver com a escola convencional de hoje. Lembrou que 'mestres' do passado insistiam em fundamentos, para que o atleta pudesse chegar ao profissional bem alicerçado, como foi o caso dele aos 18 anos de idade.

Ídolo do Vasco pelo estilo técnico e capacidade de finalização, ele marcou 109 gols em 301 partidas pelo clube. No total, atuou 700 vezes e tem histórico de 214 gols, considerando-se passagem no futebol japonês pelo Verdy Kawasaki, Kashima Antlers e Vissel, clube que encerrou a carreira em 2005, entremeada com passagens por Fluminense e Goiás.

A trajetória como profissional do Vasco se estendeu de 1988 a 1993. Aí, pretendido por três clubes, a escolha pelo futebol japonês, no Verdy Kawasaki, foi justificada por orientação divina, visto que é Atleta de Cristo. Na ocasião, ele afirmou ter sido sondado por um clube paulista (não revelado) e Celta de Vigo da Espanha. No regresso ao Brasil, passou a exercer a função de empresário de futebol.

Aranha

 Aranha

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Marcelo, zagueiraço pouco lembrado por desportistas

Atleta com relevante carreira no Corinthians raramente cai no esquecimento após a aposentadoria, mas como toda regra tem exceção, pode-se dizer que o zagueiro Marcelo Djian, campeão paulista de 1988 e brasileiro de 90 foi um deles. Paulistano, que em novembro próximo vai completar 56 anos de idade, ele tem histórico de 14 convocações à Seleção Brasileira, ocasião em que por duas vezes esteve entre os titulares.

Quando jogava, a identificação dele se resumia ao prenome Marcelo, por motivo lógico: o sobrenome Kiremitdjian, de ascendência armênica, provocaria dificuldade de pronúncia para radialistas e torcedores. Formado na base do Corinthians, revelou o tratamento desprezível de treinadores do passado em relação a atletas. “Jair Pereira, quando passou pelo clube, se dirigia a mim dizendo que eu era o menos ruim dos zagueiros com os quais ele trabalhava no elenco”.

Marcelo foi o típico zagueiro raçudo, com firmeza na marcação, para, na sequência, fazer o simples: passe curto a companheiro mais próximo, E com aquele jeito rústico comemorou aqueles citados título nos cinco primeiros anos de Corinthians, a partir de 1987, quando formou dupla de zaga, alternadamente, com Guinei e Henrique.

Aí se transferiu ao Lyon, da França, em 1993, como segundo brasileiro contratado por aquele clube até então. Para dominar rapidamente o idioma, participou imediatamente de curso, e assim se familiarizou com o país, o que permitiu relacionamento para abrir portas futuras como representante do clube na volta ao Brasil, ocorrida em 1998, no Cruzeiro, onde conquistou o título mineiro, vice do Brasileiro e recebimento da segunda 'Bola de Prata' como melhor zagueiro-central da competição. Em 2000, foi campeão da Recopa Sul-Americana, e a Copa do Brasil.

Na sequência, passou pelo rival Atlético Mineiro, onde encerrou a carreira em 2002, para se tornar representante do Lyon no Brasil, até que em 2017 retornou ao Cruzeiro como diretor de futebol remunerado, com vínculo de três anos, sem que o fato fosse devidamente repercutido na mídia paulista. No desligamento, durante crise instalada no futebol do clube, entrou com ação trabalhista referente à cobranças de multas previstas na rescisão do contrato e na CLT. Como a sentença foi-lhe favorável em primeira instância do Judiciário, coube ao clube recorrer.

domingo, 31 de julho de 2022

Dez anos do título do Corinthians na Libertadores

 É praxe, aqui, reprise de histórias de personagens marcantes no futebol, após o décimo ano de morte. Por que não rememorar os dez anos da conquista da Libertadores pelo Corinthians? Sim, o título sobre o Boca Junior, naquele quatro de julho de 2012, serviu para calar rivais que o ironizavam pelos longos anos na fila, e consideravam irrelevante o título mundial de 2000, disputado no Brasil, sem que tivesse sido o melhor da América do Sul, anteriormente.

E que volta por cima do Corinthians naquele título da Libertadores de 2012! É que no ano anterior havia dado vexame na competição, eliminado na primeira fase diante do então desconhecido Tolima, da Colômbia, com reflexo de vândalos - travestidos de torcedores - invadirem o centro de treinamento do clube, para depredarem veículos dos jogadores e do treinador Tite.

Todavia, dirigentes deram respaldo ao elenco, e a recompensa foi sintomática com aquela histórica vitória por 2 a 0 sobre o temido Boca Junior, no Estádio Pacaembu, gols marcados pelo atacante Emerson Sheik, numa competição marcada pela invencibilidade do clube em 14 jogos, com oito vitórias e seis empates.

Daquela defesa que sofreu apenas quatro gols, muitos custam a entender como o então regularíssimo quarto-zagueiro Leandro Castán perdeu o 'time' para encerramento da carreira. Neste ano, arriscou continuidade no Guarani, após passagem contestada no Vasco, e pressão de torcedores bugrinos o fez repensar o momento da aposentadoria. Já o zagueiro Paulo André manteve regularidade após transferência ao Athletico Paranaense.

Foi a competição que serviu para sedimentar a carreira do goleiro Cássio e as suas defesas milagrosas. Ele, o lateral-esquerdo Fábio Santos e volante Paulinho são remanescentes daquela campanha, enquanto o lateral-direito Alessandro exerce a função de coordenador de futebol do clube, assim como Emerson Sheik já foi funcionário, após a aposentadoria.

Igualmente pararam de jogar o zagueiro Chicão, meias Danilo e Douglas e atacante Liédson. Ainda estão na ativa o volante Ralf, vinculado ao Vila Nova, atacante Romarinho - 31 anos de idade - e integrado ao Al-Ittihad FC da Arábia Saudita, enquanto o meia-atacante Jorge Henrique desafia ao tempo e está atuando no North de Montes Claros, interior de Minas Gerais, aos 40 anos de idade completados em abril passado.

domingo, 24 de julho de 2022

Adeus ao ex-quarto-zagueiro Ademir Gonçalves

 De corações dilacerados ficaram o ex-vereador barbarense Gustavo Bagnoli Gonçalves e seu irmão Bruno Gonçalves com a perda dos pais de um dia para o outro. Durante o velório do ex-quarto-zagueiro Ademir Gonçalves, neste 22 de julho, a esposa dele, Elizabeth Bagnoli Gonçalves, passou mal, foi encaminhada a hospital de Santa Bárbara d'Oeste, e morreu vítima de infarto.

A morte de Ademir Gonçalves, com passagem pelo Corinthians na década de 70, aos 75 anos de idade, nos remete a irreverência do saudoso presidente do clube Vicente Matheus, que impiedosamente o dispensou em 1978, de forma franca e direta, justificando que havia contratado o uruguaio Taborda. “Você não vai ficar aqui. Ele vai ocupar o seu lugar”, disse o dirigente.

Em 1972, Ademir Gonçalves chegou ao Corinthians em tempos nebulosos, pela falta de títulos, e espaço encurtado entre os titulares, porque lá estiveram os zagueiros Brito e Baldochi. A rigor, ele chegou a ficar como terceiro reserva na passagem do saudoso comandante Yustrich pelo clube. Isso facilitou a inclusão em negociação por empréstimo com o Guarani, numa troca com compensação financeira feita pelo Corinthians, para contar com o saudoso ponta-de-lança Washington, em 1974.

Na temporada seguinte do Corinthians, com a chegada do treinador Sylvio Pirilo, foi pedida a volta de Ademir Gonçalves, que também sabia chegar junto, como se diz na gíria do futebol, mas persistiram oscilações dele na equipe principal, principalmente com a chegada de Zé Eduardo para a posição.

Quis o destino que na terceira e decisiva partida do Corinthians contra a Ponte Preta, na finalíssima do Paulistão de 1977, Ademir Gonçalves saísse na foto do time que sagrou-se campeão, com quebra de jejum de quase 23 anos. E isso ocorreu devido à suspensão de Zé Eduardo, ocasião em que participou do lance que determinou a expulsão do centroavante Rui Rei, da Ponte Preta, aos 16 minutos de partida. “O Rui tentou levar a bola com a mão, numa disputa comigo, e o Dulcídio (Vanderlei Boschilia), árbitro do jogo, marcou falta. Irritado, o Rui falou um palavrão e foi expulso”.

Foram em clubes de menor expressão as últimas passagens dele, como Pinheiros - atual Paraná Clube -, São José e volta ao União Barbarense onde ficou até 1984, clube de início de carreira 20 anos antes. Ele atuou como comentarista esportivo em emissora local.

domingo, 17 de julho de 2022

Dez anos sem o goleiro Orlando Gato Preto

 Este 19 de julho marca o décimo ano da morte do goleiro Orlando Gato Preto’. Ele ficou quatro meses internado na capital paulista, vítima de um AVC (acidente vascular cerebral), quando faltavam seis dias para completar 67 anos de idade. Ele foi rotulado de pegar bolas defensáveis, mas de vez em quando algumas impossíveis, no período em que ficou na Portuguesa de Desporto de 1963 a 1974, sendo que no quadriênio, a partir 1964, participou do revezamento na meta com o também saudoso Félix, mas em excursão pelos Estados Unidos ambos atuaram juntos na goleada por 12 a 1 sobre o Massachusetts, quando Félix foi jogar de centroavante a partir do nono gol e marcou o décimo.

Na época, treinadores tinham hábito de intercalar goleiros a cada partida, quando havia semelhança do nível técnico entre ambos. Assim, o carioca Orlando Alves Ferreira só foi fixado como titular com a transferência de Félix ao Fluminense, que ali chegou à Seleção Brasileira e foi tricampeonato mundial na Copa de 1970.

Orlando atuou quando eram raros goleiros negros. Exemplos marcantes se resumiram a Barbosa, Veludo, Barbosinha, Ubirajara Alcântara, Mão de Onça. Dimas Monteiro, Tobias e Jairo. Ubirajara, de Flamengo e Botafogo (RJ), foi eleito pelo júri do programa de televisão ‘Discoteca do Chacrinha’ o negro mais bonito do Brasil em 1971. Ele também entrou para a história do futebol como o primeiro goleiro a marcar gol, na passagem pelo Flamengo contra a Portuguesa (RJ), quando chutou a bola de sua área, que empurrada pelo forte vento traiu o goleiro adversário.

Barbosa, que morreu em 2000 e ídolo do Vasco, ficou marcado pelo gol sofrido na derrota da Seleção Brasileira por 2 a 1 para o Uruguai, na final da Copa do Mundo de 1950, no Estádio do Maracanã, em conclusão do saudoso atacante Ghiggia, enquanto Barbosinha esquentou o banco de reservas do Timão até 1967, quando foi fixado como titular. Um ano depois, taxado de frangueiro por torcedores, deixou o clube.

Diferentemente dele, Tobias e posteriormente Jairo foram bem-sucedidos no Corinthians na década de 70. Tobias marcou época no time de 1974 a 1980, após passagens recomendáveis no interior paulista por Noroeste e Guarani. Depois veio de Maceió o baixinho César, de qualidades técnicas discutíveis. Apesar disso, foi bicampeão paulista em 1982/83, no período da democracia corintiana.


Oséas fez o gol contra mais bonito no Brasil

Quem já torcia para o Palmeiras há vinte e poucos anos jamais esquecerá do centroavante Oséas, pelos gols decisivos anotados em finais de competições. Pela Copa do Brasil de 1998, ele marcou na vitória sobre o Cruzeiro por 2 a 0, após derrota no jogo de ida por 1 a 0. Na Libertadores de 1999, fez gol na partida decisiva com vitória por 2 a 1 sobre o Deportivo Cali, em São Paulo, após derrota no primeiro jogo na Colômbia, por 1 a 0. Assim, na definição através de cobranças de pênaltis, deu Palmeiras por 4 a 3.

Oséas usava trancinhas e foi centroavante com recomendável aproveitamento no jogo aéreo, capaz até de se confundir para que lado o time dele estivesse atacando. Em 1998, contra o Corinthians, protagonizou belo o gol contra, quando saltou após cobrança de escanteio do adversário, mas acertou forte cabeceada contra o seu próprio gol.

Proposital? Jamais. Apenas lapso. E ficou atordoado, tanto que perdeu o rumo no intervalo, ao errar até o seu vestiário. E foi substituído por Cris, autor do gol de empate palmeirense. "Minha intenção foi tirar a bola, mas ela veio com muito efeito", tentou justificar.

Após discreta passagem por clubes de menor expressão do Nordeste, a projeção veio no Atlhetico Paranaense, campeão brasileiro e artilheiro da série B em 1995 com 14 gols. A boa fase abriu espaço na Seleção Brasileira e chegada ao Palmeiras em 1997, com permanência de dois anos e histórico de 65 gols em 172 jogos.

Nos últimos anos de carreira passou por Cruzeiro, Inter (RS), Santos, Vissel Kobe e Albirex Niigata do Japão, culminando com encerramento no Brasiliense em 2005, ocasião em que migrou ao ramo imobiliário, como empresário.

Nascido em meio de 1971 e registrado em Salvador (BA) como Oséas Reis dos Santos, teriam os pais dele se inspirado no profeta Oséias para definir o nome? Na grafia do personagem bíblico é acrescentada a vogal 'i', e comportamentos bem distintos entre ambos. O brincalhão ex-atleta contrasta com o profeta do século 8 a.C. , citado no Antigo Testamento da Bíblia, levantado por Deus para profetizar em Israel, que se casou com mulher adúltera.

Segundo relato da Bíblia, a esposa Gômer o teria traído em obediência a ordem de Deus, para simbolizar infidelidade religiosa dos israelitas. Todavia, estudiosos de teologia interpretam o texto como sentido figurado e não realidade dos fatos descritos.

domingo, 3 de julho de 2022

Sylvinho, histórico melhor foi como atleta

A função de treinador de futebol está tão valorizada no Brasil que parte significativa de ex-atletas sonha com migração à cobiçada atividade. Sylvinho, carreira de rasgados elogios como lateral-esquerdo de Corinthians e clubes europeus, projetou salto como comandante de grupo, mas nas duas reais chances recebidas não prosperou.

Quando abandonou a carreira de atleta em 2011, aos 37 anos de idade, caiu no colo deste paulistano Sylvio Mendes Campos Júnior gratificante estágio como auxiliar técnico de Vagner Mancini, que havia assumido o comando do Cruzeiro. E juntos continuaram no Sport Recife até que em 2013 deu-se a volta ao Corinthians na mesma função, ocasião que participou da comissão técnica do treinador Tite, que posteriormente o levou à Seleção Brasileira.

A nova carreira de prosperidade resultou no cargo de treinador da seleção olímpica, sem projetar que o curto trabalho seria interrompido devido à desafio maior, ao assumir o comando do Lyon da França, levado pelo amigo Juninho Pernambucano, superintendente de futebol daquele clube. O que ele não imaginava era o péssimo rendimento da equipe e demissão incontinenti, em 2019.

A chegada de Mancini como treinador do Corinthians implicou na reativação da dobradinha entre eles, até que em 2021, com a demissão do comandante, ganhou chance de assumir a equipe principal. Aí, pressão da torcida provocou a demissão dele do cargo em fevereiro passado, o que sugere recapitular histórico de sucesso enquanto atleta, saído do terrão do Corinthians em 1993, para se firmar na equipe principal dois anos depois, com conquistas do Paulistão e Copa do Brasil.

Foi quando mostrava capacidade de desarme, domínio de bola e sucessivos avanços ao ataque, num time que contava, entre outros, com o goleiro Ronaldo, Zé Elias, Marcelinho Carioca e Viola. A regularidade o presenteou com chegada à Seleção Brasileira entre 1997 e 2001, lamentando ter sido preterido por Zé Roberto entre os convocados à Copa do Mundo de 1998, na França.

Como os desafios se seguiram, no ano seguinte iniciou trajetória internacional no Arsenal, da Inglaterra, Celta de Vigo e Barcelona, onde viveu o melhor momento no futebol europeu a partir de 2004, ao se juntar aos brasileiros Deco (naturalizado português), Belletti e Edmílson, Thiago Motta e Ronaldinho Gaúcho. Ele ainda jogou no Manchester City.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Kléberson, um pentacampeão esquecido

Quando se fala do pentacampeonato conquistado pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo e 2002, no Japão e Coréia do Sul, logo lembram do goleiro Marcos, laterais Cafu e Roberto Carlos, meias Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo, e atacante Ronaldo Fenômeno. Coadjuvantes são esquecidos, entre eles José Kléberson Pereira, paranaense de Uraí identificado apenas como o volante Kléberson, que no último 19 de junho completou 43 anos de idade.

Embora ganhador dos prêmios Bola de Prata da ESPN e da Revista Placar de 2001, bicampeonato estadual do Paraná e do Campeonato Brasileiro de 2001 pelo Atlhetico Paranaense, para a maioria das pessoas era um desconhecido na chegada à Seleção Brasileira, mas a voluntariedade e condicionamento físico exemplar na transição ao ataque garantiram vaga entre os titulares daquele Mundial.

Destro, 1,75m de altura, adaptado à lateral-direita e como meia, Kléberson ainda conquistou a Copa América de 2004, no Peru, e Copa das Confederações de 2009, na África do Sul, pela Seleção Brasileira. Apesar disso, apenas a mídia paranaense lhe escancarava espaço, contrastando com comportamento discreto de outros centros de comunicação do País.

O Atlhetico Paranaense negociou os seus direitos econômicos ao Manchester United, da Inglaterra, por valor equivalente a 8,6 milhões de euros em 2003, divididos com o PSTC, primeiro clube do atleta. E no futebol europeu ele continuou até 2008, quando deu continuidade na carreira no Besiktas, da Turquia. Aí, no retorno ao País, no Flamengo, foi coroado com a conquista do título do Brasileirão na temporada seguinte, ocasião em que marcou dois gols no empate por 2 a 2, na final contra o Botafogo, no Estádio do Maracanã.

Foi quando voltou a ser relacionado à Seleção Brasileira, conquistou a Copa das Confederações e posteriormente segunda participação em Mundial, desta feita na África do Sul. E mesmo com esse histórico, paradoxalmente foi dispensado do Flamengo em 2011 pelo treinador Vanderlei Luxemburgo, quando retornou ao Atlhetico Paranaense por empréstimo.

A segunda passagem no futebol carioca foi curta, iniciando repasse em clubes como Bahia e Philadelphia Union, Indy Eleven, North American Soccer League e Fort Lauderdale Strikers - todos dos Estados Unidos -, com encerramento da carreira em 2017, migrando, incontinenti, à carreira de treinador nas categorias de base.


segunda-feira, 13 de junho de 2022

Lê e os tempos que prevaleciam apelidos

Comumentemente se ouve dizer que o futebol mudou. E a transformação não se restringe à maneira desenfreada com que atleta corre, tornando o jogo mais tático de que técnico.

Abrange todos os aspectos, inclusive forma de identificação. Se hoje é praxe citá-lo através de nome composto, outrora os apelidos eram bem aceitos no meio, alguns, inclusive, através de monossílabos.

Alguns apelidos não tinham conexão com o nome. O que tem a ver Carlos Alberto Sabione Lemos Soares com 'Bô'? Pois ele atuou como zagueiro do Atlético Goianiense na década de 70, ficou marcado pelo estilo clássico quando predominavam becões, e morreu em 2008. Ele foi irmão do também zagueiro e hoje treinador Estevam Soares.

Entre os anos 60 e 70, o futebol produziu dois 'Dés'. O primeiro foi Ademar José Ribeiro, revelado pela Portuguesa Santista, que atingiu o auge da carreira na lateral-esquerda do Palmeiras. 'Dé' atuou num compartimento defensivo com Leão, Eurico, Luiz Pereira e Nelson. Depois jogou no São Paulo e morreu em 1992, aos 52 anos de idade.

Outro 'Dé', o Domingos Elias Alves Pedra, fez sucesso no Bangu identificado apenas pelo monossílabo, para posteriormente, já no Botafogo (RJ), ser chamado como Dé Aranha, um ponta-de-lança habilidoso que ainda jogou no Vasco e continua em evidência como analista de futebol na Rádio Tupi (RJ), aos 74 anos de idade, após desligamento da Rádio Globo em 2019.

Toda essa dissertação para desembocar no então meia-direita Ronaldo Francisco Lucato, conhecido como Lê, hoje aos 58 anos de idade, que da Inter de Limeira - sua cidade natal - participou daquela equipe campeã paulista de 1986, embora à época fosse opção para todas as posições de ataque e não havia prosperado entendimento para se transferir ao Santos. Assim, na temporada seguinte seguiu carreira no São Paulo, levado pelo então treinador Pepe, com atribuição de substituir Careca, que havia se transferido ao Nápoli, da Itália.

Na ocasião, a contratação de Lê envolveu cifras acima de um milhão, em período que a moeda vigente no país era o cruzado. E ele correspondeu pela facilidade de adaptação em quaisquer das posições do ataque, mesmo com estatura considerada baixa, de 1,70m de altura. Apesar disso, na sequência se transferiu para a Portuguesa até que o encerramento da carreira ocorreu no Inter (RS), aos 32 anos de idade, em 1990.

domingo, 5 de junho de 2022

Pintado, jogador e treinador de perseverança

Perseverança foi a marca registrada de Luís Carlos de Oliveira Preto, que ganhou fama no futebol com o apelido de Pintado, natural de Bragança Paulista (SP), e que em setembro próximo vai completar 57 anos de idade. No início, enquanto atleta, na base do Bragantino em 1983, só foi tolerado pelo estilo de zagueiro tratorzão, que se valia da boa compleição física e 1,82m de altura para se sobressair no jogo aéreo. Tecnicamente era tido como fraco e por isso foi repassado nas quatro posições de defesa, até que resolveram encaixar-lhe na lateral-direita.

Ano seguinte, ainda no sub20, não obteve êxito em Palmeiras e São Paulo, o que provocou repasse em equipes do interior como Taubaté e novamente Bragantino, quando o quadro se modificou ao ganhar espaço com o treinador Vanderlei Luxemburgo, e participar do título paulista de 1990. Todavia, foi o sucessor do comandante, Carlos Alberto Parreira, quem o efetivou como volante, quando o estilo raçudo de Pintado ficou bem evidenciado, e despertou interesse no São Paulo da época, do saudoso saudoso Telê Santana, para que retornasse ao clube.

Assim, Pintado passou a escrever a sua história no futebol com conquistas de duas Libertadores e Mundial de Clubes durante o biênio 1992/93, quando totalizou mais de cem partidas e apenas duas expulsões. Logo em seguida se transferiu ao Cruz Azul do México com a marca de atleta aguerrido, sem que isso significasse violência. Dos grandes clubes, ainda jogou no Santos, Atlético Mineiro e Cerezo Osaka do Japão, para, nos dois últimos anos de carreira, até 2003, acusar passagens por União São João, Pelotas, Santa Cruz e Brasiliense.

É praxe atleta que termina a carreira em clube de menor expressão cair no ostracismo, e com Pintado não foi diferente. Por isso, em 2004 iniciou novo desafio no futebol na função de treinador da Inter de Limeira, com repasse de vibração aos atletas. A construção da nova carreira obedeceu cronograma de degraus em degraus, passagens por equipes do interior paulista e grande ABC, até que clubes de outros centros o contratassem, como América Mineiro, Náutico, Figueirense, Juventude, Goiás, Chapecoense e Cuiabá, entre outros.

Pintado teve passagem como auxiliar fixo de treinador no São Paulo em 2017, assim como no México, dois anos antes, quando atuou como auxiliar-técnico de Luis Fernando Tena no Cruz Azul e comandando o Club León.

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Adeus ao goleiro Wendell

A morte do ex-goleiro Wendell no último 23 de maio, em São Lourenço do Oeste (SC), aos 74 anos de idade, traz à reflexão o período em que se valorizava profissional da posição marcado pela regularidade. Exagera quem o rotulou de milagreiro, das chamadas defesas impossíveis, mas raramente falhava. Por isso seria o preferido para a meta da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, mas uma lesão precipitou o corte, cedendo vaga ao saudoso Waldir Peres, relacionado como terceiro goleiro, ocasião em que o treinador Zagallo definiu Emerson Leão como titular.

Embora recifense, Wendell Lucena Ramalho iniciou trajetória no Botafogo do Rio de Janeiro em 1968, e lá ganhou a confiança de Zagallo, por trabalharem juntos no clube. Muito jovem à época, foi emprestado ao Santa Cruz (PE) para ganhar experiência, quando conquistou o bicampeonato estadual nas temporadas 1969/70.

No retorno ao Botafogo, a passagem teve duração de sete anos, período em que por sete vezes defendeu a Seleção Brasileira entre 1973 e 1974, com retrospecto de cinco vitórias e cinco gols sofridos. E durante o triênio a partir de 1977, no Fluminense, conquistou o Troféu Teresa Herrera, na Espanha, para em seguida continuar a trajetória em clubes de menor porte como Santa Cruz, Guarani, Vila Nova (GO) e Ferroviário (CE), onde encerrou a carreira em 1986.

No Guarani, em 1982, ficou marcado por falha em jogo da semifinal do Campeonato Brasileiro contra o Flamengo, na derrota por 3 a 2, no Estádio Brinco de Ouro. Em seu último clube atuou apenas três vezes, pois atendeu pedido de dirigentes para que ocupasse interinamente a função de treinador, com proposta de ao término daquela competição ingressar na carreira de preparador de goleiros. Aí pesou a estreita ligação com Zagallo - então coordenador técnico da Seleção Brasileira, da equipe do comandante Carlos Alberto Parreira em 1994 -, para que igualmente integrasse o grupo na conquista do tetracampeonato mundial nos Estados Unidos, nesse time: Taffarel; Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Leonardo (Branco); Dunga, Mauro Silva, Raí (Mazinho) e Zinho; Bebeto e Romário.

O trabalho de Wendell na Seleção Brasileira se prolongou até 2006 nas Copas da França, Japão/Corréia do Sul e Alemanha respectivamente, período em que comandou também os goleiros Marcos, Dida e Rogério Ceni.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Minelli, o inventor da linha de impedimento no Brasil

 Em dezembro passado, o ex-treinador Rubens Francisco Minelli completou 93 anos de idade e tem nome escrito no futebol como ganhador de títulos. Ainda lúcido, está habilitado a falar de assuntos diversos do esporte que dominava como poucos, como criticar a qualidade dos jogos, citar que o atacante Neymar foi um ídolo estragado pelo pai, lamentação por ter sido preterido da Seleção Brasileira e lembrança como inventor da linha de impedimento no país.

O futebol está feio porque prevalece a mesmice', justificou, diferente das três décadas em que atuou como treinador, a partir dos anos 60, com predominância da técnica. Quatro vezes campeão brasileiro dirigindo clubes como Palmeiras, Inter (RS) e São Paulo sentia-se credenciado a ser chamado para comandar o selecionado quando Oswaldo Brandão foi demitido, mas prevaleceu o bairrismo de cartolas da CBF que entregaram o comando ao ainda inexperiente Cláudio Coutinho, à Copa do Mundo de 1978, na Argentina.

Minelli se inspirou na Juventus (ITA) para implantar no Inter (RS) a linha de impedimento, que consiste em jogadores no sistema defensivo saírem em bloco da área para deixarem os rivais em condição ilegal. À época, também implementou inovações táticas na marcação, quando trabalhou com jogadores renomados como Falcão, Figueroa e Carpegiani.

Melhor foi Minelli não ter prosperado na carreira de ponta-esquerda do Ypiranga e Nacional - ambos da capital paulista - assim como no São Bento de Sorocaba e Taubaté. É que como treinador teve trajetória de destaque no interior de São Paulo em América, Botafogo, Francana, Guarani e Rio Branco, para ganhar evidência na Lusa, Inter (RS), São Paulo, Corinthians, Sport, Grêmio (RS), Atlético (MG) e Coritiba. Ele também passou pelo Al-Hilal da Arábia Saudita.

Como superintendente, passou por São Paulo, Athletico Paranaense, Paraná Clube e Avaí em 2003, optando posteriormente pelo convívio em família na residência em São Paulo e chácara em Vinhedo, sempre com língua afiada para contestar jogadores que abusam da individualidade, sem comprometimento com o grupo. E citou como exemplo Renato Gaúcho no título gaúcho do Grêmio de 1985. “Só fomos campeões porque ele operou o joelho e ficou 60 dias afastado. E graças a Deus nunca treinei Sócrates e Rivellino que sempre jogaram para eles” afirmou.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Nos tempos de Barbosa havia ponta-direita no futebol

 A história do ponteiro-esquerdo exercer função de quarto homem de meio de campo remonta a década de 60 com o lendário Mário Jorge Lobo Zagallo no Botafogo (RJ), mas ganhou frequência nos anos 80. Na década seguinte, devido à praticidade do esquema tático com três zagueiros - 3-5-2 - quem também passou a perder espaço foi o chamado ponta-direita, pois, nesse formato, o entendimento de treinadores foi de lateral identificado como ala e liberdade para atacar, por vezes exercendo papel então atribuído ao ponteiro, que levava a bola ao fundo de campo.

No início do século, principalmente através do holandês Arjen Robben, o atacante canhoto passou a se posicionar no lado direito e fazer diagonal aplicando sucessivos dribles e abandono da estratégia de levar a bola ao fundo do campo, para efetuar cruzamentos.

Felizmente o destro ponteiro-direito Luís Reinaldo Barbosa, transformado em ídolo nos cinco anos de Palmeiras - a partir de 1982 - escapou desta trapalhada de atacantes de beiradas se posicionarem no lado oposto do 'pé bom'. Entre incontáveis atletas de sobrenome Barbosa, ele foi facilmente identificado pela velocidade colocada nas jogadas, e assim vencia a maioria dos duelos com laterais-esquerdos, além do capricho nos cruzamentos para aproveitamento principalmente de centroavantes.

Natural da cidade de Piracicaba, interior paulista, foi no XV de Novembro local que começou a carreira profissional em 1976, e antes de chegar ao Palmeiras esteve no União Barbarense por dois anos, numa carreira curiosamente intercalada em clubes outrora de médio porte para outros pequenos. Do Novorizontino, por exemplo, transferiu-se ao Sport Recife, assim como do XV de Jaú foi contratado para jogar no Bahia. E isso encaixado em agremiações como Atlhetico Paranaense, Goiás, Vitória (BA), Desportiva (ES), Santo André e até no futebol japonês.

Nos 18 anos de carreira já foi eleito o melhor ponta-direita do futebol paulista e guarda lembrança dos tempos que retornou ao Palmeiras como auxiliar-técnico do comandante Vanderlei Luxemburgo. Radicado em Piracicaba desde que parou de jogar em 1994, não se convence que a transformação do futebol em correria teria sido a melhor escolha, comparativamente à época dele, com prevalecimento da técnica. “Os jogos de hoje são truncados e raramente é possível ver futebol bem jogado”, atestou.

Juan, lateral-esquerdo que jogou durante 19 anos

Site Dicionário dos Nomes Próprios, que revela os respectivos significados, informa que Juan é a variante espanhola do nome João, que tem origem no hebraico Iohanan, Yehohanan. E quando pais registram filhos brasileiros como Juan, imaginam estar em países com predominância da língua espanhola, a fim de que o 'J' soe como 'R, provavelmente com justificativa de que a família tem passaporte da Espanha.

O caso do ex-lateral-esquerdo Juan Maldonado Jaimez Júnior é mais um daqueles em que usualmente a pronúncia é Ruan. Ele teve trajetória de 19 anos como atleta, marcada com conquistas de títulos estaduais no Fluminense, Santos e principalmente no Flamengo, quando além de levantar o caneco do Carioca fez o gol da vitória sobre o Vasco, na conquista da Copa do Brasil de 2006. Lá ele foi campeão do Brasileirão de 2009, sempre elogiado pela capacidade técnica, ao levar a bola ao ataque e criar situações embaraçosas aos adversários.

Paulistano de 40 anos de idade completados em fevereiro passado, a história dele começou nas categorias de base do São Paulo, até que em 2000 se profissionalizou e no ano seguinte se transferiu ao Arsenal e Millwall da Inglaterra, com retorno ao Brasil em 2004, para jogar no Fluminense.

Na prática, o futebol dele decolou a partir dali, com ápice no Flamengo. Em 2008, foi premiado como melhor lateral-esquerdo do Campeonato Carioca e do Brasileirão, além de receber o prêmio Bola de Prata. Naquele ano áureo foi convocado à Seleção Brasileira, quando participou de dois jogos das Eliminatórias à Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.

No Flamengo ele ficou cinco anos, para em seguida retornar ao São Paulo, depois Santos, quando atuou eventualmente como meia. A partir dali começaram passagens em clubes de porte inferior como Vitória (BA), Coritiba e Goiás. Por sinal, em 2015 chegou a ficar seis meses desempregado, quando recusou propostas financeiras de alguns clubes. Aí, para manter a forma, aceitou participar de peladas com amadores, como no campeonato para sócios do São Paulo.

Já na estrada da volta no futebol, os últimos anos de carreira foram em Avaí, CSA, Tombense e Boa Vista do Rio de Janeiro, quando já estava amadurecida a intenção de aposentadoria de uma carreira de cerca de 600 partidas e 63 gols. À época, já pensava em abraçar a carreira de empresário de futebol, sem que o sonho fosse realizado.

domingo, 1 de maio de 2022

Dêner, um dos maiores ídolos da Portuguesa

Embora sem calendário para esse segundo semestre de 2022, o torcedor da Portuguesa de Desportos está orgulhoso pela conquista do acesso ao Paulistão do ano que vem e, de certo, recorda ídolos que passaram pelo clube, um deles o saudoso meia Dêner, que surgiu nas categorias de base em 1991, com jeitão de novo príncipe, como era identificado o atacante Ivair.

Franzino e rápido como lambari, Dêner deixava a ‘zagueirada’ estonteante com as suas arrancadas e sempre marcava os seus golzinhos. Logo, foi convocado à Seleção Brasileira pelo então treinador Paulo Roberto Falcão e ficou deslumbrado. E quando colocou a mão num dinheiro jamais visto, a ‘mulherada’ ficou assanhada, e o então menino humilde não teve estrutura psicológica para administrar a fama.

Cartolas da Lusa projetaram recuperá-lo emprestando o passe ao Grêmio em 1993, mas diante da passagem apenas discreta o segundo empréstimo foi para o Vasco, com objetivo de negociá-lo posteriormente com clube do exterior. Quis o destino que a história daquele jovem de carreira promissora,  23 anos de idade, terminasse no dia 19 de abril de 1994, quando morreu vitimado por acidente de automóvel na Avenida Borges de Medeiros, que margeia a Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.

Ele viajava de São Paulo ao Rio de automóvel, em companhia do amigo Oto Gomes de Miranda, que dirigia o Mitsubishi branco, dormiu no volante e perdeu a direção. Com isso o carro se chocou contra uma árvore. Dêner morreu quando repousava no banco do carona reclinado, pois o pescoço ficou prensado no cinto de segurança, provocando estrangulamento. O laudo médico apontou asfixia e fratura cervical.

Curioso é que na véspera da morte, dirigentes da Lusa haviam definido a transferência do jogador para o Stuttgar, da Alemanha, mas a Europa não pôde se deliciar com o talento dele. Pior ainda o Vasco não ter feito seguro de US$ 3 milhões - valor do passe - e o caso tramitou na Justiça, até que fosse condenado ao pagamento.

Outro astro renomado na história da Lusa foi José Lázaro Nobles, o Pinga, maior artilheiro do clube de todos os tempos com 190 gols. Em 1952, após oito anos ininterruptos na Lusa, Pinga foi brilhar no Vasco, ocasião em que a empresa Gillette o requisitou como garoto-propaganda para um comercial sobre lâmina de barbear. Ele morreu no dia 7 de maio de 1996.


domingo, 24 de abril de 2022

Alceu, história de quem é vencido pela droga

 Mundinho do futebol é terrível. De repente o atleta desabrocha, mostra o seu talento e fica marcado para a história. Outros, em condições de trilhar igual trajetória, se perdem no meio do caminho por desvio de condutas. Doces carreiras que se anunciavam são jogadas no espaço, ao enveredarem para as drogas.

São raros aqueles que paralelamente sustentam a rotina de sucesso ao vício das drogas. Ex-centroavante Casagrande, por exemplo, foi um viciado confesso que conseguiu sobreviver em clubes como Corinthians, São Paulo, Flamengo e futebol italiano. E mesmo com chuteiras penduradas era vencido pela tentação do vício, que se prolongou ao migrar à carreira de comentarista de futebol em televisão.

Injetou cocaína e experimentou heroína até o desafio de internação para desintoxicação às vésperas da Copa do Mundo da Rússia em 2018, quando pôde dar testemunho da bênção divina recebida de se livrar da encrenca, diferentemente de incontáveis atletas que se penam pela dependência do vício, e colocam carreiras supostamente primorosas no buraco.

Insere-se neste contexto o quarto-zagueiro Alceu, revelado nas categorias de base do Guarani, com projeção de promissora carreira pelo estilo técnico, tanto que ganhou realce na seleção brasileira juvenil no final dos anos 70. Aí, quis o destino que o espaço dele fosse encurtado no clube, devido à despropósita concorrência com os gabaritados zagueiros Júlio César e Ricardo Rocha. Logo, restou-lhe prosseguimento de carreira no Athletico Paranaense, já nos anos 80, sem imaginar que aquele horizonte que se abria para consagração em grandes clubes brasileiros se desmancharia por culpa exclusiva dele, que cedeu à tentação das drogas, inclusive a tenebrosa cocaína, vício que se arrastou por 11 anos.

Apesar daquele registro conturbado, Alceu Pereira Júnior ainda sobreviveu no futebol em clubes como a Inter de Limeira, Taquaritinga - ambos de São Paulo - Grêmio de Maringá (PR), Avaí (SC) e Uberlândia (MG). E por jamais ter se desligado de amigos da base bugrina, como o ex-meia Neto, foi ajudado para internação em clínica de recuperação de dependentes químicos no litoral de Santa Catarina, quando jurou ter saído de lá liberto da dependência, e diz ministrar curso para dependentes químicos. Assim, fixou residência em Florianópolis, embora seja natural de Lajes (SC).

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Rincón: talento, prisão, polêmica e o adeus

Acidente automobilístico com traumatismo craniano, que provocou a morte do meio-campista colombiano Freddy Eusebio Rincón Valencia neste 14 de abril, ganhou repercussão mundial, assim como em 2013 já havia sofrido fraturas múltiplas no corpo em consequência da caminhonete que dirigia, em alta velocidade, ter capotado em estrada da Colômbia.

Por sinal, notícias de impacto sobre ele eram recorrentes, algumas em páginas policiais. Ao ser acusado de lavagem de dinheiro e associação ao narcotraficante Pablo Rayo Montaño, em 2007, foi executado pela Justiça do Panamá e ficou preso na capital paulista por quatro meses. Em 2015, o nome dele constou na lista de procurados pela Interpol, porém um ano depois acabou absolvido das acusações.

A chegada ao Palmeiras deu-se em 1993, procedente do futebol da Colômbia, como meia de fácil chegada à meta adversária. Logo, despertou interesse do Nápoli (ITA), onde disputou 28 partidas e sete sete gols na temporada 1994/95, mas a experiência a seguir no Real Madrid (ESP) foi curta e desanimadora, ao denunciar racismo.

Foi quando o Palmeiras o repatriou, e de lá seguiu para o Corinthians, quando o tema racismo voltou às manchetes, ao alegar ter sido atingido pelo então palmeirense Paulo Nunes, ocasião em que a desforra foi cuspir no rosto do desafeto, assim como se insurgiu contra companheiros de clube, no Timão, ao sair no braço com o atacante Mirandinha, e encrenca feia com o então meia Marcelinho Carioca, período em que já havia sido remanejado à função de volante, pois além da técnica para valorizar a saída de bola era guerreiro na marcação.

Ainda no Corinthians, participou do primeiro título do Mundial de Clubes em 2000, para na sequência atuar em Santos, Cruzeiro e novamente Corinthians em 2004, aos 37 anos de idade, em passagem que nada fez lembrar o atleta de três Copas do Mundo pela seleção colombiana, a começar em 1990, na Itália, quando marcou o gol do empate por 1 a 1 com a Alemanha Ocidental. Depois, a marcante atuação na surpreendente goleada sobre a Argentina por 5 a 0, em Buenos Aires, pelas Eliminatórias ao Mundial de 1994. E também a Copa da França, em 1998.

Rincón ainda tentou engatar carreira de treinador, porém sem sucesso nas passagens por Iraty (PR), São Bento, São José (SP), Corinthians sub-20 e Flamengo (SP).

domingo, 10 de abril de 2022

Volta por cima da Portuguesa

De certo a composição 'Volta por Cima', de Paulo Vanzolini, e interpretada com singularidade pelo saudoso 'Noite Ilustrada', serviu de inspiração para que dirigentes da Portuguesa tirassem o futebol do clube do atoleiro. Após sete anos por trilhas tortuosas, a colônia lusitana comemora a volta ao Paulistão de 2023, mas ainda sem calendário relevante nesta temporada, visto que sequer na Série D do Brasileiro tem vaga.

Conforme letra da música de Vanzolini, a Lusa reconheceu a queda e não desanimou. Levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por cima, mostrando aos incrédulos que não há caminho sem volta. Provavelmente jamais será aquela Portuguesa de outrora, considerada a quinta força do futebol paulista, quando foi vice-campeã do Brasileirão de 1996, campeã da Série B em 2011 e divisão do título paulista com o Santos em 1973.

Na ocasião, na definição através de cobranças de pênaltis, o saudoso árbitro Armando Marques se equivocou na contagem de gols, deu o título ao Santos quando a Lusa ainda tinha chances matemáticas de reverter o marcador, atletas santistas se recolheram ao vestiário para comemoração, e assim coube à Federação Paulista de Futebol decidir pelo compartilhamento do título.

A queda brusca da Portuguesa no cenário nacional começou em 2013, quando escalou irregularmente o meia Héverton contra o Grêmio, resultando em perda de quatro pontos e rebaixamento à Série B. Depois, quedas sucessivas às Séries C e D, até ficar sem divisão nacional entre 2017 e 2020.

A Portuguesa contou com o saudoso e polêmico presidente Oswaldo Teixeira Duarte, que ao 'peitar' os principais jornais de São Paulo, com alegação que desdenhavam o seu clube, passou a ser identificado pelas inicias: OTD. Destemido, em 1985 vetou árbitros da velha guarda para jogos de seu time, entre eles Dulcídio Vanderlei Boschilia, José Assis Aragão, Roberto Nunes Morgado e Romualdo Arpi Filho, tanto que na final do Paulistão, contra o São Paulo, o escalado foi o desconhecido José Carlos Nascimento.

Foi quando também 'peitou' a Rede Globo, ao impedir que transmitisse a decisão, quando o seu clube foi vice-campeão. Ficou revoltado com oferta de valor consideravelmente inferior a Santos, Corinthians, São Paulo e Palmeiras, em época que clubes ainda não outorgavam às federações, CBF e Clube dos 13 o direito de negociações com as emissoras.

domingo, 3 de abril de 2022

Futebol raçudo de Terto se encaixou no São Paulo

Viagem ao passado, para contar histórias de ídolos da época, implicam em reviver o cenário televisivo do futebol. Se até meados dos anos 60 a TV Record tinha os direitos de transmissão de jogos ao vivo do Paulistão, depois ocorreu um hiato sem imagens, prolongado até final dos anos 80, período em que os torcedores sem acesso aos estádios se contentavam em assistir videoteipe.

Naquele quesito a TV Bandeirantes era especialista, ao mostrar reprises de jogos já na calada da noite, na voz inconfundível do locutor Fernando Solera, que trocava o grito de gol pelo bordão 'o melhor futebol do mundo é no 13', para sublinhar o número de sintonia do canal. Logo, foi copiado pelo igualmente narrador Alexandre Santos, também na Bandeirantes, cuja entonação era 'guardooooooou', ao designar o atleta que havia marcado gol.

Ao incorporar a tese que imagens valem mais de que mil palavras, Solera simplificava a transmissão basicamente citando o nome do atleta de posse de bola. Em jogos do São Paulo campeão paulista de 1970, por exemplo, apenas descrevia 'bola com Gerson, Toninho Guerreiro, Terto, em contraste com o estardalhaço feito pela geração que o sucedeu.

Antes de montagens de equipes vitoriosas na década de 70, o São Paulo penou com jejum de 13 anos sem títulos. E Terto, registrado em 1946 como Tertuliano Severiano dos Santos, em Recife, chegou ao tricolor paulista precedido do Santa Cruz (PE) em 1968, caracterizado como jogador de pouca habilidade, mas raçudo nas disputas das jogadas. E quando perdia a bola, corria bastante na tentativa de recuperá-la, como fazem hoje atacantes de beirada nas recomposições, com diferencial de que naquela época atacante raramente recuava.

De veloz ponteiro-direito ele também tinha facilidade para se adaptar à antiga função do meia-direita, quando Paulo Nani era escalado na ponta. E atuando mais centralizado foi mais participativo nas 243 vitórias da equipe, quando totalizou 500 jogos e 84 gols, em passagem marcada por três títulos paulistas e da Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo de 1975. Assim, o vínculo com o clube se estendeu durante dez anos. Depois passou por Botafogo de Ribeirão Preto (SP), Ferroviário e Fortaleza - ambos do Ceará -, com o encerramento de carreira na Catanduvense, em 1982. Ele ainda trabalhou nas categorias de base do Tricolor.

segunda-feira, 28 de março de 2022

Clebão, zagueiro 'guarda-roupa' do Palmeiras

No passado, bordões e rótulos no futebol eram criados aos montes e se perpetraram, embora, por vezes, uma coisa não tenha nada a ver com a outra. Grosso era designação para o jogador fraco, assim como aquele de caixa torácica avantajada era tido como 'guarda roupa', como o mineiro Cléber Américo Conceição, zagueiro Clebão do Palmeiras nos anos 90, época que chegou à Seleção Brasileira e participou de 15 jogos.

Por sinal, ele teve expectativa de participar da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, mas ficou de fora da lista do treinador Carlos Alberto Parreira por conta de um erro do chefe da delegação palmeirense Mustafá Contursi, por ocasião de uma execursão do clube à Rússia, ao orientá-lo para não viajar a espera do chamado no lugar do lesionado Ricardo Gomes, que foi cortado. Foi quando o ex-quarto-zagueiro Ronaldão, que atuava no Shimizu S-Pulse, do Japão, foi chamado para ocupar a vaga.

Cléber unia o porte físico avantajado à raça, que implicavam em rótulo de xerifão. No estilo dele constatava-se precisos desarmes nas disputas diretas com atacantes adversários e oportuna cobertura a laterais, que podiam avançar sem receio de sofrer bola nas costas. Aliava-se a isso a invejável impulsão na bola aérea, embora tenha sido favorecido ao formar dupla de zaga com renomados companheiros nos tempos de Palmeiras, como Roque Júnior e Antônio Carlos. E uma das recompensas foi ter ganhado a Bola de Prata em 1994, pela revista Placar.

O início da trajetória profissional dele foi em 1989 no Atlético Mineiro, porém dois anos depois já estava no Logroñés, da Espanha, sem que se adaptasse àquele país. Logo, optou pelo retorno ao Brasil e no Palmeiras em 1993, quando foi montada equipe competitiva resultando na conquista da Libertadores da América já na temporada seguinte. No clube, disputou 372 jogos com saldo de 212 vitórias.

A passagem pelo Cruzeiro, em 2000, incidiu na última conquista de título, como a Copa do Brasil. Depois 'rodou' por Santos e Yverdon-Sport da Suíça, antes de entrar na estrada da volta do futebol em Figueirense (SC) e São Caetano, clube em que encerrou a sua carreira profissional.

Em 2009 Cléber fez estágio no Cruzeiro para a carreira de treinador, o que possibilitou desafios seguintes em Mogi Mirim, Rio Claro, Araxá e Poços de Caldas, ambos de Minas Gerais, sem que prosperasse na função.

domingo, 20 de março de 2022

Volta do cima do ex-meia Deco

As imprevisibilidades do futebol ficam bem explícitas na trajetória do ex-meia Deco, cunhado de Alecsandro e de Richarlyson, ambos também futebolistas. Quando surgiu nas categorias de base do Guarani nos anos 90, tiraram-no da posição original de meia e fizeram o remanejamento à lateral-direita, com justificativa da estatura de 1,74m de altura. Aí foi colocado em disponibilidade, mas persistiu no objetivo da carreira de atleta nos juniores do Corinthians, sem que se firmasse na equipe principal. Logo, acabou emprestado ao Nacional-SP e depois CSA e Corinthians de Alagoas, quando o futebol dele começou a aparecer e o Benfica, de Portugal, o contratou em 1997.

No futebol europeu começava a transformação dele, com repasse em equipes categorizadas como Porto (POR), Barcelona (ESP) e Chelsea (ING). Em Portugal foi eleito o melhor melhor jogador da Europa na temporada 2003/04, o suficiente para garantir dupla cidadania, e assim integrar o selecionado daquele país no período de 2003 a 2010, equivalente a duas Copas do Mundo: França e África do Sul e histórico de 75 partidas e cinco gols.

Em 2006, ajudou o Barcelona a conquistar a Liga dos Campeões da UEFA e o retorno ao futebol brasileiro deu-se em 2010, para jogar no Fluminense, em carreira prolongada por mais três temporadas, aos 34 anos de idade, e passagem marcada por seguidas lesões. À época, foi registrado o envolvimento dele em episódio referente a doping, ao ingerir complexos vitamínicos em pequenas doses, que resultou em suspensão preventiva de 30 dias.

Registrado em São Bernardo do Campo (SP) - cidade natal - como Anderson Luís de Souza, no final de agosto de 1977, Deco mudou-se na infância para o município de Indaiatuba (SP), e quis o destino que em sociedade com o empresário de futebol Nenê Zini passasse a ter o controle acionário do clube Primavera daquela cidade.

Antes disso, Deco já trabalhava como empresário no ramo desportivo, gerenciando carreiras de jogadores e transportando-os à Europa. Mídia esportiva brasileira reproduziu publicação do portal português Correio da Manhã, de novembro passado, que abordou desdoramento da operação 'Fora do Jogo', em que o Ministério Público de Portugal investiga empresas e clubes por suspeita de irregularidades na transferência de jogadores, crimes de fraude fiscal, fraude à segurança nacional e lavagem de dinheiro.

domingo, 13 de março de 2022

Jorginho Putinatti, ídolo sem título nacional

Década de 80 o atleta era basicamente identificado pelo prenome ou apelido. Jorginho do Palmeiras era uma forma designada ao mariliense Jorge Antonio Putinatti pra diferenciá-lo dos xarás. E foi ídolo dos palmeirenses nos sete anos a partir de 1979, devido à habilidade e exímio cobrador de faltas e escanteios. Lá totalizou 369 partidas, segundo o Almanaque do Clube.

Jorginho protagonizou duas capas de tremenda repercussão da revista Placar, a primeira delas enquanto atleta do Palmeiras, quando 'comprou' a ideia de que o mascote do clube deveria ser o porco, ao ser fotografado carregando o manso 'Chico' - suíno assim identificado -, tirado de um sítio em Caucaia do Alto, na Grande São Paulo, e levado ao Estádio do Morumbi pelo torcedor palmeirense Cleofas Sóstenes Dantas da Silva, em novembro de 1986.

Foi o bastante para a torcida do Palmeiras 'aposentar' o periquito e assumir o porco como mascote do clube, encerrando assim a fase de gozação de rivais. Naquele período, diferentemente dos meias de armação que faziam uso da camisa dez, a escolhida de Jorginho era a sete, num clube que contou, entre outros companheiros, com os zagueiros Luís Pereira e Nenê Santana, volante Mococa e atacantes Baroninho, Carlos Alberto Seixas e saudoso Jorge Mendonça.

A criatividade do Departamento de Artes da revista Placar resultou na capa caricaturando Jorginho com pés gelados, em alusão a uma carreira inteira em clubes brasileiros sem uma conquista de título sequer, mesmo com passagens em agremiações renomadas como Corinthians, Fluminense, Grêmio e Santos, além de Guarani e XV de Piracicaba. Quis o destino que apenas nos quatro anos do clube Nagoya, no Japão, conquistasse em 1992 a Copa do Imperador, onde encerrou a carreira de atleta. Parêntese: foi contestado pela torcida corintiana por ter saído do rival, a ponto de um torcedor invadir o gramado na tentativa de agredi-lo.

Hoje, aos 62 anos de idade e radicado na cidade natal de Marília, assumiu em setembro passado o cargo de adjunto da Secretaria de Esportes do município. Lá lembra o início de carreira na base do clube da cidade, com conquista do título da Copa São Paulo de Juniores de 1979, e o emblemático lance no jogo do Palmeiras contra o Santos, quando o seu chute não tinha direção do gol, mas a bola entrou ao bater no então árbitro José de Assis Aragão, em 1987.