domingo, 26 de outubro de 2014

Antonio Carlos Zago, craque e encrenqueiro

 A história do zagueiro central Antonio Carlos Zago, 45 anos de idade, é marcada por títulos nos quatro grandes clubes do futebol paulista, 37 partidas pela Seleção Brasileira sem ter disputado uma Copa do Mundo, e por em encrencas nos clubes que passou, a mais grave a acusação de racismo quando atuava no Juventude em 2006.
 Num jogo contra o Grêmio, no Estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul, ele praticou o citado crime contra o volante Jeovanio. A rigor, na carreira dele já havia sido registrada cusparada no argentino Simeone - então jogador da Lazio -, em confronto com a Roma do zagueiro. “O Simeone era muito chato. Ficava me provocando, passando a mão na minha bunda e aí perdi a cabeça, fui expulso e suspenso por quatro jogos”, contou o brasileiro, que jogava no futebol italiano com zagueiro Aldair, volante Emerson e lateral-direito Cafu. Pela indisciplina a pena de suspensão foi estendida para 120 dias.
 O destempero emocional de Antonio Carlos implicou em atrito com o atacante Edmundo nos tempos de Palmeiras em 1994, quando ambos saíram no tapa, segundo revelação da imprensa na época. Um dos motivos é que o zagueiro defendia escala proporcional nos valores de bichos entre titulares e reservas.
 Foi o ano em que o Palmeiras sagrou-se bicampeão brasileiro, provando que elenco qualificado - embora rachado - atinge os seus objetivos. E aquele time, comandado pelo treinador Vanderlei Luxemburgo, era formado por Veloso; Cláudio, Antonio Carlos, Cléber e Roberto Carlos; César Sampaio, Mazinho, Flávio Conceição e Rivaldo; Edmundo e Evair.
 Antonio Carlos começou a escrever a sua história no futebol paulista no São Paulo. Sob o comando do saudoso treinador Telê Santana conquistou em 1991 o título brasileiro, já no segundo ano como titular. Foi numa final com goleada sobre o Corinthians por 3 a 0 na primeira partida - três gols de Raí -, com público de 106.142 pagantes. Na segunda partida foi registrado empate sem gols. Eis o time são-paulino: Zetti; Cafu, Antonio Carlos, Ronaldão e Nelsinho; Sidnei, Suélio e Raí; Macedo, Muller e Elivélton.
 No Corinthians, durante o biênio 1997-98, Antonio Carlos ratificou o futebol de raça e sobretudo de técnica para desarmar o adversário antecipando-o na jogada. Assim, conquistou o título brasileiro no segundo ano de clube, num time formado por Ronaldo; Fábio Augusto, Antonio Carlos, Henrique e André; Romeu, Gilmar Fubá, Souza e Marcelinho Carioca; Mirandinha e Donizete.

 O gostinho de título brasileiro se completou em 2004 no Santos, outra vez com Luxemburgo no comando, só que desta vez sem que fosse titular absoluto. E após passagem pelo Juventude o zagueiro encerrou a carreira no Santos em 2007, iniciando, incontinenti, funções de treinador e gerente de futebol. Hoje ele está no futebol da Ucrânia.

domingo, 12 de outubro de 2014

Quarenta anos sem o lateral Everaldo

 Outros tempos jogador de futebol era idolatrado pelos fãs mesmo quando parava de jogar. Alguns sabiamente exploravam a popularidade e enveredavam para cargos políticos mesmo sem aptidão, notadamente no Legislativo. A certeza da votação maciça os encorajava a enfrentar as urnas e são incontáveis os exemplos daqueles eleitos com folga.
 Mesma sorte não teve o lateral-esquerdo Everaldo, o gaúcho tricampeão mundial em 1970, na Copa do Mundo do México. Em 1974, quando pendurou as chuteiras, tinha como certa uma cadeira na Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul e se engajou na campanha política de tal forma que podia ser visto em até dois comícios no mesmo dia. E tudo ia bem até que perdeu a vida em acidente de automóvel na BR-286, justamente quando voltava de um comício por volta das 22h30 do dia 27 de setembro daquele ano. O automóvel Dodge Dart do jogador entrou sob uma jamanta e ficou quase irreconhecível. Na ocasião, também morreram a esposa Célia e a filha Denise Marques.
 Everaldo deixou uma história de persistência pela vitória. Revelado no Grêmio, só se firmou como titular após ter sido emprestado ao Juventude, em 1965. Era um lateral-esquerdo sem técnica, mas seguro na marcação. E mesmo raramente passando do meio de campo ganhou a posição do veloz e ofensivo Marco Antonio às vésperas da Copa do Mundo do México de 1970, até que dois anos depois, no Mundialito realizado no Brasil, sequer fosse convocado. Por sinal, o único tricampeão esquecido na lista do treinador Zagallo.
 Aquela decisão provocou revolta dos gaúchos, pois o Rio Grande do Sul tinha histórico de furar o bloqueio do eixo Rio-São Paulo em convocações de jogadores às Copas. Em 1950, na competição disputada no Brasil, Nena, do Grêmio, e Adãozinho, do Internacional, foram vice-campeões mundiais.
 Na decadente Seleção Brasileira de 1966, na Copa da Inglaterra, lá estava o atacante Alcindo Bugre, do Grêmio. E em Mundiais subseqüentes, o Estado quase sempre esteve representado por atletas, os principais deles o goleiro Tafarell e o volante Falcão.
 Taffarel atravessou fase espetacular no Mundial dos Estados Unidos de 1994, quando foi decisivo em defesas de pênaltis. Já o volante Falcão, das Copas da Espanha de 1982 e do México em 1986, sabia defender e organizar o time com elegância.  

 Não fosse a tragédia há 30 anos, o negro Everaldo teria completado 70 anos de idade no dia 11 de setembro passado e, de certo, recordaria as 30 partidas disputadas na Seleção Brasileira, a recepção calorosa no desembarque em Porto Alegre após a conquista do tri e a besteira cometida num jogo contra o Cruzeiro em 1972, no Estádio Olímpico, quando deu um soco no árbitro paulista José Faville Neto. Sorte sua, na época, é que a suspensão de um ano foi reduzida para seis meses. 

sábado, 4 de outubro de 2014

Moacir, o reserva de Didi na Copa de 58

 O prenome Moacir só será perpetuado porque pai coruja o transfere para o filho e segue com o neto. Afora isso, prevalecem nomes bíblicos para registros de nascimentos como Davi, Miguel, João Pedro, Lucas, Gabriel e Matheus, segundo dados da Arpen-SP (Associação de Registro de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo) de 2013. O portal BabyCenter acrescenta que nomes como Luan, Guilherme, Gustavo, Felipe, Rafael, Victor, Henrique e Kauan também estão na lista dos mais escolhidos.
 Moacir é nome de origem indígena e faz parte do relato do romance ‘Iracema’ de José de Alencar. Então, quais as pessoas populares com o nome de Moacir?  Raras. A mais famosa é o humorista-cantor Moacyr Franco, que neste cinco de outubro completou 78 anos de idade. No futebol, os dois últimos relativamente conhecidos são aquele lateral-direito reserva de Alessandro do Corinthians em 2010 e o treinador Moacir Júnior, familiarizado com equipes de menor expressão no futebol mineiro.
 O mais famoso dos ‘Moacires’ da bola é Moacir Claudino Pinto, igualmente com 78 anos de idade completados em maio, e que fixou residência em Guayaquil, Equador, cidade admirada por ele desde a passagem pelo Barcelona local, o último clube de sua carreira de atleta em 1970.
 Moacir ficou famoso nos seis anos de Flamengo, a partir de 1956, quando driblava com facilidade e tinha boa visão de jogo. Segundo o almanaque do clube ele participou de 233 jogos e marcou 57 gols, ora atuando como meia de armação, ora como ponta-de-lança. Em 1958 participou de um time formado por Fernando; Jouber, Pavão, Jadir e Jordan; Dequinha e Moacir; Joel, Henrique, Dida e Zagallo.
 A recompensa foi convocação à Seleção Brasileira daquela temporada na reserva de Didi. Na ocasião aparecia nas fotos de álbuns com o bigode bem ralo e, por vezes, amarrando a faixa até metade da canela. No total, atuou sete vezes pelo selecionado e marcou dois gols.
 A carreira fora do país começou no River Plate da Argentina, prosseguiu no Pañarol do Uruguai e terminou no Equador com passagens por Everest e Barcelona de Guayaquil, ocasião em que alardeava ter adquirido propriedades que garantiriam sustento pelo resto da vida. Depois, ainda foi escolhido como treinador da seleção equatoriana infantil em 1986 que disputou o Mundial no Canadá, e bem remunerado.

 Apesar disso está em dificuldade financeira, mas não esmorece. Ainda se anima falar que está tudo bem, mesmo faltando dinheiro para tratar do câncer de próstata. Hoje, a vida dele está difícil como na adolescência, nos tempos de bairro Ipiranga em São Paulo, quando abandonou a casa do pai após ter sido surrado. Tudo porque foi participar de uma pelada e esqueceu o dinheiro para que fazer fezinha no jogo do bicho embaixo de uma pedra. Aí foi parar em um albergue e posteriormente no Flamengo.