domingo, 8 de março de 2020

Mineiro, ex-volante do São Paulo que gostou da Alemanha


 Todo mineiro nasceu no Estado de Minas Gerais? Nem todos. Se toda regra tem exceção, o portoalegrense Carlos Luciano da Silva ficou conhecido no mundo da bola como o volante Mineiro, que se destacou na Ponte Preta, São Paulo e jogou na Europa.

 Motivo do apelido? Simples fato de ter um irmão parecido com o ex-lateral-esquerdo Cláudio Mineiro, que fez sucesso no Inter (RS) e Corinthians. E isso ocorreu quando Mineiro tentou seguir a carreira de atleta na base do clube colorado, mas acabou dispensado.

 Nem por isso esmoreceu. Levado ao Rio Branco de Americana (SP), franzino e estatura de 1,69m, deu indícios de que vingaria no futebol. Passou pelo Guarani em 1997, mas se destacou na arquirrival Ponte Preta quando antecipava ao adversário e desarmava como poucos.

 O reconhecimento veio do ex-treinador Emerson Leão, que no comando da Seleção Brasileira em 2001 o convocou e o escalou no empate por 1 a 1 com o Peru. E assim a estada no grupo se estendeu até 2007 na conquista da Copa América na Venezuela, com essa formação: Doni; Maicon, Alex, Juan e Gilberto; Josué, Mineiro, Elano e Júlio Baptista; Robinho e Vágner Love. Logo, também integrou o selecionado brasileiro na Copa do Mundo de 2006, após o corte do polivalente Edmílson.

 Em clubes, após a Ponte Preta, foi campeão paulista pelo São Caetano em 2004, e na temporada seguinte se transferiu ao São Paulo e anotou o gol do título do Mundial de Clubes, na vitória por 1 a 0 sobre o Liverpool, no Japão, nesse time: Rogério Ceni; Cicinho, Fabão, Lugano, Edcarlos e Júnior; Josué, Mineiro e Danilo; Amoroso e Aloísio.

 Mineiro ainda jogou no Hertha Berlim, Chelsea, Schalke 04 e TuS Koblens - time de quarta divisão alemã -, onde encerrou a carreira de atleta em 2011. Depois disso decidiu fixar residência naquele país, ausentando-se por um ano, quando se transferiu à Inglaterra.

 No regresso à Alemanha criou inicialmente empresa de consultoria a atletas. Por fim passou a empresariar atletas do futebol feminino europeu. Em visita ao Brasil, havia projetado - em companhia do ex-zagueiro são-paulino Lugano - criar associação de amparo a ex-jogadores do São Paulo que estiverem em situações carentes. Ele se inspira em exemplos de ex-atletas de clubes da Europa, que colocaram em prática a iniciativa de jogos beneficentes que visam prestar ajuda até a hospitais.

segunda-feira, 2 de março de 2020

Adeus a Valdir Espinosa, meio século no futebol


 Dia 14 de fevereiro, ao se licenciar do cargo de executivo de futebol do Botafogo (RJ), o ex-treinador Valdir Atahualpa Ramires Espinosa, no contato diário com a mídia, reclamou de dores no abdômen e mostrava ansiedade com cirurgia agendada para correção da doença.

 Três semanas depois, complicação cirúrgica levaram-no a óbito aos 72 anos, no Rio de Janeiro. Terminava ali uma história superior a meio século vinculado ao futebol, inicialmente como atleta. O melhor estágio foi como treinador e no Grêmio, com conquistas da Libertadores e Mundial de Clubes em 1983. Na trajetória sul-americana, Espinosa ignorou a altitude de Laz Paz, na Bolívia, na preparação para enfrentar o Bolivar. Aos repórteres, quando questionado sobre o assunto, desconversava. Aos jogadores, até na preleção antes de a equipe entrar em campo, foi curto e grosso: “Pessoal, hoje é chocolate neles”.

 Apesar do status de campeão do mundo, anos depois não se constrangeu em exercer função de auxiliar técnico de seu então pupilo Renato Gaúcho. A facilidade de se expressar possibilitou ingresso na função de comentarista de televisão, mas não conseguiu ficar distante dos gramados. Ultimamente emprestava o vasto conhecimento da modalidade como gerente no Botafogo.

 Se como lateral-direito do Esportivo de Bento Gonçalves (RS) chegou ao Grêmio, não prosperou na carreira de atleta. Pôde sim colocar em prática a liderança natural de grupo como treinador. Exagera quem o rotulou como estrategista, mas foi singularíssimo na perspicácia sobre comportamento de atleta. Se precisasse mentir para motivá-lo, não titubeava. Time que dirigia se desdobrava em campo em busca de vitórias.

 Na rodagem de Norte a Sul do país no comando de equipes, Espinosa demonstrou seu estilo 'boleirão', principalmente na passagem pelo Botafogo (RJ), quando da conquista do título estadual de 1989. Conta o jornalista portoalegrense Darci Filho que naquela temporada o treinador programava churrasco a cada pós-jogo, regado a cerveja, com familiares como convidados, tudo bancado pelo bicheiro Emir Pinheiro.

 Como comandante, trabalhos bem-sucedidos intercalaram-se a fracassos. No histórico incluem-se passagens em Palmeiras, Corinthians, Portuguesa, Fluminense, Vasco, Tokyo Verde (JAP) e Cerro Porteño (PAR), mas em clube pequeno como o Duque de Caxias (RJ), por exemplo, foi demitido.

Adeus a Henrique, que desbancou o volante Dunga


 Convenciona-se dizer que os desígnios de Deus não são compreendidos, que por vezes precisa-se de maturação para aceitá-los. Pois neste contexto enquadrada-se o então meio-campista Henrique de Guarani e Vasco, morto neste 20 de fevereiro em Campinas (SP), aos 57 anos de idade, vitimado por câncer na língua.

 Enquanto línguas afiadas continuam soltas por aí, o campineiro Carlos Henrique Kupper, sem 'boca pra nada', foi 'alvejado' exatamente na língua por um câncer, que pode se manifestar sob forma de aftas ou feridas dolorosas que não cicatrizam, aumentam de tamanho e não melhoram com tratamentos.

 Literatura médica indica que os principais fatores de risco para desenvolvimento da doença são consumo excessivo de cigarro, bebida alcoólica, prótese dentária mal ajustada, má higiene bucal e fatores genéticos. Curas são frequentes quando do diagnóstico precoce do tumor, requerendo cirurgia e radioterapia.

 Henrique ficou marcado no futebol na passagem pelo Vasco da Gama no triênio de 1986/88, inicialmente recuado da função de ponta-de-lança para volante. E foi na posição que desbancou o titular Dunga na temporada de 87, a partir do vigésimo jogo do Campeonato Carioca, num time que conquistou o título com vitórias no triangular final sobre Bangu e Flamengo, por 4 a 0 e 1 a 0, respectivamente.

 O gostinho do reserva Dunga voltar ao time, na 25ª rodada, deu-se pela ausência de Henrique, mas tudo voltou como dantes na partida subsequente. Na ocasião, o time vascaíno era formado por Acácio; Paulo Roberto, Donato, Marôni e Mazinho; Henrique, Geovani e Tita; Mauricinho, Roberto Dinamite e Romário, os dois últimos como principais artilheiros da competição com 15 e 16 gols respectivamente.

 Por ter sido atleta participativo, Henrique se adaptou com facilidade à marcação. E se manteve na posição em passagens por Louletano e Nacional de Portugal, e Fujitsu Kawasaki do Japão. Isso contrasta com início de carreira no Guarani, como reserva de Jorge Mendonça. E sem que prosperasse no futebol campineiro, passou por Comercial de Ribeirão Preto (SP) e Santa Cruz (PE), antes de jogar no Rio de Janeiro.

 Ele trabalhou como treinador no Estado de Goiás em Novo Horizonte e Goiano. Posteriormente integrou escritório que empresaria jogadores ao exterior, até que se radicasse em Campinas. Antes de adoecer, participou de campeonatos para amadores em Campinas.