domingo, 28 de janeiro de 2024

Adeus ao zagueiro Deodoro, identificado com o Juventus

A morte do ex-zagueiro Deodoro no ultimo 25 de janeiro, decorrente de AVC (acidente vascular cerebral), aos 74 anos de idade, remete desportistas a décadas passadas, quando o papel primordial de zagueiros era 'zagueirar', ou seja: 'limpar a área', sem que houvesse constrangimento para chutões. E ele, vigoroso, sabia usar a caixa torácica avantajada nas disputas de jogadas com atacantes adversários.

Deodoro jogou futebol nos tempos que boleiros desfilavam nos gramados vastas cabeleiras. Aquelas lisas, caíam nas testas e ombros; para cabelos crespos, o modismo era estilo 'black power', o escolhido pelo zagueiro, que fazia uso do pente de madeira, com dentes largos, para facilitar o penteado.

Quem passou a acompanhar Deodoro a partir de 1978, no Coritiba, como quarto-zagueiro, desconhece que até então contrariava a lógica, pois nos dez anos anteriores da carreira atuou como lateral-esquerdo tipicamente de marcação, com início na Portuguesa em 1969, onde ficou durante quatro anos, transferindo-se ao Juventus.

Aí passou a intercalar passagens por empréstimos, como no Vasco em 1975, e Guarani na temporada seguinte. Já em 1977, vinculado ao Coritiba, começou a experimentar improvisações na quarta-zaga, até que na temporada seguinte, o então treinador Chiquinho o fixou definitivamente na posição.

Como o bom filho a casa torna, em 1979, de volta ao Juventus, cumpriu trajetória durante mais quatro anos, o derradeiro coroado com a conquista da Taça de Prata (antiga segunda divisão nacional), numa equipe que contava com o então lateral-direito Nelsinho Baptista e o meia Gatãozinho.

Deodoro José de Almeida Leite, natural de Piracicaba (SP), saiu de cena como atleta em 1984, com passagens pelo Garça e Nacional, da capital paulista. E ficou marcado como quem, apesar da compleição física avantajada, não se valia do jogo violento contra adversários.

Transtornado ficou contra a arbitragem de jogo de seu Juventus contra o Corinthians, em 1981, ao impedir cobrança de pênalti marcado equivocadamente contra a sua equipe. Logo, a arbitragem deu a partida por encerrada antes do tempo regulamentar, com registro de empate por 2 a 2.

No relato da súmula, havia indicação para que o time juventino fosse penalizado, mas o TJD (Tribunal de Justiça Desportiva) da FPF (Federação Paulista de Futebol) manteve o resultado da partida.


segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Argentino Fischer foi ídolo do Botafogo (RJ) nos anos 70

O futebol brasileiro está infestado, como nunca, de jogadores oriundos de países sul-americanos. Até clubes de porte médio e pequeno fizeram investimentos neles, o que nos remete a décadas passadas, quando basicamente as chamadas grandes agremiações os importavam, principalmente no Sul do País.

Pelo Grêmio passaram os paraguaios Arce e Rivarola - lateral-direito e zagueiro, respectivamente -, além dos zagueiros uruguaios Ancheta e De Leon, entre outros. No Inter (RS) jogou o zagueiraço chileno Elias Figueroa, nos anos 70, mesmo período que o saudoso argentino Roberto Perfumo fez sucesso no Cruzeiro . Antes deles, o goleiro argentino Andrada ficou marcado, na passagem pelo Vasco, por ter sofrido o milésimo gol de Pelé. Ele morreu em 2019, aos 80 anos de idade.

Daquela leva que vinha pra cá, também deve ser citado o centroavante Rodolfo Fischer, falecido em 2020, que marcou época no Botafogo (RJ) de 1972 a 75, identificado apenas pelo sobrenome. Ele veio da Argentina, revelado pelo San Lorenzo, em transação intermediada pelo saudoso treinador Tim, seu velho conhecido. E soube explorar a elevada estatura para cabeçadas certeiras na bola, o que o credenciou entre os principais artilheiros das competições, mas também explorava a qualidade técnica com a bola nos pés e velocidade.

No Botafogo, ele fez dupla de ataque com Jairzinho, o furacão da Copa de 70, mas paradoxalmente é lembrado por botafoguense da época pelo gol perdido na final do Campeonato Brasileiro de 1972, contra o Palmeiras, quando, quase no final da partida, ficou cara a cara com o então goleiro Emerson Leão e chutou a bola na trave, quando poderia ter definido o título ao seu clube. Como o empate sem gols favoreceu ao Verdão, há quem jura ter testemunhado que, raivoso pelo gol perdido, ele teria 'esfaqueado' a bola.

Antes do regresso à Argentina, ainda passou pelo Vitória (BA), com histórico de 31 gols em 41 jogos. A carreira foi prolongada no San Lorenzo, Once Caldas da Colômbia, nos argentinos Sarmiento e Sportivo Belgrano, onde encerra a carreira em 1981.

E por ter defendido a seleção de seu país entre 1967 e 1972, com histórico de 12 gols, sempre era citado pelo mídia portenha. Como curiosidade, antes do ingresso no futebol, ele chegou a estudar um ano na Faculdade de Odontologia de Rosário (ARG), mas prevaleceu o sonho de ser jogador de futebol.


domingo, 14 de janeiro de 2024

Amaral, ex-volante que debocha de si mesmo

No futebol, há jogadas imortalizadas além de gols e grandes defesas. Exemplo: o drible elástico que o ex-centroavante Romário, pelo Flamengo, aplicou no então volante Amaral, com a camisa do Corinthians, em 1999, pelo Torneio Rio-São Paulo, com goleada da equipe carioca por 3 a 0, no Estádio do Pacaembu -, com dois gols do Baixinho, um deles na sequência do citado drible.

Quem sofre drible estonteante como aquele fica irritadíssimo, mas Amaral ainda debocha de si mesmo, reconhecendo que perdeu o rumo naquela jogada. Só que a carreira dele foi marcada pela eficiência no desarme e alegria dentro e fora de campo.

A designação Amaral nada tem a ver com o nome de registro em cartório, que é Alexandre da Silva Mariano, natural de Capivari, cidade do interior paulista, na iminência de completar 51 anos de idade. E ele não esconde ter trabalhado em funerária antes de ingressar no futebol, mas corrige desinformados que sarcasticamente citam ter sido coveiro.

Da carreira, iniciada nas categorias de base do Palmeiras, chegou à Seleção Brasileira no biênio 1995/96, ano que participou dos Jogos Olímpicos de Atlanta, nos Estados Unidos. E foi marcada por vaivém Brasil-Europa, com passagens controvertidas em clubes do 'velho mundo', pela dificuldade de comunicação. Se o domínio da língua portuguesa facilitou ingressos no Sport Lisboa e Benfica, a situação não foi a mesma no Parma e Fiorentina da Itália e Beşiktaş da Turquia. Entretanto, nada se compara quando esteve no Pogón Szczecin, da Polônia, pois além de ter sido vítima de racismo, correu risco de expulsão de partida pela dificuldade com o idioma.

Ao gritar para outro jogador brasileiro colocar mais curva na bola, o árbitro o ameaçou com o cartão vermelho. “Eu não sabia que curva, lá na Polônia, é filho da p... A minha sorte é que um jogador que falava polonês explicou para ele e tudo ficou bem", recordou, mas, apesar dessas inconveniências, ainda jogou no exterior no Perth Glory da Austrália, além do Manado United e Persebaya Surabaya da Indonésia.

Essas passagens foram intercaladas em clubes brasileiros como Corinthians, Vasco da Gama, Grêmio (RS), Vitória, Atlético Mineiro, Santa Cruz, Grêmio Barueri, Grêmio Catanduvense e Capivariano, que integrava a Série A2 do Campeonato Paulista. Depois ele ainda participou do realit show 'A Fazenda', de 2015, da TV Record.

domingo, 7 de janeiro de 2024

Adeus ao velho lobo Zagallo

Quando Mário Jorge Lobo Zagallo completou 80 e 90 anos de idade foi feita reprodução do histórico dele, inicialmente como atleta de América, Flamengo e Botafogo (RJ) na década de 50 e que se estendeu até 1963. Depois, a polêmica trajetória como treinador e coordenador técnico, com rótulo do único tetracampeão mundial pela Seleção Brasileira.

Desde os 80 anos de idade, quando desfrutava de merecida aposentadoria, a saúde dele já estava debilitada, após retirada de um tumor no aparelho digestivo. Com o falecimento, o cenário apontou ao desavisado que ele era unanimidade, mas na prática, em 1997, ao conquistar a Copa América pela Seleção Brasileira, devolveu provocação de parte da imprensa com frase que imortalizada: "Vocês vão ter que me engolir".

Enquanto atleta, Zagallo tinha fôlego privilegiado, o que lhe permitiu que incorporasse o estilo de fechar espaços no meio de campo, para ajudar na marcação, mudando a característica do time de 4-2-4 para 4-3-3. E assim foi titular nas Copas de 1958 e 1962. Na primeira conquista da Seleção Brasileira, na Suécia, marcou o quarto gol da goleada por 5 a 2 sobre os anfitriões. E após isso, trocou o Flamengo pelo Botafogo, e se juntou a astros como Garrincha, Quarentinha, Didi, Amarildo.

Zagallo foi técnico do juvenil botafoguense e, na sequência, comandou os profissionais, sem projetar que seria o sucessor de João Saldanha no selecionado canarinho de 1970, que sagrou-se tricampeão mundial no México. Todavia, durante a preparação, ousou colocar Pelé no banco de reservas em amistoso contra a Bulgária, com a camisa 13, número de sua superstição.

Quatro anos depois, na Alemanha, Zagallo subestimou o forte selecionado holandês ao citar que não o conhecia e que ele deveria se preocupar com o Brasil. Pagou para ver e viu a eliminação brasileira na semifinal. Incontinenti ficou quase oito anos na Arábia Saudita, voltou a comandar clubes brasileiros, até que em 1994, como coordenador técnico da Seleção, sagrou-se tetracampeão nos Estados Unidos.

Depois, de volta ao comando técnico do selecionado, protagonizou aquela coreografia imitando um aviãozinho, ao devolver provocação do treinador da Seleção da África do Sul, num amistoso em que o Brasil ganhou de virada por 3 a 2, em Johanesburgo, em 1996. Dois anos depois, foi o comandante na perda do Mundial para a França.




Primeiro grito de 'Pelé morreu' foi fake; segundo, infelizmente, verdadeiro

Em decorrência do primeiro ano da morte do 'rei' Pelé, no dia 29 de dezembro de 2022, cabe recapitulação da coluna então publicada, com citação inicial sobre um equivocado grito 'Pelé morreu' no dia três de dezembro de 1967, quando, no Estádio Brinco de Ouro, o então ponteiro-esquerdo Edu Jonas cruzou e Pelé mergulhou na bola. Ou melhor: ficou na horizontal, em situação paralela ao gramado.

    Ao se atirar na bola, em tempo de encontrá-la e mandá-la ao fundo das redes do finado goleiro Dimas, do Guarani, naquele empate por 1 a 1, o susto foi geral. Detalhe: após a testada, a cabeça do 'rei' continuou 'voando' e colidiu violentamente contra a antiga trave de madeira do lado esquerdo, sentido cabeceira norte.

    Desacordado, silêncio generalizado no estádio. Quase cinco minutos depois, ainda estático no gramado, alguém nas dependências vitalícias do Guarani gritou: 'Pelé morreu'. Pior é que o dito cujo da fake news estava com radinho de pilha colado ao ouvido, aumentando a suspeita de informação possivelmente colhida por repórter no gramado.

    Pronto. Semblantes constritos de torcedores. Lágrimas começaram a brotar de quem já imaginava o pior, pela proporção do choque.

    E quando Pelé 'ressuscitou', aqueles, como eu, já precipitadamente 'enlutados', o aplaudimos de pé. Assim, no 29 de dezembro de 2022, bem que gostaríamos que aquele grito de 'Pelé morreu' fosse mais um igual ao de três de dezembro de 1967, mas quis o destino que não fosse.

    Aos 82 anos de idade, em decorrência de um câncer no colo ter avançado para outros órgãos, Pelé partiu para outro destino, na certeza que jamais será superado enquanto mundo for mundo. Dele, com a singular voz grave, já não mais ouviremos a palavra mais repetida durante as entrevistas: 'entendeu?'.

    E pra matar saudade daquele grito mentiroso 'Pelé morreu', de dezembro de 1967, eis a ficha técnica daquele empate por 1 a 1, com registro de frangaço do saudoso goleiro Gylmar em chute de Milton dos Santos. O Santos, do técnico Antoninho, contou com Gylmar; Lima, Ramos Delgado, Joel e Rildo; Clodoaldo e Buglê; Edu, Toninho, Pelé e Abel. Já o Guarani, de Alfredinho Sampaio, com Dimas; Miranda, Paulo, Tarciso e Diogo; Tonhé e Milton dos Santos; Carlinhos, Osvaldo, Parada e Wagner. A arbitragem foi de Etelvino Rodrigues.


Yustrich, o ‘homão’ encrenqueiro

Os berros de técnicos de futebol que ecoam pelos gramados são ‘fichinhas’ se comparados aos estilos de disciplinadores como Flávio Costa, Osvaldo Brandão e Yustrich, já falecidos. Num jogo do Vasco contra o América-RJ em 1950, pelo Campeonato Carioca, o meia vascaíno Ipojucan se dirigiu a Flávio Costa, no intervalo, e pediu para sair, com alegação de que não passava bem. Diz a lenda que Flávio Costa, irritado com a derrota parcial por 1 a 0, esbofeteou o jogador e exigiu que continuasse em campo. Conclusão: o Vasco virou o placar para 2 a 1 e Ipocujan ‘deitou e rolou’.

Dorival Knipel, o Yustrich, teve rico histórico como goleiro do Flamengo nas décadas de 30 e 40, quando conquistou os títulos em 1939 e 1942, o que lhe abriu portas como treinador nos principais clubes do Rio de Janeiro.

Metido a valentão, Yustrich comprava brigas com jogadores, imprensa e até companheiros de profissão. Ganhou o apelido de ‘homão’ porque era alto e forte. Se inovou ao exigir mesa farta de frutas para boleiros após treinos e jogos, impunha contestável estilo militar no comando dos grupos e arrumava encrencas.

Em 1971, por exemplo, quando era treinador do Flamengo, barrou o talentoso argentino Doval - já falecido - porque não admitia jogadores de cabelos compridos. Yustrich desconsiderou habilidade, velocidade, boa impulsão e gols daquele ponteiro-direito, um gringo loiro, olhos azuis e que fazia sucesso com a mulherada nas boates da zona sul do Rio de Janeiro. Acreditem: Doval voltou ao futebol argentino por empréstimo e Yustrich - que também tinha ojeriza por barbudos - ficou na Gávea.

Dois anos antes, Yustrich só escapou da ira do técnico João Saldanha porque não estava na concentração do Flamengo, time que treinava. Saldanha comandava a Seleção Brasileira e já estava desgastado devido ao temperamento igualmente explosivo. E entre o bombardeio de críticas somava-se a de Yustrich, que o caçoou após derrota num amistoso por 2 a 0 para o Atlético Mineiro. E não é que Saldanha, com revólver na cinta, invadiu a concentração do Mengo, em São Conrado, para ajuste de contas! Sorte que o ‘homão’ não estava lá.


O pior, para Yustrich, estava reservado na década de 70, quando era treinador do Cruzeiro. Peitudo, decidiu substituir Brito durante uma partida e o irado zagueiro tricampeão mundial, ao se aproximar do banco de reservas, atirou a camisa suada no rosto do treinador.


Claro que Brito saiu correndo! Seria suicídio enfrentar aquele brutamente, mesmo envelhecido. O objetivo de humilhar o ‘homão’ estava consumado.


Apesar dos métodos rigorosos e polêmicos, Yustrich sempre colocou as equipes que dirigiu nas primeiras posições em diferentes competições. Por isso era requisitado por grandes clubes, sendo que o Atlético-MG foi aquele em que mais se identificou e foi campeão regional em 1977.



Roger Machado

 Roger Machado

Marcelinho Paulista

 Marcelinho Paulista