segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Dida, goleiro de três Copas que pegava pênaltis

 Reflexo, agilidade, 1,95m de altura, frieza debaixo e ao lado das traves e pegador de pênaltis renderam ao goleiro Dida onze anos na Seleção Brasileira principal, com participação em 91 partidas. Sua trajetória, iniciada no Nordeste do país, foi embalada no Cruzeiro, Corinthians, com ápice no Milan da Itália, ao contrariar desconfiança do mercado europeu sobre goleiros brasileiros, na primeira década deste século, quando foi considerado um dos melhores da posição, no planeta.

 Na primeira Copa do Mundo, em 1998, foi o terceiro goleiro, atrás de Taffarel e Carlos Germano. No penta de 2002, acabou reserva imediato de Marcos. Quatro anos depois foi titular absoluto na Alemanha, quando sofreu apenas dois gols em cinco partidas. Na seleção olímpica, ganhou a medalha de bronze em 1996.

 Nelson de Jesus da Silva, apelidado na infância de Dida, é baiano de Irará, e já completou 45 anos de idade. Aos 17 anos já estava na base do ASA. Posteriormente ganhou notoriedade no Vitória e Cruzeiro.

 O Milan o contratou em 1999, mas o repassou inicialmente ao Lugano da Suíça e depois ao Corinthians, quando ficou marcado após defender dois pênaltis cobrados pelo são-paulino Raí, situação que encaminhou o time ao título do Campeonato Brasileiro. Também foi partícipe da equipe na conquista do Mundial de Clubes da Fifa em 2000.

 Depois anos depois começou a marcante trajetória no Milan, com mais de 300 partidas. E mesmo desligado do clube na virada da década, foi homenageado no hall da fama em 2014.

 No regresso ao Brasil, ficou longo período inativo, só reforçando a Portuguesa em 2012. Depois passou pelo Grêmio, inicialmente para ser o reserva de Marcelo Grohe. Todavia, Vanderlei Luxemburgo, treinador à época, o escolheu como titular à disputa da Libertadores de 2013. A temporada seguinte foi de curta permanência no rival Internacional, quando tornou-se o primeiro goleiro afro-brasileiro a jogar no clube em 43 anos.

 A opção pelo retorno ao Vitória foi com intenção de lá encerrar a carreira em 2015, aos 42 anos de idade, ao recordar o início com título estadual em 1992, e, na temporada seguinte, ser um dos destaques do vice-campeonato do Campeonato Brasileiro, com derrota para o Palmeiras na final. Dida também participou do movimento denominado Bom Senso.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Carlos Miguel, da glória à decadência


 Boleiros que se assanham com contratos para receber em dólares de clubes do exterior deveriam dar uma espiadinha na história do ex-meia Carlos Miguel da Silva Júnior, 45 anos de idade completados em junho passado, e radicado em Bento Gonçalves, município gaúcho em que nasceu.

 Carlos Miguel, canhoto de 1,77m de altura, havia conquistados os principais títulos cobiçados por jogador brasileiro nos primeiros cinco anos de Grêmio portoalegrense, a partir de 1992: estadual, brasileiro, Copa do Brasil, Libertadores e Recopa Sul-Americana. Aí, uma irrecusável proposta do Sporting o levou para Portugal, mas viajou desinformado sobre ambiente naquele clube europeu, à época: jogadores portugueses não se relacionavam com ele. Amizade apenas de outros estrangeiros.

 Aquele clima constrangedor o deixou triste, trouxe reflexo direto na queda de rendimento de seu futebol, e bastaram seis meses de agremiação para retornar ao Brasil, acolhido pelo São Paulo que se dispôs a pagar US$ 4 milhões.

 No tricolor paulistano recuperou a alegria de jogar futebol, foi recompensado com títulos estaduais em 1998 e 2000 e, ano seguinte, conquistou o Torneio Rio-São Paulo, quando o então treinador Emerson Leão o convocou à Seleção Brasileira. Problema é que no próprio São Paulo seu futebol entrou em declínio e o comandante Nelsinho Baptista - que acabava de assumir o elenco - o dispensou. Assim, se transferiu para o Inter (RS), mesmo a contragosto de alguns dirigentes e parcela da torcida colorada.

 Como lá não vingou, o Grêmio abriu-lhe as portas sugerindo que pudesse voltar a brilhar. Ledo engano. Foi partícipe daquele time rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro de 2004, e ali poderia ter ouvido conselhos para encerrar a carreira. Todavia resistiu. Por mais dois anos atuou no Corinthians de Alagoas 

 Com raízes no futebol, topou a empreitada de montar clínica esportiva em companhia do ex-volante Dinho, com objetivo de revelar jogadores. A experiência no meio possibilitou convite para que assumisse a pasta de secretário de Esportes de Cachoeirinha, região metropolitana de Porto Alegre.

 A experiência na política o entusiasmou a disputar cadeira de vereador pelo PNN em Cachoeirinha, em 2012, mas não se elegeu. Assim, nas horas de folga curte seus garanhões e éguas em haras de sua cidade gaúcha.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Futebol e as suas metáforas


 Palavreado usado pela boleira foi agregado a incríveis metáforas. Ladrão é não apenas quem se apodera de objetos e dinheiro da vítima. Também é o atleta adversário que consegue o desarme, ou ‘rouba’ a bola. Companheiros de equipes alertam sobre a aproximação do ‘ladrão’, sem que haja reação intempestiva de quaisquer das partes. E locutores de rádio citam que fulano 'bateu a carteira' de sicrano.

 Um dia um filósofo de botequim usou o bordão ‘chute do meio da rua’, que nada mais é de que chute de longa distância, como se o gramado fosse pavimento asfáltico. E basta o lateral encontrar espaço para avanço ao ataque pra que recorram às metáforas corredor e avenida. Zagueiro de caixa torácica avantajada é armário ou guarda-roupa. E quem dispõe de musculatura forte é chamado de cavalo.

 O reino dos animais emprestou outras metáforas ao futebol. Quem opta por marcação implacável sobre adversário é carrapato ou mordedor, sem que se faça alusão direta a um cão.

 Só na bola o centroavante artilheiro é identificado como 'matador', sem ficha criminal. Os paradoxos da bola o transforma em sujeito irritado quando se depara com zagueiro que 'mata' a jogada, expressão atribuída àquele que abusa dos lances de falta.

 Jogador com essa característica é apelidado de xerifão, e não se constrange de chutar a bola de bico para tirá-la das imediações de sua área. Chutar de bico, na linguagem de boleiro, é injeção.

 Chute muito forte é conceituado como canhão. O ex-ponteiro-esquerdo Pepe, que furava redes adversárias nos tempos de Santos, nas décadas de 50 e 60, ainda é identificado como ‘canhão da vila’. Chute de curva com a parte externa do pé é o tal de três dedos ou rosca. O ex-lateral-direito Nelinho, que jogou no Cruzeiro e Atlético (MG), foi quem mais se aproximou da perfeição.

 Já o passe com muita força é ironizado como ‘tijolo’. Craque alisa, acaricia ou penteia a bola, enquanto o cabeça-de-bagre (jogador fraco) judia dela. Jogador que abusa de dribles improdutivos é aquele que amarra a bola ou enceradeira.

 Décadas passadas, tecnocratas do futebol inventaram a tal de segunda a bola, que nada mais é do que a bola do rebote. E goleiro que a rebate para o interior de sua área é chamado de mão de pau. Já o atacante da diagonal ponta ao centro, ou vice-versa, faz o ‘rabo de vaca’. Justificativa? A vaca balança o rabo para os dois lados.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Dezessete anos sem o lendário Birigui, do América


 Lei Pelé e incompetência de cartolas para lidar com pegadinhas provocadas na administração do futebol lançaram clubes tradicionais do interior paulista no tacho do capeta. América de Rio Preto, Comercial de Ribeirão Preto, Francana, Paulista de Jundiaí, XV de Jaú e São José, que tiveram participação até no cenário nacional, hoje se juntam a Vocem, Jaguariúna, Assisense e se dramatizam na quarta divisão de São Paulo, com início programado para abril e participação de 36 clubes.

 De certo o saudoso e lendário Benedito Teixeira, o Birigui, com trajetória de atleta a presidente do América, deve estar se remoendo no túmulo com tanta incompetência daqueles que o sucederam. Fosse vivo, estaria com 98 anos. Adoeceu em 2000 por abusar do tabagismo. De nada adiantou reduzir a cota de três maços para 10 cigarros diários. Dia dez de janeiro passado foi marcado como 17º ano de sua morte, mas deixou biografia de identificação com o clube como ponta-esquerda no campo ainda de terra batida e transformado posteriormente no aconchegante Estádio Mário Alves de Mendonça.

 Foi lá que Birigui migrou às funções de treinador, diretor de futebol, vice-presidente e assumiu a presidência em 1972, permanecendo 23 anos no cargo, sem jamais deixar o clube cair de divisão. E mais: topou o desafio de comandar a construção do maior estádio do interior paulista durante 17 anos, que merecidamente levou o seu nome e apelidado de Teixeirão, inaugurado dia dez de fevereiro de 1996.

 Para acomodar 55 mil pessoas, o investimento no estádio foi de US$ 30 milhões, entrando como parte de pagamento o Estádio Mário Alves de Mendonça, demolido e a área transformada em supermercado.

 No antigo estádio também jogou outro Benedito, identificado basicamente pelo sobrenome Ambrósio, zagueiro transformado em lateral-esquerdo de eficiente marcação, que em 1965 jogou ao lado do goleiro Motta, zagueiro Nélson Coruja e trio ofensivo com Arcanjo, Cardoso, Gildo, Raul e Caravetti. Ele se orgulhava de ter marcado craques como Pelé, Coutinho, Ademir da Guia e Pagão.

 Curiosamente, Ambrósio treinava goleiros das categorias de base do América antes de se profissionalizar. No final de carreira, aos 37 anos de idade, ainda jogou no Rio Preto.

 Vítima de Mal de Alzheimer, ele sofreu parada cardíaca que resultou na morte no dia 16 de dezembro passado, aos 81 anos de idade.