segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

2010 será diferente?

De certo o desportista está fatigado de retrospectiva do futebol de 2009. Igualmente foi persuadido incontáveis vezes a uma reflexão pessoal sobre erros e acertos no ano que se finda. Então, contrariando linha editorial da coluna, que tal um exercício de futurologia para 2010? Ou melhor: será que podemos esperar grandes surpresas e mudanças radicais em alguns segmentos esportivos?
Seria 2010 o ano da aparição de um novo Pelé? Céticos de plantão dizem que jamais nascerá outro igual. E acrescentam: quem viu, viu; quem não viu, não verá mais. Será? Convenhamos que passou da hora para o surgimento de outro jogador completo nos fundamentos chute, drible, cabeceio, passe e posicionamento. Pelé surgiu no futebol há mais de 53 anos, e tem lógica projetar que alguém ainda vai destroná-lo. Difícil é prever quando. O novo “rei” precisará mostrar chutes certeiros de curta e longa distância - inclusive em cobranças de falta -, sem distinção de perna direita e esquerda. Outro requisito é tabelinha objetiva com companheiro de ataque nas proximidades da área adversária. E se tiver estatura mediana como Pelé - 1,71m de altura - terá de necessariamente compensar com boa impulsão e colocação para suplantar, de cabeça, zagueiros grandalhões. E mais: o sucessor do rei terá de marcar mais de 1.200 gols.
Digamos que a expectativa maior dos esportistas é no quesito segurança nos estádios. Policiais à paisana infiltrados entre torcedores das “organizadas” é um indicativo para se distinguir baderneiros e enquadrá-los em legislação específica a ser criada para o futebol. Aí, com especificações de artigos prevendo punições drásticas, os transgressores já não ficariam impunes, ou arcariam apenas com a pena branda de prestação de serviço comunitário em dias de jogos.
Fique de olho em dinheiro público de prefeituras injetado em clubes, principalmente de municípios vizinhos. Muitos questionam a preferência da Petrobras para patrocinar seguidamente o Flamengo. E a Eletrobrás não deixa por menos: injeta milhões no Vasco.
Os anos se sucedem e dirigentes voltarão a ser acusados de jogar dinheiro no ralo, com administrações incompetentes. São gastos absurdos com jogadores de qualidade duvidosa, elencos inchados, “gorduras” em comissões técnicas e assessores incompetentes. Cadê a fiscalização através de conselhos com as devidas finalidades, nos clubes? Ela precisa ser intensificada e os abusos reduzidos.
Preços de ingressos de jogos de futebol não podem ser majorados conforme conveniência de cartolas. Lembram-se do exemplo de dirigentes santistas que elevaram de R$ 20 para R$ 80 o preço de uma arquibancada na semifinal do Paulistão contra o Corinthians, no Estádio da Vila Belmiro?
Oxalá em 2010 haja redução no número de treinadores que protegem jogadores indisciplinados. Tomara que deixem de insistir na escalação de jogadores em má fase técnica. Chega de regalias! Chega de passar a mão na cabeça do craque! E que os boleiros se conscientizem da necessidade de maior concentração em campo, para que evitem erros de passes curtos. Feliz 2010.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Vagner Love: injustiçado

O triste episódio de torcedores palmeirenses agredindo o jogador Vagner Love, vinculado ao clube, seria evitado se a nação alviverde fosse devidamente informada da queda de rendimento técnico de seu atacante.
Love pode até ser baladeiro como dizem por aí, mas a queda de produção de seu futebol não reflete acentuadamente no aspecto físico. A questão é puramente tática. É conceitual.
Quando se projeta a contratação de um jogador, independente de suas virtudes, é necessária uma avaliação criteriosa como será encaixado no esquema tático programado pelo treinador. Oras, se a principal característica de ataque trabalhada pelo técnico Muricy Ramalho é o jogo aéreo, o que esperar de produtividade de Vagner Love, jogador de pouco mais de um metro e meio de altura - 1,71m?
Convenhamos que os cartolas do Palmeiras e principalmente o gerente de futebol Toninho Cecílio deveriam ter avaliado que jogadas aéreas não se “casariam” com o estilo de Vagner Love. A rigor, nem sempre os clubes analisam criteriosamente características de jogadores e esquemas adotados por treinadores, e depois são surpreendidos.
A queda de rendimento do Palmeiras tem muita a ver com laterais ou quem caía pelas beiradas do campo insistir em alçar bola para a área adversária a procura de um cabeceador. De vez em quando o atacante Obina completava a jogada para o gol. Do contrário, gols de cabeça se restringiam às projeções de zagueiros ao ataque, principalmente em lance de bola parada.
Deve-se considerar, também, que o Palmeiras teve a infelicidade de perder, por contusão, o meia Cleiton Xavier, articulador de jogadas que sabe vislumbrar um atacante em boas condições para arrematar.
Claro que na ausência dele a incumbência de organizar as jogadas de ataque seria de Diego Souza, mas ele andou escondido em campo. Apesar de suas inegáveis qualidades, não chamou para si a responsabilidade de decidir partidas e sucumbiu, como todo time. E, considerando-se suas atuações bem aquém do esperado, jamais deveria ser eleito o craque do Campeonato Brasileiro. Em futebol, registra-se muito a última imagem. E sua última imagem foi aquele golaço do meio de campo que marcou contra o Atlético (MG). Um gol magnífico, imortalizado, sem dúvida. Para a maioria, um gol que apagou as más atuações quando merecia até ser substituído em campo.
Sorte de Diego de ter trabalhado com Muricy Ramalho, treinador que respeita a identidade do jogador. Uma leva de comandantes não hesitaria em substitui-lo, fato que alertaria a torcida sobre seu fraco desempenho. E isso resultaria em cobrança maior.
Então, sem municiamento adequado dos meias, com a natural irritação de bolas levantadas pelos laterais, e com um companheiro de ataque com claras deficiências técnicas, como Obina, Love teria mesmo que sucumbir.
Com a definição que ele, Love, e Muricy Ramalho permanecerão no Palmeiras em 2010, é imprescindível que o treinador reveja seus conceitos de insistência no jogo aéreo. Love é bom no chão. Logo, por ali devem ser preparadas as jogadas para que conclua.
Ele é rápido, tem relativa habilidade, e é “matador”.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Pedro Rocha, sucesso e doença

Pedro Virgilio Rocha Franchetti foi o jogador uruguaio de maior sucesso no futebol brasileiro. Apesar da fama, não ganhou dinheiro suficiente para tratamento do AVC (Acidente Vascular Cerebral), que limitou seus movimentos e fala, e por isso conta com ajuda de amigos dos tempos de São Paulo e da receita da venda do livro lançado em novembro, “Tricolor Celeste”, escrito pelo jornalista Luís Augusto Simon, para cobrir o custo do tratamento, com ênfase para a fisioterapia.

Uruguaios, chilenos e argentinos que por aqui aportam “arrastam um portunhol” mesmo depois de anos de convivência com a língua portuguesa. Pedro Rocha é um desses personagens que misturam, na fala, espanhol e português, apesar dos quase 40 anos de Brasil.

El Verdugo, que completou 67 anos de idade no dia 3 de dezembro, entrou para a história do futebol uruguaio como atleta que disputou quatro Copas ininterruptas, de 1962 a 1974. Pôde jogar em Montevidéu ao lado de atletas renomados como o goleiro Mazurkiewicz, Spencer e Cubilla. Também viveu o grande momento do Peñarol, na década de 60, ocasião em que o clube uruguaio conquistou sete campeonatos nacionais, três Libertadores da América e dois Mundiais de Clubes.

Apesar dessa recheada biografia, ele custou a se adaptar no futebol brasileiro, colocando em risco o investimento de US$ 150 mil (equivalente a Cr$ 870 mil - moeda brasileira na época) à vista, que o São Paulo pagou pelo passe. Também pudera: ocupar o lugar de Gerson, o Canhotinha de Ouro, era muita pretensão. Assim, o jeito foi entrar aos poucos no time, até se adaptar à meia-direita ou ponta-de-lança, como queiram.

Para quem chegou no São Paulo em agosto de 1970, é inquestionável que Pedro Rocha demorou a convencer os são-paulinos que repetiria o futebol dos tempos de Peñarol. A dúvida só foi desfeita após brilhante atuação contra o Palmeiras, em março de 1971. E o uruguaio sentiu-se mais à vontade quando Gerson retornou ao Rio de Janeiro. A partir daí, pôde reassumiu sua real posição.

No São Paulo foram sete anos de um futebol primoroso. Rocha tinha facilidade para conduzir a bola. O chute era forte e certeiro de média e longa distância. Constatava-se oportunismo no cabeceio e visão privilegiada de jogo. Raramente passava uma partida sem colocar companheiros na “cara” do gol.

Daquele São Paulo campeão paulista de 1975, Rocha teve participação destacadíssima. Eis o time base: Waldir Peres; Nelsinho Baptista, Paranhos, Samuel e Gilberto Sorriso; Chicão, Pedro Rocha e Terto; Muricy Ramalho, Serginho Chulapa e Zé Sérgio. Técnico: José Poy.

Depois, com a chegada do treinador Rubens Minelli, que privilegiava a força do conjunto, o espaço de Pedro Rocha ficou encurtado no Tricolor. Aí ele topou jogar por empréstimo no Coritiba em 1978. No ano seguinte, uma curta e apagada passagem pelo Palmeiras. Depois, jogou no México e na Arábia Saudita até 1980. Como treinador, seu histórico foi discretíssimo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Flamengo, o preço da rebeldia

Flamengo hexacampeão brasileiro? Errado. O Flamengo é pentacampeão. E o título de 1987, não conta? Sim, não conta. Na época os cartolas do Mengão ignoraram o regulamento da competição e provocaram WO (não comparecimento) nos jogos contra Guarani e Sport de Recife, nos dias 24 e 27 de janeiro de 1988, no quadrangular previsto para decisão do título. Então, a CBF oficializou o Sport como campeão, após disputa contra o Guarani.
Flamengo e Inter, que integraram o módulo verde, transgrediram o regulamento que previa cruzamento com clubes do módulo amarelo (Sport e Guarani). Portanto, legalmente o Flamengo foi campeão apenas da Copa União. Naquela temporada, os grandes clubes do futebol brasileiro manifestaram preocupação com o inchaço de equipes no Campeonato Brasileiro. Influências políticas partidárias pesavam nas admissões de mais agremiações no campeonato, e isso o inviabilizava financeiramente. Assim, os cartolas dos “grandes” optaram pelo grito de independência e criaram o Clube dos 13.
Santos, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Botafogo (RJ), Flamengo, Fluminense, Vasco, Atlético (MG), Cruzeiro, Inter (RS), Grêmio e Bahia passaram a dar as “cartas” e convidaram Goiás, Santa Cruz e Coritiba para participarem de uma competição enxuta, com 16 clubes, batizada de Copa União, em decorrência do patrocínio da empresa Açucar União. O outro patrocinador foi a Coca-Cola.
Claro que a imposição do Clube dos 13 não contou com respaldo da CBF, na época comandada pela dupla Otávio Pinto Guimarães e Nabi Chedid, presidente e vice-presidente respectivamente, já falecidos. Afinal, a estratégia rebelde do Clube dos 13 violava direitos adquiridos de clubes como Guarani, Bangu, América (RJ), Portuguesa e Criciúma. O Guarani, por exemplo, havia sido vice-campeão brasileiro no ano anterior e, em tese, jamais deveria ter sido excluído do seleto grupo. Afora essa leva relegada, clubes tradicionais como Vitória (BA), Sport Recife e Atlético (PR) também não admitiram rebaixamento à divisão inferior.
Aquele imbrólio requeria uma decisão política, e aí entrou em cena o também deputado estadual Nabi. A alternativa de cruzamento de módulos, que ele sugeriu, foi a forma acordada para equacionar o problema. Portanto, conforme o regulamento da competição, 32 clubes integraram o Campeonato Brasileiro, divididos em dois módulos de 16 equipes, com cruzamento apenas no quadrangular.
Por fim, interesses comerciais e da televisão pesaram na decisão de Flamengo e Inter para recusarem o cruzamento em seus jogos contra Guarani e Sport. Assim, coube à CBF homologar o Sport como campeão, Guarani vice, e ambos adquiriram o direito de representar o país na Copa Libertadores da América.
O Flamengo esperneou. Tentou reverter a decisão em tribunais desportivos, porém sem lograr êxito. Até a Fifa deu respaldo à CBF.
É prudente a recapitulação dos fatos para que os legalistas não contabilizem o título do Flamengo de 1987 como sendo do Campeonato Brasileiro. As regras do jogo - certas ou não - estão aí para o devido cumprimento.
Ariovaldo-izac@ig.com.br