segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Faltas na 'pancada'

Embora não haja estatísticas para se comparar proporções de gols de falta hoje com décadas passadas, no “olhômetro” pode-se assegurar que entre os anos 50 a 70 o aproveitamento era maior e habilitava-se às cobranças boleiros que pegavam forte na bola. No futebol brasileiro, provavelmente não tenha surgido quem chutasse com a força do ponteiro-esquerdo Pepe, do Santos. Ele furava redes do time adversário, e ficou conhecido como o “Canhão da Vila”. Mesmo em faltas nas proximidades da área, a preferência recaía sobre quem chutava forte. E são inúmeros os exemplos de bons cobradores: Carlucci, lateral-esquerdo do Botafogo de Ribeirão Preto (SP), raramente passava dois jogos sem marcar.

Geralmente quem cobrava era o meia de armação, que pegava forte e com direção na bola. Jair da Rosa Pinto, o Jajá, do Palmeiras, tinha uma “patada” no pé que aterrorizava goleiros adversários. Lelé, ex-Vasco e Ponte Preta, foi identificado como patada atômica. Igualmente Rivelino do Corinthians e Nelinho do Cruzeiro estufavam as redes com seus potentes chutes.

Numa demonstração de força na perna direita para o chute, Nelinho colocou propositalmente a bola fora do Estádio do Mineirão. Oldair, volante do Atlético Mineiro, também chutava forte, porém sem tanta precisão. É justo ressaltar que marcou o gol da vitória do Galo contra o São Paulo, no triangular final do Campeonato Brasileiro de 1971, no Estádio do Mineirão. Quando chutou, o meia Gerson, na barreira, abaixou a cabeça para se proteger da bola. Depois o Galo ganhou do Botafogo (RJ), no Estádio do Maracanã, e comemorou o primeiro título da competição.

Na ocasião, Telê Santana era o técnico do Atlético (MG), e ficava furioso quando seus jogadores demonstravam medo de ficar na barreira. A rigor, na primeira passagem pelo São Paulo, em 1973, durante uma partida, o técnico se irritou quando um jogador de seu time tirou a cabeça da bola num chute forte de um adversário, em cobrança de falta. A bola entrou, e na reapresentação dos jogadores, no dia seguinte, Telê os levou para o campo, ficou parado nas imediações da área, e mandou o jogador medroso chutar a bola com toda força na direção dele, desviando alguns chutes de cabeça. Depois, ficou de costas e mandou o mesmo jogador chutar com toda força no corpo dele. E quando o jogador acertou o alvo, Telê sorriu e disse que bolada não mata.

Evidente que cobradores de falta com a maestria do meia Didi - com passagens por Fluminense e Botafogo (RJ) -, que batia colocado e fora do alcance dos goleiros, também tiveram espaço. Didi inventou a folha seca, que consistia em dar efeito na bola, que caía no gol adversário. Zico, no Flamengo, talvez tenha sido quem mais se assemelhou a Didi no chute folha seca. Neto, cujo auge na carreira foi no Corinthians, batia colocado ou com força.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

20 anos sem Mário Vianna

Lembram-se dos bordões do tipo “gol legal”, ou “banheiraaaaa...”? Foram criações do lendário comentarista de arbitragem Mário Gonçalves Vianna. Pois é, num país sem memória, como o Brasil, não se estranha ter passado despercebido os 20 anos de morte de quem foi o mais polêmico árbitro brasileiro de todos os tempos. Ele, que nasceu no bairro da Urca, no Rio de Janeiro, morreu no dia 16 de outubro de 1989.
Vianna foi um dos introdutores em análise de arbitragem no rádio brasileiro há várias décadas, e o modelo foi posteriormente copiado pela mídia eletrônica. Nas transmissões de futebol da Rádio Globo do Rio de Janeiro, esse carequinha criativo fazia questão de se identificar como “Mário Vianna com dois enes”, e embelezava as jornadas com seus tradicionais bordões.
Quando Valdir Amaral, narrador da Rádio Globo, propositalmente o provocava sobre a posição de impedimento de determinado jogador, Vianna testava a enorme audiência da emissora, com sua voz estridente, ao citar “banheiraaaaa...”, provocando eco através dos radinhos de pilha levados por torcedores ao Estádio do Maracanã, para acompanhar as transmissões de futebol.
Por que banheira? Na banheira, ensaboado, você fica sozinho, assim como o jogador isolado no campo de ataque a espera do passe do companheiro, para completar a jogada.
Use o sinônimo que bem entender nessa circunstância, até a expressão inglesa "off-side", mas a posição de impedimento identificada como "banheira" é imortal.
Antes disso, Mário Vianna foi um árbitro malcriado, truculento e desafiava qualquer valentão para sair no braço. Começou apitando jogos na Polícia Especial do Rio de Janeiro, onde foi militante. Depois comandou jogos do Campeonato Carioca, protagonizando passagens marcantes, uma delas em partida do Madureira. Seguranças foram ao seu vestiário, pós jogo, oferecer-lhe proteção por causa de torcedores enfurecidos do lado de fora, e Vianna, ironicamente, sugeriu que os seguranças protegessem os irados torcedores.
Num jogo Botafogo e Flamengo, no Estádio General Severiano, torcedores rubro-negros se revoltaram com expulsões de jogadores de seu time e atiraram pedras e garrafas ao gramado, em direção de Vianna, que, incontinenti, devolveu os objetos para a arquibancada, no setor de concentração dos flamenguistas.
São incontáveis as histórias na arbitragem de Vianna, que podem ser completadas em dois episódios. Um na coragem de ter sido o único árbitro a expulsar de campo Domingos da Guia, durante os 11 anos de carreira do zagueiro; outro na Copa do Mundo de 1954, quando apitava o jogo Itália e Suíça - país sede do evento. O italiano Boniperti o empurrou, contrariado com a marcação de uma falta contra a sua equipe, e Vianna desferiu-lhe um soco direto no queixo, nocauteando-o. E ironicamente alertou o massagista italiano que Boniperti poderia voltar ao gramado quando acordasse.
Ainda naquela copa, Vianna acusou o árbitro britânico Mr. Ellis de fazer complô contra o Brasil, após derrota para a Hungria, e foi expulso do quadro da Fifa.
Ariovaldo-izac@ig.com.br

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Futebol pernambucano em queda

De certo o finado Gentil Cardoso está se remoendo no túmulo com o futebol pernambucano em baixa. Como treinador, foi campeão no comando de Sport, Náutico e Santa Cruz nos anos 50, contrastando com o momento destas equipes. Se Náutico e Sport caminham a passos largos à Série B do Campeonato Brasileiro, o Santa Cruz patina na Série D.
O futebol pernambucano já envaideceu seus torcedores revelando ou projetando jogadores que se transformaram em ídolos nacionais. Que tal um time formado por Manga; Betão, Ricardo Rocha, Rildo e Marinho Chagas; Zequinha e Jorge Mendonça; Mário Tilico, Ademir de Menezes, Vavá e Rinaldo? Todos saíram de Recife antes da trajetória no eixo Rio-São Paulo. Por que a escalação no 4-2-4 e com Rildo, originalmente lateral-esquerdo, improvisado na quarta zaga? Deixa pra lá. O lema é quem te viu e quem te vê.
Manga foi campeão invicto e sem sofrer um gol sequer em 1954, no campeonato juvenil pernambucano pelo Sport. Depois jogou no Botafogo (RJ), Inter (RS) e Seleção Brasileira.
Quanto a Betão, se encantou no Sport no final de década de 80 - com chamada até a Seleção Brasileira - ficou devendo nas passagens por Santos, Inter (RS), Guarani e Portuguesa.
Eta Ricardo Rocha! Que baita zagueiro o Santa Cruz revelou para o mundo! O estilo clássico e a capacidade de desarme foram atestados por torcedores de Guarani e São Paulo, e na passagem pela Seleção Brasileira.
Rildo foi um lateral que se destacou na marcação no Sport, Botafogo (RJ), Santos e Seleção Brasileira, participando da Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Na sua época, laterais se adaptavam facilmente no miolo de zaga, justificando-se, portanto, a improvisação.
Marinho Chagas fez carreira como lateral-esquerdo contrariando o conceito básico da época de primeiro defender e só sair ao ataque na "boa". Esse potiguar preferia primeiro atacar. Foi assim no Riachuelo e ABC (RN), e com maior visibilidade no Náutico no biênio 1970-71. Depois jogou no Botafogo (RJ) e Seleção Brasileira.
Zequinha e Jorge Mendonça - já falecidos - foram ídolos de Sport e Náutico, respectivamente, antes de aportarem no Palmeiras. Zequinha tinha vitalidade física e um bom passe. Mendonça foi um meia talentoso também no Guarani entre 1980 a 1982.
Com a escalação de dois ponteiros, os indicados são Mário Tilico e Rinaldo, que atuaram na direita e esquerda respectivamente, no Náutico. O São Paulo apostou na velocidade de Tilico quando o contratou, enquanto o Palmeiras, a partir de 1964, contou com os gols de falta de Rinaldo, um exímio cobrador.
Outrora o futebol pernambucano contou com os goleadores Ademir de Menezes e Vavá - falecidos - com a camisa do Sport, e coincidentemente levados ao Vasco. Ademir, o Queixada, entrou para a história da Seleção Brasileira como o primeiro jogador a marcar gol no Estádio do Maracanã. E mais: foi o artilheiro do Brasil ma Copa do Mundo de 1950, com nove gols.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Jorginho, atleta de Cristo

Boleiros do segmento Atletas de Cristo passam por provações durante partidas. Pacientemente engolem seco provocações de adversários do tipo “você está pecando”, quando entram duro nas jogadas. Não bastasse isso, a Fifa os proibiu de usarem mensagens alusivas ao cristianismo em camisetas abaixo das camisas tradicionais em dias de jogos, há dois anos.
O ex-lateral-direito Jorginho, hoje auxiliar técnico do comandante Dunga na Seleção Brasileira, sempre perdoou os sarcásticos boleiros, mas ficou contrariado com tais proibições: “A Fifa pode tirar o nome de Jesus das camisetas, mas não do coração do atleta”. E uma das maneiras que adotava para propagar a palavra de Deus a companheiro do time adversário era presenteá-lo com uma Bíblia.
A conversão de Jorginho deu-se durante um culto, quando testemunhou a cura de um irmão alcoólatra. E o exemplo de lealdade em campo resultou no reconhecimento da Fifa com a premiação do troféu ‘fair-play’ em 1991, quando jogava no Bayer Leverkusen de Alemanha. Lá ficou de 1989 a 1992, e foi deslocado para o meio-de-campo. Posteriormente transferiu-se para o Bayem de Munique, onde ficou durante dois anos.
Naquele período criou a comunidade Evangélica Brasileira de Munique e cedia o porão de sua casa para a realização de cultos. Também estava no auge da carreira e foi recompensado com o tetracampeonato mundial da Seleção Brasileira, na Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994. A frustração foi ter se machucado na final contra a Itália, na vitória através das cobranças de pênaltis, quando cedeu o lugar para Cafu. Familiarizou-se com a Seleção ainda nos juniores, onde foi campeão Pan-Americano e Mundial. No selecionado principal, a partir de 1987, disputou duas Copas e foi titular absoluto até 1995.
Jorgino dificilmente errava passes. Entrava em diagonal e preferia o passe ao cruzamento. Também sabia defender e até fazia cobertura de zagueiros. A rigor, com 13 anos de idade, no treino peneira do América (RJ), disse que jogava na zaga, mas acabou deslocado à lateral-direita. Ali começava uma carreira com passagens por Flamengo, futebol alemão, Kashima Antlers do Japão, São Paulo, Vasco e Fluminense, onde encerrou a carreira em 2002.
Em 2005 iniciou a função de técnico, no América (RJ), e provocou polêmica ao sugerir mudança do mascote do clube, um diabinho, por uma águia. No ano seguinte, a convite de Dunga, passou a integrar a comissão técnica da Seleção Brasileira.
Jorge de Amorim Campos, carioca nascido no dia 17 de agosto de 1964, é diferenciado. Destina parte de seu salário e prêmios a instituições de caridade e estimula atletas ao mesmo procedimento. Em 1992 criou o Instituto “Bola pra Frente”, em Niterói, focado no esporte, educação e na qualificação profissional para garotos. Também foge da mesmice nas declarações. Em julho passado, defendeu aumento do número de substituições de jogadores nos jogos, com a justificativa de se evitar desgaste e melhorar o rendimento do atleta.