segunda-feira, 27 de maio de 2013

Dé, cavador de pênalti inigualável

 
 De uns tempos pra cá jogador de futebol passou a ser identificado por nome composto, o que contrasta com décadas passadas quando os apelidos eram comuns. Nos anos 60 e 70, locutores de futebol narravam jogadas de um atacante chamado pelo monossílabo tônico de ‘Dé’, que surgiu no Bangu e posteriormente passou por Vasco e Botafogo no futebol do Rio de Janeiro.

 Dé, que atuava como meia-direita e centroavante, fazia muitos gols. Era rápido, habilidoso e sobretudo manhoso para cavar pênaltis. Quem acha que o ex-corintiano Jorge Henrique e o cruzeirense Dagoberto abusam ao simular lances de faltas dentro da área, devem saber que não há comparativo com a malandragem de Dé, capaz de tropeçar propositalmente nas próprias pernas com tamanha perfeição, e assim enganar árbitros. A percepção era de que ele tivesse sido calçado pelo adversário.

 Dé era tão catimbeiro quanto indiscreto. Numa das preleções do saudoso treinador Otto Glória, véspera de uma partida do Vasco, ele quebrou a seriedade ao infiltrar-se ao lado do ‘treineiro’ na roda de atletas. Aí, repentinamente entortou um copo d’água em cima do papel da prancheta, ilustrada com desenho do esquema tático proposto, para desespero de Otto.

  - Que é isso Dé? Tá maluco?

 - Não, professor. Mas e se chover o que a gente faz?

 Eram freqüentes atitudes inesperadas de Dé. Na época em que uma camada de areia fina cobria toda pequena área nos campos, o desajuizado Dé atirou um punhado de terra nos olhos do goleiro Andrada, do Vasco, durante cobrança de falta favorável ao Bangu. Aí a bola entrou e o gol foi validado.

 Outro registro foi na função de treinador do Olaria, quando se irritou com um gol anulado favorável ao seu time. Simplesmente abandonou o banco de reservas e se dirigiu mais cedo ao vestiário. “Estou saindo para não ver esta pouca vergonha”.

 Por sinal, foi no Olaria em que tudo começou para Dé no futebol. Em 1966, quando as partidas preliminares brindavam torcedores que chegavam mais cedo aos estádios, ele marcou três gols da equipe juvenil num empate por 4 a 4 com o Bangu, e por isso o treinador Martins Francisco, do time de Moça Bonita, recomendou a contratação dele.

 No Bangu, Dé se juntou a Luís Alberto, Ubirajara, Jaime e Aladim, remanescentes daquele desmanchado time campeão carioca de 1966. E lá ele ficou até 1970, quando foi contratado pelo Vasco, onde jogou num time formado por Mazaropi; Toninho, Abel Braga, Renê e Marco Antonio; Zanata e Zé Mário; Fumanchi, Dé, Roberto Dinamite e Luís Carlos.

 Domingos Elias Alves Pedra é o nome de registro de Dé, nascido em Paraíba do Sul, município do Rio de Janeiro, que completou 65 anos de idade em abril passado. Ele foi atleta do Sporting de Lisboa no biênio 1975-76, enquanto na Arábia Saudita teve passagens quer como jogador, quer como treinador.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Tem boleiro ainda dominado pelo tabaco

 

 Quando se imagina que o regime estritamente profissional no futebol encurta espaço a boleiros fumantes, logo surgem exemplos que derrubam por terra esta afirmação. O meia Douglas, do Corinthians, é um dos tabagistas, de certo pressionado diuturnamente para abandonar o vício, como foram ex-jogadores como o goleiro Marcos, meias Neto, Zenon, Sócrates e o atacante Casagrande, décadas passadas.

 O tema em questão justifica-se porque 31 de maio é o Dia Mundial de Combate ao Fumo, criado pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Só no Brasil morrem 200 mil pessoas a cada ano por causa do cigarro.

 Substâncias maléficas do cigarro caem na corrente sanguínea e facilitam acúmulo de gordura, que impedem a circulação correta do sangue no organismo. Conseqüências: gangrenas - que resultam em amputação de membros - e falta de oxigenação nos órgão.

 O fumante tem consciência disso e ainda é alertado nos invólucros de cigarros de figuras em forma de caveira, fato que contrasta com o período em que ele era persuadido através de propagandas no rádio e televisão, até que fossem proibidas em 1971. Anos depois, apertou-se o cerco contra viciados, com proibições em aviões, ônibus, restaurantes e locais de aglomerações de pessoas, sem que isso fosse suficiente para sensibilizá-lo.

 No período de vigências, tais propagandas eram estreladas por galãs de cinema e passavam a impressão de glamour. O ex-meia Gerson Nunes de Oliveira, tricampeão mundial no México pelo Brasil, e fumante inveterado, gravou comercial da marca de cigarro Vila Rica com slogan que induzia o fumante a levar vantagem em tudo. Ele jamais previa que o slogan se transformaria na ‘Lei do Gerson’, atribuída aos espertões.

 No passado, boleiro fumava até pouco antes de entrar em campo. O atacante Servilho - já falecido - um dos melhores cabeceadores que passaram pelo Palmeiras, assistia parte de jogos preliminares com cigarro entre os dedos na década de 60. Os ex-meia Américo Murolo, também ex-palmeirense, fumava até em intervalos de partidas, no banheiro. O saudoso Sócrates, num jogo do Corinthians em Americana (SP) contra o Rio Branco, apanhou um cigarro do bolso de um amigo, e só após três tragadas o atirou num canto do fosso que dá acesso aos vestiários do Estádio Décio Vitta.

 Nos tempos de boleiros fumantes convivia-se com os “serrões”. O são-paulino Benê, já falecido, era capaz de consumir um maço de cigarro de colegas. O ex-lateral-direito Deleu, seu companheiro de clube e avesso ao fumo, bronqueava quando alguém acendia cigarro perto dele. E nas caronas avisava: “Fedô de cigarro não entra no meu carro”.

 Foi o período em que treinadores como Oswaldo Brandão, Ênio Andrade e Ébua de Pádua Lima (Tim) davam mau exemplo ao provocarem fumaceira no banco de reservas.

 Correção: o atacante Gerson da Silva morreu no dia 17 de maio

 

 

segunda-feira, 13 de maio de 2013


Marcelinho Carioca e a fama de ‘Pé de Anjo’

 
 Marcelinho Carioca já foi tido como jogador de futebol mascarado e ‘igrejeiro’. Obrigatoriamente é preciso que se acrescente que foi um dos mais perfeitos cobradores de falta de todos os tempos no planeta. O estrago que aquele pé direito número 36 fazia contra goleiros adversários não está no gibi. Dos 304 gols marcados ao longo da carreira, pode-se atribuir no mínimo metade deles através de cobranças de faltas, fato que originou o apelido de ‘Pé de Anjo’.

 Marcelinho sempre soube ser marqueteiro. Pela facilidade de comunicação, valorizava as entrevistas. E quando parou de jogar encontrou espaço na TV Bandeirantes para ser repórter esportivo, mas acertadamente percebeu que aquela não era a sua praia e optou por outras atividades profissionais.

 Se convidado ou espontaneamente, o certo é que ingressou na política no PSB (Partido Socialista Brasileiro), e não precisou se esforçar para obter mais de 62 mil votos quando postulou cadeira à Câmara Federal em 2010, ocasião em que ficou entre os suplentes.

 Claro que Marcelinho Carioca ficou assanhado por mandato popular e já se contentaria se fosse eleito vereador da cidade de São Paulo. Contudo, não foi no pleito de 2012 que atingiu o objetivo. Recebeu exatos 19.729 votos, a maioria de torcedor corintianos em forma de gratidão pelas passagens pelo Timão em três ocasiões.

 A contragosto, Marcelinho chegou ao Parque São Jorge em 1994, pois não pretendia deixar o Flamengo e, por extensão, o Rio de Janeiro, cidade em que nasceu no dia 1º de fevereiro de 1971. O passe dele foi negociado com o Valência da Espanha por US$ 7 milhões em 1997, o que representou lucro de quase dez vezes do preço pago ao clube carioca.

 No Campeonato Espanhol, o camisa sete de 1,69m de altura, 65 quilos, nem de longe lembrou seu requintado futebol. Logo, a possibilidade de retorno ao Brasil era real e disso se aproveitou o então presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo Farah, para investir na volta dele em um dos grandes clubes do Estado. Foi criado o Disk Marcelinho, que consistia em telefonemas de torcedores ao custo de R$ 3.

 Claro que o corintiano se manifestou maciçamente nos 11 dias de promoção, com 62,5% das ligações, contra 20,3% do São Paulo, o segundo colocado. E viu-se em campo o mesmo Marcelinho decisivo, como naquele histórico gol contra o Santos em 1998, quando ‘chapelou’ o zagueiro Ronaldo Marconato e emendou a bola com estilo, naquele empate por 2 a 2 no Estádio da Vila Belmiro. Três anos depois passou a se envolver em atritos, um deles com o também meia Ricardinho, e posteriormente com o treinador Emerson Leão.

 Marcelo Pereira Surgin ainda tentou ser gestor de futebol no América de Rio Preto em 2011, mas ficou apenas cinco meses na função. Assim, restaram boas recordações em passagens no Santos, Brasiliense e Japão, França e Arábia Saudita.

 

segunda-feira, 6 de maio de 2013


Gerson, uma morte prematura

 

 O dia 17 de maio será marcado como o 19º ano da morte do centroavante Gerson da Silva, na iminência de completar 29 anos de idade, vítima de toxoplasmose. Médicos do Inter (RS) revelaram no início do ano de 1994 que o artilheiro era portador de soro positivo, que havia contraído o vírus HIV (vírus da Aids), e por isso decidiram afastá-los das atividades.

 A família nunca confirmou aquela versão, o caso gerou polêmica, e deixou o jogador enfurecido. Na sequência Gerson ficou debilitado, seu estado de saúde se agravou, e ele morreu no dia 16 de setembro de 1994. Foi um duro golpe para a esposa Andréia e seus familiares.

 Diferentemente do meio artístico, é raro um atleta assumir publicamente ser vítima do vírus HIV. Uma das exceções foi o ídolo do basquete norte-americano Earvin Johnson, fato que causou comoção no planeta, notadamente entre os seus admiradores. E mais: ele decidiu servir de exemplo ao propagar através de palestras e entrevistas os cuidados que devem ser adotados para se evitar o vírus.

 Quanto ao Gerson da Silva futebolista, 72 quilos, a história mostra que despontou nas categorias de base do Santos e chegou ao selecionado brasileiro juvenil como uma das gratas promessas. Assim, os cartolas do Santos projetaram que o empréstimo ao Guarani em 1984, sem fixar o preço do passe, serviria para ‘canchá-lo’, dar-lhe a devida experiência. Por isso o colocaram na negociação que envolveu a ida do então lateral-direito Chiquinho à Vila Belmiro.

 Devolvido ao Santos, Gerson oscilou algumas boas

atuações a outras apagadas. Aquela indefinição na carreira o levou ao Paulista de Jundiaí (SP), clube que permitiu seu recomeço no futebol. Assim, sem pressão e com dedicação, se reencontrou com o gol.

 Olheiros do Atlético (MG) o redescobriram no Paulista, época em que lembrava, mesmo que vagamente, o estilo de seu tio Baltazar, o cabecinha de ouro do Corinthians, na década de 50. E no Atlético (MG) em 1989, num time de jogadores renomados, Gérson fazia gols aos montes. Jogava ao lado do quarto-zagueiro Luzinho e dos atacantes Renato Morungaba e Éder Aleixo, entre outros, e arrancava aplausos do técnico Jair Pereira, que o desobrigava da atribuição de driblar. “O Gerson põe a bola na frente e passa como foguete diante do adversário”, detalhava.

 Exagero ou não, o certo é que naquela época Gerson marcou cinco gols em uma partida contra o Democrata de Governador Valadares (MG), explorando a estatura de 1,83m de altura para o cabeceio.

 Gerson era alegre, espontâneo e aumentava a apetite quando o prato era feijoada. Gostava de pagodinho e músicas do cantor Benito de Paula. Supersticioso, se benzia antes de entrar em campo, e o primeiro passo no gramado era sempre com o pé direito.