segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Ismael e Friaça: mortes

Por Élcio Paiola (interino)


Eta janeiro bravo! Não bastasse a desumanidade de Israel ao matar dezenas de civis - mulheres e crianças - com estúpido bombardeio a palestinos na Faixa de Gaza, o mundo esportivo também está enlutado com o trágico acidente do ônibus que conduzia a delegação do Brasil de Pelotas (RS) na madrugada do dia 15, provocando três vítimas fatais. No mesmo dia, morreu o ex-lateral-direito Ismael, bicampeão mundial pelo Santos em 1963, e no dia 12 faleceu o ponteiro-direito Friaça, autor do gol da Seleção Brasileira na fatídica derrota para o Uruguai por 2 a 1, na final da Copa do Mundo de 1950, no Estádio do Maracanã, no Brasil.
Quanto ao conflito no Oriente Médio, embora fora de nossa pauta, vamos meter a colher. A esperança de paz agora fica depositada no novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Espera-se dele a intermediação com neutralidade entre israelenses e palestinos, diferentemente de George W. Bush, um parceiro indisfarçável de Israel.
Em Pelotas, comoção pelas mortes do atacante uruguaio Cláudio Milar, ex-Botafogo (RJ); do zagueiro Régis, ex-Fluminense; e do treinador de goleiros Giovani Guimarães. A delegação retornava a Pelotas após jogo amistoso contra o Santa Cruz, quando o ônibus capotou e provocou esta tragédia.
Acidentes desse tipo nos remetem a lembranças tristes do passado, como em 1949 com a delegação do Torino, da Itália. Na ocasião, 18 jogadores, membros da comissão técnica e jornalistas morrem a bordo de uma aeronave. Eles retornavam de Portugal, após jogo amistoso contra o Benfica.
Os ingleses também choraram mortes de integrantes do Manchester United em 1958, durante acidente aéreo. O meio-campista Bobby Chalton, sobrevivente, foi um dos destaques da Inglaterra na conquista da Copa do Mundo de 1966.
Em 1987, o Alianza de Lima, do Peru, perdeu seu elenco também em acidente aéreo. E, em 1993, o Zâmbia ficou sem time para as Eliminatórias da Copa do Mundo de 1994, com a explosão do avião que conduzia 18 jogadores e três dirigentes da associação de futebol daquele país.
A segunda segunda-feira do ano começou brava com a divulgação da morte de Friaça, de falência múltipla dos órgãos. Seu apogeu foi no período de 1944 a 1949, quando vestiu a camisa do Vasco e chegou à Seleção Brasileira. Embora originariamente fosse ponteiro-direito, adaptava-se com facilidade às demais posições do ataque. Era veloz e deixava adversários para trás. Foi assim também no São Paulo, de 1949 a 1951, e nas passagens por Ponte Preta e Guarani.
Por fim, torcedores santistas do passado também lamentaram a morte do lateral Ismael Mafra Cabral, jogador de razoável para bom. É difícil destacar, indistintamente, jogadores de defesa do Santos há quatro décadas. O ataque fazia muitos gols, mas a defesa também era vazada. Vitórias por 5 a 4 ou 6 a 5 eram normais. Claro que a opção ofensiva deixava a defesa vulnerável, mas havia falhas em defensores do Peixe.
Ismael, que morava em Santo André, foi vítima de complicações provenientes do diabetes. Tinha 70 anos e seu histórico no futebol começou no Palmeiras em 1956, quando jogou ao lado do zagueiro Valdemar Carabina. Depois passou por Ferroviária de Araraquara (SP), Santos, Fluminense, São Paulo e Coritiba. No Santos, chegou a perder a posição para o coringa Lima.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Eduardo Amorim e a disciplina tática

Por Élcio Paiola (interino)

O mineiro Eduardo Fernandes Amorim foi tido como jogador coadjuvante quando esteve vinculado ao Cruzeiro, Corinthians e Santo André, nas décadas de 70 e 80. A fama de “carregador de piano” deve-se à disciplina tática. Embora fosse originariamente atacante, recuava e ajudava companheiros meio-campistas na marcação.
Cabe esclarecer que Eduardo era um ponteiro-direito com relativos recursos técnicos. Sabia fazer precisos cruzamentos desde os tempos de Cruzeiro, de 1969 a 1981, e tinha versatilidade para conduzir a bola em diagonal, o que levou treinadores a adaptá-lo como ponta-de-lança no curso da carreira, com maior intensidade no Corinthians, onde passou de 1981 a 87, encerrando a carreira no ano seguinte no Santo André.
No histórico de títulos, ênfase para o da Taça Libertadores da América em 1976, pelo Cruzeiro. Foram três jogos contra o River Plate, da Argentina, o primeiro deles com goleada mineira por 4 a 1 no Estádio do Mineirão.
No segundo jogo, no Estádio Monumental de Nuñes, em Buenos Aires, Eduardo ficou indignado com a desastrosa arbitragem do uruguaio José Martinez Bazán, que validou o segundo gol argentino em jogada irregular, resultando em vitória dos mandantes por 2 a 1. O lateral-esquerdo Vanderlei, do Cruzeiro, foi empurrado no lance que precedeu o gol e a falta não foi marcada.
No terceiro jogo, em Santiago, no Chile, com vitória cruzeirense por 3 a 2, Nelinho, de pênalti, abriu o placar, e Eduardo ampliou para os mineiros. O River empatou e foi derrotado aos 43 minutos do segundo tempo. Numa falta nas imediações, Nelinho - o cobrador oficial do time - já se preparava para a cobrança quando o atrevido Joãozinho bateu de curva na bola e marcou.
No final, os cruzeirense se ajoelharam no centro do gramado e rezaram em memória do companheiro Roberto Batata, morto no dia 13 de maio daquele ano, dois dias após “arrebentar” com a partida contra o Alianza, em Lima, no Peru, na goleada cruzeirense por 4 a 0.
Batata dirigia seu veículo Chevette na Rodovia Fernão Dias - que liga Belo Horizonte a São Paulo - quando se envolveu em um acidente fatal.
E entre abraços da boleirada nos vestiários, o técnico Zezé Moreira (já falecido) deu uma tremenda bronca em Joãozinho, apesar dele ter feito o gol da vitória. “Seu moleque irresponsável! Nosso cobrador de falta é o Nelinho, ouviu”?
No Corinthians, Eduardo assimilou rapidamente a democracia corintiana, movimento liderado pelos jogadores Sócrates, Casagrande e Vladimir, que consistia nos rumos do futebol do clube através dos votos de jogadores, membros da comissão técnica e dirigentes. Contratações, dispensas e regras de treinamentos e concentração eram decididos pela vontade da maioria, em pleno regime militar.
Reflexo da abertura democrática ou não, o certo é que o Timão de Eduardo conquistou o bicampeonato paulista em 1982/83, num time formado por Leão; Alfinete, Mauro, Juninho e Wladimir; Paulinho, Biro-Biro e Zenon; Eduardo, Sócrates e Casagrande.
Como treinador do Corinthians, em 1995, Eduardo conquistou os títulos paulista e da Copa do Brasil. Depois trabalhou no Atlético (MG), Lusa, Sport Recife e América (RN). Ficou, ainda, oito anos no futebol da Grécia.
Ano passado, de volta ao Brasil, topou o desafio de comentar futebol na TV Alterosa, de Minas.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Zezé, ponta-esquerda nato

Por Élcio Paiola (interino)

Durante festejos de final de ano, é natural as pessoas se desligarem do noticiário esportivo e, consequentemente, muita gente não ficou sabendo da morte do ponteiro-esquerdo Zezé, ex-Fluminense, Guarani e Flamengo no dia 30 de dezembro.
O mineiro Antonio José da Silva, natural de Muriaé, não se diferenciava da molecada da época, avessa aos estudos e com fascínio pela bola. Sabia controlá-la habilmente com a canhota, e por isso em 1976 já era jogador do Fluminense.
Na época, parte dos treinadores usava o chamado ponta falso, que recuava para ajudar a cercar os espaços do adversário no meio-de-campo. Zezé, contrariamente, era da escola antiga. Só participava do jogo com a bola nos pés. Assim, ao se desvencilhar do lateral, chegava facilmente ao fundo de campo, e fazia precisos cruzamentos. Também sabia fechar bem em diagonal, pegava bem na bola, e por isso de vez em quando fazia seus golzinhos.
Se com essa característica chegou à Seleção Brasileira em 1979, participando de dois jogos - dois empates -, torcia o nariz quando treinadores pediam para ajudar na marcação. “Não adianta. Não sei marcar”, era a resposta áspera aos comandados, que se irritavam ao vê-lo parado em campo cada vez que perdia a bola.
Ainda no Fluminense, comemorou o título carioca de 1980, num time formado por Paulo Goulart; Edevaldo, Tadeu, Edinho e Rubens; Delei, Gilberto e Mário; Mário Jorge, Cláudio Adão e Zezé.
Em 1982 se transferiu para o Guarani, numa troca pelo meia Ângelo (falecido). E se encaixou bem num ataque que tinha Lúcio, Jorge Mendonça, Careca e ele. E mais: um meio-de-campo que nos jogos em Campinas contava com outro meia de característica ofensiva, caso de Ernani Banana, e apenas um volante pegador: Éderson.
Desta forma, com Zé Duarte (falecido) no comando técnico, o Guarani primou pela ousadia ao jogar com quatro atacantes e, às vezes, até cinco. A recompensa foi a bela campanha no Campeonato Brasileiro, quando chegou à fase semifinal, despachado pelo Flamengo após derrotas por 2 a 1 no Rio de Janeiro e 3 a 2 em Campinas, com público pagante de 120.441 e 52.002 respectivamente.
No Campeonato Paulista daquela temporada, Zé Duarte optou por um time com mais pegada no meio-de-campo e escalou Banana como falso ponteiro-esquerdo, possibilitando que Júlio César auxiliasse Éderson na marcação. Logo, sobrou para Zezé, que chiou bastante da condição de reserva.
Não bastasse a insatisfação do atleta, uma bateria de exames feita pelo cardiologista Nabil Ghorayeb, que coordenava o Sport Check-up do Hcor (Hospital do Coração), constatou que ele tinha problemas cardíacos e foi proibido terminantemente de jogador futebol.
Evidente que Zezé não acatou o diagnóstico. Disse que não sabia fazer outra coisa na vida a não ser jogar bola, e, assim, o Guarani facilitou a sua transferência para o Flamengo, onde ficou até meados de 1983, passando, posteriormente, por Ceará, Santo André (SP) e Blumenau (SC), entre outros, até 1992.
Zezé correu risco desnecessário de sofrer enfarto no futebol, ainda mais pelo histórico da morte de um irmão cardíaco participando de uma pelada.
E agora, quando sonhava se firmar na função de treinador de equipes de segunda divisão do futebol mineiro, morreu aos 51 anos de idade, vítima de complicações renais.