segunda-feira, 31 de dezembro de 2012


 

 

Corinthians teve zagueiros questionáveis

 

 Quer na conquista da Libertadores da América, quer no Mundial de Clubes, o Corinthians contou com a eficiência de seu miolo de zaga, com Chicão, Leandro Castán e Paulo André se alternando nas duas posições. Esse quadro contrasta com um setor historicamente contestado. Nos últimos 40 anos poucos zagueiros talentosos passaram pelo clube. O clássico Amaral na década de 70. Posteriormente vieram Antônio Carlos e o paraguaio Gamarra. Quem mais?

 A maioria dos zagueiros recorreu à superação para cair no gosto da torcida. Era praxe o Corinthians pautar por contratações de zagueiros vigorosos, rebatedores, o chamado limpa área. Em 1966, o camisa 3 era Ditão (já falecido), que veio da Portuguesa de Desportos e formou dupla com Clóvis e depois Luís Carlos, numa defesa que tinha os laterais Jair Marinho e Édson Cegonha. O goleiro era Marcial. Nair e Rivelino formavam o meio-de-campo. No ataque jogavam Marcos, Tales, Flávio e Gilson Porto.
 Em 1974, o central do Corinthians era Brito, tricampeão mundial pelo Brasil, no México, mas com limitações claras no chão. A equipe, na época, era formada por Buttico; Zé Maria, Brito, Ademir Gonçalves e Wladimir; Tião e Rivelino; Vaguinho, Lance, Zé Roberto e Adãozinho.
 Na sequência chegou ao Timão o zagueiro Moisés, precedido da fama de jogador violento. Ele saiu do Bangu para ser o xerife da zaga corintiana, e participou do memorável time campeão paulista de 1977, com Tobias: Zé Maria, Moisés, Ademir Gonçalves e Vladimir; Russo, Luciano e Basílio; Vaguinho, Palhinha e Romeu Cambalhota.
 O nível técnico da zaga corintiana cresceu no ano seguinte com a chegada de Amaral, que cobria as falhas do grandalhão Mauro, beque cintura dura e facilmente batido no chão. Ele só foi mantido titular porque no jogo aéreo era quase intransponível.

 Já em 1982, o companheiro de zaga de Mauro foi Daniel Gonzalez, um uruguaio falecido em acidentes de automóvel. No ano seguinte, a parceria foi com Juninho, o Alcides Fonseca Júnior, revelado pela Ponte Preta.
 O Corinthians foi campeão paulista em 1988 e o zagueiro central era Marcelo, na época um garoto saído das categorias inferiores do clube, que se destacou pela velocidade nas coberturas. O time tinha novatos como o goleiro Ronaldo, quarto-zagueiro Denílson e o atacante Viola. Eis a formação: Ronaldo; Édson Abobrão, Marcelo, Denílson e Dida; Márcio, Biro-Biro e João Paulo; Everton, Viola e Paulinho Carioca.
 Em 1993, Marcelo fez dupla de zaga com Henrique. Dois anos depois deixou o posto para Célio Silva, que caiu no gosto da fiel pela garra e chute forte em cobranças de faltas, que assustava goleiros adversários. Convenhamos: jogador limitadíssimo.
 Passaram pelo Corinthians ao longo dos anos zagueiros como Gomes, Jatobá, Batata, Marinho, Betão e Cris, todos de superação.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012


 Sorlei, carreira encerrada aos 28 anos de idade

 
 Sorlei Murali Crudzinki foi um zagueiro clássico, cuja carreira foi interrompida aos 28 anos em 2002, quando atuava pela Portuguesa Santista. Agora, enquanto descansa em Coritiba, no Paraná, dá entrevistas citando o sonho com a carreira de treinador. Ou melhor: projeta um futuro promissor na nova função.

 “Ainda vou dirigir o Fluminense. Pode escrever aí”, afirmou ao portal do Globo Esporte em abril de 2009, quando foi flagrado na capital paranaense com a cabeça raspada.

 Que Sorlei tem boa leitura de partidas, isso ficou claro para quem teve contato com ele no pós-jogo. Nas avaliações, era tão realista que, por vezes, sobravam críticas até para companheiros, que resultavam em situação constrangedora.

 No quesito comunicador sempre mostrou facilidade de expressão, e por isso sempre foi requisitado para entrevistas. Os assuntos fluíam. Jamais o entrevistador deparava com o irritante monossílabo. Então, a boa capacidade de argumentação influenciava. E adicionava a isso a postura de um líder de grupo.

 Dos outros quesitos indispensáveis a treinadores, restaria ser testado sobre atualização profissional, se sabe ouvir críticas, persistência e sobretudo sorte. Sem isso, de nada adiantaria imaginar que entender de futebol e ter competência para transmitir a sua filosofia aos comandados seria suficiente. E diferente da posição de algumas correntes, não é exigência básica que seja formado em educação física.

 Já que uma casa começa pelo alicerce, a opção para Sorlei seria um clube de menor expressão, para se transformar em vitrine na hipótese de alcançar bons resultados. Ainda assim precisa se conscientizar que treinador fica eternamente na ‘corda bamba’.

 A carreira de atleta bem sucedida em grandes clubes como Coritiba, Fluminense e São Paulo contribuiu para Sorlei absorver bons ensinamentos de seus treinadores. No Flu, foi campeão carioca em 1995, num time comandado por Jorge Vieira - já falecido - e formado por Wellerson; Ronald, Sorlei, Lima e Lira; Márcio Costa, Aílton, Djair e Rogerinho; Renato Gaúcho e Leonardo.

 No São Paulo ele ficou pouco mais de seis meses em 1996. Depois, transferiu-se ao Guarani e formou dupla de zaga com Sangaletti, num time treinado por Carbone e formado por Hiran; Sorlei, Sangaletti e Júlio César; Germano, Valdeir, Cairo, Elso e Alexandre Gaúcho; Ailton e Marcelo Carioca.

 Sorlei desarmava bem, sabia antecipar ao adversário, mas era vulnerável no jogo aéreo, com a estatura de 1,81m de altura, hoje considerada inapropriada para zagueiros.

 Seguidas contusões em joelhos, que resultam em cinco cirurgias, impediram que tivesse sequências de jogos e por isso o rendimento em campo foi decrescendo quando saiu do Guarani em 1999, passando por Vila Nova (GO), ABC potiguar, Bragantino e Portuguesa Santista.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012


Eurico Miranda, uma história em livro



 Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco, estava no ostracismo até o dia 13 de dezembro passado quando autografou o livro ‘Todos Contra Ele’, no Rio de Janeiro, obra que tem a biografia do dirigente, e que foi escrita por Sérgio Frias.

 Com saudade dos holofotes, Eurico aproveitou a oportunidade para as alfinetadas características: “Só quero que não me provoquem muito. Eu tinha decidido me aposentar e cuidar dos meus netos, mas estão me provocando muito. De repente posso mudar de idéia”, foi a insinuação de que pode disputar a próxima eleição presidencial do clube cruzmaltino.

 Na presidência do Vasco e como deputado federal, Eurico ousou bateu de frente com a Rede Globo de Televisão ao exibir o logotipo do concorrente SBT nas camisas dos jogadores do Vasco, durante transmissão da ‘poderosa’ na final da Copa João Havelange de 2000, contra o São Caetano.

 Também deve constar nesta biografia sobre Eurico Miranda a criticada atitude dele ao transportar para a sua casa a receita que cabia ao seu clube de partida contra o Flamengo de 1997, pelo Campeonato Brasileiro, no Estádio do Maracanã, com vitória vascaína por 1 a 0, gol de Pedrinho.

 Detalhe: no caminho de seu apartamento Eurico foi interceptado e rendido por assaltantes que levaram o malote com o dinheiro. A mídia informou o valor de R$ 62 mil, versão contestada pelo dirigente: “Foram R$ 27 mil e pouco, e devidamente registrados”.

 Questionou-se na época por que o dirigente não fez uso de carro forte para transporte seguro, em vez da arriscada opção de confiar apenas em seguranças, no acompanhamento?

 Na época, irritado com suspeitas de situação forjada, Eurico fez questão de detalhar que os bandidos usavam colete à prova de bala e metralhadora R15. “Deram um tiro que deixou marca no asfalto. Conclusão: naquele ano o Vasco foi campeão para ‘delírio’ desses caras”.

 Outro constrangimento de Eurico Miranda foram denúncias e investigações feitas pela CPI do Futebol da Câmara, posteriormente confirmadas pela 4ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, que em maio de 2007 o condenou a dez anos de reclusão, e ao pagamento de multa de aproximadamente R$ 53 mil por crime contra a ordem tributária.

 Segundo o Ministério Público Federal, Eurico deixou de declarar em 1999 e 2000 cerca de R$ 274 mil que teriam sido movimentados em contas de laranjas. O ex-presidente do Vasco recorreu em liberdade da decisão.

 Décadas passadas, no auge de uma comemoração vascaína, após vitória sobre o Flamengo, e com a sua habitual irreverente, Eurico destilou todo veneno contra o rival: “Não sei se tenho maior prazer numa relação sexual ou se quando ganhamos do Flamengo”.
 Eurico provoca brigas desnecessárias, tem fascinação pelo cenário político, e o reprovável hábito de enfumaçar ambientes com baforadas de seu charuto.

 

 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012


Cláudio Pinho, o maior artilheiro do Corinthians

 

 No céu, ou aonde estiver, o ponteiro-direito Cláudio Cristovam Pinho também deve entoar o grito de guerra do representante do Brasil no Mundial de Clubes, no Japão: ‘Vai Corinthians’.

 É obrigação do corintiano saber que Cláudio entrou para a história do clube como o principal artilheiro de todos os tempos com 295 gols, estatística confirmada em depoimento do jogador ao finado jornal impresso A Gazeta Esportiva em abril de 1998, dois anos antes de sua morte. Há informações contraditórias de que ele teria marcado 305 gols em 533 partidas disputadas pelo Corinthians.

“Sempre fui lembrado não pelos gols que marquei, mas pelos passes que dei. Tem gente que até hoje fala dos cruzamentos na cabeça do Baltazar”, revelou Cláudio naquela ocasião, em defesa da solidariedade do conjunto. “O futebol tem que ser assim. Todo mundo tem o seu papel. O que faz o gol e o que faz o passe, porque sem ele não sai o gol”, acrescentou.

 A passagem pelo Corinthians de 1945 a 1957 foi marcada como um ponteiro-direito rápido, habilidoso e exímio cobrador de faltas e escanteios. Há historiadores que lembram de um gol olímpico marcado contra o Palmeiras logo que foi contratado pelo Timão, num ataque formado por Cláudio, Luizinho, Rafael, Simão e Carbone. Posteriormente ele foi companheiro do centroavante Baltazar, o cabecinha de ouro.

 A postura de líder em campo resultou no apelido de ‘Gerente’. E, em uma de suas últimas entrevistas, Cláudio não se constrangeu ao afirmar que quando as coisas não davam certo em campo, ele fazia aquilo que achava melhor, deixando explícito que não era subserviente ao comandante. “O treinador pedia uma coisa, mas eu mudava dentro de campo. Tinha liderança sobre os meus companheiros, e tinha liberdade com o técnico”.

 Por essas e outras razões que Cláudio já criticava meias que participavam de jogadas apenas quando a bola chegava aos pés, como se projetasse que o treinador Tite, do Corinthians, fosse assimilar os seus conceitos de futebol participativo. “Algumas vezes os meias se desligam do jogo, como se não tivessem a menor responsabilidade”.

 Apesar da identificação com o Corinthians, Cláudio entrou para a história por ter atuado nos quatro grandes clubes do futebol paulista. O início da carreira foi no Santos, sua cidade natal, em 1940. Dois anos depois transferiu-se por empréstimo para o Palmeiras e marcou o primeiro gol do clube na era pós Palestra Itália, na vitória por 3 a 1 sobre o São Paulo. Del Nero e Echevarrieta completaram o placar no jogo do título paulista. Waldemar de Brito marcou para o tricolor paulistano.

 Cláudio jogou no Corinthians até 1957. Depois, ainda no clube, foi técnico interino com a saída de Oswaldo Brandão. De 1958 a 1960 atuou no São Paulo, onde encerrou a carreira de atleta. Na biografia constam 12 jogos pela Seleção Brasileira.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012


 Fidélis, o ‘Touro Sentado’

 
 A finalidade de homenagear aqui jogadores do passado preferencialmente em vida foi cumprida à risca no caso do lateral-direito José Maria Fidélis dos Santos, que morreu no dia 28 de novembro passado em São José dos Campos (SP), aos 68 anos de idade, após um câncer de estômago durante sete meses. Agora a história será recapitulada.

 Fidélis media, se muito, 1,70m de altura, e esticava o cabelo com brilhantina, um cosmético em forma de pomada, de aspecto gorduroso, usado em larga escala até nos anos 70. E vejam que a brilhantina inspirou até o músico Raul Seixas - já falecido - em letra de composição intitulada ‘Teddy Boy, Rock e Brilhantina’. Eis a citação da primeira estrofe: “Eu quero avacalhar com toda turma de esquina, com meu cabelo cheio de brilhantina”.

 Fidélis, lateral-direito dos anos 60 e 70, tinha limitações técnicas quando passava do meio de campo. Dele não se esperava um passe alongado, drible ou cruzamento com efeito. Valia-se da força física. Era um implacável marcador, estilo exigido para quem atuasse naquela época na posição, com incumbência de anular antigos ponteiros.

 Isso foi preponderante para que o treinador Vicente Feola o relacionasse entre os 22 jogadores da Seleção Brasileira à Copa do Mundo de 1966 na Inglaterra. E se lá chegou como reserva de Djalma Santos, saiu como titular quando o treinador modificou toda defesa na terceira partida da primeira fase contra Portugal, escalando Manga, Fidélis, Brito, Orlando e Rildo. As modificações foram infrutíferas e o time perdeu por 3 a 1.

 Natural de São José dos Campos, nascido em 13 de março de 1944, Fidélis integrou o melhor time do Bangu de todos os tempos em 1966. Aquele elenco protagonizou inesquecível final de Campeonato Carioca, com goleada por 3 a 0 sobre o Flamengo até os 25 minutos do 2º tempo. Uma confusão generalizada entre jogadores, com o flamenguista Almir Pernambuquinho como pivô, resultou no encerramento antecipado da partida.

 Na época o Bangu mandava jogos até contra grandes clubes do Rio de Janeiro no Estádio Proletário Guilherme da Silva, chamado de Moça Bonita. Se lá já se espremeram 17 mil pessoas no jogo contra o Fluminense em 1949, hoje, por medida de segurança, a lotação não excede 9,5 mil pessoas.

 Fidélis, que chegou ao Bangu em 1963, estranhou a generosidade do bicheiro Castor de Andrade, patrono do clube e já falecido, que pagava bichos aos atletas até em treinos coletivos. Também assimilou bem o apelido de ‘Touro Sentado’, referência a Tatanka Iyotake, índio norte-americano chefe da tribo dos sioux hunkpapa, que viveu entre os anos 1834 e 1890.

 Em fevereiro de 1969 Fidélis trocou o Bangu pelo Vasco, e foi recompensado com a conquista do título brasileiro de 1974, após vitória por 2 a 1 sobre o Cruzeiro, no Estádio do Maracanã, com 112.993 torcedores presentes.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012


 

Guarani, quem te viu, que te vê...

 

 O Guarani convive com a chaga de rebaixamentos desde 2001, culminando com a volta à terceira divisão nacional neste 24 de novembro, após derrota para o São Caetano por 2 a 1, em seus domínios. Há 11 anos o Bugre ficou em penúltimo lugar do Campeonato Paulista com 15 pontos, à frente apenas do Mogi Mirim no critério número de vitórias.

 Aquele rebaixamento foi convertido em vaga para o Torneio Rio-São Paulo, competição que substituiu os campeonatos regionais dos respectivos estados. Isso por causa de uma virada de mesa provocada pelo então presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo Farah.

 E naquela competição de 2002 o Guarani acabou novamente rebaixado, porque o regulamento estabelecia que o último colocado de São Paulo e do Rio de Janeiro cairiam. Na ocasião, dos 16 participantes, o Bugre ficou em 12º lugar, à frente de Flamengo, Americano, Bangu e América (RJ).

 Com a extinção do Torneio Rio-São Paulo, o Guarani voltou normalmente ao Paulistão, mas em 2004 foi rebaixado no Campeonato Brasileiro, após derrota por 4 a 2 para o Paysandu, no Estádio Mangueirão, no Pará, na penúltima rodada.

 Em 2006, o então presidente bugrino José Luiz Lourencetti não suportou a pressão, após rebaixamentos à Série C do Campeonato Brasileiro e Série A2 do Campeonato Paulista, e renunciou ao mandato antes da iminente destituição.
 Em dois anos o time reacendeu à Série B e recuperou vaga no Paulistão. No entanto o torcedor continuou convivendo com o sobe e desce. Em 2009, novo rebaixamento do Paulistão e acesso à Série A do Brasileiro. Em 2010, rebaixamento à Série B do Brasileiro. Por fim, a penosa queda à Série C do Brasileiro.

 Bons tempos em que o Bugre revelava ídolos. Na década de 70 lançou Mauro Cabeção (falecido), Amaral, Júlio César, Miranda, Renato 'pé murcho' e Careca. Nos anos 80 surgiram Neto, Evair e João Paulo. Na década de 90 apareceram Amoroso e Luizão.

 O bugrino saudosista lembra com orgulho da arrancada triunfal de 1978, culminando com a conquista do título brasileiro. Na primeira partida decisiva contra o Palmeiras, no Estádio do Morumbi, dos 99.829 torcedores pagantes, cerca de 30 mil eram bugrinos, que empurraram o time na vitória por 1 a 0, gol de pênalti cobrado por Zenon. Aquela foi a segunda maior caravana de torcidas que se tem conhecimento no País, suplantada, obviamente, pela invasão corintiana ao Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, em 1976, na semifinal do Brasileiro, diante do Fluminense.

 O Guarani já colocou 52.002 torcedores no Estádio Brinco de Ouro, na semifinal do Campeonato Brasileiro em 1982, contra o Flamengo. E pelo clube passaram ídolos como os meias Jorge Mendonça e Djalminha, e o zagueiro Ricardo Rocha, contratados a preço de banana. Eles foram dignos de aplausos, e garantiram lucratividade invejável nas negociações dos passes.

 


Alex Alves, no campo um atleta feliz


Morte de uma pessoa aos 37 anos de idade, como a do jogador Alex Alves, é impactante. E o pensador italiano Cícero, nascido no ano 106 a.C., já filosofava na época: “Que há de mais natural para o velho do que a perspectiva de morrer?”. E arrematava comparando a dor pela perda de vida de quem não é velho.

“Quando a morte golpeia a juventude, a natureza resiste e se rebela. Assim como a morte de um adolescente me faz pensar numa chama viva apagada sob um jato d’água, a de um velho se assemelha a um fogo que suavemente se extingue”.

Desde que mundo é mundo a espécie humana sabe que não há certeza da chegada ao tempo de velhice, da necessidade de conscientização de que estamos por aqui apenas de passagem, que a morte é inexorável.

Adianta? Claro que não. Prevalece por aí a empáfia, ganância sem fim pelo dinheiro e poder.

Pelo menos Alex Alves transmitia a sensação de viver em sua plenitude quando irradiava satisfação a cada gol marcado. Cambalhotas eram a marca registrada. E tal como no campo, fora dele demonstrava irreverência com cabelos pintados e arrumados de seu jeito.

Esse hábito se repetiu de 1992 - quando iniciou a carreira no Vitória da Bahia -, e se prolongou até 2007 quando a doença HPN (Hemoglobinúria Paroxística Noturna) se manifestou e abreviou o encerramento da carreira em 2010, no União Rondonópolis (MT).

Naqueles 18 anos de profissionalismo atuou como ponteiro-direito veloz que fecha em diagonal nas proximidades da área adversária, e fez gols em abundância. Passagens coroadas com os principais títulos foram no Campeonato Brasileiro pelo Palmeiras em 1994 e Libertadores da América no Cruzeiro em 1997.

O bom desempenho abriu-lhe portas para ingressar em clubes do exterior. Consta da biografia que atuou pelo Hertha Berlim da Alemanha, Boa Vista de Portugal e Kavale da Grécia, passagens entremeadas com volta ao Brasil para defender Atlético Mineiro, Portuguesa, Vasco, Fortaleza, Juventude e União Rondonópolis.

Naturalmente o intrigado desportista que desconhecia a HPN já foi informado que trata-se de uma doença rara das células-tronco hemotopoéticas, causada por mutação de um gene ligado ao cromossomo X. Ela se manifesta no limite de dez pessoas no universo de um milhão. Um dos sintomas é a urina escurecida no período noturno; outro as infecções recorrentes.

Alex Alves travou batalha incansável pela cura, submetendo-se a transplante de medula, doada por um de seus irmãos. Contudo perdeu a luta contra doença e não realizou o sonho de uma partida de despedida do futebol.

Da morte dele restou o ensinamento de que as pessoas devem viver intensamente cada dia e saborear cada momento como se fosse o único.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Dá-lhe Fluminense!

 
 Se o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues fosse vivo, de certo diria que o seu Fluminense havia incorporado o sobrenatural de Almeida na vitória por 3 a 2 sobre o Palmeiras, a três rodadas para o encerramento do Campeonato Brasileiro, resultando na conquista título de 2012. Para o jornalista, os grandes feitos do time tinham a ver com o personagem fictício criado para evocar a capacidade de superação.
 Quem contar a trajetória do Fluminense tem que retroceder à década de 30 quando o meia Élbua de Pádua Lima, o Tim, aplicava dribles secos e desconcertantes. Nos anos 40 e 50 sobressaía o vigor físico do zagueiro Pinheiros (falecido), que se moldou à marcação por zona criada em 1951 pelo treinador Zezé Moreira (falecido). Foi o período em que surgiu o falso ponteiro, missão executada pelo raçudo Telê Santana (falecido).
 O Fluminense é tão diferenciado que nas Eliminatórias à Copa do Mundo de 1954 os seus dois goleiros foram convocados: o titular Castilho (falecido) e o reserva Veludo. A sina de ter goleiros na Seleção prosseguiu em 1970 com Félix (falecido), tricampeão no México.
 Na Copa de 1962, no Chile, foram do clube os dois laterais reservas, casos de Jair Marinho e Altair, respectivamente pela direita e esquerda. O franzino Altair ainda jogou na Copa de 1966, na Inglaterra.


 A vocação do Fluminense para ceder laterais à Seleção foi ratificada nas Eliminatórias à Copa de 1970. Se era raro um lateral-esquerdo atacar, Marco Antonio mostrava atrevimento ofensivo, copiando o bom exemplo de Carlos Alberto Torres na lateral-direita. E sucessor de Marco Antonio atacava ainda mais, caso do potiguar Marinho Chagas.
 Naquela época o Fluminense era uma usina de craques. Por lá passaram o meia Gérson, o habilidoso Carlos Alberto Pintinho, o irreverente Paulo César Caju, e o ‘patada atômica’, apelido que Rivelino ganhou dos mexicanos em 1970. Riva aperfeiçoou o drible elástico e o Fluminense não resistiu a montanha de dólares oferecida pelos príncipes do El Helal de Riad, Arábia Saudita, em 1978, para a liberação do passe.
 Recapitular a década de 70 sem citar o meia-atacante Manfrini seria um erro impordoável. Esse paulistano da Moóca foi artilheiro do Campeonato Carioca de 1973, com 13 gols.
 Nos anos 80, os torcedores do Flu vibraram com a dupla de ataque formada por Assis e Washington, batizada de ‘casal 20’, tal o entrosamento entre ambos desde os tempos de Atlético-PR. Foi de Assis, em 1983, o gol do título carioca diante do Flamengo.
 Naquele período, o lateral-esquerdo do Fluminense era Branco, que assustava goleiros adversários com o chute forte. Essa característica ajudou a levá-lo a três Copas e conquistar uma delas: o tetracampeonato de 1994, nos Estados Unidos.
 É obrigatório citar Renato Gaúcho como condutor do título carioca de 1995, com o inesquecível gol de barriga.

 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Chulapa, gols e irreverência

 Por alguma razão, a passagem do ex-atacante Serginho Chulapa sempre é lembrada no São Paulo, entre as décadas de 70 e 80. Ora pelo envolvimento em encrencas, ora pelos gols e destemor ao prometê-los.

 Quando citam que o atual centroavante são-paulino Luís Fabiano ultrapassou a marca de gols de Chulapa em jogos do São Paulo pelo Campeonato Brasileiro - 84 a 83 -, falta o complemento de que Chulapa marcou 243 gols em todas as partidas atuando pelo Tricolor paulistano. Também são raros os comentários de que ele ficou 14 meses afastado do futebol, suspenso após agressão a um bandeirinha.
 Por isso, cabe amostragem ao torcedor são-paulino da nova geração quem foi esse Serginho Chulapa que jogou futebol até aos 39 anos de idade no Atlético Sorocaba, em 1992.

 Em 30 de agosto de 1981, a Ponte Preta bateu o São Paulo por 2 a 1, no Morumbi, e nenhum torcedor arredou pé do estádio após a partida. O zagueiro Juninho, da Ponte, havia perdido aposta para o amigo Chulapa, e teve de carregá-lo nas costas de gol a gol, porque o então são-paulino cumpriu a promessa de deixar sua marca de artilheiro. Do contrário, ele carregaria o zagueiro.
 Apostas de Chulapa eram chamativas. Havia captado o estilo provocativo de Dadá Maravilha, o marqueteiro ‘mor’ da bola. Bons tempos em que o jogador sabia promover espetáculos de futebol.

 Chulapa viajava do céu ao inferno em segundos. Ora sorridente e gozador, ora briguento por coisa tola. Com a mesma facilidade que abria os braços e usava as pernas compridas para evitar a aproximação do adversário, se irritava com marcação implacável e acabava expulso.

 Seus gols foram decisivos para que o São Paulo conquistasse o título do Campeonato Brasileiro em 1977, num time formado por Toinho; Getúlio, Estevam, Tecão e Bezerra; Chicão, Teodoro e Neca; Zequinha, Serginho Chulapa e Viana.  

 O reinado de Chulapa no Morumbi se encerrou em 1983 com a chegada do atacante Careca, revelado pelo Guarani. Aí, Sérgio Bernardino foi fazer gols no Santos. A missão era completar jogadas de uma "patota" boa de bola, como o ponteiro-esquerdo João Paulo, meias Pita e Paulo Isidoro, e atacante Juari.
 No Santos, Serginho parecia o lobo que perde o pelo mas não perde o vício. Deu seqüência à carreira de gols, encrencas e expulsões. Reflexo da velha rixa com o então goleiro Leão - do Palmeiras - foi agredi-lo covardemente com um chute, pois o adversário estava caído.
 Em 1987, levado ao Corinthians pelo técnico Chico Formiga (já falecido), Chulapa já não era nem sombra daquele atacante com faro de gols.

 Cinco anos depois, já como treinador do Santos, perdeu a cabeça novamente ao desferir chute violento que atingiu a bolsa escrotal do então diretor do futebol bugrino José Giardini, num jogo em Campinas. E essa instabilidade emocional prejudicou sobejamente a carreira dele.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012


 Centroavante Célio Taveira fez sucesso no Vasco

 
 Se o texto em questão dissertasse exclusivamente sobre o centroavante Célio Taveira, jogador de Vasco, Nacional do Uruguai e Corinthians, entre as décadas de 60 e 70, o interesse seria relativo e muitos questionariam quem é esse Célio, apesar de ter jogado em grandes clubes?

 É possível alinhavar o período de Célio jogador a fatos relevantes ao acervo do futebol. Primeiro porque a sua carreira foi iniciada em 1961 no Jabaquara, na cidade de Santos, clube que sete depois extinguiu atividades profissionais, voltando apenas em 1977.

 Pois esse Jabuca, como é conhecido, tem histórico de vitória sobre o Santos de Pelé, Pagão e Pepe no Estádio da Vila Belmiro por 6 a 4, em 1957. Ele foi o clube que também revelou o goleiro Gilmar dos Santos Neves.

 Célio Taveira era o típico centroavante de área. Dotado de boa compleição física, sabia proteger bem a bola e, no giro, finalizava indistintamente quer com a direita, quer com a canhota. Também tinha bom aproveitamento no jogo aéreo e era cobrador de faltas.

 No arquivo de memória do Vasco consta que Célio, nascido em Santos em outubro de 1940, teve passagem pela Ponte Preta, sem especificar o período. A trajetória de quatro anos no clube cruzmaltino, a partir de 1963, o colocou como o principal artilheiro da agremiação naquela década, com exatos 100 gols. Inicialmente foi companheiro de ataque do gaúcho Saulzinho.

 Naquele período Célio atuou com alguns jogadores que já falecidos como o zagueiro Fontana, volante Maranhão, meia Lorico e atacante Sabará, cujo nome de batismo era Onofre Anacleto de Souza.

 Em 1965 Célio atingiu o auge na carreira com o título da 1ª Taça Guanabara, competição criada para definir o representante do antigo Estado da Guanabara na Taça Brasil, e passou a ser considerada o primeiro turno do Campeonato Carioca. Naquela ocasião, o atacante vascaíno foi artilheiro e acabou recompensado com a primeira convocação à Seleção Brasileira, participando de jogos contra a Alemanha, Pais de Gales e Argentina.

 Ano seguinte ele começava a trajetória no Nacional de Montevidéu, clube em que conquistou o título nacional de 1969, e marcado por abrigar jogadores de destaque do futebol brasileiro como o goleiro Manga e zagueiro Domingos da Guia. Informações não oficiais citam que no Uruguai Célio conciliou atividade de radialista, comandando programa musical.

 O atacante continuou em evidência até 1970, no Corinthians, quando participou de 26 partidas e apresentou histórico de quatro gols. Depois disso surgiu informação que desde 1976 está radicado na Paraíba, em João Pessoa, ‘tocando’ a sua empresa de embalagem para exportação de frutas. Também atua como comentarista esportivo da Rádio CBN local.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012


 

 

Maradona ainda será destronado por Messi

 

 

 Se as estatísticas estiverem corretas, o meia Lionel Messi atingiu a marca de 277 gols na carreira na goleada da seleção argentina sobre o Uruguai por 3 a 0 no feriado de 12 de outubro, quando marcou dois gols. Considerando-se que o ainda não destronado rei do futebol argentino Diego Maradona anotou 345 gols ao longo da carreira de atleta, brevemente Messi irá superá-lo.

 Eis aí uma discussão que provoca polêmica. Se Messi foi eleito três vezes consecutivas o melhor do mundo e recebe salário de R$ 2 milhões por mês no Barcelona, Maradona carregou o selecionado argentino nas costas na conquista da Copa do Mundo de 1986, no México, título ainda não conquistado por Messi, que em julho passado completou 25 anos de idade.

 Se no campo ambos ficaram marcados por dribles desconcertantes, jogadas geniais e gols antológicos, fora dele são vidas bem distintas. Enquanto Messi zela pela privacidade e não se tem registro de desatino, Maradona sempre deu motivos para ser criticado pelo comportamento inadequado para jogador de futebol.

 Neste 30 de outubro Maradona completa 52 anos de idade, e recorda da carreira de atleta iniciada aos 16 anos de idade no Argentinos Juniors, com chegada à seleção principal no ano seguinte. Por isso foi duro assimilar o duro golpe em 1978, ao ser relegado pelo técnico Cesar Luiz Menotti à Copa na Argentina, com a infundada justificativa de que era um atleta muito jovem.

 O troco veio um ano depois. Com a tarja de capitão, o meia levou o seu país ao título mundial de juniores no Japão. Em 1982, aos 22 anos, já jogava no Barcelona da Espanha, e dois anos depois no Napoli da Itália.

 Maradona ainda encantou o mundo em 1990, na Copa da Itália, embora tivesse ficado com o honroso vice-campeonato. E quando os portenhos já cometiam o despropósito de compará-lo a Pelé, surpreendentemente a Federação Italiana de Futebol o puniu com a suspensão de 15 meses, por uso de cocaína em um jogo.
 Flagrado na Argentina novamente com o pó maldito, foi digno de pena no julgamento. A sentença indicou que se submetesse a tratamento terapêutico. Adiantou? Claro que não.

 Em 1994 - radicado novamente na Argentina - prometeu reviravolta na Copa daquele ano, nos Estados Unidos, e ficou na promessa. Indicado ao exame antidoping, localizaram efedrina em sua urina. E lá se foram mais 15 meses de suspensão.

 Em 1996 ele concordou com internação em clínica suíça para viciados. Depois ainda voltou ao clube de origem - Argentinos Juniors -, quando foi registrada nova recaída às drogas em 1997.

 O escândalo, originado por cocaína, praticamente selou o fim de uma conturbada carreira, com histórico até de tiros de festins em pernas de jornalistas, para evitar o assédio e garantir privacidade em sua mansão, em Buenos Aires. Maradona ainda foi técnico da seleção argentina, porém sem sucesso.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012


Zé Roberto, craque que gostava da noite

 
 Deu no programa ‘Domingo Esportivo’ da Rádio Bandeirantes, comandado pelo jornalista Milton Neves, que o meia-direita Zé Roberto, dos anos 60 e 70, está doente e convalesce em asilo de Serra Negra, cidade do interior paulista.

 José Roberto Marques foi o maior ídolo de todos os tempos do futebol paranaense, conforme enquete feita pelo jornal Gazeta do Povo. Magro e alto, ele tinha aproveitamento fantástico no jogo aéreo.
 Revelado no juvenil do São Paulo em 1962, Zé Roberto foi emprestado ao Guarani em 1967 para ganhar experiência, quando já gostava da noite, divertia-se com mulherada em boates, e nem sempre respeitava as normas de concentração, embora discorda. “Eu saía segunda, terça e quarta-feira, mas nunca em véspera de jogo”.

 Em 1968 Zé Roberto foi emprestado ao Atlético (PR), quando o presidente daquele clube, Jofre Cabral e Silva, montou um time mesclado com medalhões, contrastando com a filosofia dos clubes que ‘aposentavam’ jogadores de 35 anos de idade.

 Naquela temporada Zé Roberto marcou 40 gols, ano em que o time passou a integrar o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, com 15 clubes: cinco de São Paulo, cinco do Rio de Janeiro, dois do Rio Grande do Sul, dois de Minas Gerais e um do Paraná. Portuguesa (SP) e América (RJ) tinham status de clube grande. Posteriormente, antes da denominação de Campeonato Nacional em 1971, Santa Cruz, de Pernambuco; Bahia e Ceará integraram a competição.

 Em 1968 Zé Roberto tinha 24 anos de idade, e no Paraná se juntou a veteranos como o lateral-direito Djalma Santos, zagueiro Belini, ponteiros-direitos Gildo e Dorval e volante Zequinha. A equipe era formada por Célio; Djalma Santos, Belini, Charrão e Nico; Paulinho e Madureira; Gildo (Dorval), Nair (Nilton Dias), Zé Roberto e Nilson.

 Fim de contrato, o Atlético (PR) teria que desembolsar 150 mil cruzeiros para contratá-lo, mas não dispunha do dinheiro. Zé Roberto sugeriu que sócios do clube se cotizassem para arrecadá-lo, e antecipou que colaboraria com 3 mil cruzeiros e abriria mão dos 15% que teria direito.

 Na prática foram levantados 10 mil cruzeiros, o jogador voltou ao São Paulo, e rapidamente o Coritiba entrou no ‘circuito’ e conseguiu o empréstimo. E quando formalizava o contrato, na casa do presidente Evangelino da Costa Neves, Zé Roberto não ficou constrangido e aceitou uma dose de uísque oferecida pelo dirigente.

- Não gosto de guaraná – respondeu, enquanto o dirigente projetou aquela contratação como um problema para ele durante a semana, porém maior ainda aos adversários durante os jogos.

 Zé Roberto ainda jogou no Corinthians, voltou ao Atlético (PR) e tocava uma escolinha de futebol em Serra Negra.

 Correção: Quando o goleiro Cláudio, do Santos, morreu em 1979, ele tinha 39 anos de idade e 29 anos conforme informado em coluna anterior.

 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012


 

Lola, habilidade no campo e vida em sítio

 

 

 É praxe a gente sequer lembrar aquilo que se comeu no almoço, mas a máquina do tempo chamada cérebro grava fatos inimagináveis há 39 anos. Num jogo noturno no Estádio Brinco de Ouro, em Campinas, no dia 3 de outubro de 1973, o então meia-direita Lola jogava pelo Guarani e o zagueiro central Brito pelo Botafogo do Rio de Janeiro, naquele empate por 1 a 1.

 Ainda no primeiro tempo, no gol dos portões de entrada, Lola dominou a bola pela meia-esquerda, quase na entrada da grade área, arrancou em direção de Brito, aplicou-lhe um drible seco e estonteante por dentro, e incontinente outro por fora. Gente, Brito foi vítima de um baita tropeção. Parecia um pugilista grogue, pernas bambas, tentando se equilibrar e, por fim, saiu catando cavaco.

 A ‘plástica’ do lance já valeu o preço do ingresso, nos tempos em que o time do Guarani era formado por Tobias; Wilson Campos, Amaral, Alberto e Bezerra; Flamarion e Alfredo; Jader, Lola, Clayton e Mingo. De fato Lola jogava muito, e por isso não devia ser considerado arrogante quando se autodenominava ‘meia-direita habilidoso’, ou ‘meio-campo criador’. A prática correspondia ao discurso.

 Não fosse a fratura exposta de tíbia e perônio num jogo contra o Santos, nos tempos de Atlético Mineiro em 1971, teria participação mais ativa na conquista do Campeonato Brasileiro daquela temporada pelo Galo mineiro, num time formado por Renato; Humberto Monteiro, Grapete, Vantuir e Oldair; Vanderlei e Humberto Ramos; Ronaldo, Lola, Dario e Tião. O treinador era Telê Santana, já falecido, que sempre recebia rasgados elogios de Lola: “Ele parecia um pastor dedicado às suas ovelhas”, ou “o ouro maior daquele grupo era o Telê”.

 Aquela final foi decidida num triangular, e de cara o São Paulo goleou o Botafogo por 4 a 1. Na segunda rodada, o Atlético ganhou do Tricolor paulista por 1 a 0, e podia jogar pelo empate na terceira rodada contra o Botafogo, mas venceu por 1 a 0, gol de Dario.

 A passagem de Lola pelo Atlético Mineiro deu-se de 1968 a 1973, período em que entrou para a história do Estádio Mineirão por ter marcado o milésimo gol. Talvez aquilo que ele jamais poderia supor é que a partir da transferência ao Guarani se transformaria num nômade do futebol. Depois, foram pouco mais de quatro anos no futebol mexicano defendendo América e Tigre, duas passagens pela Ponte Preta, Sport Recife, Grêmio Maringá e Botafogo de Ribeirão Preto, onde encerrou a carreira de atleta.

 Hoje, Lola é o professor universitário Raimundo José Correa, ministrando aulas em faculdade de educação física. Também trabalha como olheiro do Galo mineiro e fixou residência num sítio paradisíaco em Ribeirão Preto, se ocupando no trato aos animais e a vegetação.

 Por fim, aquele bigodão característico dos tempos de atleta faz parte do passado.

 

 

segunda-feira, 1 de outubro de 2012


Cláudio, goleiro que morreu aos 29 anos de idade

  

 O goleiro Manga jogou futebol até os 45 anos de idade e o italiano Dino Zoff foi campeão mundial aos 40 anos em 1982 na Espanha. Hoje, Rogério Ceni do São Paulo e Dida da Portuguesa, ambos com 39 anos de idade, são exemplos de longevidade na posição.

 Contrastando com esse quarteto, quis o destino que o goleiro Cláudio, que defendeu o Santos entre os anos 60 e 70, morresse faltando um mês para completar 29 anos de idade. Hoje, ele é lembrado como nome de rua em Bertioga (SP).

 Vitimado por um câncer, Cláudio César de Aguiar Mauriz morreu no dia 24 de junho de 1979, nos Estados Unidos, onde estava internado. Restou a história dele no futebol a partir de 1961, com trajetória no Fluminense, Olaria e Bonsucesso, até a chegada ao Santos em 1965, com projeto que fosse preparado para suceder o lendário goleiro Gilmar dos Santos Neves, na iminência da aposentadoria. Assim, aquele time de 1967 era formado por Gilmar; Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Joel Camargo e Rildo; Lima e Mengálvio; Edu, Toninho Guerreiro, Pelé e Abel.

 Nascido no Rio de Janeiro no dia 22 de agosto de 1940, Cláudio tinha projeto de estudar arquitetura, mas foi modificado com o seu ingresso no futebol.

 A estatura de 1,77m de altura sequer foi questionada. Afinal, o goleiro do Palmeiras, Valdir Joaquim de Moraes, de 1,70m de altura, foi titular absoluto durante dez anos a partir de 1958. O falecido Félix, tricampeão mundial em 1970, tinha 1,76m de altura, e o alagoano Cesar, que passou pelo Corinthians entre 1981 e 82, se tanto é da altura de Félix. Portanto, nada de anormal para a época, apesar das medidas das traves serem de 7,32m de largura por 2,44m de altura.

 Goleiro brasileiro tinha fama de sair mal do gol, e os clubes o hábito de importar uma leva da posição de países platinos. O uruguaio Mazurkiewicz e o argentino Ortiz abasteceram o Atlético Mineiro. A predileção por goleiros de fora era descarada pelo Inter (RS). Por lá passaram os paraguaios Gato Fernandez, Benitez e o argentino Goycochéa.

 Curioso é que depois da passagem de Cláudio pela Vila Belmiro, o Santos incorporou a idéia de trazer goleiros sul-americanos, e se deu bem com o argentino Cejas e o uruguaio Rodolfo Rodrigues.

 Se goleiros gringos tinham muito a ensinar aqueles daqui em bolas centradas contra as respectivas áreas, Cláudio compensava a deficiência e baixa estatura com impulsão, reflexo e bom posicionamento. E preservou estas virtudes nas 223 partidas que atuou pelo Santos em duas passagens: 1965 a 1968, e entre 1972 e 1973.

 Como bom observador, não se limitava em espelhar nos monstros consagrados da posição como o soviético Liev Yashin, o Aranha Negra. Analisava o jeito dos adversários baterem na bola e cabecearem, para não ser surpreendido. Por isso jogou na Seleção Brasileira seis vezes, num período em que falava inglês fluentemente.

 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012


Cinco anos sem o zagueiro Roberto Dias


 Cada vez mais observa-se zagueiros se livrarem da bola diante da aproximação de atacantes adversários. Mesmo com a ela dominada, raramente arriscam a jogada pessoal por causa do medo de perdê-la. Assim, quando ‘apertados’, geralmente a tocam para a lateral do campo.

 Se a maioria deles pudesse assistir vídeos que mostram a performance do zagueiro Roberto Dias, já falecido, se envergonharia. Na mesma circunstância, o são-paulino da década de 60 aplicava dribles nos adversários e saía com a bola limpa de trás, conduzindo-a com sabedoria. A precisão no passe permitia que fizesse ligação direta da defesa ao ataque, com lançamentos bem endereçados. Também era cobrador oficial de faltas de sua equipe e se adaptava à função de volante sempre que necessário. Por isso chegou à Seleção Brasileira.

 O coração que havia abreviado a brilhante carreira dele no São Paulo em 1973, parou de bater no dia 26 de setembro de 2007. Dois dias antes da morte ainda deu treino para filhos de associados do São Paulo, e de certo os jovens questionaram como aquele velhinho de cabelos prateados, magricelo, de 64 anos de idade e 1,71m de altura foi considerado um dos melhores quarto-zagueiros de todos os tempos do futebol brasileiro?
 A bola parecia grudar na região peitoral dele a cada ‘matada’. Lançado no time principal do São Paulo em 1961, no ano seguinte se firmou como titular numa equipe formada por Poy; De Sordi, Belini, Dias e Sabino; Cido e Benê; Faustino, Prado, Jair e Agenor. O treinador era Osvaldo Brandão.
 Durante a década de 60, os cartolas do São Paulo priorizaram a construção do Estádio do Morumbi, relegando o futebol. Inicialmente Dias fez dupla de zaga com Belini. Depois, o seu companheiro foi Jurandir (igualmente falecido), um negro era alto, forte, e quase intransponível no jogo aéreo, virtude que compensava as bolas que Dias não alcançava, apesar de sua impulsão fantástica.
 Em 14 de agosto de 1963, Dias atuou no jogo do cai-cai provocado pelo Santos, que perdeu por 4 a 1. Pelé e Coutinho haviam sido expulsos no primeiro tempo e o lateral Cido Jacaré, com fratura no perônio, deixou o campo numa época em que não se permitia substituição de jogador. Assim, após o quarto gol de Pagão para os são-paulinos, Dorval e Pepe simularam contusões a fim de que o Santos não tivesse número suficiente de jogadores para prosseguir naquela partida.
 Tudo ia relativamente bem para Dias até que em1969 os médicos diagnosticaram problema no coração, e ele teve de se afastar do futebol por um ano. Na volta, o São Paulo investiu na montagem de time competitivo e ele pôde comemorar o bicampeonato paulista em 1970/71.
 Em 1973 recebeu carta de liberação do passe e insistiu no futebol no Jalisco do México, Ceub do Distrito Federal, e Dom Bosco de Mato Grosso, mas a vida útil como jogador de futebol havia acabado.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012


Arce, bom jogador fracassa como treinador

 
 Na Copa do Mundo de 2010, o Paraguai foi despachado nas quartas-de-final ao ser derrotado por 1 a 0 para a infernal Espanha, que posteriormente conquistaria o título da competição. Ano passado, na Copa América, coube ao Paraguai eliminar o Brasil na definição através dos pênaltis. E até pouco antes do início das Eliminatórias Sul-Americanas, logo em seguida, o selecionado paraguaio era tido como um dos mais cotados para garantir classificação ao Mundial de 2014 no Brasil.

 Coincidentemente naquele momento Gerardo Martino deixava o comando daquela seleção e o escolhido para substitui-lo foi o ex-lateral-direito Arce, que em 2006 iniciou a carreira após pendurar as chuteiras como atleta no Club Libertad do Paraguai.

 Precipitação. Arce não estava preparado para tamanha atribuição. Perdeu na estréia fora de casa para o Peru por 2 a 0. Nos jogos subseqüentes em casa empatou com o Uruguai por 1 a 1 e venceu o Equador por 2 a 1.

 Foi só. As derrotas consecutivas para Chile por 2 a 0 e Bolívia por 3 a 1 foram determinantes para a sua demissão. Aí o time entrou em parafuso e perdeu seus últimos dois jogos para Argentina por 3 a 1 e Venezuela por 2 a 0, em casa, ficando na lanterna com 4 pontos, superado até pela fraca Bolívia.

 Entretanto fica preservada a brilhante imagem que o paraguaio Francisco Javier Arce construiu como jogador, com início no Cerro Portenho. Os brasileiros passaram a conhecê-lo a partir de 1995, quando se transferiu para o Grêmio portoalegrense, e participou daquele projeto que culminou com a conquista da Libertadores da América no dia 30 de agosto daquele temporada, num time formado por Danrlei; Arce, Adílson Batista, Rivarola e Roger: Dinho, Luiz Carlos Goiano, Arílson e Carlos Miguel; Paulo Nunes e Jardel.

 Na época o treinador gremista era Luiz Felipe Scolari, que determinou três incumbências para o então lateral paraguaio: cobrador oficial de faltas, de pênaltis e de levantamentos milimétricos na cabeça do atacante Jardel. Arce pegava bem na bola.

 Nas cobranças de faltas frontais e nas proximidades do gol adversário, o chute de curva encobria a barreira e geralmente não dava chance de defesa para os goleiros. Arce também fez alguns golzinhos com bola rolando.

 Em 1997, quando Scolari se transferiu para o Palmeiras, tratou de levá-lo. E no Verdão foi mantido o estilo consagrador, e com novo gostinho de conquista de Libertadores em 1999. Três anos depois a maior decepção como atleta com o rebaixamento do Palmeiras à Série B do Campeonato Brasileiro, num time formado por Marcos; Arce, Alexandre, César e Rubens Cardoso; Flávio, Paulo Assunção, Pedrinho e Zinho; Itamar e Munhoz.

 Depois disso Arce ainda foi jogar no Osaka do Japão, assim como consta em seu currículo de atleta participações nas Copas de 1998 e 2002 pela equipe paraguaia.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

 

Mendonça, pés na Calçada da Fama do Maracanã



 Quem joga ou jogou futebol sabe o quão difícil é pegar bem na bola na corrida. Quem tem essa vocação enquadra-se num conjunto de valores que vão de reflexo para calcular a aproximação do adversário, dimensionar o posicionamento do goleiro e se esquivar de saliências dos gramados para que o chute tenha direção correta e com relativa força.

 Nos últimos anos dá pra contar quais os jogadores que pegavam e pegam tão bem na bola como o meia Mendonça nos tempos de Botafogo do Rio de Janeiro, de 1875 a 1982, período em que participou de 342 jogos e marcou 118 gols.

 Não confundam o Mendonça, cujo nome de batismo é Milton da Cunha Mendonça, com Jorge Mendonça, astro de Náutico, Palmeiras, Vasco e Guarani, já falecido. Hoje, o Milton Mendonça é um senhor calvo e cuida do núcleo de futebol ‘Iguaçu Gol Soccer’, no Rio de Janeiro. Mendonça participou do momento singular do Botafogo em 1977, quando o clube quebrou jejum de títulos de 21 anos, na conquista do Torneio Início do Rio de Janeiro.

 Pra quem não o viu jogar, principalmente nos tempos áureos de Botafogo, cabe a informação de que foi o 94º craque a entrar para a ‘Calçada da Fama do Maracanã’ em 2008, imortalizando os seus pés ao lado de ídolos consagrados como os flamenguistas Zico e Leandro.

 Mendonça não foi jogador de dribles convencionais. Deixava o adversário para trás só no balanço. A mudança da bola de um pé para o outro desarrumava o seu marcador, e assim protagonizava jogadas dignas de aplausos não só por botafoguenses.

 Pena que não ratificou todo o seu potencial quando se transferiu para a Portuguesa em 1983, e posteriormente no Palmeiras dois anos depois. Apesar disso, fez mais três bons contratos em clubes como Santos, Al Saad do Catar e Grêmio. Aí não soube dimensionar o momento certo de parar e perambulou pelo interior paulista na Inter de Limeira, São Bento de Sorocaba e, por fim, o Bangu do Rio de Janeiro, onde encerrou a carreira em 1990, aos 34 anos de idade.

 Em 1981, Mendonça marcou um gol com direito a placa no Estádio do Maracanã, na vitória sobre o Flamengo por 3 a 1, pelas quartas-de-final do Campeonato Brasileiro. Foram dois dribles estonteantes no flamenguista Júnior, antes da bem sucedida finalização.

 Na época, já na semifinal daquela competição, o Botafogo venceu o São Paulo no Estádio do Maracanã por 1 a 0. Na partida do Estádio do Morumbi, o Botafogo abriu vantagem por 2 a 1 no primeiro, quando seguranças são-paulinos agrediram o árbitro Bráulio Zannoto. E coincidência ou não, o tricolor paulista virou o placar para 3 a 2.

 Registro para o excelente público naquela partida, com 98.650 pagantes. O time do Botafogo da época era este: Paulo Sérgio; Perivaldo, Gaúcho, Zé Eduardo e Gaúcho Lima; Rocha, Ademir Lobo e Mendonça (Gilmar); Ziza (Édson), Marcelo e Jérson. Técnico Paulinho de Almeida.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012


  

Adeus a Ruço, volante do Corinthians

 
 Havia produzido uma coluna com antecedência relatando um pouco do que foi o meia Lola, que fez tremendo sucesso no Atlético Mineiro, e depois se transformou num cigano da bola. Nela contaria que hoje ele decidiu morar em sítio de Ribeirão Preto (SP), mas esta história vai ficar para outra ocasião. É que o volante Ruço, do Corinthians, morreu, e você bem sabe que o boleiro que morre recebe aqui a última homenagem.

 A coluna pauta pelas homenagens em vida, porém por algumas razões, e até por falta de mais informações, o personagem em questão continua na fila até que, a exemplo de Ruço, entra obrigatoriamente na pauta semanal.

 Quanto tempo não se ouvia falar no volante Ruço? Ele foi mais um dos atletas do passado que saem do ostracismo quando morrem. Vítima de AVC (Acidente Vascular Cerebral), ele morreu no dia 1º de setembro, no Rio de Janeiro, aos 63 anos de idade.

 Nos tempos que Ruço jogou no Corinthians, de 1975 a 1978, o então presidente Vicente Matheus - já falecido - exigia que até os ‘cobras’ assinassem contratos em branco, na base da confiança. Depois avaliava quanto deveria pagar para o atleta e preenchia o valor no vínculo contratual.

 Logo, aquilo que Ruço ganhou jogando no Timão, Remo (PA), Botafogo (RJ), Cruzeiro, Juventus e Rio Branco (ES) não permitiu que ficasse de ‘barriga pro ar’. Teve que se virar em outro ramo de atividade, e uma das opções encontradas foi montar um bar no Rio de Janeiro.

 Vejam que diferença para o atual momento de boleiros de grandes clubes! Volante como Ruço que marca e sabe trabalhar a bola não ganha menos que R$ 40 mil por mês.

 Ruço quase não era requisitado pela mídia para as entrevistas, geralmente reservadas aos atletas mais badalados. Quando isso ocorria, no rádio, usava o tradicional bordão da época para iniciar a fala: “Ouvintes, meus cumprimentos”.

 Falar, mesmo, era com os companheiros em campo, para o posicionamento adequado. Embora jogador de marcação, de vez em quando aparecia no ataque e justificava o atrevimento com alguns golzinhos, o principal deles contra o Fluminense no dia 5 de dezembro de 1976, quando 70 mil corintianos invadiram o Estádio do Maracanã.

 Foi um gol de voleio, tipo meia bicicleta, naquele empate heróico por 1 a 1, fato que estendeu a definição do finalista do Campeonato Brasileiro daquela temporada às cobranças de pênaltis, com vantagem corintiana por 4 a 1.

 Corintiano nostálgico de certo ainda guarda o pôster da equipe campeã paulista de 1977, da final contra a Ponte Preta, quando terminou a ‘tortura’ de quase 23 anos sem títulos. Naquele time estavam os cabeludos estilo black power como Romeu Cambalhota, Luciano Coalhada, Geraldão e Ruço.

 Ruço e russo (natural da Rússia) são palavras homônimas homófonas, ou seja, pronúncia idêntica com grafias diferentes. Coisas desta complexa língua portuguesa.

 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012


Goleiro Félix e o cigarro


 A morte do goleiro Félix no dia 24 de agosto, em decorrência de enfisema pulmonar, provoca remissão ao maligno vício do cigarro. Essa tentação vai destruindo a pessoa lentamente até atingir processo irreversível. E foi o caso de Félix aos 74 anos de idade.

 Cada ano são programadas duas datas para campanhas de conscientização aos fumantes sobre os riscos das tragadas: 31 de maio é tido como o Dia Internacional de Combate ao Tabagismo, enquanto é reservada a data de 29 de agosto para o mesmo combate, porém de caráter nacional.

 O humorista Chico Anysio, que morreu em março passado, culpou o tabagismo para o agravamento de doença em seus pulmões. Por isso, já no fim da vida, fez campanha contra o cigarro. Talvez até o próprio Félix tenha pensado o mesmo.

 Nas manifestações de condolências de ex-companheiros tricampeões pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970, no México, a lembrança do maldito vício do cigarro: “O Félix dava uns tragos até nos intervalos das partidas”, testemunhou o zagueiro Brito. “Ele fumava muito”, emendou o lateral-direito da época, Carlos Alberto Torres.

 Nas redes sociais, o meia-armador Paulo César Caju também tocou no assunto: “Por causa do cigarro, ele tinha uma tosse muito feia”. Caju não se restringiu à manifestação sobre o tabagismo do companheiro. Também saiu em defesa dele com o argumento de que foi um bom goleiro naquela Copa.

 “Contra a Inglaterra ele fez belas defesas quando o jogo estava zero a zero. Contra a Itália, depois do empate (1 a 1), praticou duas ou três boas defesas”, escreveu em seu blog pessoal, o Blog do Caju.

 Claro que Félix Mielli Venerando não foi unanimidade. Recebeu críticas por atuações naquela Copa do Mundo. Naquele timaço de 1970, foi identificado mais pelas falhas do que as defesas importantes. E quando instigado sobre a polêmica, contra-atacou: "Todos diziam que a Seleção tinha um time, mas não tinha goleiro. Eu provei que podia ser titular".

 Félix atuou pela Seleção Brasileira 48 vezes. A estréia foi no dia 21 de novembro de 1965, no Estádio do Pacaembu, na vitória sobre a Hungria por 5 a 3, onze anos depois de estrear no profissionalismo, no Juventus (SP).

 No ano seguinte transferiu-se para a Portuguesa, mas por longo período ficou na reserva de Cabeção e Carlos Alberto. Titular só a partir de 1964, e de vez em quando participava de revezamento com Orlando Gato Preto.

 Numa excursão da Portuguesa aos EUA, no jogo contra o Massachusetts, de Nova York, Félix foi jogar no ataque quando seu time massacrava por 9 a 0, e ele fez o décimo gol. O resultado do jogo foi 12 a 1.

 Félix ganhou visibilidade na carreira quando se transferiu para o Fluminense, clube que defendeu de 1968 a 1977, quando encerrou a carreira. Apesar disso, só recentemente, após reformulação do site oficial do clube, o seu nome foi incluído na galeria de ídolos.

 


Geraldão prometia marcar gols e cumpria



 Se hoje o tom das entrevistas de boleiro gira em torno de ‘nosso time está focado’, no passado ele era destemido e sobretudo marqueteiro na promoção de jogos. Atacantes goleadores confiavam no ‘taco’ e não se acanhavam em prometer gols. Dadá Maravilha, por exemplo, dava nome a cada gol prometido.

 O raçudo centroavante Geraldão também participou da farra de prometer gols. Em 1982, numa decisão de título regional de seu Inter (RS) contra o rival Grêmio, chamou a imprensa e prometeu título ao colorado com dois gols dele.

 Que ousadia desse Geraldão! Já havia feito três gols em partida válida pelo primeiro turno e abusava de provocação na finalíssima, avisando que entraria para a história do clássico gaúcho como único jogador a marcar cinco gols em dois jogos.

 Pois quem foi no Estádio Olímpico viu os tais gols prometidos por Geraldão no seu estilo inconfundível de repartir com zagueiros bola cruzada e empurrá-la para o gol.

 Claro que o pôster daquela equipe de 1982 o hoje senhor Geraldo da Silva guarda com carinho em seu acervo particular. Aquele time? Benitez; Luís Carlos Winck, Mauro Pastor, Mauro Galvão e André Luiz; Ademir, Dunga e Ruben Paz; Silvinho, Geraldão e Beto. O treinador era Dino Sani.

 O gremista odiou Geraldão. Primeiro, porque ele era carrasco de seu time. Depois, porque o atleta ficou devendo melhor rendimento na passagem pelo Estádio Olímpico um ano antes.

 Geraldão tinha a sina de brilhar contra rivais. Foi assim nos tempos de Botafogo de Ribeirão Preto de 1970 a 1975. Bastava a tabela do Campeonato Paulista programar Come-Fogo (Botafogo x Comercial) para os comercialinos tremerem na base.

 Geraldão foi artilheiro do Paulistão de 1974 com 24 gols, no time botafoguense formado por Jorge; Ferreira, Paulo Cesar, Eraldo e Mineiro; João Carlos, Cunha e Sócrates; Ferreirinha, Geraldão e Nenê.

 Em 1975, o então presidente do Corinthians, Vicente Matheus, o contratou jamais imaginando que ele se transformaria em carrasco do São Paulo. E com aqueles 23 gols marcados no Paulistão de 1977 ajudou o clube a quebrar um jejum de títulos que se aproximava de 23 anos.

 Aquele time corintiano, comandado pelo treinador Oswaldo Brandão, contava com Tobias; Zé Maria, Moisés, Ademir Gonçalves e Wladimir; Russo, Luciano e Basílio; Vaguinho, Geraldão e Romeu Cambalhota.

 Em 1978 Geraldão foi emprestado ao Juventus, mas retornou ao Corinthians no ano seguinte, caracterizando um histórico de 278 jogos pelo clube, com 90 gols.

 A partir de 1985 começou o calvário do atacante no futebol, com repasse a pequenos clubes, um deles o extinto União Valinhos. Ele passou ainda por Francana, Corinthians de Presidente Prudente, Itararé e Garça em 1989, quando encerrou a carreira. Hoje, aos 63 anos de idade, ainda joga no time de máster do Corinthians.