segunda-feira, 19 de março de 2012




Edu, muito mais do que irmão de Zico





 Outrora era comum irmãos fazerem sucesso em equipes diferentes de futebol. Os atacantes César Lemos, Luisinho e Caio se destacaram jogando em Palmeiras, América (RJ) e Flamengo respectivamente. Brida e Brecha participaram de um respeitável time do Juventus na década de 70. Os irmãos Ditão eram brutamontes de Corinthians e Flamengo. E até Pelé teve irmão jogador, caso do só razoável Zoca, que sucumbiu diante de tantos ‘cobras’ no Santos.

 A história é recheada de exemplos de manos na mesma labuta e a coluna reserva espaço à família Coimbra, representada por quatro irmãos no futebol.

 Saudosistas retroagem à década de 60, quando a justificativa para que Nando não prosperasse na carreira foi perseguição política, com prisão no retorno de Portugal, após desligamento do Belenense.

 Quando cursou a Faculdade Nacional de Filosofia, no Rio de Janeiro, Nando fez parte do PNA (Plano Nacional de Alfabetização), do sociólogo Paulo Freire, considerado subversivo ao regime militar. Por isso o atleta teria sido visado nas passagens por América (RJ), Madureira e Ceará.

 Já a história de Antunes foi diferente. O Fluminense, que o revelou, desfrutou da velocidade e oportunismo dele antes de liberá-lo ao América (RJ), justamente no período em que despontava no clube o terceiro irmão boleiro, caso do meia-atacante Edu, em 1966.

 Assim, ora aquele garoto franzino, de canelas finas, 1,64m de altura, colocava Antunes na ‘cara’ do gol, com precisos lançamentos; ora chegava à área adversária com a costumeira habilidade e acertos nos arremates. Foram 212 gols no time vermelhinho até 1974.

 Há quem afirme que Edu teria sido o melhor jogador de todos os tempos do América, principalmente após a brilhante temporada de 1969, quando foi o artilheiro do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, com 14 gols, vários deles em cobranças de faltas.

 A projeção de analistas do futebol era que Edu precisaria se transferir a um grande clube do futebol do Rio para ser mais valorizado. Na prática não foi isso que aconteceu nas passagens por Flamengo e Vasco. Depois seguiu a carreira no Bahia, Colorado e Campo Grande no biênio 1980-81, quando a encerrou.

 Evidente que durante a fase áurea foi lembrado à Seleção Brasileira. Foram 54 jogos, 40 vitórias e seis gols. Depois, como treinador, trabalhou no Botafogo e Vasco.

 O quarto e mais consagrados dos irmãos Coimbra foi Zico, com história sobejamente conhecida como atleta. Curiosamente, como treinador, a opção foi trabalhar fora do país. Foi assim no selecionado japonês e repete-se no Fenerbacce da Turquia.

 Nessas empreitadas Zico tem levado Edu como auxiliar técnico, considerando, também, que ele se transformou num estudioso do futebol, com publicação do livro ‘Método Sensorial no Futebol’, baseado na utilização nos sentidos do campo.


segunda-feira, 12 de março de 2012




Valdeir, de velocista a corretor de imóveis





 As arrancadas fulminantes do velocista Valdeir Celso Moreno foram preponderantes para que o Botafogo conquistasse em 1990 o bicampeonato carioca. Dois anos depois ele já estava no Bordeaux da França, impressionado com edificações majestosas, castelos e constatando que a cidade era de fato uma das maiores produtoras da vinicultura européia.

 Onze anos depois - em 2003 -, quando já não justificava o apelido ‘The Flash’, dado pelo narrador de futebol Januário de Oliveira, encerrou a carreira de jogador no modesto Madureira, clube do subúrbio do Rio de Janeiro.

 Comparativamente, a biografia de Valdeir no futebol é uma das mais repetidas entre a boleirada. Atinge o estrelato, faz bons contratos, tem espaços escancarados na mídia, e depois depara com a penosa estrada da volta do futebol. Aí, geralmente o encerramento da carreira ocorre quase que no anonimato.

 Alguns desses ex-boleiros, face à versatilidade, apenas mudam de funções no futebol, transformando-se em treinadores, membros de comissões técnicas e empresários; outros, sem aptidão para tal, migram de segmentos.

 O atacante Valdeir é um desses exemplos. A recolocação no mercado de trabalho foi como corretor de imóveis em Goiânia, em imobiliária de seu irmão.

 Por sinal, para ele tudo começou na capital de Goiás. Lá nasceu no dia 31 de dezembro de 1967, e foi no Atlético (GO) que apareceu para o futebol causando cobiça do Botafogo.

 Em 1990, quando jogava pela equipe carioca, de certo também não entendeu o esdrúxulo regulamento da competição regional que premiou a sua equipe como finalista pelo fato de ter acumulado maior número de pontos nos dois turnos da competição. Assim, o Botafogo ficou esperando o vencedor dos semifinalistas Fluminense e Vasco, respectivamente campeões de Taça Rio e Taça Guanabara. E na final deu Botafogo com a vitória por 1 a 0 sobre o Vasco, num time formado por Ricardo Cruz; Paulo Roberto, Wilson Gottardo, Gonçalves e Renato Martins; Carlos Alberto Santos; Luisinho e Djair (Gustavo); Donizete, Valdeir e Carlos Alberto Dias.

 Valdeir jogou na França em 1992, mas no ano seguinte foi emprestado ao São Paulo. Depois ficou no Bordeaux até 1996, ocasião em que falava francês fluentemente e assimilado os valores culturais daquele país.

 Ainda como jogador de nome, fez contratos com Flamengo, Fluminense, Paraná Clube, Atlético Mineiro, Brasiliense, Ceará e Madureira, clube que provavelmente registrou a mais longa excursão ao exterior em 1961. Foram 36 jogos em 144 dias, com passagens por Europa, Ásia e Estados Unidos.

 Claro que em sua página no Facebook ele historia a passagem pela Seleção Brasileira, com 15 atuações. E por ter sido lembrado durante jogos das Eliminatórias de 1994, tinha expectativa de ser convocado à Copa do Mundo dos Estados Unidos, o que não aconteceu.





Artime, argentino goleador do passado





 Historicamente o Palmeiras contrata jogadores do futebol sul-americanos para reforçar o seu elenco. Foi justamente para manter a tradição que apostou todas as fichas no atacante argentino Hermán Barcos como solução do problema que afligia o setor.

 Barcos, que em abril vai completar 28 anos de idade, chegou precedido da fama de artilheiro. Defendendo o LDU do Equador, entre as temporadas 2010 e 2011, marcou 53 gols em 92 partidas e custou ao Verdão cerca de R$ 6,24 milhões como pagamento dos direitos federativos. A estatura de 1,89m de altura facilita o cabeceio, uma de suas especialidades.

 Claro que o Palmeiras se inspirou em outro argentino goleador que passou pelo clube há 43 anos: Luis Artime, um ‘fazedor’ de gols de todo jeito.

 Artime chegou ao Palmeiras em 1968 aos 27 anos de idade. A estréia, diante do Independiente da Argentina, foi com goleada do Verdão por 4 a 0, no dia 14 de julho. E a sequência foi de gols e gols.

 A especialidade de Artime era bola rebatida pelo goleiro. Sempre chegava primeiro que o beque e concluía. Quando ganhava dos zagueiros na velocidade e ficava na cara do gol, nada de toque sutil para deslocar os goleiros. O chute era sempre forte e nem sempre no canto.

 O aproveitamento dele no cabeceio também foi acima da média. E por causa desse repertório marcou 49 gols com a camisa do Palmeiras em 57 partidas disputadas, média de 0,85 gol por jogo.

 Artime disputou a Libertadores pelo Palmeiras em 1969, mas não atingiu o objetivo de levar o time ao título. Contudo sagrou-se campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, em uma equipe formada por Chicão; Eurico, Baldocchi, Nelson e Ferrari; Dudu e Ademir da Guia; Tupãozinho, César, Artime e Serginho.

 Vida de ídolo, badalação e bom contrato não foram suficientes para segurá-lo no Palmeiras. Pouco mais de um ano depois da chegada ao Parque Antarctica foi seduzido por tentadora proposta financeira do Nacional do Uruguai e, como estaria mais próximo de seus familiares, na Argentina, forçou o desligamento do Verdão.

 Evidente que no futebol uruguaio voltou a ser atração com a sequência de gols. Em 1971 foi decisivo na conquista da Copa Intercontinental contra o Panathinaikos da Grécia. Fez gol no empate por 1 a 1 na Europa e outros dois gols na vitória por 2 a 1 em Montevidéu.

 Em 1972, como o Fluminense iniciou a remontagem de seu time, além do meia Gérson os dirigentes projetaram os gols de Artime como solução dos problemas e foram buscá-lo.

 Quem vibrou com a contratação foi o meia Gérson, que até cantava as jogadas de gols: “Eu recebo do Denílson, lanço o Lula e corro para abraçar o Artime”. Na prática, todavia, a passagem do argentino pelo Fluminense foi discreta.

 Hector Silva, Arce, Rincón, Mancuso, Rivarola, Asprila, Ortigoza e Valvídia são outros estrangeiros que jogaram no Verdão.