domingo, 29 de dezembro de 2019

Beijo na aliança já marcou comemorações de gols


O 'embala nenê' do ex-atacante Bebeto - tetracampeão pela Seleção Brasileira -, em comemoração de gol com bola na barriga, dentro da camisa, ainda não perdeu a atualidade. Todavia, múltiplas câmaras de televisão espalhadas ao redor de gramados possibilitam que o boleiro mande recado de amor e carinho a familiares.

Por vezes são eles flagrados até sugerindo desenho de coração, como fazia o atacante Robinho nos tempos de Santos. O que caiu em desuso nas tais comemorações foi o beijo na aliança, outrora repetido até em torneio mixuruco, em gesto que supunha-se fidelidade ao cônjuge.

Comemorações do tipo 'trenzinho', ou quaisquer outras formas praticadas, ganham 'ene' interpretações. Uns acham que neste meio há casos de boleiros que aproveitam a ocasião para 'desbaratinar', a fim de que sobre eles não recaiam suspeitas de adultério. Outros citam que o jogador amadureceu e já não se curva às tentações da Maria Chuteira, que rodeia campos de futeol e é sedutora.

Seja como for, é preciso uma viagem ao passado para se motrar o contraste cultural entre gerações. Antes, quando o boleiro fazia jus à fama de mulherengo, bastava um olhar insinuante da mulher para que envolvesse rapidamente, indiferente aos conselhos de riscos da aventura amorosa.

Foram tempos em que algumas sábias venderam caro as tentações dos mulherengos. São incontáveis os casos daquelas que arrancaram carros, apartamentos e dinheiro de boleiros, sem que eles tivessem percepção de que um dia a encantadora carreira chegaria ao fim e, concomitantemente, acabariam os prazeres advindos do futebol. Aí, sem qualquer constrangimento, elas os abandonaram.

Supõem-se que a nova geração tenha refletido nesses exemplos para não copiá-los. Entre outros, o saudoso lateral-direito Orlando Lelé, que jogou em Santos e Vasco, foi preso por não ter pagado pensão alimentícia à ex-mulher. No passado, na busca por aventura amorosa, boleiro usava várias mutretas. Há casos de quem enrolava lençois no formato de um corpo sob cobertor, e com isso enganava supervisor que fazia ronda nos quartos de concentração.

Há registro de boleiros espertos que acomodavam amantes no mesmo hotel em que estavam concentrados. Assim, na calada da noite, davam aquela escapadinha. De repente, escapada ou não, uma aqui e outra acolá, o desfecho era gravidez indesejável da acompanhante, e cobrança posterior de reconhecimento de paternidade.

Pelé, por exemplo, teve relacionamento amoroso com a doméstica Anízia Machado em 1963, que resultou no nascimento da saudosa Sandra Regina. Ele relutou enquanto pôde para reconhecê-la como filha, até que exames de DNA apontavam resultados positivos e comprovaram que era o legítimo pai dela, que passou a ser chamada como Sandra Regina Machado Arantes do Nascimento Felinto. Assim, a Justiça determinou que fosse herdeira dele.
Boleiros do passado eram oriundos de famílias pobres e usufruíam da fama para diversão com mulheres, geralmente em noites recheada de bebedeiras. 

A primeira mudança brutal de comportamento no meio deu-se nos anos 80, com Baltazar, o artilheiro de Deus, ajudando a criar o grupo 'Atletas de Cristo'. Hoje, imagens de televisão, em quaisquer dos Estados, mostram a nova versão do boleiro na hora do gol. Resta saber, agora, o que vem por aí.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Jogador mudar de posição era rotina no Brasil


Corajoso treinador Jungen Klopp, do Liverpool (ING), transformou o lateral-direito Gomez em zagueiro central e puxou o volante Henderson à quarta-zaga, em jogos do recente Mundial de Clube. O planejamento era contar com zagueiros rápidos e condutores de bola, providos de bom passe.

 Já os treinadores brasileiros se fixam no conservadorismo, contrariando seus antecessores que sabiamente descobriam melhor posicionamento do atleta em campo. Por que a discussão? Porque a Ponte Preta dispõe de um atacante de baierada que retorna de empréstimo ao Botafogo de Ribeirão Preto (SP), sem ter marcado um gol sequer na temporada, caso de Felipe Saraiva, que certamente já teria sido adaptado por treinadores do passado como lateral-direito, visto que sabe fazer a recomposição e tem velocidade para a transição.

 Décadas passadas eram incontáveis os exemplos de laterais que terminavam a carreira na zaga. Leandro no Flamengo, Carlos Alberto Torres no Santos, Djalma Santos no Atlético Paranaense e Alberto no Gurani são alguns exemplos. Transformação surpreendente ocorreu com Fábio Luciano, na Ponte Preta, que subiu da base como ponta-de-lança e acabou transformado em zagueiro central. Justificativa era lentidão para ser atacante, e que a estatura de 1,98m de altura seria mais bem explorada defendendo.

 Curioso é que o saudoso treinador Cilinho elaborou caminho inverso ao falecido zagueiro Marcão, transformando-o em centroavante, nos tempos de XV de Jaú, para que explorasse o cabeceio com quase dois metros de altura.

 Na década de 70, o então ponteiro-esquerdo Bezerra foi transformado em lateral, no Guarani. Ano depois, já no São Paulo, foi fixado na quarta-zaga, em exemplo parecido com o uruguaio Dario Pereyra, que chegou ao São Paulo como meia de armação, acabou recuado à função de volante, até que o saudoso treinador Carlos Alberto Silva julgou que ele seria mais útil na quarta-zaga.

 Jogador ter mudado de posição por acaso ocorreu com o então centroavante Luís Ricardo, na Portuguesa, em 2011. Para cobrir a lacuna do lateral-direito expulso, o treinador Jorginho iria sacá-lo do time, a fim de proceder a troca, quando o atleta implorou para que ocupasse a função até o final da partida. E depois disso nunca mais voltou a ser atacante, embora com 1,83m de altura ainda explora jogo áreo em bola parada e tem feito uns golzinhos.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Que 2020 será diferente?


 Há exatos dez anos, em mais um dezembro, sugeri compartilhamento dos desportistas à reflexão se ainda havia espaço para surgimento de outro atleta do século, do tipo Pelé. Pois agora, num exercício de futurologia para 2020 e década subsequente, a questão que se coloca é se haverá mudanças radicais em alguns segmentos esportivos?

 Céticos de plantão asseguram que jamais vai nascer outro igual a Pelé. E acrescentam: quem viu, viu; quem não viu, não verá mais. Será? Convenhamos que passou da hora para o surgimento de outro jogador completo nos fundamentos chute, drible, cabeceio, passe e posicionamento. Pelé surgiu no futebol há mais de 63 anos, e tem lógica projetar que alguém ainda vai destroná-lo. Difícil é prever quando.

 O novo 'rei' precisará mostrar chutes certeiros de curta e longa distância - inclusive em cobranças de falta -, sem distinção de perna direita e esquerda. Outro requisito é tabelinha objetiva com companheiro de ataque nas proximidades da área adversária. E se tiver estatura mediana como Pelé - 1,73m de altura - terá de necessariamente compensar com boa impulsão e colocação para suplantar, de cabeça, zagueiros grandalhões. E mais: o sucessor do rei terá de marcar mais de 1.200 gols.

 Há dez anos já se questionava melhor segurança nos estádios, do tipo policiais à paisana infiltrados entre torcedores de organizadas, como indicativo para se distinguir baderneiros e enquadrá-los em legislação específica sugerida ao futebol, prevendo punições drásticas a transgressores.

 Fique de olho em dinheiro público de diferentes esferas governamentais injetado em clubes. Igualmente os anos se sucedem e dirigentes voltarão a ser acusados de jogar dinheiro no ralo, com administrações incompetentes. São gastos absurdos com jogadores de qualidade duvidosa, elencos inchados, 'gorduras' em comissões técnicas e assessores incompetentes. Cadê a fiscalização através de conselhos de clubes?

 Preços de ingressos de jogos não podem ser majorados conforme conveniência de cartolas. E se há uma década criticava-se treinadores que protegem jogadores indisciplinados, parte significativa já mostra postura rigorosa, mas ainda há insistência na escalação de jogadores em má fase técnica. Então, chega de regalias! Chega de passar a mão na cabeça do craque! E que os boleiros parem de cometer erros de passes curtos. Feliz 2020.

domingo, 8 de dezembro de 2019

Três anos sem Mário Sérgio Pontes de Paiva


 O 28 de novembro passado marcou o terceiro ano da morte de Mário Sérgio Pontes de Paiva, o Vesgo, no acidente de avião que vitimou a delegação da Chapecoense, na Colômbia. Morreu aquele que, enquanto boleiro, olhava para um lado e tocava a bola para o outro. Aquele que, enquanto treinador, não paparicava boleiro. No seu time tinha camisa apenas aqueles que cumpriam regiamente as determinações.
 Como comentarista de televisão, não tinha papas na língua. Como ‘sacava’ futebol como poucos, falava aquilo que pensava. Em 1994 corajosamente falou que a Seleção Brasileira entrava em campo com dez jogadores pelo fato de o volante Dunga ter sido escalado. Dizia que o então atleta já não tinha vigor físico para desarme, enquanto no aspecto técnico citava frequentemente sobre as limitações.

 Exagero ou não, Dunga levantou o caneco como capitão do Brasil naquela Copa do Mundo nos Estados Unidos. Nem por isso Mário Sérgio diminuiu a capacidade de observação sobre o ex-volante.

 No Flamengo a partir de 1969, Mário Sérgio já driblava e lançava. No Vitória da Bahia deixava companheiros na cara do gol e também fazia os seus golzinhos. E isso se repetiu no Fluminense, Botafogo (RJ), São Paulo, Inter (RS), Ponte Preta, Grêmio e Palmeiras, sempre com a camisa 11 e desempenhando a função de falso ponteiro-esquerdo.

 Três passagens são marcantes na carreira dele. Em 1979, quando jogava no São Paulo, ganhou apelido de ‘rei do gatilho’. Intolerante e imprudente, sacou o seu revólver e deu alguns tiros para o alto para assustar torcedores do São José, no Vale do Paraíba, que se manifestavam na saída da delegação são-paulina do Estádio Martins Pereira.

 No Grêmio portoalegrense, trazido pelo treinador Valdir Espinosa, foi campeão do mundo em 1983 na vitória por 2 a 1 sobre o Hamburgo, no Japão. No Palmeiras foi flagrado em exame antidoping e ficou suspenso durante seis meses. Ainda em 1983, contratado pela Ponte Preta, jogou ao lado dos talentosos Dicá e Jorge Mendonça, oscilando bastante.

 Mário Sérgio ainda enveredou para a carreira de treinador. Estudioso e bagagem extraída de conceituados treinadores recomendavam trajetória igualmente brilhante, mas patinou nas passagens por Corinthians e São Paulo. O perfil de comandante enérgico não permitiu que prosperasse na carreira, alongada alternadamente até 2010 no comando do Ceará.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Adeus a Cilinho, técnico à frente de seu tempo


 Uma semana antes do Carnaval de 2018 telefonei para o então treinador Otacílio Pires de Camargo, o Cilinho, propondo que colocássemos a resenha em dia sobre esse inesgotável assunto chamado futebol, mas ele estava de malas prontas para o Rio de Janeiro, com missão de também ultimar preparativos da Escola de Samba Acadêmicos de Salgueiro, a convite dos diretores.

 Demorei pra retomar o contato, e neste hiato, já na primeira quinzena de abril, ele sofreu avc (acidente vascular cerebral) e foi internado em estado grave no Hospital da PUC-Campinas.

 De certo Cilinho teria muito a contar sobre o empobrecimento do futebol brasileiro, com essa europerização que burocratizou demais a boleirada. Não deu tempo. No dia 28 de novembro ele morreu, aos 80 anos de idade.

 Três meses depois de receber alta hospitalar, estava lúcido, mas com paralisação do lado esquerdo do corpo e perda da fala. Aí ocorreu preparo psicológico para que assimilasse aquela situação, com estágio lento de recuperação.

 Foi informado, há dois meses, que Cilinho já balbuciava, o que dava esperança de retomar a comunicação verbal. Todavia o destino estava traçado. Amigos próximos informaram que o estado de saúde era irreversível, e dona Priscila, esposa dele, esteve sempre presente até o último momento, quando na varanda de sua residência, em condomínio no distrito de Sousas, em Campinas, morreu sentado em poltrona.

 Assim, além da convivência formal e informal com Cilinho desde a década de 70, a última vez que nos encontramos foi a convite dele, para que saboreasse uma dobradinha preparada exclusivamente por ele, o cozinheiro, há 21 anos.
Da resenha, a sobremesa foi conceito de futebol, quando Cilinho disse que iria abolir terminantemente os chamados chuveirinhos.

 Claro que o mestre discorria sobre diferentes temas, sem se vangloriar que em 1970 abdicou de um lateral-direito para que a Ponte Preta ganhasse mais um atacante, na troca. Na ocasião sacou Nelsinho Baptista, lateral-direto de marcação, em transcorrer de jogos, para colocar o ponteiro-direito Vicente.

Lateral descoberta? Não. Zagueiro Samuel era incumbido de fazer a cobertura.
Quem, em são consciência, àquela época, teria tamanha ousadia?
Coisa de Cilinho, capaz de deixar até o meio-campista Falcão na reserva nos tempos de treinador do São Paulo.

domingo, 24 de novembro de 2019

Amaral, zagueiro clássico de Seleção Brasileira


 Saudoso Vicente Matheus, enquanto presidente do Corinthians, veio buscar no Guarani o zagueiro João Justino Amaral dos Santos em 1978. E o contratou porque raramente ele era driblado, tinha o tempo exato de bola para antecipar adversários e, talentoso, ao desarmá-los sabia driblá-los para limpar a jogada e valorizar a saída de bola, diferentemente da 'becaiada' de hoje que chuta para o lado que o nariz está virado.

 Em bola alçada contra a sua área, em vez de interceptá-la de cabeça sem mirar o rumo, quando estava desmarcado procurava amortecê-la no peito. E não foi por acaso. Soube extrair características de zagueiros clássicos que os admirava como Ramos Delgado, Joel Camargo, Djalma Dias e Roberto Dias, todos já falecidos.
Essas virtudes o colocaram na Seleção Brasileira a partir de 1976, passaram pela condição de titular absoluto na Copa do Mundo de 1978 na Argentina, totalizando 56 jogos.

 A estreia dele no Corinthians deu-se em 1º de julho de 1978, na derrota para o Bahia por 1 a 0, no Estádio da Fonte Nova. O time? Jairo; Cláudio Mineiro, Moisés, Amaral e Wladimir; Ruço, Palhinha e Ademir Vicente; Geraldão, Rui Rei e Romeu. Na prática, na maioria das vezes fez dupla de zaga com Mauro, e de lá saiu em 1981, em transferência ao Santos.

 A sequência da carreira foi no futebol mexicano por quatro anos, até que retornou ao Brasil para encerramento no Blumenau (SC), ocasião em que voltou a residir na cidade de São Paulo e passou a empresariar jogadores, principalmente para o México. Em dezembro próximo ele vai completar 65 anos de idade, e ainda lembra com orgulho o início de carreira no Guarani. O estágio na categoria juvenil foi relâmpago. Apesar de franzino, o saudoso treinador Armando Renganeschi o lançou na equipe principal aos 16 anos de idade, em 1969.

 Não há como esquecer a experiência feita pelo saudoso treinador bugrino Zé Duarte de improvisá-lo como centroavante durante excursão na Ásia, quando marcou dois gols dos 4 a 0 contra time de segunda divisão do Irã. E ainda teve participação ativa nos dois outros gols marcados pela meia Washington.

Todavia, na primeira insistência em mantê-lo como centroavante, num jogo em Campinas, a torcida protestou. Aí o treinador se rendeu, mas fez questão de fazer observação: "Se ele optasse por ser atacante ganharia muito mais dinheiro na carreira".

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Alex Alves, no campo um atleta feliz


 Segundo a tradição rabínica, foi Salomão quem escreveu a carta bíblica de Eclesiastes, que no capítulo 1:11 cita que 'ninguém se lembra dos que viveram na antiguidade, e aqueles que ainda virão tampouco serão lembrados pelos que vierem depois deles'. Eis aí uma absoluta verdade. Afinal, quem ainda se lembra do artilheiro das cambalhotas Alex Alves, atacante de beirada morto aos 37 anos de idade, em novembro de 2012?

 À época foi uma morte impactante, até porque havia parado de jogar dois anos antes. Ele foi vítima de doença rara das células-tronco hemotopoéticas, causada por mutação de um gene ligado ao cromossomo X, que atinge apenas dez pessoas no universo de um milhão. Um dos sintomas é a urina escurecida no período noturno; outro são infecções recorrentes.

 Alex Alves do Nascimento travou batalha incansável pela cura, submetendo-se a transplante de medula, doada por um de seus irmãos. Nos tempos de atleta ele transmitia a sensação de viver na plenitude. Irradiava satisfação a cada gol marcado. Cambalhotas eram a marca registrada. E tal como no campo, fora dele demonstrava irreverência com cabelos pintados e arrumados de seu jeito.

 Esse hábito se repetiu a partir de 1992, quando iniciou a carreira no Vitória da Bahia, e foi eleito 'Bola de Prata' da revista Placar daquela temporada. E só mudou de comportamento em 2007 quando a doença HPN (Hemoglobinúria Paroxística Noturna) se manifestou e abreviou o encerramento da carreira em 2010, no União Rondonópolis (MT).

 Naqueles 18 anos de profissionalismo atuou como ponteiro-direito veloz que fechava em diagonal nas proximidades da área adversária, e fez gols em abundância. Teve histórico coroado com títulos. Com 1,79m de altura, no Palmeiras festejou o Campeonato Brasileiro de 1994. No Cruzeiro atingiu a fase áurea com a conquista da Libertadores de 1997, e dois anos depois foi artilheiro do Brasileiro com 22 gols. Na passagem pelo clube, com 114 jogos, marcou 55 gols.

 O bom desempenho abriu-lhe portas para ingressar em clubes do exterior. Consta da biografia que atuou pelo Hertha Berlim da Alemanha, Boa Vista de Portugal e Kavale da Grécia, em passagens entremeadas com retorno ao Brasil para defender Atlético Mineiro, Portuguesa, Vasco, Fortaleza, Juventude e União Rondonópolis.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Aniversariante Flamengo construiu geração de goleadores


 No Rio de Janeiro, antes da proliferação de clubes de futebol, prevaleciam disputas de regatas de remo. Foi com essa modalidade que o Flamengo foi fundado em 15 de novembro de 1895. Futebol mesmo apenas a partir de 1911, quando um grupo dissidente do Fluminense incrementou no clube bola rolando, jamais prevendo que fosse torná-lo o principal do país, e mantendo ao logo da histórias goleadores por excelência.

 Zico, o melhor de todos os tempos, marcou 333 gols em 435 partidas, incontáveis deles em cobrança de falta, inigualável nesse quesito. Na planilha de um dos melhores jogadores da história, ele teve participação em três Copas, a partir de 1978. Já o prestígio no futebol japonês implicou em recente retorno ao Kashima Athers, na função de treinador.

 Saudoso centroavante Sylvio Pirilo, com passagem de seis anos pelo clube, a partir de 1941, atingiu marca próxima de um gol por jogo: 204 gols em 236 jogos. Alogoano Dida, igualmente falecido, é o maior goleador da era que precedeu Zico: 257 gols em 364 partidas, entre 1954 a 1963, com rótulo de titular da Seleção Brasileira na primeira partida da Copa do Mundo de 1958 na Suécia, posteriormente cedendo a posição a Pelé.

 Hoje considerada a melhor equipe de futebol do país, é inevitável que façam comparação àquele grupo que conquistou o Mundial de Clubes em 1981, no Japão, com goleada por 3 a 0 sobre o Liverpool. Tem razão o ex-lateral-esquerdo Júnior quando recorda que aquela geração conquistou o tricampeonato brasileiro de 1980 a 83, Lidertadores e estaduais. “É preciso ver se esse grupo vai manter a regularidade que mantivemos”, sugere.

 Em 1981 o Flamengo valorizava a categoria de base. Dos titulares, apenas o goleiro Raul Plasmann, zagueiro Marinho, meia Lico e atacante Nunes não foram formados no clube, de um time formado por Raul; Leandro, Mozer, Marinho e Júnior; Andrada, Adílio, Zico e Lico; Tita e Nunes.
É do Flamengo também a marca exuberante de um treinador comandando a equipe em 746 jogos, com o saudoso Flávio Costa. O igualmente falecido treinador Gentil Cardoso, na passagem pelo clube nas temporadas de 1949 e 50, já era conhecido por histórico bordão: 'se a bola é feita de couro, se o couro vem da vaca e se a vaca come capim, então a bola gosta de rolar na grama e não ficar lá por cima; portanto, vamos jogar com ela no chão'.

domingo, 3 de novembro de 2019

Machado, goleiro que sofreu 11 gols em um só jogo


Este 21 de novembro marca o 55º ano de uma das maiores goleadas aplicadas pelo Santos: 11 a 0 sobre o Botafogo de Ribeirão Preto (SP), no Estádio da Vila Belmiro, com oito gols marcados por Pelé, em jogo que o placar acusava 7 a 0 ainda no primeiro tempo. De certo os hoje avós e bisavós que presenciaram a façanha já não se lembram do time botafoguense daquele sábado chuvoso, e nem associam que o treinador derrotado foi o saudoso Oswaldo Brandão. Todavia, o também falecido goleiro Galdino Machado ficou marcado pelos gols sofridos, apesar de a imprensa da época o ter escolhido como melhor jogador em campo, pelas defesas praticadas.

Netos e bisnetos de hoje provavelmente não saibam que o fardamento de goleiros daquela época nada tinha a ver com esse que está aí. Camisas eram obrigatoriamente de mangas compridas, com acolchoado no peito, ombro e cotoveleiras. Calções também tinham proteção de acolchoado lateral. Já as joelheiras evitavam que pernas fossem raladas.

Detalhe: até o início dos anos 80, na delimitação da pequena área, colocavam camada de areia fina. A justificativa era evitar risco de o goleiro se machucar durante saltos para praticar defesas, argumento desmentido posteriormente quando foi plantada grama em todo campo.

Curioso, naquele período de areia na área, foi a malandragem do atacante Dé Aranha, do Bangu, em jogo contra o Vasco, nos anos 70. Antes da cobrança de falta através de Aladim, ele encheu a mão de areia, e quando o goleiro Andrada foi praticar a defesa ele a jogou no rosto dele, que não viu a bola. Gol do Bangu, que venceu a partida por 2 a 1.

Machado, paulistano da Mooca, morreu em Ribeirão Preto no dia 15 de maio de 2015, aos 80 anos de idade. A carreira, iniciada em 1954 no Juventus, se estendeu até meados da década de 80. Ele brilhou na Ferroviária de Araraquara, mas a passagem mais longa foi no Botafogo, quando o time de 1964 era esse: Machado; Ditinho, Hélio Vieira, Tiri e Carlucci; Berguinho e Adalberto; Zuíno, Alex, Antoninho e Gaze.

Machado tinha elasticidade nos saltos quando adversários ficavam cara a cara com ele, saía da meta socando bolas alçadas, e comandava a defesa aos berros. Depois de Botafogo e Ferroviária, ainda atuou na Ponte Preta e XV de Piracicaba. Como treinador, em equipes do interior paulista, não prosperou.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Maldito crack ainda atormenta Régis Pitbull


 Vídeo viralizado nas redes sociais mostra motorista de ônibus entregando dinheiro para o ex-jogador Régis Pitbull, que em seguida desce do veículo, monta de bicicleta e vai embora. Pela repercussão do assunto, o focalizado desmentiu veementemente de que teria pedido esmola: “Eu não sou coitadinho. Não sou pedinte. Ainda não me libertei do vício do crack, mas conto com amigos para me livrar dele”.

 Régis Fernandes da Silva é um dos vários exemplos de quem atuou ou atua no futebol atrelado à dependência de drogas, principalmente o crack, de difícil recuperação. Publicação do G1-São Paulo mostra dados da ONG Família Crack Zero em que apenas 35% de 680 pessoas em tratamento obtiveram êxito. A psiquiatra Analice Gigliotti, em entrevista ao veículo Dourados Agora, de Mato Grosso do Sul, cita que há possibilidade do dependente largar o crack, mas a liberação definitiva da droga não existe.

 Quando recém-saído do São Raimundo, do Amazonas, Régis atravessou período depressivo e amigos de Campinas optaram por interná-lo em clínica de reabilitação na cidade de Amparo (SP), em março de 2011. Descontrolado, agrediu outro internado e foi desligado do local. Posteriormente, a Ponte Preta reabriu-lhe as portas para tratamento no joelho, visando recuperar condição de voltar ao futebol.

 Foi na Ponte, de 1997 a 99, que começaram a observá-lo como atacante de beirada que partia com bola dominada sobre laterais, envolvia-os pelo gingado e dribles em progressão, e destacava-se como assistente de goleadores.
Isso já havia se repetido nas passagens pelo Marítimo de Portugal, futebol japonês e turco. Todavia, sua história na modalidade começou a ser manchada ao ser flagrado em exame antidoping com uso de maconha em 2001, quando jogava no Bahia, e se repetiu no Rio Branco (MG) sete anos depois.

 Neste intervalo, teve chances de recuperar a imagem no Corinthians, Vasco, Inter e Coréia do Sul, sem contudo aproveitá-las. Mesmo incorrigível na dependência do crack, ainda teve novas chances em clubes, que se arrastaram até 2015 na Matonense, quando equivocadamente julgou estar liberto das drogas. “Já fiz muita besteira que prejudicaram a minha vida’.

 Hoje perdeu quase tudo que ganhou no futebol, mora sozinho em apartamento na capital paulista, e foi divulgado que além da ajuda de amigos ganha cachê atuando em equipes varzeanas da cidade.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Pelé, da glória à enfermidade aos 79 anos de idade


 Mistérios da vida levam pessoas do píncaro da glória ao sofrimento. Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, melhor jogador de futebol de todos os tempo, afagado por multidões, atravessa praticamente um década com problemas de saúde, e chega aos 79 anos de idade, neste 23 de outubro, com dificuldade de locomoção, recorrendo ao andador em curto percurso e cadeira de rodas para distâncias maiores.

 Cirurgia malsucedida no quadril em 2012 originou acusação de Pelé contra a equipe médica. Depois foi diagnosticado com cálculo renal, cirurgias de próstata e da coluna, até que em abril passado, ainda em Paris (FRA), uma infecção urinária provocou internação, com complemento do tratamento no Hospital Albert Einsten.

 Desalinhamento em família se sucederam em três casamentos, prisão do filho Edinho - condenado por lavagem de dinheiro e associação ao tráfico de drogas -, e reconhecimento de paternidade da filha Sandra Regina apenas na Justiça, após exame de DNA. E sequer atendeu ao pedido dela para visita, quando o câncer atingiu estágio avançado. Ela, ainda no mandato de deputada estadual, morreu em 2006.

 O Pelé da glória foi protagonista do primeiro título mundial da Seleção Brasileira em 1958, quando sequer havia completado 18 anos de idade. Por tê-lo no elenco, o Santos lucrou com altas cotas financeiras em excursões no exterior na década de 60, quando ele fez dupla de área com Coutinho e posteriormente Toninho Guerreiro nos anos 60, período da conquista do bicampeonato mundial de clubes.

 Após sagrar-se tricampeão do mundo no México, em 1970, surpreendeu com a decisão de não disputar a Copa de 1974, quando ainda encantava como cabeceador, dribles, arrancadas, e capacidade ímpar para enfrentar goleiros. Depois decidiu encerrar a carreira em jogo contra a Ponte Preta, no Estádio da Vila Belmiro. No entanto, seduzido por proposta tentadora do incipiente futebol dos Estados Unidos, voltou a jogar. E isso se estendeu por quatro anos.
Ao sair definitivamente de cena, Pelé atingiu a insuperável marca de 1282 gols, foi transformado em garoto propaganda de conceituadas empresas, e ministro dos Esportes em pasta criada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, ao denunciar regime de escravatura no futebol, foi incentivador da criação da Lei Pelé, que, segundo ele, representaria a 'carta de alforria' a jogador de futebol.

Lateral Marques perde memória sobre passagem no futebol


Recente publicação do portal UOL revela que o então lateral-direito Marques já nem se recorda de seu histórico no futebol. A perda da memória, progressivamente, foi decorrente de acidente de automóvel vitimado em maio de 1994, quando vinculado por empréstimo à Ponte Preta.

Marques pegava carona com Mauricinho, então companheiro no clube campineiro, no momento da batida. Na ocasião a cabeça dele chocou-se na coluna do veículo, provocou traumatismo craniano, internação de 16 dias, e liberação após ter se recuperado do coma.

De volta ao Palmeiras, houve tentativa de reintegração, mas a perda da cordenação motora precipitou o encerramento da carreira, com retorno, sintomático, à cidade natal de Santo Antônio da Platina, interior paranaense, quando desistiu de contatos com ex-companheiros dos tempos do Palmeiras, e evitou falar de futebol.

Ainda em 1991, no Palmeiras, levou a pior em disputa pelo alto com o então goleiro Ronaldo, do Corinthians, cujo cotovelo bateu em seu rosto. Por causa da lesão, foi levado a um hospital.

Indicado pelo saudoso treinador Telê Santana, o lateral chegou ao Palmeiras em 1990, após passagem por Platinense e Caxias. Já com Nelsinho Baptista como comandante, dois anos depois, e com início da parceria da co-gestora Parmalat, Marques começou o Brasileirão como titular, num time formado por Carlos; Marques, Toninho Cecílio, Tonhão e Biro; César Sampaio, Daniel Frasson e Edu Marangon; Jorginho, Evair e Betinho.

Claudemir Marques foi atleta que se valia da aplicação como marcador, utilidade no jogo aéreo defensivo devido à estatura de 1,81m de altura, e facilidade de levar a bola ao ataque, embora não se tratasse de jogador hábil. Todavia, com chegada de reforços ao elenco, ele perdeu a posição inicialmente para Odair Patriarco, recuperou-a na chegada do treinador Otacílio Gonçalves, para na sequência dar o lugar a João Luís, aquele lateral-direito que havia conquistado título paulistsa de 1986 pela Inter de Limeira (SP).

Por fim, com Mazinho contratado para atuar na lateral-direita, Marques perdeu espaço no Palmeiras, deixando histórico de 53 partidas e três gols. Depois foi repassado por empréstimo ao Paraná Clube e Ponte Preta. E agora, aposentado por invalidez, presta serviço em buffet de um irmão em Santo Antônio da Platina.

Onze anos sem o caipira Chicão

O décimo primeiro ano da morte de Francisco Jenuíno Avanzi, o volante Chicão, neste oito de outubro, obrigatoriamente tem que ser lembrado. Ele foi um piracicabano que jamais disfarçou o sotaque caipira, carregado no erre. Bem antes de perder a luta travada contra um câncer no esôfago, aos 59 anos de idade, ele havia raspado o vasto bigode.

Quando integrou o selecionado brasileiro na Copa do Mundo de 1978, na Argentina, o saudoso treinador Cláudio Coutinho o chamou às véspera do jogo contra os anfitriões, comunicou-lhe que o escalaria ao lado do gaúcho Batista para reforçar a marcação do meio-de-campo, mas recomendeou-lhe que tomasse cuidado para não ser expulso.

Mal o treinador virou às costas, Chicão confidenciou aos companheiros: “Vou chegar arrepiando e esses gringos vão se encolher”. Na prática, foram poucas entradas intimidadoras sobre adversários. Naquele dia ele jogou muita bola, mas o empate sem gols do Brasil foi insuficiente para classificação, pois ficou em desvantagem no critério saldo de gols, com perda da vaga para os platinos.

Seus amigos contam que décadas passadas ele entrou em uma loja de São Paulo e, ao pagar a conta, tropeçou no preenchimento do cheque ao grafar a palavra sessenta cruzeiros. Detalhe: após preencher o extenso incorretamente duas vezes, optou por assinar dois cheques de trinta cruzeiros para liquidar o assunto.

Engana quem pensa que Chicão só se impunha pelo vigor físico. Tinha bom passe e, após passagem pela Ponte Preta, atuou em grandes clubes. No São Paulo, no título brasileiro sobre o Galo mineiro em 1977, maldosamente pisou na perna quebrada do meia Ângelo (já falecido), só por suspeitar que estivesse fazendo 'cera'. A brutalidade ocorreu após entrada do são-paulino Neco sobre o atleticano, que resultou em fratura.

Um ano, o provocativo volante tentou intimidar o ex-árbitro José Assis de Aragão antes de um clássico com o Palmeiras, e recebeu o cartão amarelo antes mesmo do início da partida. “Cheguei pro Aragão e disse: vê se apita direito essa porcaria”, confessou.

A carreira se arrastou até 1986, aos 37 anos de idade, no Mogi Mirim, após passagem por Santos e Atlético Mineiro. Na tentativa como treinador passou por XV de Piracicaba, Inter de Limeira, Clube Atlético Montenegro e Paranapanema, todos do interior de São Paulo.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Juventus já contou com 137 mil associados


 Se hoje treinadores são impiedosamente demitidos, outrora o dirigente não se influenciava por correntes externas, e dava apoio ao profissional até o limite. Afora isso, sem verbas publicitárias e da televisão, também sabia gerir finanças com receita de bilheteria e respaldo na outrora lei do passe, que abastecia os cofres nas vendas de passes de jogadores.

 Exemplo de sobrexistência sólida de clube até os anos 80 foi o Juventus, com imponente sede administrativa de cinco mil metros quadrados de área construída, distribuída em seis pavimentos. Ela, o complexo poliesportivo e estádio ficam na zona oeste de São Paulo. O Conde Rodolpho Crespi - popularmente conhecido por Rua Javari -, sequer comporta dez mil pessoas. E nem precisa ser maior, pois apenas as costumeiras testemunhas vão aos jogos.

 A inigualável marca de 137 mil associados, alcançada até meados da década de 80, era formada por torcedores de grandes clubes paulistas, que se valiam da ótima localização. Se à época o quadro social ajudava a abastecer o deficitário departamento de futebol, hoje 'piscineiros' migraram para entretenimento em condomínios residenciais, casas de campo, praias, e assim provocaram esvaziamento no fichário de cadastros. E isso se aplica, por extensão, aos demais clubes.

 Outrora presidido pelo saudoso José Ferreira Pinto, o Zé da Farmácia, o Juventus tinha influência em decisões do Conselho Arbitral da Federação Paulista de Futebol, com reflexo benéfico quando da iminencia de rebaixamento. Apesar disso, nas modestas montagens de suas equipes, o Juventus surprendia grandes clubes, e por isso foi identificado como Moleque Travesso. Lembram-se de Ataliba? Foi um ponteiro-direito catimbeiro, veloz e imprevisível. Tanto perdia gols feitos, como também marcava outros de raríssima beleza. O clube foi campeão da Taça de Prata de 1983 - equivalente à série B do Brasileiro -, ao ganhar do CSA por 1 a 0 no Estádio do Parque São Jorge, com Candinho como técnico.

 O Juventus foi fundado em 20 de abril de 1924 por funcionários do Contonifício Rodolpho Crespi com o nome Extra São Paulo. Em 1928 foi chamado de Contonifício Rodolpho Crespi Futebol Clube. Só em 1930 se transformou em Clube Atlético Juventus, campeão do Campeonato Amador de São Paulo de 1934. O clube disputou o último Campeonato Paulista da Série A2.

xxx

xxx

domingo, 15 de setembro de 2019

Conga, argentino que furava defesas no drible


 A rotina no futebol, quando um time está sem a bola, é se postar atrás, enquanto o adversário roda a bola no ataque - de uma lateral a outra - a espera da brecha para 'espetar'. É aí que o saudosista lembra do quão faz falta o driblador. Do jogador cuja bola cola aos pés, e vai enfileirando marcadores até chegar na cara do gol pra completar jogadas.

 Quem fazia isso com sabedoria era o meia argentino Dario Leonardo Conca, principalmente na primeira passagem pelo Fluminense no quadriênio a partir de 2008. Não bastassem arranques em velocidade com a bola, mesmo com defesas fechadas, recebeu benão divina para bater na bola até de fora da área, e se caracterizou como preciso cobrador de faltas.

 Dirigentes do Fluminense já haviam observados essas virtudes quando Conca foi adversário atuando pela Universidad Católica do Chile em 2004, emprestado pelo Rosário Central da Argentina. No entanto foi o Vasco quem primeiro conseguiu trazê-lo ao Brasil em 2007, sem que repetisse aquilo que dele se esperava. Por sinal, dos quatro clubes do Rio de Janeiro que atuou, até na segunda passagem pelo Fluminense, em 2014, o rendimento já não foi tão satisfatório.

 Na ocasião ele havia retornado da China, na passagem pelo Guangzhou Evergranda, a época considerado um dos jogadores mais bem pagos do planeta. Aí uma lesão no joelho começou atormentá-lo, e por isso a carreira foi se arrastando até abril desta temporada, quando ainda havia tentado jogar pelo Austin Bold F.C., dos Estados Unidos.

 Como Conga não quer se dissociar do futebol, projeta iniciar a carreira de treinador, embora ainda deslocado da realidade. Nas entrevistas fala da preferência em dirigir clubes como River Plate, Boca Junior e Fluminense, desconsiderando o imprescindível estágio em elencos medianos para ganhar bagagem.

 Enquanto a vez não chega, melhor que conte histórias gloriosas dos tempos de atleta, como o título brasileiro do Fluminense de 2010. Muricy Ramalho era o treinador num time formado por Ricardo Berna; Mariano, Gum, Leandro Euzébio e Carlinhos; Valência, Diguinho, Júlio César e Conga; Sheik e Fred.

Adeus ao então goleiro argentino Andrada


 Quando anunciaram a morte do então goleiro argentino Andrada, neste quatro de setembro, a caracterização básica foi de quem sofreu o milésimo gol de Pelé em novembro de 1969, quando atuava pelo Vasco contra aquele poderoso Santos, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, no Estádio do Maracanã. Edgard Norberto Andrada morreu em Rosário (ARG), aos 80 anos de idade.

 A passagem de Andrade pelo futebol brasileiro remete à era em que se admitia goleiros de estatura mediana. Com 1,78m de altura, valia-se de elogiada colocação e elasticidade, virtudes que resultaram no apelido de 'El Gato'. Foi época em que o futebol brasileiro importava goleiros argentinos, independentemente do tamanho.

 Saudoso José Poy, vindo do Rosário Central ao São Paulo em 1948, tinha 1,72m de altura, e mesmo assim manteve titularidade até 1963, quando se transformou em treinador. Igualmente torcedores palmeirenses nada tinham a reclamar de seu goleiro Valdir Joaquim de Moraes, apesar de 1,70m de altura, enquanto o mexicano Jorge Campos jogou até no selecionado de seu país, com 1,68m de altura.

 A fama de goleiro argentino para saída da meta, em período que os brasileiros eram criticados nesse expediente, motivou o Santos a buscar no Racing, em 1970, o saudoso Agustin Cejas, morto em 2015, aos 70 anos de idade. Ele explorava a estatura de 1,93m para socar bola levantada contra a sua meta, e depois ainda jogou no Grêmio (RS).

 Andrada também era corajoso para interceptar cruzamentos. E teve carreira estendida no Vasco até 1975, anos em que atuou com jogadores como Fidélis, Alcir, Zanata, Jorge Carvoeiro, Roberto Dinamite, Renê e Gílson Porto. Ele participou do time que conquistou o Campeonato Brasileiro de 1974, após vitória por 2 a 1 sobre o Cruzeiro, no Estádio do Maracanã.

 Na sequência passou por Gama (DF) e Vitória (BA), antes de completar a carreira em clubes argentinos, por último no Renato Cesarino, aos 43 anos de idade. Foi quando o denunciaram por participação em assassinatos de dois opositores do regime militar argentino. Todavia, sem provas, acabou inocentado. Ele ainda foi preparador de goleiros.

Mesmo gordo, Marião jogou em grandes clubes


 Quando chegou ao Corinthians, em 2009, o atacante Ronaldo Fenômeno pesava 115 quilos. Rigorosa dieta alimentar e exercícios serviram para que reduzisse a gordura e completasse o biênio projetado. Atacante Rodrigão, 92 quilos distribuídos em 1,86m de altura, concorre à artilharia pelo Coritiba. Alex Mineiro, do Vila Nova (GO), ainda briga para murchar a barriga.

 Inter (RS), São Paulo, Sport e Atlético Paranaense bancaram o zagueiro Mário Gomes Amado, o Marião, mesmo com variação de peso entre 97 a 100 quilos. Quando atuou pelo Grêmio Santanense, de São José dos Campos (SP), onde encerrou a carreira, pesava 107 quilos. Ele morreu no dia 24 de agosto de 2011, aos 59 anos de idade, em decorrência de problemas cardíacos.

 Se foi zagueiro ‘cintura dura’, fama de grosso, reconhecia-se a sabedoria ao usar a caixa torácica avantajada para evitar drible da vaca do adversário, em época que a arbitragem interpretava esse estilo como jogo de corpo e jogada normal. Assim, ele teve o seu espaço nas décadas de 70 e 80, quando admitia-se zagueiros gordos.

 Jornalistas gentis definiam Marião como zagueiro forte, de ótimo vigor físico, sem contudo esconder a lentidão. Isso se caracterizava ao enfrentar atacantes rápidos como Juari, do Santos. Numa das raras vezes que levou a melhor naquele duelo, o São Paulo venceu por 2 a 1, em partida válida pelo terceiro turno do Campeonato Paulista de 1979, com 73.803 pagantes no Estádio do Morumbi.

 Naquela vitória são-paulina jogaram Waldir Peres; Getúlio, Marião, Tecão e Antenor (Estevam); Chicão, Teodoro e Dario Pereyra; Edu Bala, Serginho (Viana) e Zé Sérgio. Vinculado ao São Paulo, ele atuou 50 vezes de 1978 a 1980, até a chegada de Oscar Bernardes. Foi quando o consideraram sortudo por atuar ao lado de craques, sem que se negassem as qualidades dele como pessoa.

 Na passagem pelo Sport Recife a partir de 1980, Marião foi campeão pernambucano duas vezes nos anos subsequentes. Há registro que teve atuação regularíssima na vitória sobre o Náutico por 2 a 0 em 1981, na primeira comemoração, época em que os clubes não dispunham de tecnologia sofisticada para dimensionar a capacidade física dos atletas. Os métodos adotados pelos profissionais careciam de cunho científico.

Jorginho, atleta de sucesso e treinador que patina


 Diminutivo ‘inho’ era frequente em jogadores do passado, e o carioca Jorge de Amorim Campos não fugiu à regra quando foi aprovado em treino peneira do infantil do América (RJ), aos 13 anos de idade, deslocado à lateral-direita, e não à zaga central onde havia proposto ser testado.

 A trajetória vitoriosa dele enquanto atleta, campeão mundial pela Seleção Brasileira em 1994, contrasta com a carreira de 14 anos como treinador, basicamente em clubes do bloco intermediário, apesar de chances para decolagem no Vasco e Flamengo. Nesta temporada, de volta à Ponte Preta, foi demitido neste 25 de agosto.

 Dos 55 anos de idade completados neste 17 de agosto, a história de Jorginho é realçada como atleta. Quando o Flamengo o contratou em 1984, estava convicto no investimento de um lateral que dificilmente errava passes, que ao entrar em diagonal preferia o passe ao cruzamento, e tanto sabia marcar ponteiros como fazer cobertura no meio da área. Logos, essas virtudes implicaram em carreira na Europa e Ásia. Nos seis anos de Alemanha, inicialmente no Bayer Leverkusen, foi deslocado para o meio de campo. No Bayer de Munique foi premiado pela Fifa com o troféu ‘fair-play’, justificado como exemplo de lealdade em campo.

 Na passagem pela Alemanha ocorreu a conversão ao grupo ‘Atletas de Cristo’, quando em um culto testemunhou a cura de um irmão alcoólatra. Logo, criou a comunidade Evangélica Brasileira de Munique, e cedia o porão de sua casa para a realização de cultos.

 Nos gramados Jorginho passou a engolir seco provocações de adversários do tipo “você está pecando”, quando entrava mais duro em jogadas. E não bastasse isso, a partir de 2005 a Fifa os proibiu de usarem mensagens alusivas ao cristianismo em camisetas abaixo das camisas tradicionais em dias de jogos.

 No Japão jogou no Kashima Antlers, e ao regressar ao Brasil em 1999, os seus últimos clubes foram São Paulo, Vasco e Fluminense em 2002, período em que propagava a palavra de Deus a companheiros de equipes adversárias, presenteando-os com uma Bíblia. Três anos depois, ao iniciar na função de técnico do América (RJ), provocou polêmica ao sugerir mudança do mascote do clube, um diabinho, por uma águia. Ano seguinte, a convite do treinador Dunga, passou a integrar a comissão técnica da Seleção Brasileira.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Leônidas da Silva, o inventor da bicicleta


 Outrora comentaristas de futebol de mídias eletrônicas torciam o nariz com 'infiltração' de ex-jogadores no meio. Claro que o principal motivo foi divisão do espaço, mas alguns acrescentavam que ex-atleta é corporativista e, em vez de críticas ácidas quando a situação exige, contemporiza. Já o público interpreta que experiências vividas em gramados agregam em transmissões esportivas.

 Nas décadas de 60 e 70, quando se impostava vozes para comentar futebol, a Rádio Jovem Pan teve preocupação com conteúdo e valorizou para o posto o ex-atleta Leônidas da Silva, fenômeno nas décadas de 30 e 40, e sem papas na língua pra transmitir aquilo que via. Se nos tempos de jogador do São Paulo ele criticava com aspereza companheiros após erros grosseiros - gerando clima de desarmonia -, evidente que não pouparia a boleirada estando do outro lado do balcão.

 O saudoso Leônidas tinha credenciais para externar com clareza aquilo que pensava. O currículo de centroavante recheado de recordes sintetiza tudo. Foram 38 jogos e 38 gols pela Seleção Brasileira, oito deles como artilheiro na Copa do Mundo da França de 1938. Das 153 partidas pelo Flamengo, a marca foi de 149 gols. E quem no São Paulo teve histórico com a proporcionalidade dele, de 144 gols em 211 jogos?

 Apesar da exuberância desses números, de quem na estreia com a camisa são-paulina arrastou o inigualável público de 72.018 pagantes no Estádio do Pacaembu, no empate por 3 a 3 com o Corinthians, dia 24 de janeiro de 1942, ele não extrapolava. Quando lhe atribuíram a pecha de inventor da bicicleta no futebol, deu crédito a Petronilho de Brito como pioneiro da arte, justificando que aperfeiçoou as pedaladas no ar a partir do Estádio Centenário, em Montevidéu (URU), em jogo da Seleção.

 O talento de Leônidas da Silva rendeu o apelido de Diamante Negro. Mais que isso: a indústria Lacta captou a incorporação a um chocolate, com aceitação imediata. Assim, a história desse astro do futebol brasileiro teve epílogo no dia 24 de janeiro de 2004, quando, vitimado pelo Al Zheimer, morreu em Cotia (SP), aos 90 anos de idade. Todavia, será recontada eternamente pela singularidade.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Alzheimer mata mais um boleiro: Altair


 Em janeiro passado, cientistas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) abriram perspectiva para futuramente se comemorar a cura do Mal de Alzheimer, através de tratamento que possa anular os efeitos nocivos de perda progressiva da memória do paciente. Enquanto isso, o SUS (Sistema Único de Saúde) fornece remédios que ajudam a retardar a evolução dos sintomas.

 A demora para se vencer o desafio provoca vítimas que marcaram história no futebol, a última delas o ex-lateral-esquerdo e quarto-zagueiro Altair Gomes de Figueiredo, morto neste nove de agosto, aos 81 anos de idade. Ele faz parte da história do Fluminense como quarto jogador que mais vestiu a camisa do clube - 551 jogos -, entre as décadas de 50 e 60. E consta no currículo dele ter integrado a Seleção Brasileira nas Copas do Mundo de 1962 e 1966.

 Em comum entre Altair e Édson Cegonha foi que atuaram como lateral-esquerdo, embora a posição originária de Cegonha tenha sido de volante, com passagens por Corinthians, São Paulo e Palmeiras. A maldição do Alzheimer implicou que ambos ficassem perdidos em ruas, sem noção do caminho de regresso.

 Cegonha, que morreu em 2015 aos 72 anos de idade, sofreu com a doença durante cinco anos, e ficou perdido pelas ruas de Bonsucesso, no Rio de Janeiro, por duas semanas. Altair perambulou desorientado em ruas de Brasília por dez horas, até ser localizado urinando num canteiro, e conduzido de volta ao hotel que acomodava jogadores campeões mundiais pela Seleção, para solenidade do dia seguinte no Estádio Mané Garrincha, que visava homenageá-los na abertura da Copa das Confederações de 2013.

 Em seguida, apagou da memória de Altair que fora excelente marcador, com conquistas de títulos. Já não podia contar que outrora treino-peneira 'castrava' talentos. Nos três minutos da 'peneirada' no Vasco sequer pegou na bola e acabou dispensado. Só os amigos passaram a relatar a relutância dos pais dele para que ingressasse no futebol, nas Laranjeiras, e reproduziram histórias espontâneas contadas pelo lateral, como confissão do baile que havia levado do ponteiro-direito Mané Garrincha do Botafogo, na final de 1957 do Campeonato Carioca. Até valores de renovação de contrato ele revelava.

 Antes de perder a memória, Altair se vangloriava de seu tempo de atleta, rico em desarme limpo, contrastando com o antijogo de hoje.

domingo, 4 de agosto de 2019

Adeus a Gildo, autor do gol relâmpago


 A cada década o Palmeiras monta pelo menos um elenco que o rotulam de academia. A primeira data de 1965, comandada pelo saudoso treinador Filpo Nuñez. Depois, com a conquista paulista do biênio 1973/74 do comandante Oswaldo Brandão. Nos anos 90, a cogestão com a Parmalat permitiu montagem de equipe milionária que 'papava' quase tudo. E agora o clube volta a se destacar com time competitivo.
 Da primeira academia apenas os meio-campistas Dudu e Ademir da Guia, goleiro Valdir Joaquim de Moraes e ponteiro-esquerdo Rinaldo estão vivos. Não há ‘sobreviventes’ no quarteto defensivo formado por Djalma Santos, Djalma Dias, Valdemar Carabina e Geraldo Scotto. Daquele ataque formado por Gildo, Servílio, Tupãzinho e Rinaldo, apenas o ponteiro-esquerdo pernambucano está vivo, e aos 77 anos de idade goza de aposentadoria em Carpina, interior pernambucano, e conta repetida vezes a transferência do Náutico ao Verdão em 1964.
 Também pernambucano, Gildo Cunha do Nascimento perdeu a disputa pela vida neste dois de agosto. Ele morava na cidade de São Paulo, estava com 79 anos de idade, ficou internado durante dez dias, e a causa da morte foi registrada como insuficiência pulmonar.
 No Palmeiras esteve vinculado durante oito anos, a partir de 1961, mas a princípio como reserva do lendário Julinho Botelho. Se é praxe elogios até exagerados sobre desempenho de atleta após a morte, é justo citar que Gildo apenas cumpria o básico cobrado de ponteiros à época, de usar velocidade para chegar ao fundo de campo, e aí cruzar a bola à área adversária. Foi assim que principalmente o ponta-de-lança Servílio pôde explorar a virtude no cabeceio, sempre citado como jogador que cabeceava com os olhos abertos, para bem distinguir a colocação do goleiro.
 Igualmente Gildo será citado como atleta recordista de gol relâmpago no time palmeirense, assim como em jogos no Estádio do Maracanã. Foi no dia três de março de 1965, quando fechou em diagonal após lançamento do lateral-direito Djalma Santos, aos nove segundos, na goleada sobre o Vasco por 4 a 1. Ademar Pantera e Tupãzinho duas vezes completaram o placar.
 Quando se desligou do Palmeiras, Gildo topou desafio arriscado, porém bem-sucedido. Transferiu-se ao Atlético Paranaense, mesmo sabendo da montagem de um time veteraníssimo com Djalma Santos, Belini e Nair.

Elói, craque que curte aposentadoria no Rio


 Boleiro do passado comumentemente despreza o futebol de rigorosa marcação ora praticado no Brasil, e testemunha que no seu tempo era tudo diferente. Um deles é o ex-meia de armação Elói, que embora franzino e 1,72m de altura, tinha privilegiada visão de jogo e habilidade para romper marcações. E quando curte a aposentadoria em praias de Niteroi (RJ), a careca brilha por causa do sol causticante, contrastando com a cabeleira loira e encaracolada das décadas de 70 e 80.

 Lá, com aqueles pouco mais de 60 quilos ainda mantidos, é frequentador assíduo de quiosques para saborear água de coco e se divertir com a tentação do futvôlei. Afinal, aqueles exercícios servem de preparação para jogos nos finais de semana em equipe de máster, com desempenho que não indica ter completado 64 anos de idade em fevereiro passado.

 Francisco Chagas Elói é um caipira confesso natural de Andradina, interior paulista, que da roça foi transformado em atleta profissional no clube da cidade por questão vocacional. Aí olheiros de plantão o levaram ao Juventus, e depois à Portuguesa em 1978, jogando com os zagueiros Daniel Gonzales e Beto Lima,  meia Wilson Carrasco e atacante Eléas. Por isso causou estranheza a volta ao interior na temporada seguinte, ao integrar a Inter de Limeira (SP), época que confessou a tara por treinamentos. “Pedia pro Camargo (ponteiro-direito) cruzar e eu batia de primeira na bola”. 

 Quando rotulado de talentoso na transferência ao Santos, concordou integralmente e acrescentou que treinador não ensina o craque a jogar. “Eu sabia exatamente aquilo que tinha que fazer em campo”. E por reconhecer as virtudes dele o Gênoa, da Itália, veio buscá-lo, jamais projetando dificuldades de adaptação, problema superado na passagem pelo Porto (POR), quando atuou ao lado dos atacantes Casagrande e Juari. Ainda naquele país integrou o elenco do Boa Vista.

 Na década de 80, Elói teve trajetória aplaudida por Vasco, Botafogo, Fluminense e América do Rio de Janeiro. E, ao se identificar com o Estado, lá se fixou, sem esquecer a infância de torcedor corintiano quando esperava até altas horas da noite vídeo teipes de jogos na TV preto e branco, mas nas tardes de domingo sintonizava a Rádio Bandeirantes para ouvir a narração do saudoso Fiori Gigliotti. “Era uma delícia ouvir ele falar abrem-se as cortinas e começa o espetáculo”. 


Só faltou Ricardinho vingar como treinador


 Que o ex-meia Ricardinho, do Corinthians e outros grandes clubes, foi jogador acima da média, não se questiona. Que como comentarista de futebol de televisão não fica a dever aos renomados do meio, é outra verdade. Ora, por que com esses atributos não vingou como treinador?

 Se alguém fez a pergunta a Ricardinho, de certo ouviu múltiplas respostas. Na prática apenas duas alternativas se encaixam à realidade: falta de sorte ou não ser vocacionado à gestor de pessoas. Quem tem visão de jogo para colocar a bola em espaços inimagináveis; quem aperfeiçou o jeito de bater nela de curta e média distância, e sobretudo quem tem histórico de gols pela frieza ao enfrentar goleiros, muito teria a transmitir aos comandados. Todavia ele não prosperou na função quando comandou Paraná Clube, Ceará, Avaí, Santa Cruz, Portuguesa, Tupi (MG) e Londrina.

 Comunicação? Nesse quesito Ricardinho também é excelente. Expressa-se com clareza e concisão. Tanto tem poder de síntese como sabe ser detalhista quando a situação requer. Nos comentários detecta rapidamente distribuições em campo das equipes, mostra caminhos alternativos, e localiza setores vulneráveis a serem explorados por quaisquer dos adversários.

 Logo, a percepção é que não associou essas virtudes a de gestor de grupo, para que o trabalho fritificasse. Pares de comissão técnicas e dirigentes estavam afinados à execução de metas? Encontrou o ponto de equilíbrio para 'domar' atletas indisciplinados e problemáticos?

 Assim, a história do futebol reserva espaço ao canhoto paulistano Ricardo Luís Pozzi Rodrigues, início de trajetória como atleta no Paraná em 1995, e auge naquele vitorioso Corinthians de 1998 a 2000, embora ele tenha continuado no clube por mais dois anos, com participação em 254 jogos e 63 gols.

 A transferência ao São Paulo apagou um pouco do brilho, recuperado com posterior transferência ao Santos, na conquista do Campeonato Brasileiro de 2004. E até 2011, quando encerrou a carreira de atleta no Bahia, foi um vaivém Brasil-Europa-Ásia, com passagens pela França, Inglaterra, Turquia e Catar. Nos retornos subsequentes jogou novamente no Corinthians em 2006, e esteve no Atlético Mineiro no biênio a partir de 2009.

 A recompensa de seu futebol talentoso foi ter integrado a Seleção Brasileira nas Copas do Mundo de 2002 e 2006, como reserva.

Que resgatemos um pouco do futebol do passado!


 Dezenove de julho é marcado como Dia Nacional do Futebol, que há muito tempo deixou de ser colírio para os olhos. Há quem justifique que outrora o bebê já cutucava a barriga da mãe cobrando pressa pra vir ao mundo. Queria crescer rapidinho para chutar bola e copiar dribles estonteantes de Pelé e companhia. Encantava-se com o drible elástico de Roberto Rivellino e enfeitados calcanhares do saudoso Sócrates, que parecia ter olhos na nuca. Brilhos de Ronaldinhos Gaúchos, Romários e zagueiros clássicos também eram aplaudidos, assim como primor em cobranças de faltas.

 Pois aqueles campinhos de terra batida perderam espaço para o concreto e rarearam os meninos malabaristas com a bola nos pés. Assim, a geração dos trinta e poucos anos de idade não saboreia 20% da delícia que foi o futebol do passado, e contenta-se com vitórias de seu clube predileto, independentemente da forma como foram construídas.

 Quase tudo mudou no futebol. Das traves roliças de madeira àquelas de ferro. Das camisas dos atletas colocadas dentro do calção, hoje soltas. Dos goleiros de camisas mangas compridas, cotoveleiras e joelheiras, ao uniforme comum dos companheiros. Calção? Na década de 70 era bem curtinho e apertado, de forma até a provocar incômodo pra correr, contrastando com os tais bermudões.

 Foi-se o tempo em que era permitido ao atleta abusar de meias arriadas, desprovido de caneleiras. De certo o Casagrande comentarista da Rede Globo está com canelas riscadas pelos beques bonitudos, porque nos tempos de centroavante as suas meias ficavam nos tornozelos.

 Livramos de árbitros safados que fabricavam resultados, mas ainda vemos o justiceiro VAR a passos de tartaruga. No lugar de 'treineiro' que cobrava precisão técnica, hoje prevalece observância tática. O saudoso e execrado Milton Buzzeto, treinador do Juventus dos anos 70, que inventou a retranca no Brasil, hoje seria saudado, visto que a maioria dos comandantes optou por copiá-lo.

 Também não se produz dirigente como antigamente. Se antes o amadorismo servia de alicerce pra que aprendesse a construção, hoje inadvertidamente começa na função pelo telhado, se escorrega e tomba. O torcedor trocou a saudável 'zoadinha' pela selvageria, com dentes afiados para bater e apanhar. Ora, por que não se resgatar pelo menos parcialmente a essência do futebol?

Adeus ao talentoso meia Mendonça


 No dia 23 de maio de 2017, publiquei texto com retrato fiel da trágica situação do então meia Mendonça, que havia se transformado em alcoólatra incorrigível, um contraste com aquele talentoso jogador com pontaria singular ao chutar na corrida contra o gol adversário.

 Não bastassem dribles estonteantes em quem entrasse feito louco na jogada para desarmá-lo, driblava também pisos irregulares quando arriscava finalizações. Pois esse Milton da Cunha Mendonça, 63 anos de idade, outrora idolatrado, com pés na calçada da fama do Estádio Maracanã, que esteve internado em hospital do Rio de Janeiro, tentava driblar malefícios provocados por bebidas alcoólicas, morreu por outro motivo: desdobramento de queda de escada de trem da Estação Guilherme da Silveira, no Rio.

 Do acidente Mendonça sofreu duas fraturas, ficou cerca de dois meses internado, até morrer. Quando hospitalizado nas vezes anteriores, por causa do alcoolismo, órgãos vitais do corpo humano, como fígado, baço e rim, já haviam sido afetados.

 Mendonça não teve a mesma sorte do goleiro João Marcos - ex-Noroeste, Guarani e Palmeiras -, que testemunha em livro como venceu a difícil batalha travada contra o vício do álcool. O histórico de Mendonça no futebol profissional começou no Botafogo. Lançado pelo ex-treinador Zagallo em 1975, firmou-se como ponta-de-lança na temporada seguinte, num time formado por Wendell; Miranda, Osmar Guarnelli, Nilson Andrade e Marinho Chagas; Carlos Roberto, Cremílson e Mendonça; Antonio Carlos, Manfrini e Mário Sérgio.

 Na época ele era cobrador oficial de faltas e seguia fielmente o conselho do pai Mendonça, lateral-direito do Bangu da temporada de 1951, para que evitasse fratura na perna como ocorrera com ele, em bola dividida com o meia Didi. “Só dividida bola quando tiver certeza que ela está mais para você”, ensinava. Em 1983, quando a Portuguesa se dava ao luxo de contratar jogadores de nível, foi reforçada com Mendonça, que lá ficou por duas temporadas, até que o Palmeiras foi buscá-lo, e ele participou daquele vice-campeonato do Paulistão de 1986, supreendido surpreendido pela Inter de Limeira.
 Depois Mendonça passou por Santos e Grêmio, já sem o rendimento de outrora. No final de carreira, sentiu o amargo gosto da estrada da volta no futebol no São Bento e Inter de Limeira. A despedida ocorreu no Bangu em 1990.

domingo, 23 de junho de 2019

Vasco registra novo acidente com morte de atleta


 Há 24 anos a comunidade vascaína despedia-se do talentoso meia Dêner, emprestado pela Portuguesa, 23 anos de idade e três filhos. Neste 22 de junho os cruzmaltinos choraram a morte de um 'cria' da casa, caso do atacante Talles, vinvulado por empréstimo à Ponte Preta, pai pela quarta vez, e 24 anos de idade.

 Em comum, foram vítimas de acidente no Rio de Janeiro. Dêner, no banco de passageiro de seu automóvel, teve o pescoço estrangulado nas imediações da Lagoa Rodrigo de Freitas. A morte de Talles foi decorrente de choque de motos, quando era um dos motoristas.

 Mortes de atletas no transcorrer de carreiras geralmente são associadas a acidentes, e tem abalado mais vascaínos. Em 1985, no terceiro ano de clube, o zagueiro uruguaio Daniel Gonzales teve o veículo Monza atingido e, aos 32 anos de idade, morreu.

 Há 50 anos o lateral-direito Lidu e ponteiro-esquerdo Eduardo, do Corinthians, perderam a vida em colisão de carro na Marginal do Tietê, enquanto no São Paulo há registro de pelo menos dois casos de atacantes que por lá passaram e acidentados. Ponteiro-esquerdo Edivaldo, vinculado de 1987 a 90, morreu três anos depois, aos 31 anos de idade, quando jogava pelo Taquaritinga (SP), em acidente na Rodovia Castelo Branco. Já o ponteiro-direito Catê, então 'aposentado do futebol', 38 anos de idade, transitava em estrada do interior gaúcho no momento da fatalidade.

 Futebol é tão traiçoeiro que, no momento em que o ponteiro-direito Roberto Batata ganhou posição no time do Cruzeiro, contra o Aliança, em Lima (PER), ninguém podia prever que faria a última partida pelo clube: morreu em acidente na Rodovia Fernão Dias, na iminência de completar 27 anos de idade, na temporada em que o clube conquistou a Libertadores.

 Tão ou mais dolorosa é a morte de atleta no exercício de sua atividade. São os casos dos laterais Carlos Alberto Barbosa, do Sport (PE), pela direita; e Serginho, do São Caetano, pela esquerda. Ambos passaram mal, caíram nos gramados, foram socorridos e não resistiram. Carlos Alberto em jogo contra o XV de Jaú, em 1982; Serginho diante do São Paulo, no Estádio do Morumbi, em 2004.



 Zagueiro Vágner Bacharell - ex-Palmeiras e Guarani - atuava pelo Paraná Clube quando ficou desacordado após choque de cabeça. Diagnosticaram fratura no crânio, e ele morreu em 20 de abril de 1990.

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Lazaroni saiu desgastado da Seleção Brasileira



 O sonoro apelido Tião já esteve incorporado ao futebol décadas passadas. Um deles foi companheiro de meio de campo de Roberto Rivellino no Corinthians, e atuava como volante. Mesma posição, procedente do Botafogo (RJ), chegou ao Guarani Tião Macalé, já falecido.

 Hoje, raros são os filhos registrados com prenome Sebastião, cujo sufixo da palavra decorre o apelido. Todavia, há quase 69 anos nascia o carioca Sebastião Barroso Lazaroni, que galgou o cargo de treinador da Seleção Brasileira em 1989, sem que fosse identificado como Tião, mas acabou amaldiçoado por torcedores brasileiros com a perda da Copa do Mundo de 1990, na Itália.

 Ano anterior, o saudoso presidente do Vasco, Eurico Miranda, persuadiu o recém-empossado presidente da CBF, Ricardo Teixeira, a colocar Lazaroni como treinador da Seleção Brasileira, mesmo com raso currículo de cinco anos na função. Havia pesado na balança conquistas de três títulos regionais nas passagens por Flamengo e Vasco.

 Se a indicação teve respaldo dos cariocas, enfrentou resistência em outros Estados brasileiros, a começar pelos baianos, indignados pelo centroavante Charles, do Bahia, ter sido relegado da convocação à Seleção Brasileira, à Copa América de 1989.

 Como o país sediou aquela competição, paradoxalmente a estreia ocorreu no Estádio da Fonte Nova, em Salvador, com vaias na vitória por 3 a 1 diante da Venezuela. Aí, a conquista do título referendou continuidade do trabalho e aflorou a arrogância de Lazaroni, que ignorou clamores da mídia paulistana pela convocação do meia Neto àquela Copa, justamente no período em que ele atravessava a melhor fase da carreira, atuando pelo Corinthians.

 Como a Seleção Brasileira jamais convenceu naquele Mundial, foi despachada pela Argentina na derrota por 1 a 0, nas oitavas-de-final, a demissão de Lazaroni foi sintomática. Cobrado por ter preterido Neto, a justificativa do treinador foi tida como inconsistente: “Não atendia aos requisitos exigidos de comportamento”.

 Natural que o bocudo Neto respondesse com aspereza, e o treinador ficasse com a pecha de fracassado, com consequente 'encurtamento' no mercado de trabalho nacional. Restou, então, articulações para abrir portas no exterior. Comandou as seleções do Catar e Jamaica, assim como, entre outros clubes, Fiorentina (ITA), Fenerbahçe (TUR), e Yokohama (JAP).