domingo, 24 de abril de 2022

Alceu, história de quem é vencido pela droga

 Mundinho do futebol é terrível. De repente o atleta desabrocha, mostra o seu talento e fica marcado para a história. Outros, em condições de trilhar igual trajetória, se perdem no meio do caminho por desvio de condutas. Doces carreiras que se anunciavam são jogadas no espaço, ao enveredarem para as drogas.

São raros aqueles que paralelamente sustentam a rotina de sucesso ao vício das drogas. Ex-centroavante Casagrande, por exemplo, foi um viciado confesso que conseguiu sobreviver em clubes como Corinthians, São Paulo, Flamengo e futebol italiano. E mesmo com chuteiras penduradas era vencido pela tentação do vício, que se prolongou ao migrar à carreira de comentarista de futebol em televisão.

Injetou cocaína e experimentou heroína até o desafio de internação para desintoxicação às vésperas da Copa do Mundo da Rússia em 2018, quando pôde dar testemunho da bênção divina recebida de se livrar da encrenca, diferentemente de incontáveis atletas que se penam pela dependência do vício, e colocam carreiras supostamente primorosas no buraco.

Insere-se neste contexto o quarto-zagueiro Alceu, revelado nas categorias de base do Guarani, com projeção de promissora carreira pelo estilo técnico, tanto que ganhou realce na seleção brasileira juvenil no final dos anos 70. Aí, quis o destino que o espaço dele fosse encurtado no clube, devido à despropósita concorrência com os gabaritados zagueiros Júlio César e Ricardo Rocha. Logo, restou-lhe prosseguimento de carreira no Athletico Paranaense, já nos anos 80, sem imaginar que aquele horizonte que se abria para consagração em grandes clubes brasileiros se desmancharia por culpa exclusiva dele, que cedeu à tentação das drogas, inclusive a tenebrosa cocaína, vício que se arrastou por 11 anos.

Apesar daquele registro conturbado, Alceu Pereira Júnior ainda sobreviveu no futebol em clubes como a Inter de Limeira, Taquaritinga - ambos de São Paulo - Grêmio de Maringá (PR), Avaí (SC) e Uberlândia (MG). E por jamais ter se desligado de amigos da base bugrina, como o ex-meia Neto, foi ajudado para internação em clínica de recuperação de dependentes químicos no litoral de Santa Catarina, quando jurou ter saído de lá liberto da dependência, e diz ministrar curso para dependentes químicos. Assim, fixou residência em Florianópolis, embora seja natural de Lajes (SC).

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Rincón: talento, prisão, polêmica e o adeus

Acidente automobilístico com traumatismo craniano, que provocou a morte do meio-campista colombiano Freddy Eusebio Rincón Valencia neste 14 de abril, ganhou repercussão mundial, assim como em 2013 já havia sofrido fraturas múltiplas no corpo em consequência da caminhonete que dirigia, em alta velocidade, ter capotado em estrada da Colômbia.

Por sinal, notícias de impacto sobre ele eram recorrentes, algumas em páginas policiais. Ao ser acusado de lavagem de dinheiro e associação ao narcotraficante Pablo Rayo Montaño, em 2007, foi executado pela Justiça do Panamá e ficou preso na capital paulista por quatro meses. Em 2015, o nome dele constou na lista de procurados pela Interpol, porém um ano depois acabou absolvido das acusações.

A chegada ao Palmeiras deu-se em 1993, procedente do futebol da Colômbia, como meia de fácil chegada à meta adversária. Logo, despertou interesse do Nápoli (ITA), onde disputou 28 partidas e sete sete gols na temporada 1994/95, mas a experiência a seguir no Real Madrid (ESP) foi curta e desanimadora, ao denunciar racismo.

Foi quando o Palmeiras o repatriou, e de lá seguiu para o Corinthians, quando o tema racismo voltou às manchetes, ao alegar ter sido atingido pelo então palmeirense Paulo Nunes, ocasião em que a desforra foi cuspir no rosto do desafeto, assim como se insurgiu contra companheiros de clube, no Timão, ao sair no braço com o atacante Mirandinha, e encrenca feia com o então meia Marcelinho Carioca, período em que já havia sido remanejado à função de volante, pois além da técnica para valorizar a saída de bola era guerreiro na marcação.

Ainda no Corinthians, participou do primeiro título do Mundial de Clubes em 2000, para na sequência atuar em Santos, Cruzeiro e novamente Corinthians em 2004, aos 37 anos de idade, em passagem que nada fez lembrar o atleta de três Copas do Mundo pela seleção colombiana, a começar em 1990, na Itália, quando marcou o gol do empate por 1 a 1 com a Alemanha Ocidental. Depois, a marcante atuação na surpreendente goleada sobre a Argentina por 5 a 0, em Buenos Aires, pelas Eliminatórias ao Mundial de 1994. E também a Copa da França, em 1998.

Rincón ainda tentou engatar carreira de treinador, porém sem sucesso nas passagens por Iraty (PR), São Bento, São José (SP), Corinthians sub-20 e Flamengo (SP).

domingo, 10 de abril de 2022

Volta por cima da Portuguesa

De certo a composição 'Volta por Cima', de Paulo Vanzolini, e interpretada com singularidade pelo saudoso 'Noite Ilustrada', serviu de inspiração para que dirigentes da Portuguesa tirassem o futebol do clube do atoleiro. Após sete anos por trilhas tortuosas, a colônia lusitana comemora a volta ao Paulistão de 2023, mas ainda sem calendário relevante nesta temporada, visto que sequer na Série D do Brasileiro tem vaga.

Conforme letra da música de Vanzolini, a Lusa reconheceu a queda e não desanimou. Levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por cima, mostrando aos incrédulos que não há caminho sem volta. Provavelmente jamais será aquela Portuguesa de outrora, considerada a quinta força do futebol paulista, quando foi vice-campeã do Brasileirão de 1996, campeã da Série B em 2011 e divisão do título paulista com o Santos em 1973.

Na ocasião, na definição através de cobranças de pênaltis, o saudoso árbitro Armando Marques se equivocou na contagem de gols, deu o título ao Santos quando a Lusa ainda tinha chances matemáticas de reverter o marcador, atletas santistas se recolheram ao vestiário para comemoração, e assim coube à Federação Paulista de Futebol decidir pelo compartilhamento do título.

A queda brusca da Portuguesa no cenário nacional começou em 2013, quando escalou irregularmente o meia Héverton contra o Grêmio, resultando em perda de quatro pontos e rebaixamento à Série B. Depois, quedas sucessivas às Séries C e D, até ficar sem divisão nacional entre 2017 e 2020.

A Portuguesa contou com o saudoso e polêmico presidente Oswaldo Teixeira Duarte, que ao 'peitar' os principais jornais de São Paulo, com alegação que desdenhavam o seu clube, passou a ser identificado pelas inicias: OTD. Destemido, em 1985 vetou árbitros da velha guarda para jogos de seu time, entre eles Dulcídio Vanderlei Boschilia, José Assis Aragão, Roberto Nunes Morgado e Romualdo Arpi Filho, tanto que na final do Paulistão, contra o São Paulo, o escalado foi o desconhecido José Carlos Nascimento.

Foi quando também 'peitou' a Rede Globo, ao impedir que transmitisse a decisão, quando o seu clube foi vice-campeão. Ficou revoltado com oferta de valor consideravelmente inferior a Santos, Corinthians, São Paulo e Palmeiras, em época que clubes ainda não outorgavam às federações, CBF e Clube dos 13 o direito de negociações com as emissoras.

domingo, 3 de abril de 2022

Futebol raçudo de Terto se encaixou no São Paulo

Viagem ao passado, para contar histórias de ídolos da época, implicam em reviver o cenário televisivo do futebol. Se até meados dos anos 60 a TV Record tinha os direitos de transmissão de jogos ao vivo do Paulistão, depois ocorreu um hiato sem imagens, prolongado até final dos anos 80, período em que os torcedores sem acesso aos estádios se contentavam em assistir videoteipe.

Naquele quesito a TV Bandeirantes era especialista, ao mostrar reprises de jogos já na calada da noite, na voz inconfundível do locutor Fernando Solera, que trocava o grito de gol pelo bordão 'o melhor futebol do mundo é no 13', para sublinhar o número de sintonia do canal. Logo, foi copiado pelo igualmente narrador Alexandre Santos, também na Bandeirantes, cuja entonação era 'guardooooooou', ao designar o atleta que havia marcado gol.

Ao incorporar a tese que imagens valem mais de que mil palavras, Solera simplificava a transmissão basicamente citando o nome do atleta de posse de bola. Em jogos do São Paulo campeão paulista de 1970, por exemplo, apenas descrevia 'bola com Gerson, Toninho Guerreiro, Terto, em contraste com o estardalhaço feito pela geração que o sucedeu.

Antes de montagens de equipes vitoriosas na década de 70, o São Paulo penou com jejum de 13 anos sem títulos. E Terto, registrado em 1946 como Tertuliano Severiano dos Santos, em Recife, chegou ao tricolor paulista precedido do Santa Cruz (PE) em 1968, caracterizado como jogador de pouca habilidade, mas raçudo nas disputas das jogadas. E quando perdia a bola, corria bastante na tentativa de recuperá-la, como fazem hoje atacantes de beirada nas recomposições, com diferencial de que naquela época atacante raramente recuava.

De veloz ponteiro-direito ele também tinha facilidade para se adaptar à antiga função do meia-direita, quando Paulo Nani era escalado na ponta. E atuando mais centralizado foi mais participativo nas 243 vitórias da equipe, quando totalizou 500 jogos e 84 gols, em passagem marcada por três títulos paulistas e da Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo de 1975. Assim, o vínculo com o clube se estendeu durante dez anos. Depois passou por Botafogo de Ribeirão Preto (SP), Ferroviário e Fortaleza - ambos do Ceará -, com o encerramento de carreira na Catanduvense, em 1982. Ele ainda trabalhou nas categorias de base do Tricolor.