segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Dois Tatos brilharam no futebol


 O substantivo masculino tato deveria ser apenas um dos cinco sentidos, mas os humanos trataram de adaptá-lo como apelido, aparentemente sem critério lógico. No Paraná, por exemplo, tato é identificado como irmão mais velho. Seja como for, dois ‘Tatos’ brilharam por relativo período no futebol, e na esteira do sucesso fizeram consideráveis contratos, sem que correspondessem plenamente.

 O Tato de maior evidência foi o curitibano Carlos Alberto Araújo Prestes, tricampeão pelo Fluminense no triênio de 1983 a 85. Construtor de jogadas, foi o típico garçom de centroavantes. Faltou-lhe ambição para completá-las, tanto que o seu histórico de 242 partidas pelo Fluminense é de apenas 18 gols.

 Atacantes como os saudosos Assis e Washington usufruíram dos cruzamentos dele para marcarem gols. Ainda consta no currículo de Tato o título do Campeonato Brasileiro de 1984, ano que começou a ser chamado para integrar a Seleção Brasileira, com histórico de três jogos.

 Após seis anos de clube, transferiu-se ao Vasco e iniciou trajetória descendente nas passagens por Sport, Santos, Coritiba e Grêmio. E quando do encerramento da carreira de atleta, ingressou na função de auxiliar técnico do comandante Gílson Kleina, no Ipatinga (MG), porém a sequência o conduziu a uma espécie de faz de tudo em sua escolinha de futebol para garotos.

 No mesmo período em que Tato brilhava no Fluminense, um xará se destacava na Inter de Limeira, e basicamente com as mesmas características de auxiliar de artilheiros. Esse Ederval Luís Lourenço da Conceição foi atacante de beirada pelo lado direito, com atuações deslumbrantes por ocasião do título paulista inédito da Inter em 1986, com direito ao segundo gol de sua equipe na vitória sobre o Palmeiras por 2 a 1.

 Reflexo da performance foi transferência ao Palmeiras na temporada seguinte, porém sem a mesma regularidade. Apesar disso prosseguiu com contratos em Atlético Mineiro, Guarani, Osasuna (ESP), Udinese e Juventus (ITA), São Paulo e passagem pelos Estados Unidos. O encerramento ocorreu no Itumbiara (MG).

 Embora natural de São Bárbara d’Oeste - interior paulista -, a identificação com a cidade de Limeira pesou para que lá se radicasse e entrasse no ramo empresarial de fabricação de material esportivo. 

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

No Inter, outro Olavo conhecido como Vacaria


 Há prenomes de pessoas que caíram em desuso, e um deles é Olavo. São raros os cartórios de registros de nascimento que certificam pais com essa opção, contrastando com outras épocas. No século XIX, por exemplo, nasceu no Rio de Janeiro o renomado jornalista e poeta Olavo Bilac. Portuguesa Santista, Corinthians e Santos desfrutaram do futebol do raçudo zagueiro Olavo Martins de Oliveira, já falecido, que no título mundial do time santista de 1962 atuou como lateral-direito. O outro Olavo famoso no futebol ficou conhecido apenas pelo apelido: Vacaria, lateral-esquerdo do Inter (RS) na década de 70.

 Natural de Urussanga, interior catarinense, Olavo Dorico Vieira já mostrava na adolescência inclinação à carreira de jogador de futebol, e por isso foi levado ao juvenil do Glória de Vacaria (RS) aos 16 anos de idade. Como dois anos depois foi profissionalizado no 14 de Julho de Passo Fundo (RS), companheiros de clube preferiram chamá-lo de Vacaria, em alusão à cidade de passagem anterior. E assim foi identificado até a morte no dia 30 de julho de 2016, três anos após ter sido vitimado por um avc (acidente vascular cerebral), com agravamento de hepatite.

 Por ter se notabilizado como lateral-esquerdo marcador, do tipo carrapato, Vacaria foi contrato pelo Inter em 1970, aos 21 anos de idade. Em decorrência da inicial dificuldade de adaptação, acabou emprestado ao Figueirense de Santa Catarina, quando ratificou aptidão de lateral-esquerdo com capacidade para anular hábeis ponteiros-direitos.

 Vacaria não era driblado com facilidade. Também tinha velocidade para acompanhar arrancadas de adversários e persegui-los para que evitassem cruzamentos de fundo de campo, que visavam projeções de centroavantes e meias que acompanhavam a jogada para o cabeceio.

 Assim, no retorno ao Inter em 1973, foi titular absoluto durante quatro anos com os treinadores Dino Sani e Rubens Minelli, e participou do bicampeonato brasileiro no biênio 1975-76. Embora sempre sondado por clubes do eixo Rio-São Paulo, transferiu-se ao Palmeiras apenas em 1977, e integrou o elenco vice-campeão brasileiro de 1978. Aí, um ano depois decidiu abandonar a carreira de atleta, já mirando na função de treinador em clubes do Sul do país.

Lauro, história marcada por dois gols de cabeça

 Rogério Ceni, ex-goleiro recordista em marcação de gols com 137, pelo São Paulo, se inspirou no colombiano René Higuita e paraguaio Jose Luiz Chivalert para arriscar cobranças de faltas e pênaltis.

 Nos anos 70, ajudado pelo vento, o goleiro Ubirajara Alcântara, do Flamengo, marcou gol em cobrança de tiro de meta na vitória por 2 a 0 sobre o Madureira, enquanto pelo Campeonato Sul-Africano, ano passado, o goleiro Oscarine Masuluke marcou gol de bicicleta aos 50 minutos do segundo tempo, na vitória do Orlando Pirate sobre o Baroko.

 É praxe goleiros se aventurarem na área adversária em tentativa de cabeceio, nos minutos derradeiros de uma partida. Nesse expediente os ex-goleiros Hiran e Lauro marcaram dois gols de cabeça, cada um.

 Hiran no empate por 3 a 3 do Guarani diante do Palmeiras em 1997, pelo Campeonato Paulista; e posteriormente quando defendia o São Caetano, em jogo contra o Juventus.

 Coincidentemente, Lauro marcou duas vezes contra o Flamengo: no empate por 1 a 1 da Ponte Preta em 2003, aos 52 minutos do segundo tempo; e mesmo placar pela Portuguesa, dez anos depois, aos 47 minutos do segundo tempo.

 Revelado pelo Radium de Mococa em 1999, dois anos depois Lauro Júnior Batista da Cruz, 1,93m de altura, chegou à Ponte Preta inicialmente como reserva de Alexandre Negri.

Coincidência ou não, após duas derrotas consecutivas da Ponte em dérbis campineiros, na temporada de 2003, Lauro foi titular no terceiro confronto, historicamente marcado pelos três gols do argentino Gigena, que deram vitória ao seu time sobre o Guarani por 3 a 1, quando o treinador era Abel Braga.

 Lauro foi goleiro de regularidade na passagem pela Ponte Preta até 2005. Todavia, após andança em grandes clubes, retornou emprestado a Campinas em 2012, vinculado à época ao Inter (RS). Aí, devido às atuações irregulares, caiu em descrédito com a torcida e foi dispensado.

 Na condição de quarto goleiro do Inter, foi repassado à Portuguesa. E a carreira se alongou até 2016 no Atlético Mineiro, dez anos depois da passagem pelo Cruzeiro. Ele atuou ainda no Joinville, Chapecoense, Ceará, Bragantino, Lajead

Rosemiro, lateral que abusava no apoio ao ataque


 Nos tempos de campinhos de terra batida espalhados pelo país, olheiros descobriam jogadores sem interferência dos tais empresários de futebol, e os encaminhavam aos clubes para que se submetessem em chamados testes peneiras.

 Foi assim que o olheiro Vavá ganhou um cachezinho na indicação do lateral-direito Rosemiro Correia de Souza, paraense de Belém, ao Clube do Remo. Além do fôlego de sete gatos para fazer vaivém defesa ao ataque, o atleta driblava em progressão. Assim, ganhou notoriedade, vaga no selecionado dos jogos Pan-Americanos da cidade do México em 1975 - atuando como ponteiro-direito - e Olimpíada de Montreal (CAN) em 1976.

 Contratado pelo Palmeiras para substituir Eurico, Rosemiro se encaixou na filosofia do então treinador Dino Sani, que armava equipes para atacar. Assim, sem liberdade tolhida para avanços, se destacou, diferentemente do sucessor Olegário Tolói de Oliveira, o então volante Dudu, que o obrigou a jogar ‘plantado’.

 Foi quando o desobediente Rosemiro perdeu posição para Valdir, só recuperando-a com a chegada do saudoso treinador Jorge Vieira. E isso se prolongou quando o saudoso Telê Santana foi contratado em 1979, num time formado por Gilmar; Rosemiro, Beto Fuscão, Polosi e Pedrinho; Pires, Mococa e Jorge Mendonça; Jorginho, César e Baroninho.

 Todavia, a ida do comandante à Seleção Brasileira, ano seguinte, provocou-lhe tormentos de outrora, na ocasião com o treinador Diede Lameiro. O epílogo foi numa partida diante do São Paulo, quando extravasou após ter sido substituído: “Com o Diede não jogo mais”, desafiou.

 E terminava ali o ciclo de 301 jogos pelo Palmeiras, que rendeu-lhe a 32ª colocação de jogador com mais atuações pelo clube em toda a história. A próxima parada foi Vasco da Gama até 1982, ano que comemorou título estadual ao lado do lateral-esquerdo Pedrinho, também parceiro antes da transferência.

 O complemento da carreira foi em clubes médios e pequenos como Bangu, Colorado, Noroeste, Chapecoense e Marcílio Dias. Depois montou escolinha de futebol na capital paulista. E de certo brinca com alunos que foi vencedor da pesquisa ‘jogador brasileiro mais feio’ feita pelo jornalista Marcelo Duarte da Rádio Bandeirantes de São Paulo, em seu programa matutino de sábado Você é Curioso.

Osmar Guarnelli chegou à Seleção aos 20 anos


 A história do futebol mostra que jogadores com carreira vitoriosa, facilidade de comunicação e liderança de grupo não são necessariamente transportadas quando migram à função de treinador, e exemplo típico é Jorge Osmar Guarnelli, que reunia o conjunto de valores citados enquanto atleta, mas não prosperou como treinador.

 Ele passou por pequenos clubes do Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Al Jabalain da Arábia Saudita. Na Ponte Preta teve quatro passagens, três delas entre profissionais e a última nos juniores durante o triênio 2003 e 2005, quando ficou internado em coma induzido no Hospital Municipal Mário Gatti, em Campinas. Durante festa realizada na sede social do clube, ele sofreu uma queda, desmaiou e houve registro de traumatismo craniano.

 A trajetória do carioca Guarnelli enquanto atleta começou no Botafogo (RJ), quando no primeiro ano de profissionalismo formou dupla de zaga ora com Brito, ora com Leônidas. Na ocasião, chegou à Seleção Brasileira principal como reserva à Taça da Independência, e titular absoluto nos Jogos Olímpicos de Munique (ALE), aos 20 anos de idade.

 Ao deixar o Botafogo em 1979, teve trajetória vitoriosa no Atlético Mineiro, quando foi companheiro de Luizinho no miolo de zaga. Aí, em 1983, trocou a capital mineira pela Ponte Preta, com a responsabilidade de substituir o zagueiro central Juninho Fonseca, que havia se transferido ao Corinthians.

 E Guarnelli caiu de vez no gosto do torcedor pontepretano após atuação impecável em dérbi campineiro realizado no primeiro ano de clube, quando marcou o gol da vitória sobre o rival Guarani, com a singularidade de o jogo ter sido realizado no campo do adversário e a Ponte ficado com dez jogadores a partir dos 30 segundos de bola rolando. É que o lateral-direito Edson Abobrão foi expulso pelo árbitro Almir Ricci Peixoto Laguna por jogo violento sobre o meia Neto.

 Guarnelli alongou a carreira de atleta na Ponte Preta até 1986, quando decidiu migrar à função de treinador, inicialmente no Uberlândia, mas nada que lembrasse seguidos elogios dos tempos de atletas, quando era soberano no jogo aéreo e senso perfeito de cobertura.