domingo, 22 de fevereiro de 2015

Gildo, gol aos oito segundos no Maracanã

 Em 2003, quando era atleta da categoria juniores do América Mineiro, o atacante Fred – ora vinculado ao Fluminense - quebrou o recorde brasileiro de gol relâmpago ao cravar exatos três segundos num jogo contra o Vila Nova (GO), com goleada dos goianos por 5 a 1 pela Copa São Paulo.
 Até então o gol mais rápido no futebol brasileiro era do ponteiro-direito Gildo, do Palmeiras, em março de 1965, na vitória sobre o Vasco por 2 a 0 no Estádio do Maracanã, quando o ex-palmeirense marcou aos oito segundos.
 Fred e Gildo foram superados em sete de novembro de 2009 pelo árabe Nawaf a Abel, do Al-Hilal, que precisou de apenas dois segundos para estufar as redes do Al-Shoalah, com chute do meio do campo após o primeiro toque, em partida pela Copa Príncipe Faisal Bin Fahad sub23.
 O Gildo em questão foi um ponteiro-direito que retornou ao Estado de Pernambuco em 2012, após ter se radicado em São Paulo quando parou de jogar em 1970 no Atlético Paranaense, onde ficou nos dois últimos anos de carreira.
 Nascido em 1939 em Ribeirão (PE), Gildo Cunha do Nascimento chegou ao Santa Cruz aos 17 anos de idade e aos 20 já conquistou o título estadual pelo time pernambucano. Por isso despertou interesse do Palmeiras que o trouxe em 1961, convicto que ele repetiria o arranque que lhe rendeu o apelido de Gildo Bala e a facilidade para chegar ao fundo do campo para cruzamentos.
 Com Julinho Botelho titular da ponta-direita, Gildo foi remanejado para o lado esquerdo de um ataque completado com Servilío e Vavá, respectivamente ponta-de-lança e centroavante, na equipe campeã paulista 1963 após goleada por 3 a 0 sobre o Noroeste no Estádio do Pacaembu, com 37.028 pagantes. Eis o Verdão da época, comandado pelo treinador Sílvio Pirilo: Picasso; Djalma Santos, Djalma Dias, Waldemar Carabina e Vicente; Zequinha e Ademir da Guia; Julinho, Servílio, Vavá e Gildo.
 No ano seguinte, com Julinho em final de carreira, Gildo ocupou a ponta-direita e o Palmeiras trouxe o pernambucano Rinaldo à ponta-esquerda, com revezamento também entre atacantes, visto que Ademar Pantera e Tupãzinho integraram o elenco.

 Como o Palmeiras trouxe ainda o ponteiro-direito peruano Galhardo, Gildo perdeu espaço na equipe e foi emprestado ao Flamengo. A estréia foi contra o Botafogo e o Mengão atuou com Franz; Murilo, Ditão, Jaime e Paulo Henrique; Carlinho e Nelsinho; Gildo, Silva, César Lemos e Dirceu. Os atacantes Carlos Alberto, Almir Pernambuquinho e Osvaldo II haviam desfalcado o time. Logo, Gildo não atuou na decisão do estadual de 1966 contra o Bangu, quando o Mengão perdeu a partida por 3 a 0 e a cabeça, resultando em pancadaria provocada por Almir Pernambuquinho. Aquela decisão de 12 de dezembro de 1966 foi vista por 143.978 torcedores no Estádio do Maracanã. Depois Gildo voltou ao Palmeiras e foi repassado ao Santos.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Alzheimer castigou Gilberto Tim até a morte

 O Mal de Alzheimer aplicou dribles desconcertantes em gente importante do futebol. No dia 13 de junho de 1999 morreu em Porto Alegre, capital gaúcha, o polêmico preparador físico Gilberto Tim, aos 57 anos de idade. Nos últimos três anos de vida ele foi castigado por esta doença degenerativa em que o paciente perde a memória.
 Na adolescência, Tim foi um lateral-esquerdo vigoroso. Abusava dos carrinhos e jogadas divididas com as camisas de São José e Rener, equipes do interior do Rio Grande do Sul. Ao perceber que não prosperaria na carreira, optou pelo comando de preparação física. E trocou de atividade convicto que não seria apenas mais um profissional do meio. Implantou metodologia de força e começou a formar, no Sul do país, os chamados ‘brucutus’.
 Aquela filosofia lhe rendeu sucesso. Além de exercícios para condicionar atletas à velocidade e agilidade, usava aparelhos para fortalecimento muscular. Quando os levava ao gramado gostava de repetir piques de 200m e 400m. Assim, projetava um grupo com boa resistência orgânica para fazer o vaivém tão cobrado pelos treinadores.
 Tim era estudioso e se esmerava na filosofia de resistência muscular, metodologia que não era de agrado geral dos atletas. Aqueles avessos ao trabalho duro sempre reclamavam, mas Tim - comandante autoritário -, não tolerava ‘vagabundagem’. Cutucava os preguiçosos.
 O trabalho de preparação física refletia diretamente durante os jogos. Rubens Minelli, treinador do Inter (RS) na década de 70, usufruiu do bom condicionamento atlético dos jogadores. E aquele modelo de Tim foi copiado por discípulos e levado em 1982 à Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo da Espanha, quando fez dobradinha com o saudoso treinador Telê Santana. Na ocasião, ambos comandaram um dos melhores elencos do selecionado brasileiro que, por capricho do futebol, acabou eliminado daquela competição na fatídica partida contra a Itália, em tarde do endiabrado atacante Paolo Rossi.
 Mauro, ex-ponteiro-esquerdo de Palmeiras e Corinthians, aprendeu a admirar a sinceridade de Tim. “Ele sabia se impor. Claro que nem todos aceitavam os seus métodos. O volante Lino, que tinha problemas no joelho, atritava com ele por sentir a carga de trabalho”, recordou o ex-jogador, hoje olheiro do Corinthians.
 Outras correntes da preparação física também divergiram da metodologia de Tim, mas é inegável que ele observava critérios essencialmente científicos. O atleta se submetia a testes fisiológicos e em esteiras para se apurar biotipo, carências e virtudes. A partir do diagnóstico, elaborava-se preparação adequada para cada um.
 Ambicioso, Tim sonhava se transformar em treinador de futebol. A chance surgiu em 1988 no Coritiba, mas fracassou. Aí voltou à sua praia, a preparação física.


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Baroninho chutava forte e de qualquer distância

 Quando citam que o futebol mudou muito, considere que o tipo de bola usada atualmente é um incentivo para que seja alçada à área adversária, principalmente em cobranças de faltas de média e longa distância. Ela é mais rápida e ganha efeito dificultando defensores.
 Isso contrasta com décadas passadas quando as cobranças eram feitas diretamente ao gol adversário, independente da distância. Jogadores de chutes fortes se habilitavam, e igualmente traziam preocupações.
 Exemplo típico de jogador de chute potente foi o ponteiro-esquerdo Edilson Guimarães Baroni, o Baroninho, que no último 18 de janeiro completou 57 anos de idade e aparece em fotos com vários quilinhos a mais comparativamente aos tempos de boleiro.
 Exagera quem cita Baroninho como craque, mas acerta na afirmação de que ele sabia fazer do limão uma boa limonada. Com dribles convencionais e alongando a bola, se desvencilhava do lateral adversário e incontinenti preparava a ‘bomba’ do meio da rua.
 Claro que nas equipes que passou foi cobrador oficial de faltas, e quem ficava na barreira borrava de medo da ‘pancada’. Aqueles petardos lhe garantiram bons contratos no Palmeiras e Flamengo principalmente, após ter sido revelado pelo Noroeste de Bauru (SP) em 1978, quando atuou ao lado de Jairzinho, o furacão da Copa de 70, cabelo black power, já em final de carreira, e atuando no meio de campo como organizador de jogadas. Naquela época o time noroestino era formado por João Marcos; Mauricinho, Beto, Jorge Fernandes e Marco Antonio Machado; Ednaldo, Amadeu e Jairzinho; Jorge Maravilha, João Carlos Facioli e Baroninho.
 No mesmo ano o Palmeiras buscou Baroninho e a partida memorável dele no Verdão foi a surpreendente goleada por 4 a 1 sobre o Flamengo, no Estádio do Maracanã, dia nove de dezembro de 1979. Jorge Mendonça, Carlos Alberto Seixas, Pedrinho e Zé Mário de cabeça marcaram para o Verdão, enquanto Zico descontou para o Flamengo, em partida presenciada por 112.045 torcedores.
 Naquele jogo Baroninho foi vítima de cotovelada desferida pelo destemperado Beijoca, que acabou expulso de campo. E o time do Palmeiras, comandado tecnicamente pelo saudoso Telê Santana, era este: Gilmar; Rosemiro, Beto Fuscão, Polozzi e Pedrinho; Pires, Mococa e Jorge Mendonça; Jorginho (Carlos Alberto Seixas), César (Zé Mário) e Baroninho.
 No Flamengo, Baroninho foi reserva daquele esquadrão que conquistou os títulos da Libertadores e Mundial Interclubes de 1981. Depois disso ele trilhou a imperdoável estrada da volta do futebol, culminando com o encerramento de carreira no Noroeste em 1988.
 Desta forma, restaram-lhe recordações de viagens para 50 países e concretizado o sonho de ter sido jogador de futebol, apesar de aos 10 anos de idade ter enfrentado o falecimento do pai.



segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Adeus a Dalmo, inventor da paradinha

 Com a morte do lateral-esquerdo Dalmo Gaspar neste dia dois de fevereiro, aos 82 anos de idade, cabe a recapitulação da coluna publicada em outubro de 2013.
 O ponteiro-esquerdo Pepe, companheiro de Santos do lateral, disse que ele foi o inventor da paradinha nas cobranças de pênaltis no futebol, gesto atribuído erroneamente a Pelé, que apenas o copiou.
 Dalmo entrou para a história do alvinegro praiano como autor do gol de pênalti que deu vitória à sua equipe por 1 a 0 sobre o Milan da Itália, no dia 16 de novembro de 1963, na terceira e decisiva partida do Mundial Interclubes, no Estádio do Maracanã. Nos dois confrontos anteriores, o clube italiano venceu em casa por 4 a 2 e perdeu pelo mesmo placar quando veio jogar no Rio de Janeiro, ocasião em que o Santos contava com estes titulares: Gilmar, Lima, Mauro e Dalmo; Zito e Calvet: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.
 Como Pelé desfalcou a sua equipe na terceira partida, em decorrência de contusão, o treinador Lula (já falecido) deixou a incumbência de cobrança de pênalti para Dalmo e Pepe. “Quando teve o lance, fomos até a bola e senti firmeza muito grande nele”, revelou Pepe sobre o companheiro. “Um jogador aplicado como o Dalmo merece estar na história”, acrescentou o ponteiro-esquerdo, que diferentemente do lateral pegava forte na bola também em cobranças de pênaltis, com histórico de ter furado redes adversárias.
 Dalmo começou a carreira no Guarani e se transferiu ao Santos em 1957, com estréia no dia 26 de outubro, na vitória sobre o Palmeiras por 4 a 3, no Estádio do Pacaembu. Ele participou de 369 partidas pelo clube e marcou quatro gols.
 Pepe contou que Dalmo sempre foi titular, quer como lateral-direito, quer como volante e ora retornando ao miolo de área, posição de origem. Posteriormente foi adaptado à lateral-esquerda.
 A despedida dele do Santos ocorreu em agosto de 1964, na vitória sobre o Juventus por 2 a 1, no Estádio da Rua Javari. Incontinenti, ele voltou ao Bugre com o currículo recheado de títulos e histórias contadas por desportistas nas rodas da cidade de Jundiaí, interior de São Paulo, onde o ex-jogador nasceu e morreu.
 O próprio Dalmo informou ter sido o primeiro jogador brasileiro a utilizar chuteira de borracha no país. O presente foi dado por Pelé em uma das excursões do Santos ao exterior.
 O final da carreira de atleta ocorreu como zagueiro central do Paulista de Jundiaí. Ainda naquela cidade ele se aposentou como funcionário público e chegou a integrar a equipe de esportes da Rádio Cidade Jundiaí - AM 730, como comentarista.
 Dalmo só se distanciou da terrinha quando projetou que pudesse seguir a carreira de treinador, e um dos clubes que dirigiu foi o Catanduvense. Ao perceber que não prosperaria na função, se fixou definitivamente em Jundiaí.