domingo, 16 de fevereiro de 2020

Washington, comparação equivocada com Pelé


O 15 de fevereiro passado marcou o décimo ano da morte do ponta-de-lança Washington Luiz de Paula, em decorrência de complicação renal, aos 57 anos de idade. Revelado pelo Guarani nos anos 70, no ápice da carreira ele integrou a seleção brasileira juvenil no Torneio de Cannes, na França, e disputou a Olimpíada de Munique em 1972.

No mesmo ano o então treinador Zagallo o convocou à Seleção Brasileira principal à Copa da Independência disputada no país, ocasião em que se quebrou uma escrita: pela primeira vez um jogador do interior do Brasil foi chamado para o selecionado, sem que o Guarani reajustasse o salário dele, que continuou nos padrões do clube.

À época, tímido, apenas sorria quando a mídia o projetava como sucessor de Pelé, fascinada pela gingada fantástica e por balançar o tronco magrelo de um lado e sair com a bola no sentido oposto. A matada no peito era elegante e objetiva, para sequência da jogada. Embora pegasse bem na bola, privilegiava arremates em distância quase nunca superior ao limite da grande área adversária.

Ele preferia assistências ao companheiro de ataque a finalizações, ignorando a importância de se pontuar entre os artilheiros. Claro que tinha deficiências, uma delas o mísero aproveitamento no cabeceio. Também não se habilitava às cobranças de faltas e pênaltis.

Em 1974 o Corinthians o contratou por empréstimo. Na discussão de contrato, o saudoso presidente Vicente Matheus o recebeu em sua casa, mas aplicou-lhe 'chá de banco'. Washington teve de esperá-lo após sessões de sauna e massagem para recepcioná-lo, e, orientado pelo supervisor do Guarani Dorival Geraldo dos Santos, até que assinou contrato razoável. Já em campo, com a camisa do Timão, jamais justificou o investimento e foi devolvido.

Quando da transferência, passou procuração a uma imobiliária de Campinas para que administrasse o seu apartamento em um conjunto habitacional na periferia, e acabou ludibriado. Ao voltar à cidade, anos depois, em busca dos valores dos aluguéis acumulado durante o período, constatou que nada havia sido repassado, e nem por isso denunciou os culpados à polícia.
Ele ainda jogou no Vitória (BA), Goiás, Inter (RS), Ferroviária (SP), Noroeste, Rio Branco (MG) e Marcílio Dias (SC). Já no ostracismo, foi coordenador de futebol da Associação Luso-Brasileira de Bauru.

Tuta, um ponteiro que duelou com o irmão Zé Maria

No passado, eram comuns histórias de sucesso de irmãos no futebol, quer atuando na mesma equipe, quer como adversários. Incomum foi um ponteiro-esquerdo tendo que enfrentar um irmão lateral-direito, como seu marcador. Essa história dos Rodrigues é contada por quem viu em campo o duelo de João Margarido, o Tuta, atacante nos tempos de Ponte Preta na década de 70, contra Zé Maria, lateral do Corinthians.

E o 'super Zé' não amaciava pra evitar lesão do irmão. A marcação em nada diferenciava daquelas postas em prática contra outros ponteiros. Por isso, no encontro do churrasco noturno de confraternização pós duelo, Tuta, tornozelos inchados, mostrava as marcas de botinadas.

A rigor, quem direcionou inicialmente a carreira de Tuta foi Zé Maria, que em 1967, vinculado à Portuguesa, o levou ao juvenil do clube, e igualmente o transportou ao Corinthians quando pra lá se mudou dois anos depois. Ambos se separaram quando Tuta chegou à Ponte Preta no final de 1970, caracterizado como ponta-de-lança que atuava pela meia esquerda.

Foi quando o saudoso treinador Cilinho dimensionou que a velocidade de Tuta poderia ser mais bem aproveitada como ponteiro-esquerdo, com projeção de chegar ao fundo de campo para cruzamentos. Logo, foi preparado como substituto de Adílson Preguinho, transferido ao Fluminense.

A princípio o veloz Tuta se embaraçava nos cruzamentos e a torcida se irritava. Aí o paciencioso Cilinho ensinou-lhe a inclinação adequada de corpo para bater na bola e a curva para alcançar o centroavante de frente, visando o cabeceio. Assim Tuta brilhou como assessor de goleadores, e não convertendo gols. Isso seguiu até 1979 quando lesões no joelho, com cirurgias de meniscos e ligamentos, tiraram-lhe a mobilidade. 

Houve insistência de prosseguimento na carreira, terminada dois anos depois no Independente de Limeira e Anapolina (GO).
No final de 1982 o desafio de Tuta foi comandar o time de juniores da Ponte, marcado já na temporada seguinte pela conquista do título estadual e revelação de jogadores, entre eles o goleiro Sérgio Guedes, hoje treinador.

Ainda na Ponte, Tuta foi auxiliar do ex-treinador Carbone, e posteriormente supervisor ainda no clube, ambas funções entre os profissionais. O desligamento deu-se em janeiro de 1996. Agora, aos 69 anos de idade, curte aposentadoria.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Fevereiro, mês perigoso para craque de Seleção


 Como a coluna entra no seu vigésimo primeiro ano de forma ininterrupta, a opção da semana foi resgate de publicação feita há dez anos, para mostrar fevereiro como mês perigoso para atletas com passagens pela Seleção Brasileira, um deles o saudoso e eficiente quarto-zagueiro Orlando Peçanha de Carvalho, titular absoluto no título mundial conquistado pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958, na Suécia.

 Num 10 de fevereiro, um ataque cardíaco matou Orlando, aos 74 anos de idade, no Rio de Janeiro, mês em que igualmente morreram o volante José Carlos Bauer e os meias Zizinho e Jorge Pinto Mendonça, respectivamente com 81, 80 e 51 anos de idade.

 Quanto formou dupla de zaga com Belini no Vasco, a partir de 1955, Orlando conquistou títulos, mostrou capacidade de antecipação e força física. Essas virtudes cativaram cartolas do Boca Junior, e assim jogou quatro anos no clube argentino. Por isso ficou fora da Seleção do Mundial de 1962, no Chile.

 Depois, já no Peixe, conquistou títulos, voltou à Seleção, e jogou na terceira partida do Mundial de 1966, na derrota para Portugal por 3 a 1. O encerramento da carreira deu-se no Vasco em 1970, aos 35 anos de idade. Sete anos depois, tentou iniciar a carreira de treinador no CSA de Maceió, e ainda passou pelo Vitória (BA) em 1980, sem que prosperasse na função.

 Bauer, apontado como melhor volante de todos os tempos do São Paulo, foi sepultado em 2007, no dia 4. Zizinho morreu em 2002, numa sexta-feira de Carnaval, dia 8. Conversava com a filha Nádia, de madrugada, quando passou mal e não resistiu. Ele tinha um coração de anjo, mas era esquentado em campo. Aos zagueiros botinudos avisava que se batessem nele teria troco. Vingativo, tanto podia dar resposta em dez minutos, uma semana, ou até um ano.

 Antes do reinado de Pelé, pode-se dizer que Zizinho foi o melhor. Arrancava aplausos pelos dribles curtos, chutes certeiros e passes impecáveis. Foi rotulado de melhor jogador da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950, apesar da derrota por 2 a 1 para os uruguaios, na final, no Maracanã.

 Jorge Mendonça morreu em 2006, no dia 17. Rugas mal explicadas quando trabalhou com o saudoso técnico Telê Santana, no Palmeiras, implicaram em ficar fora na Copa de 1982, quando atravessava a melhor fase da carreira.