sábado, 30 de outubro de 2010

Bebeto, da bola à política

O consagrado Bebeto, tetracampeão mundial da Seleção Brasileira de Futebol em 1994, será identificado como o nobre parlamentar José Roberto Gama de Oliveira a partir de 1º de fevereiro de 2011. Os 28.328 votos recebidos na eleição à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, no último dia 3 de outubro, renderam-lhe o 62º lugar entre os 70 eleitos, na disputa com 1.643 candidatos.
Bebeto receberá tratamento de V. Ex.ª e nobre deputado. Será cortejado pela base aliada para votar projetos enviados pelo Executivo, e de certo a sua assessoria vai implementar propostas como a de resgate de meninos de rua de 6 a 16 anos de idade, como prolongamento do Instituto Bola Para Frente que criou em 2000, em companhia do colega Jorginho, ex-auxiliar técnico de Dunga na Seleção Brasileira.
Baiano de Salvador e filiado ao PDT desde 2009, Bebeto não tinha projeto de ingresso imediato na vida pública. A prioridade era ‘decolar’ na carreira de treinador de futebol, e o primeiro degrau da escala foi no América (RJ), através da oportunidade dada pelo então coordenador técnico Romário. Os resultados de jogos não foram satisfatório, Bebeto acabou demitido, e aí se explica o desafio de disputar eleição legislativa, se bem que já havia aflorado o comportamento político ao acender uma vela para o Flamengo e outra ao Vasco. “A camisa do Flamengo realmente é um manto sagrado”. “Na infância, eu tinha admiração pelo Vasco, um clube espetacular”.
Sua aparição no futebol deu-se no Vitória (BA) em 1983, onde retornou em 1997, patrocinado pelo Banco Excel-Econômico. A transferência ao Flamengo pouco depois da profissionalização deu-lhe visibilidade nacional e os títulos do carioca em 1986 e da Copa União em 1988. Na época já havia se especializado em marcar gols de voleio.
O contrato que assinou com o Vasco em 1989 ainda não foi bem digerido por flamenguistas. Isso foi perceptível na segunda passagem pela Gávea em 1996.
No Vasco ganhou o Brasileirão em 1989 e o Campeonato Carioca em 1992, ano em que se transferiu ao La Coruña. Ele ficou na Espanha durante três temporadas, e ainda no exterior jogou no Sevilla da Espanha, Toros Neza do México, Kashima Antlers do Japão e Al-Ittihad da Arábia Saudita em 2002, quando encerrou a carreira aos 38 anos de idade.
Como atacante hábil e oportunista teria lugar certo na Seleção Brasileira. Isso aconteceu de 1986 até 1998 na Copa do Mundo da França, ano em que também defendeu o Botafogo (RJ) e faturou o título do Torneio Rio-São Paulo. Antes disso passou pelo Cruzeiro e depois foi registrada a segunda passagem pelo Vasco.
Agora Bebeto torce pelo filho Matheus, ídolo do juvenil do Flamengo, homenageado quando nasceu em 1994. No gol marcado contra a Holanda, na Copa dos EUA, ele lançou a coreografia embala-neném.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

50 anos de Diego Maradona

Uma verdade que o brasileiro tem que reconhecer: Diego Armando Maradona foi o segundo melhor jogador de futebol do mundo de todos os tempos. E ao completar 50 anos de idade neste 30 de outubro, o argentino deveria refletir que poderia ter evitado muitas polêmicas, que empanaram um pouco o brilho de sua carreira de 692 jogos oficiais e 353 gols.
Como o ídolo serve de espelho aos fãs, pega mal o envolvimento dele com drogas. Em 1990, quando jogava no Napoli, a Federação Italiana de Futebol o puniu com suspensão de 15 meses por uso de cocaína em um jogo. Flagrado também na Argentina com o pó maldito, a sentença indicou que se submetesse a tratamento terapêutico.

Adiantou? Claro que não. Em 1994 - radicado novamente na Argentina - prometeu reviravolta na Copa dos Estados Unidos. Promessa apenas. Bastou ser indicado ao exame antidoping para que localizassem efedrina em sua urina. E lá se foram mais 15 meses de suspensão.

Em 1996 ele concordou com internação em uma clínica para reabilitação de viciados na Suíça, e projetava assinar alguns bons contratos em clubes argentinos e equatorianos. Um ano depois se envolveu no terceiro escândalo de doping, por cocaína, quando jogava no Argentino Junior. Assim decretou o fim da carreira como jogador, e continuou a fase de turbulência com a separação conjugal.
Amigo do ex-presidente cubano Fidel Castro, concordou com internação em clínica de reabilitação de Havana, em 2000. Depois, submeteu-se a uma cirurgia para redução de estômago, que implicou na perda de 27 quilos. A recompensa foi a recuperação da auto-estima, contrato como apresentador de programa de televisão, projeto para lançamento de um livro sobre a sua vida, e o comando técnico da seleção argentina para as Eliminatórias e Copa do Mundo de 2010. Aí viu-se um Maradona com a velha irreverência, ao afirmar que desfilaria pelado pelas ruas de Buenos Aires caso o seu selecionado conquistasse o título.
Melhor, então, ficarmos com a bela história de ‘cracasso’ de bola, que começou a ser construída aos 16 anos de idade no Argentino Junior. Aos 17 anos já integrava a seleção argentina, e no ano seguinte foi injustiçado pelo técnico Cesar Luiz Menotti, que não o convocou à sua seleção à Copa do Mundo de 1978, com a infundada justificativa de que era um atleta muito jovem.
O troco veio um ano depois. Com a tarja de capitão, levou seu país ao título mundial de juniores, no Japão. Em 1982, com 22 anos, jogava no Barcelona, da Espanha. A partir de 1984 encantou o mundo com a camisa do Napoli, da Itália. Assim, não foi surpresa quando carregou sua seleção nas costas na Copa de 1986, no México, levando-a ao bicampeonato mundial. Em 1990, na Copa da Itália, quase repetiu o feito com jogadas geniais, e saiu com o honroso vice-campeonato.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Rondinelli, o ‘Deus da Raça’

Crianças e adolescentes das décadas de 50 e 60 cresceram e amadureceram convivendo com o indispensável conceito de ‘raça’ durante partidas de futebol. A bola já era disputada como um faminto em busca de prato de comida. Metaforicamente dizia-se que saía ‘faísca’ em bola dividida, e quem tirava o pé era chamado de ‘pipoqueiro’.
Naqueles tempos prevalecia a chamada bola de capotão, de cor marrom, com tamanho diversificado. Circunferência e peso aumentavam gradualmente, de forma que a de número cinco - numa escala que começava do um - era considerada a bola de maior tamanho e mais resistente. As menores nem sempre suportavam o impacto das chamadas ‘prensadas’ e estouravam para tristeza da molecada.
Se você imagina ter visto tudo nessas divididas, talvez desconheça que o ex-zagueiro Rondinelli, do Flamengo, tenha sido o único jogador de futebol profissional que ousou dividir a bola com a cabeça contra o pé esquerdo de Roberto Rivellino, na época atleta do Fluminense, num Fla-Flu dos anos 70. E devido aquela entrega até desmedida, pelo estilo vigoroso sem usar violência, e a concepção de que em futebol não se tem bola perdida, passou a ser identificado como ‘Deus da Raça’.
Não bastassem as aplaudidas virtudes, levou o torcedor rubro-negro ao delírio aos 42 minutos do segundo tempo da decisão do título do Campeonato Carioca de 1978, contra o Vasco, quando acertou uma testada fulminante e indefensável para o então goleiro Leão, após cobrança de escanteio do meia Zico. Aquela cabeçada no dia 4 de dezembro mais parecia um chute e foi repetida dezenas de vezes, entrando para os anais do futebol.
Rondinelli comemorou efusivamente aquele título com companheiro como Raul Plasmman, Marinho, Adílio, Júnior e Zico. As imagens que correram o mundo também mostraram a antiga dependência do Estádio do Maracanã batizada de ‘geral’, com agitação incontida da ‘galera’. Ali, podiam se aglomerar mais de 30 mil pessoas até o dia 25 de abril de 2005, num jogo entre Fluminense e São Paulo. Por imposição da Fifa e cumprimento sintomático da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o setor foi desativado provocando lamentação de assíduos freqüentadores. Inconsolados, muitos beijaram o chão do local após aquele jogo, discordando da lei vigente da Fifa que impede qualquer torcedor de assistir jogos de futebol em pé.
Rondinelli foi convocado cinco vezes à Seleção Brasileira. Em 1981 foi jogar no Corinthians, sem o mesmo sucesso dos tempos de Flamengo. Jogou ainda no Vasco, Atlético (PR), Goiânia, Goiás e Bonsucesso, onde encerrou a carreira de jogador, sem contudo sair do meio. Tentou se treinador, mas sua grande tacada foi a escolhinha de formação de atletas na cidade natal de São José do Rio Pardo (SP). Lá revelou o meia Andrezinho, atualmente no Inter (RS), levando-o inicialmente ao Flamengo, quando ele tinha apenas nove anos de idade.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mané Garrincha faria 77 anos

Fosse vivo, Mané Garrincha completaria 77 anos de idade neste dia 28 de outubro. Eis aí uma história de um dos dez melhores jogadores do planeta de todos os tempos que chegou ao fim da vida de pileque em pileque. Ele foi se destruindo até a morte no dia 20 de janeiro de 1983, deixando um exemplo que não deve ser seguido por boleiros: refúgio no álcool quando param de jogar futebol.
Há quem exagere ao citar que Mané foi melhor que Pelé. O jornalista, escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues - já falecido - costumava dizer que “Mané era a única sanidade mental do país”. Por quê? “Ele não precisava pensar”, justificava o jornalista.
Na prática Mané não suplantou Ronaldo Fenômeno e Pelé, entre os brasileiros, cujas histórias no futebol são mais longas. No entanto, o carioca foi um driblador inigualável e irônico, pois todos os marcadores eram chamados de ‘João’. Com as suas pernas tornas os infernizavam aplicando dribles desconcertantes. A esquerda era cinco centímetros mais curta que a direita.
Mané Garrincha ‘explodiu’ na Copa do Mundo na Suécia, em 1958. Chegou à competição como reserva do flamenguista Joel, e entrou na equipe brasileira só na terceira partida, contra a extinta União Soviética. Aí, ‘arrebentou’ com o jogo. Posteriormente teve participação decisiva na conquista daquele título mundial e, folclore ou não, em meio às comemorações, dizem que se aproximou do capitão Belini e murmurou: “Eta torneinho curto e sem graça. Não tem nem segundo turno!”
Mané vivia a vida intensamente e de forma irresponsável, jamais dimensionando que o ídolo é mirado como exemplo. No auge da fama abandonava os treinos do Botafogo do Rio de Janeiro para caçar passarinhos e tomar cachaça com amigos de infância no distrito de Pau Grande, município de Magé, interior do Rio de Janeiro. Foi lá que nasceu e foi registrado no cartório civil com o nome de Manoel Francisco dos Santos.
Pode-se dizer que Mané vivia o hoje sem se importar com o amanhã. Não se apegava a bens materiais e gastava o dinheiro de salários e bichos sem dó. Sustentava pais, irmãos, parentes e torrava o resto com amigos em noitadas, bebedeiras e mulheres. Durante a farra contava piava e sorria à-toa. Era dos tais que socava a mesa e alardeava que em sua companhia ninguém pagava conta de bar.
Sem consciência dos malefícios de jogar contundido, as lesões em seu joelho foram se agravando e a queda de rendimento foi sintomática. Depois, quando as pernas já não obedeciam ao cérebro, teimava entrar em campo e passava vergonha. Era anulado com facilidade pelos adversários.
Corinthians e Flamengo acreditaram que pudesse repetir em campo algumas das incontáveis boas jogadas, porém sem sucesso.
Desportistas na faixa etária dos 40 anos de idade que não puderam ver os dribles de Mané Garrincha sequer em filmagens também reconhecem que ele foi ‘a alegria do povo’.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Urubatão, um disciplinador

Urubatão Calvo Nunes não foi um jogador de futebol acima da média nos tempos do grande Santos das décadas de 50 e 60. Também foi um treinador apenas razoável. Apesar disso, cravou uma história na carreira para merecer algo além de um mero registro, se tanto, quando de sua morte no dia 24 de setembro passado.
Urubatão tinha 79 anos de idade quando foi vencido por um tumor cerebral e outro no pulmão. Antes de adoecer transformou-se em comentarista de futebol no rádio de Santos, cidade onde estava radicado quando deixou de treinar clubes.
Nascido no Rio de Janeiro, Urubatão jogou no pequeno Bonsucesso até ser descoberto pelo Santos em 1954, onde disputou posição com o volante Zito e o zagueiro Formiga. Lá foi bicampeão paulista em 1955/56 na condição de reserva. Eis os titulares: Manga; Hélvio e Ivan; Ramiro, Formiga e Zito; Tite, Jair da Rosa Pinto, Pagão, Del Vechio e Pepe.
Já em 1959, ainda no Santos vice-campeão regional, após derrota para o Palmeiras por 2 a 1, foi titular na patota formada por Laércio; Getúlio, Dalmo, Formiga e Feijó; Zito e Urubatão; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Urubatão deixou o Santos em 1961 com histórico de títulos e caminho facilitado para chegar à Seleção Brasileira, onde atuou uma vez: dia 7 de junho de 1957, na derrota para a Argentina por 2 a 1, no Estádio do Maracanã, em jogo que marcou a estréia de Pelé no selecionado. Sílvio Pirilo era o técnico.
Depois disso, foi destaque na mídia quando integrava o time da Ponte Preta no Campeonato Paulista da segunda divisão de 1964, com término somente no dia 7 de março de 1965, no Estádio Moisés Lucarelli, em Campinas, na derrota da Ponte para a Portuguesa Santista por 1 a 0, gol do atacante Samarone, na finalíssima. Aquele time pontepretano tinha Aníbal (Fernandes); Valmir e Antoninho; Ivan, Sebastião Lapola e Jurandir; Jair, Ari, Da Silva, Urubatão e Almeida.
Como treinador, Urubatão foi rigoroso no aspecto disciplinar nas passagens por Portuguesa, Coritiba, Colorado (atual Paraná Clube), Londrina, Fortaleza e principalmente clubes do interior de São Paulo como Noroeste, América e Araçatuba. Não permitia intimidade dos comandados, e exigia boa aparência e pontualidade nos treinos. Supersticioso, impedia que jogadores tomassem banho antes dos jogos, com a infundada justificativa que isso atrapalhava o aquecimento.
Arrogante, às vésperas dos jogos afirmava que a sua preocupação não era com o adversário, e sim com o seu time. A justificativa pode ser interpretada em uma repetida frase: “Quem sabe me ensina. Quem sabe igual me lembra. Quem sabe menos bate palmas”.
No banco de reservas, Urubatão dava mau exemplo ao acender um cigarro com o ‘toco’ de outro. A boleirada não reclamada daquela famaceira por motivos óbvios, se bem que a maioria também era fumante naquela época. Hoje, no Brasil, quem fica no banco com os jogadores evita o cigarro.