segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Gols de goleiros

Por Ariovaldo Izac

Ninguém se espanta quando depara com gols marcados por goleiros, até porque o são-paulino Rogério Ceni já atingiu a marca de 82 gols, entre cobranças de faltas de pênaltis, e ousou aplicar um chapéu no atacante Tuta, então jogador do Palmeiras, pelas oitavas-de-final da Copa João Havelange, em 29 e novembro de 2000. De vez em quando esses “guarda-valas”, como diziam antigos narradores de futebol, surpreendem ao marcar gols a mais de 90m de distância, na tradicional reposição de bola de sua grande área. E o último exemplo foi registrado com o goleiro Eduardo Martini no dia 22 de agosto, na vitória do Avaí (SC) sobre o Paraná Clube, por 3 a 1, em Florianópolis. Claro que ele jamais esperava que com o chutão a bola quicasse nas proximidades da área adversária e encobrisse o goleiro Mauro, adiantado. Foi o segundo gol do time catarinense na partida.
Difícil dizer com exatidão, mas provavelmente a história de gols com essa característica começou em Bauru, interior de São Paulo, em julho de 1961. Na ocasião, o goleiro Navarro, do Noroeste, surpreendeu Henrique, do Taubaté (SP), em partida válida pelo Campeonato Paulista.
Propagação com maior intensidade de gols nesse estilo começou em setembro de 1970, com Ubirajara Alcântara, do Flamengo, em jogo contra o Madureira, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Naquele lance, o vento se encarregou de triplicar a velocidade da bola, que traiu o goleiro Paulo Roberto.
Zico, goleiro do Cascavel em 1981, marcou contra o Colorado - hoje o Paraná Clube - pelo campeonato regional, igualmente em reposição de bola com os pés. Mesma recordação tem o colombiano Luis Martinez em partida amistosa contra a Polônia, em Chorzow, surpreendendo o goleiro Tomasz Kuszckak, em maio de 2006.
Goleiros também marcam gols de cabeça, quando se mandam à área adversária nos últimos minutos de partidas, para aproveitamento em cobranças de escanteio. Há dois registros só no Campeonato Brasileiro de 2003: o primeiro através de Eduardo, do Atlético (MG), ao marcar na vitória por 2 a 1 sobre o Juventude; e o outro de Lauro, na ocasião defendendo a Ponte Preta, no empate em 1 a 1 com o Flamengo, em Campinas.
Em 1996, o goleiro Hiran levou a torcida do Guarani ao delírio ao testar e marcar o gol de empate em 3 a 3 contra o Palmeiras, no último minuto de partida. Ele já havia marcado de cabeça quando defendia o Linhares (ES), em início de carreira; e fez o terceiro gol pelo Inter (RS), em cobrança de falta, em 2000. Já o dinamarquês Krogh usou a cabeça para marcar com a camisa do Brondby contra o AGF Aarhur, nos descontos.
Bruno, do Flamengo, marcou o primeiro gol na carreira profissional contra o Coronel Bolognesi, do Peru, cobrando falta, na vitória por 2 a 0, na última Libertadores da América. Outros exemplos são Thiago, do Vasco, e Márcio, do Atlético (GO). Também em cobrança de falta o goleiro Hugo Suárez, do Real Potosí, da Bolívia, marcou na vitória sobre o Caracas por 3 a 1, também pela Libertadores.
Exemplo estão aí aos montes de goleiros artilheiros na América do Sul e Europa. A experiência do colombiano René Higuita foi tão gratificante que após ter abandonado o futebol decidiu retornar, com histórico superior a 40 gols. O paraguaio José Luis Chilavert estava beirando 50 gols quando anunciou a intenção de se afastar do futebol.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Cejas, coragem para sair do gol

Por Ariovaldo Izac

Goleiros de décadas passadas reclamavam com freqüência dos critérios de edição de programações esportivas de televisão, que raramente mostravam as boas defesas dos goleiros, e por isso ficavam marcados por falhas e “frangaços”. Hoje, basta um goleiro praticar duas ou três boas defesas importantes em uma partida para que a sua performance seja destacada no mesmo espaço que são mostrados os gols da rodada.
Se hoje o goleiro brasileiro é reconhecido mundialmente porque pratica treinos específicos diariamente, até meados da década de 70 era criticado, com aspereza, principalmente pela paúra na saída da meta para interceptar cruzamentos. Na época, a Argentina era uma referência na escola de goleiros e os exportava ao Brasil, como Edgardo Norberto Andrada, que jogou no Vasco e foi marcado por ter sofrido o milésimo gol de Pelé, em cobrança de pênalti, no dia 19 de novembro de 1969.
O melhor de todos esses gringos com passagem pelo Brasil jogou de 1970 a 1976 no Santos, e depois se transferiu para o Grêmio (RS), onde encerrou a carreira. Trata-se de Augustin Mario Cejas (a pronúncia em espanhol é Cerras), que em março passado completou 63 anos de idade. No futebol platino, em início de carreira, jogou no Racing Club e Avellanedo, e chegou a conquistar títulos da Libertadores e Mundial Interclubes.
Curioso é que hoje a Argentina não dispõe de goleiros com o potencial daqueles do passado. Até a década de 80 ainda continuou exportando, caso de Miguel Angel Ortiz, um cabeludo com fita amarrada na testa, que defendeu o Atlético Mineiro com regularidade, e ousava cobrar pênaltis, com histórico de sete gols.
Nos tempos em que o goleiro brasileiro valia-se basicamente da elasticidade e reflexo para defesas notáveis, Cejas acrescentava arrojo para ir ao encontro da bola até o limite da grade área. Assim, era nome certo em convocações do selecionado argentino.
No Santos, Cejas juntou-se ao clássico zagueiro argentino Ramos Delgado, e integrou o time que dividiu o título do Campeonato Paulista de 1973 com a Portuguesa, com essa equipe comandada pelo técnico Pepe: Cejas; Zé Carlos, Carlos Alberto Torres, Vicente e Turcão; Clodoaldo, Léo e Jair (Brecha); Euzébio, Pelé e Edu.
Cejas foi exemplo para que cartolas santistas se encorajassem em contratações de outros goleiros sul-americanos, como o uruguaio Rodolfo Rodrigues na década de 80, e o colombiano Juan Carlos Henao em 2005, que chegou na Vila Belmiro precedido de atuações recomendáveis no Once Calda – clube daquele país -, mas por aqui não se deu bem.
Na “latinha” - os microfones de rádio - o ex-goleiro argentino falava o óbvio e coisas desconexas. Certa vez disse que “não é fácil ser goleiro”. E acrescentou: “O goleiro tem de ter raça, porque vai estar sempre sozinho em campo”.
Em vez de raça, talvez quisesse expressar bom condicionamento físico para melhorar impulsão, agilidade e velocidade, porque, em certas ocasiões, exerce a função de líbero, evitando, assim, que atacantes adversários definam isoladamente a jogada de gol.
A rigor, o goleiro Rogério Ceni, do São Paulo, que sabe jogar bem com os pés, incorporou essa função talvez inspirado no holandês Van Der Sar e o próprio Rodolfo Rodrigues, que nos tempos de Santos saía rotineiramente da área para disputar jogadas com os pés.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Kanu, carrasco brasileiro (11/08/08)

Por Ariovaldo Izac

O foco esportivo é a Olimpíada na China e um dos personagens que marcou história nesses jogos foi o nigeriano Nwankno Kanu, carrasco do selecionado olímpico de futebol masculino do Brasil em 1996, em Atlanta, nos Estados Unidos, ao marcar o gol que sepultou os sonhos dos comandados pelo técnico Mário Lobo Jorge Zagallo, na chamada “morte súbita”. A equipe brasileira era tida como uma das favoritas naquela competição. Além dos então garotos Dida, Roberto Carlos, Flávio Conceição e Juninho Paulista, ela contava com o zagueiro Aldair, meia Rivaldo e atacante Bebeto, entre os três atletas com idade superior a 23 anos, permitidos pelo regulamento.
O africano Kanu desequilibrou naquela partida válida pela fase semifinal, com vitória da Nigéria por 4 a 3, na prorrogação. O Brasil vencia por 3 a 1 no primeiro tempo, com dois gols de Flávio Conceição e outro de Bebeto, enquanto Roberto Carlos (contra) havia anotado o gol da Nigéria.
Inesperadamente, no segundo tempo, o time africano cresceu em campo. Com gols de Ikpeba e Kanu chegou ao empate e provocou a prorrogação. Aí, Kanu jogou um “balde de água fria” nos brasileiros, com o gol que determinou o encerramento da partida e adiou o sonho do ouro olímpico.
Kanu era desconhecido dos brasileiros, mas já fazia sucesso na Europa. Um ano antes havia sido campeão europeu e mundial pelo Ajax, da Holanda, fato que despertou interesse da Inter de Milão, que o levou para a Itália.
Tudo ia bem até pouco depois do título olímpico conquistado sobre a Argentina, na vitória por 3 a 2, quando os médicos diagnosticaram anormalidade na válvula aórtica do coração. Logicamente entrou em pânico após ter sido alertado sobre a possibilidade reduzida de voltar a jogar futebol. Ele não admitia encerrar precocemente a carreira, e topou o desafio de se submeter à delicada cirurgia nos Estados Unidos.
Depois de quatro horas na mesa de operação, o atacante cumpriu rigorosamente as indicações para se restabelecer e, em menos de um ano, estava de volta ao futebol. A reestréia ocorreu no dia 27 de julho de 1997, quando substituiu o atacante chileno Ivan Zamorano no final da partida entre Milan e Manchester. Aqueles nove minutos em campo serviram para emocioná-lo bastante. Aí, voltou a normalidade, sem qualquer risco de afastamento dos gramados.
Dois anos depois se transferiu para o Arsenal, da Inglaterra, e posteriormente, ainda naquele país, passou a jogar pelo Portsmouth. Ali, indiscutivelmente, um dos momentos marcantes da carreira foi a conquista do título da Copa da Inglaterra, exatamente no último dia 17 de maio. Seu time venceu a finalíssima por 1 a 0 sobre o Cardiff City, de País de Gales, e ele foi o autor do gol.
Recentemente Kanu foi oferecido ao Flamengo, mas preferiu renovar contrato com o Portsmouth, que não conquistava a Copa da Inglaterra havia 68 anos.
O futebol inglês oferece contratos milionários a jogadores e membros de comissões técnicas. Logo, o africano não trocaria uma gratificação semanal equivalente a R$ 148 mil por valor bem inferior que supostamente o clube carioca lhe ofereceria.
Kanu, que esbanja uma Ferrari e mansão na Grã-Bretanha, torra dinheiro sem controle. Segundo informações, recentemente teve que vender dois veículos Audi para quitar débitos com banco.

sábado, 9 de agosto de 2008

Vitória enganosa das mulheres do futebol

Por Ariovaldo Izac (09/08)

A vitória da seleção brasileira de futebol feminino do Brasil sobre a Coréia do Norte, na manhã deste sábado - 09/08 - (horário de Brasília), nos Jogos Olímpicos da China, foi extremamente enganosa, imerecida. Na pior das hipóteses, o time norte-coreano devia ter empatado. O Brasil achou dois gols, frutos de falhas defensivas das norte-coreanas, ainda no primeiro tempo.

Esse jogo demonstrou claramente as limitações do técnico Jorge Barcellos, que comanda a equipe brasileira. Viu se, ao longo da partida, um esquema tático arcaico, com as quatro jogadoras de defesa jogando basicamente em linha e excessivamente recuadas, pouco adiante do limite da grande área. Isso fez lembrar estruturações defensivas das décadas de 50 e 60, quando raramente os laterais ultrapassavam a linha que divide o gramado. Sem função, as laterais ficavam marcando basicamente as suas sombras, porque as norte-coreanas não adotaram um esquema ofensivo. Por vezes usavam o lado do campo para puxar contra-ataques em velocidade.

Não bastassem as deficiências das jogadas pelas beiradas do gramado, o meio-campo brasileiro foi mal posicionado e envolvido na maioria das vezes pelas adversárias. Também na criatividade e distribuição de jogadas, facilitando, conseqüentemente, a marcação dura das norte-coreanas.

O time brasileiro valeu-se de alguns lampejos da talentosa Marta, que mesmo bem marcada ainda conseguiu criar algumas situações de perigo à defesa adversária. Afora isso, deve-se destacar o bom trabalho do miolo de zaga brasileiro e também da volante Érika. A meia Formiga, irritada, fez faltas violentas e ficou barato não ter sido expulsa de campo.

Esse time brasileiro pode até ir longe na competição, mas ficou claro que taticamente o técnico Jorge Barcellos não está à altura de comandá-lo. A conseqüência de montar um quarteto defensivo muito recuado refletiu na ampliação de espaços para o adversário, que teve mais posse de bola nos dois períodos. Caso o Brasil tivesse enfrentado, neste sábado, um adversário de melhor qualidade técnica, a sorte do jogo poderia ter sido outra. Ainda bem que as norte-coreanas se valeram basicamente da correria e boa disciplina tática.

Bons tempos em que o time brasileiro era comandado pelo técnico Zé Duarte (já falecido), que além de ensinar o bê-á-bá às meninas ainda sabia distribui-las adequadamente em campo.

Pena que a dona CBF ainda não aprendeu a lição sobre a necessidade de escolher um profissional com bagagem no futebol profissional masculino para comandar o time de mulheres. Do contrário, deficiências de planejamento tático serão repetidas.

Ariovaldo Izac é jornalista e radialista e escreve no Blog do Ari

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Zequinha, um bicampeão

Por Ariovaldo Izac


Antigamente, mais precisamente nas décadas de 50 e 60, treinadores de Seleção Brasileira tinham que pautar pelo equilíbrio entre Rio de São Paulo para convocação de jogadores. Imprensas de ambos os Estados pecavam pelo bairrismo reprovável e por isso via-se, com freqüência, chamados inesperados de jogadores para integrar o selecionado.
O ex-técnico Carlinhos - jogador do Flamengo nas décadas naquele período - não esconde a mágoa de ter sido relegado para a Copa do Mundo de 1962, no Chile, quando o Brasil conquistou o bicampeonato. Definição política ou não, o certo é que Zequinha, então volante do Palmeiras, também tinha as credenciais para estar entre os 22 jogadores relacionados, como reserva de Zito, ex-Santos, quando comemorou o bicampeonato mundial.
A rigor, segundo o livro "Seleção Brasileira - 90 anos", de Roberto Assaf e Antonio Napoleão, Zequinha participou de 17 partidas pelo selecionado brasileiro, com retrospecto de 14 vitórias, um empate, duas derrotas, e marcou dois gols
Naqueles tempos, seria exagero cobrar do chamado médio volante postura de marcador implacável. Quando muito cercava as jogadas organizadas pelos meio-campistas adversários e deslocavam para os lados do campo para cobrir laterais. Eles executavam o papel de distribuidores de jogadas. Acionavam os laterais e se apresentavam como opções para continuidade das jogadas.
Essa era, basicamente, a função do pernambucano José Ferreira Franco, do Palmeiras, apelidado por Zequinha devido ao tamanho – 1,66m de altura. No entanto, ele se diferenciava da maioria na posição pela excelente preparação física. Como corria demais, atrevia-se, com freqüência às “descidas” ao ataque e finalizava ao gol adversário de média distância, com chute forte.
Zequinha nasceu no dia 18 de novembro de 1934, em Recife (PE), e jogou no Palmeiras entre 1958 e 1968. Começou a carreira no extinto Auto-Esporte de Recife, na década de 50, depois passou pelo Santa Cruz antes da transferência para a capital paulista. Já nos anos 60, com a chegada de Dudu, ex-Ferroviária de Araraquara (SP) ao Parque Antártica, o pernambucano foi para a reserva e, ao sair do Verdão, ainda jogou respectivamente no Atlético (PR) e Náutico.
Ao pendurar as chuteiras, fixou-se em Recife, garantiu a aposentadoria, e ainda melhorou a renda com a aquisição de uma casa lotérica em Olinda (PE), administrada por pessoas de confiança, pois seqüelas de um derrame limitaram suas atividades.
Saudosista, como a maioria dos ex-boleiros, Zequinha lembra que no seu tempo o futebol era mais bonito. “Hoje é a força física que importa e o jogo fica feio”, revela esse nordestino com histórico de 417 jogos pelo Verdão, com retrospecto de 247 vitórias, 83 empates e 87 derrotas. Foram 40 gols e o orgulho de colecionar títulos do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (Robertão), Taça Brasil, Torneio Rio-São Paulo e Campeonato Paulista de 1959, 1963 e 1966, segundo informações citadas no "Almanaque do Palmeiras".
Sem dúvida que o título paulista de 1959 pelo Palmeiras foi especial, em seu segundo ano de clube. Na ocasião, atuou num time formado por Valdir de Moraes; Djalma Santos, Valdemar Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho, Nardo, Américo e Romeiro.

sábado, 2 de agosto de 2008

Passarelas, de novo

Parece que a Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) ouviu nossas preces e resolveu improvisar escadas com estruturas metálicas nas passarelas em reforma, em trechos da Rodovia Anhangüera de Sumaré.
Torcemos para que a medida seja estendida a quem fazia uso das passarelas no trecho de Campinas.

Djalminha, ‘tapas’ na bola

O meia Djalminha continua dando “tapa” na bola em showbol, em companhia de ex-boleiros, e também nas areias de praias do Rio de Janeiro. Claro que se quisesse ainda poderia vestir camisas dos principais clubes brasileiros como organizador na “meiúca”. Afinal, que meia no futebol brasileiro pega tão fácil na bola como ele? Que meia tem visão de jogo tão privilegiada? Poucos, né!
Djalma Feitosa Filho, que em dezembro vai completar 38 anos de idade, pode até não admitir, mas de certo se encheu das obrigações profissionais de boleiros com treinos em dois períodos, concentração, jogos e sistemática cobrança para que jogue bem.
Com a vida feita, como se diz na gíria, quer mais é curti-la e “tocar” sua empresa de showbol, um jogo com regras adaptadas do futebol. Duas equipes se dividem em quadra de grama sintética, de 42x22 metros, com seis jogadores distribuídos para cada lado, cinco na linha e um goleiro. O empresário Todé se encarrega de marcar jogos de exibição por esse Brasil afora, com Djalminha e ex-boleiros dando show nas quadras.
A biografia como profissional acusa passagens por Flamengo, Guarani (duas vezes), futebol japonês, Palmeiras, La Coruña da Espanha (duas vezes), futebol austríaco e encerrou a carreira no América do México. De certo, aquilo que ganhou naqueles contratos milionários permite que fique de barriga pra cima a vida inteira, mas detesta o sedentarismo.
Djalminha tinha habilidade para conduzir a bola e sabia organizar o meio-campo com passes certeiros e objetivos. Como pega muito bem na bola, cansou de fazer gols em cobranças de falta. Também era uma liderança nata em campo e cobrava desempenho dos companheiros. Quando tocava a bola de primeira e recebia um “passe quadrado”, se irritava e dava bronca. Por isso, num amistoso do Guarani contra a Lazio, da Itália, em Campinas, “bateu boca” e quase saiu no braço com o zagueiro Cláudio.
A rigor, o desentendimento com Renato Gaúcho, nos tempos em que ambos eram jogadores do Flamengo, encurtou seu espaço na Gávea e facilitou sua transferência para o Guarani, em 1993. O Bugre se beneficiou de seu talento e o repassou primeiro ao futebol japonês e posteriormente à Parmalat, para jogar no Palmeiras, no período de co-gestão empresa-clube.
Evidente que Djalminha deu lucro duplamente no Parque Antarctica. Primeiro porque correspondeu plenamente em campo; depois com a milionária transferência ao La Coruña.
O meia começou a aparecer constantemente em lista de convocações à Seleção Brasileira a partir de 1997. Naturalmente teria vaga garantida à Copa do Mundo de 2002, no Japão e Coréia do Sul, caso não perdesse a cabeça em treino do La Coruña. Na ocasião, atingiu seu treinador Javier Irureta com uma cabeçada, e o técnico Luiz Felipe Scolari, que comandava a Seleção Brasileira, não perdoou o ato de indisciplina. Optou por não relacioná-lo àquela competição.
Pra quem não sabe, Djalminha é filho do falecido Djalma Dias, um baita zagueiro dos anos 60, e por isso um dos maiores injustiçados em termos de Seleção Brasileira. Ao participar das Eliminatórias à Copa do Mundo de 1970, no México, devia ser nome certo à competição, mas lamentavelmente ficou de fora.
Djalma Dias fez sucesso no América (RJ) e continuou a trajetória no Palmeiras, Santos e Botafogo (RJ).

Fontana, morte aos 39 anos

De certo o capixaba Fontana morreu fazendo aquilo que mais gostava na vida, em 1980: jogando futebol. Ele participava de uma “pelada” com amigos quando o “velho bumbo”, o coração, falhou. Fontana foi vítima de um ataque cardíaco fulminante e não resistiu, a exemplo do zagueiro Serginho (São Caetano), lateral Carlos Alberto (Sport), meia húngaro Miklos Feher (Benfica) e o camaronês Marc-Vivien Foe.
José de Anchieta Fontana, nascido no dia 31 de dezembro de 1940, chegou ao Vasco em 1962, após passagens por clubes de seu Estado. E após o natural período de adaptação, teve a incumbência de substituir o lendário Orlando Peçanha, um quarto-zagueiro clássico, revelado nas divisões de base do clube. O forte de Orlando era a antecipação. E, de posse de bola, usava sua habilidade para sair jogando.
Fontana tinha características opostas. Venceu pela raça. Era o chamado marcador implacável, um dos raros a anular Pelé em várias vezes quando se enfrentaram. Difícil para o torcedor vascaíno da velha guarda é esquecer o título da Taça Guanabara conquistado por seu clube em 1967, num time liderado pelo guerreiro Fontana. O Vasco perdia para o Botafogo por 2 a 0, no primeiro tempo, mas achou forças inimagináveis para virar o placar, com o gol da vitória, de cabeça, marcado pelo zagueiro. Fontana e Brito formaram uma dupla de zaga que caiu no gosto da galera.
Às vezes Fontana apelava para a violência e cometia atos de indisciplina. Em um jogo contra o Grêmio (RS) acertou cotovelada na boca do ponteiro-direito Joãozinho, quebrando-lhe alguns dentes. O comportamento inadequado que implicou em seu desligamento do Vasco foi ter se recusado de participar de um jogo contra o Inter (RS), em 1969, alegando contusão minutos antes de entrar em campo.
A rigor, o relacionamento do jogador com o técnico Paulinho de Almeida estava estremecido desde o jogo adiado contra o Bahia, por causa das chuvas, em Salvador. O treinador havia dado folga ao elenco até às 23h e, madrugada afora, flagrou Fontana, Moacir e Eberval pedindo a última dose de uísque no bar do hotel onde a delegação estava concentrada.
Moacir e Ederbal reconheceram o erro e foram perdoados; o “marrudo” Fontana não. E esse comportamento serviu para encurtar sua permanência no clube cruzmaltino, e seu passe foi negociado com o Cruzeiro.
Naquele período, Fontana estava no auge na carreira e foi levado pelo treinador João Saldanha (falecido) à Seleção Brasileira. Posteriormente, já com Zagallo no comando técnico do selecionado, Fontana foi relacionado entre os 22 jogadores para a Copa do Mundo de 1970, no México, e comemorou o tricampeonato. Ele também acompanhou de perto a introdução dos cartões vermelhos e amarelos no futebol, além da permissão para substituições de jogadores em partidas, naquela competição.
No Cruzeiro, com a costumeira regularidade, jogou até 1972. Participou do grande time com Dirceu Lopes, Tostão, Natal e Evaldo. E a recompensa foi cravar seu nome na galeria dos ídolos do clube, ao transportar para a Toca da Raposa a raça que o caracterizou nos tempos de Vasco.
Fontana foi um exemplo de superação no futebol, seguido por incontáveis zagueiros que também obtiveram êxito na carreira.

Dino, genial e genioso

Nos tempos em que o médio-volante não era apenas o cabeça-de-área, o carequinha Dino Sani dava show nos gramados. Era um jogador comandante no campo, indicando aos companheiros os atalhos para seu time chegar com mais facilidade à vitória.
Dino foi campeão mundial na Copa do Mundo da Suécia, em 1958, como reserva de Zito. Também teve uma trajetória internacional no Milan, da Itália, e Boca Junior, da Argentina. E encerrou a carreira no Corinthians, formando dupla de meio-de-campo com Rivelino, na década de 60.
O estilo vistoso de Dino Sani no trato com a bola começou a ser visto no final da década de 40, no extinto Comercial de São Paulo. Atuava como meia-esquerda num quinteto ofensivo formado por Feijão, Nardo, Gino, Dino e Esquerdinha.
Em 1952, Dino fez parte de um lendário time do XV de Jaú (SP) e transferiu-se, na seqüência, para o São Paulo, onde se fixou como volante.
Dava para se contar nos dedos de uma só mão quantos passes Dino errava durante uma partida. Além da precisão e objetividade na entrega da bola, era um emérito cabeceador. E para tomar bola do adversário valia-se do bom posicionamento, tempo certo da bola e capacidade de antecipação.
Com essas virtudes e uma visão geral de campo, a passagem de jogador para treinador foi sintomática, como ocorreu no final da década de 60. Dino teve passagens marcantes em clubes como Inter (RS), Coritiba e Fluminense. Com uma biografia respeitável, se preocupava essencialmente em melhorar o condicionamento técnico do atleta. E quando o boleiro não cumpria a tarefa corretamente durantes os treinos, pegava a bola e ensinava como devia ser feito.
Quando passou pela Ponte Preta, em 1982, Dino comandou um time de medalhões como Dicá, Mário Sérgio Pontes de Paiva e Jorge Mendonça (já falecido). Aí, o genioso Mário Sérgio (hoje técnico de futebol), para testar o treinador, fazia questão de chutar a bola com bastante efeito, para que ele dominasse. E o destemido Dino amortecia todas as bolas chutadas e ganhava confiança definitiva do discípulo.
A cada final do treino, Dino chamava os atacantes e mostrava como se pegava de primeira em bolas cruzadas das extremas. Batia de sem-pulo e avisava ao goleiro o canto que iria chutar, sob olhares atônitos de seus comandados, que viam a bola morrer na ‘gaveta’.
Dino é transparente e franco. Por isso teve a petulância de sugerir ao meia Dicá que encerrasse a carreira. Observava como poucos o comportamento do atleta fora de campo e sabia como corrigi-lo.
O que Dino já não tolerava era trabalhar com jogadores de poucos recursos técnicos e de dificuldade de assimilação daquilo que era pedido. Foi perdendo a paciência e decidiu se afastar das funções.
Dono de um prédio no município de São Paulo, tem renda suficiente para manter o alto padrão de vida. Apesar disso, ainda topou voltar ao futebol na década de 90, até que em 1995 surpreendeu com a insólita decisão de se demitir do comando técnico da Ponte Preta, no intervalo de um jogo contra o Novorizontino, quando o time campineiro perdia por 2 a 0. “Não dá para trabalhar com tanto cabeça-de-bagre”, era a justificativa. E cumpriu a promessa da aposentadoria.

Parabéns, Conceição

Parabéns Maria Conceição Rodrigues. Afinal, é preciso bravura para acompanhar a sua amada Ponte Preta durante 53 anos. Parabéns, Conceição, pelo seu aniversário neste 18 de maio. Não interessa se você completa sessenta e poucos anos ou se já rompeu a barreira dos setenta. Parabéns!
Provavelmente a guerreira Conceição só vai ler este artigo através de cópia que alguns de seus amigos lhe entregarem, mas não importa. Acostumada à páginas de jornais, tem lógica a aversão por esse bichinho que ainda engatinha, que é a Internet.
O fanatismo da Conceição pela Ponte Preta a fez viajar em porta-malas de veículo até Bauru, para não perder jogo de seu time contra o Noroeste, pelo Paulistão na década de 70. Outra passagem de extrema “loucura” dessa heroína foi em Marília, em meados da década de 80. Numa das madrugadas geladas, ela estava prostrada na rodoviária daquela cidade a espera de um ônibus de carreira, para o retorno a Campinas, após derrota da Macaca. E sem um tostão no bolso, não se fez de rogada quando lhe ofereceram um pingado com pão com manteiga, na lanchonete.
Também na década de 80, na primeira viagem aérea ganhada de presente, em excursão da Ponte sabemos lá para aonde, Conceição ficou irradiante. No mínimo durante um mês repetiu que “estava muito social” na aeronave.
Conceição é assim, espontânea. Não se acanhava de pedir ajuda para acompanhar as excursões da Ponte, e houve caso em que foi flagrada como a única representante da torcida em jogos de seu clube. Partidas em casa, então, eram imperdíveis. Essas “febronas” que dizem derrubar qualquer cristão não conseguiam “nocauteá-la” quando a Macaca entrava em campo.
A rigor, não foi uma simples torcedora no Estádio Moisés Lucarelli. Por um bom período ficava de plantão no portão que dá acesso aos representantes da arbitragem, e os dito cujo ouviam “gatos e lagartos” quando chegavam. Se pudesse, de certo Conceição daria uns bicudos nas canelas dos mais visados para intimidá-los. Digamos que, em última análise, deixava o claro aviso para não prejudicarem a sua querida Macaca em seu “fortim”.
E quando a bola rolava, só faltava Conceição morder o alambrado a cada falta invertida ou pênalti não assinalado contra o seu time. Suava, sofria. O frio na barriga só passava após o apito final do juizão.
Houve época em que Conceição “picava cartão” - como se diz na gíria - todos os dias no campo da Ponte, só para falar com os seus meninos, como os tratava carinhosamente.
Por esses e outros incontáveis motivos, é mais que justa esta homenagem a esta lídima rainha da Ponte Preta. Homenagem em vida, o que é mais importante.
É isso aí.

Vagner Bacharel, morte aos 36 anos

Torcedor de treino é detalhista, pra não dizer xereta. Um deles sussurrou maldosamente para um amigo, há mais de duas décadas, nos tempos do zagueiro Vágner Bacharel (já falecido) no Palmeiras:
“Dê uma olhada nas pernas arqueadas do Vágner. Se ficasse na barreira de futsal a bolinha passaria no “vão” delas e seria gol do adversário”.
As pernas arqueadas em nada atrapalhavam o rendimento do jogador de pouco mais de 1,80m de altura nas passagens por Madureira (RJ), Joinville (SC), Inter (RS), Palmeiras, Botafogo (RJ), Guarani, Fluminense, Vila Nova (GO) e Paraná, onde morreu no dia 20 de abril de 1990.
Por sinal, morte estúpida teve esse carioca Vágner de Araújo Antunes, aos 36 anos de idade. Na disputa de bola pelo alto com Sérgio Ponvoni, do Campo Mourão (PR), ele bateu com a coluna cervical no chão e, desacordado, foi levado a um hospital paranaense para atendimento.
Aparentemente nada de mais grave, tanto que recebeu alta hospitalar e voltou para casa, a fim de continuar o tratamento. Só que as dores de cabeça foram intensificando e, levado novamente ao hospital, não resistiu e morreu.
Bacharel é mais um daqueles casos de jogadores mortos que raramente são lembrados, exceto em casos de estatística de falecimentos de atletas no exercício da profissão. Sua aparição na bola foi no Madureira do Rio de Janeiro e depois se deslanchou em grandes clubes, com ênfase na passagem pelo Palmeiras, quando formou dupla de zaga com Luiz Pereira. Ambos jogavam de cabeça erguida, tinham um bom passe, jamais se apavoravam na saída de bola e mostravam espírito de liderança.
Claro que Luizão era mais clássico, desarmava muito mais sem recorrer às faltas e tinha velocidade para arrancar ao ataque com bola dominada, nos tempos que cobrava-se de zagueiros apenas eficiência na marcação. Luizão era diferente até na Seleção Brasileira, considerado um dos melhores da posição na Copa do Mundo de 1974, na Alemanha. Bacharel ficou no Palmeiras de 1983 a 87, com histórico de 22 gols em 260 jogos. Tinha o hábito de avançar à área adversária em lances de bola parada, nos escanteios e cobranças de falta. Em seguida se transferiu para o Botafogo do Rio.
Embora a sua principal virtude fosse o jogo aéreo, esse bigodudo tinha malícia para evitar dribles manjados, e pecava basicamente pela lentidão. Quando enfrentava atacantes rápidos passava apertado.
O zagueiro era sarrista e bem humorado. No ônibus que conduzia delegações da concentração ao campo puxava o samba com o inseparável pandeiro e contagiava o ambiente. A rigor, o apelido Bacharel justificava-se pelo fato de chamar companheiros, indistintamente, também de Bacharel. Era uma liderança positiva que ajudava na preservação do bom ambiente do grupo. Sabia discernir bem a hora da cervejinha com os amigos, principalmente após jogos, do trabalho árduo do dia-a-dia.
O futebol paranaense já havia sido enlutado no dia 18 de setembro de 1978 com a morte de Valtencir, aos 32 anos de idade, então jogador do Colorado, clube que posteriormente se fundiu com o Pinheiros para a criação do Paraná. O lateral-esquerdo sofreu lesão na coluna cervical e no cérebro após choque com o jogador Nivaldo, do Maringá, e morreu no local, no Estádio Willie Davis, em Maringá.