sábado, 27 de junho de 2020

Treze anos sem o goleiro Orlando Gato Preto


Imaginem se hoje, quando o mundo contesta com veemência o racismo, alguém ousaria apelidar o saudoso goleiro Orlando de 'gato preto'. Pois assim ele era identificado nos anos 60, quando se revezava na meta da Portuguesa com o igualmente falecido Félix. O próximo 19 de julho marca o 13º ano da morte de Orlando, após quatro meses internado em São Paulo. Ele foi vítima de AVC (acidente vascular cerebral), quando faltavam seis dias para completar 67 anos de idade.

O carioca Orlando Alves Ferreira pode não ter sido goleiraço, mas pegava as bolas defensáveis na passagem pela Lusa de 1963 a 1974. Ele só foi fixado como titular com a transferência de Félix para o Fluminense, cuja trajetória culminou com ingresso na Seleção Brasileira e conquista do tricampeonato mundial na Copa de 1970.

Orlando jogou num período em que eram raros goleiros negros. Exemplos marcantes se resumiram a Barbosa, Veludo, Barbosinha, Mão de Onça. Dimas Monteiro, Tobias, Jairo e Ubirajara Alcântara de Flamengo e Botafogo (RJ), eleito pelo júri do programa de televisão ‘Discoteca do Chacrinha’ o negro mais bonito do Brasil em 1971.

Ubirajara também entrou para a história do futebol como o primeiro goleiro a marcar gol, em partida contra a Portuguesa carioca. Ao chutar a bola de sua área, o objetivo era que atingisse o campo adversário. Todavia, empurrada pelo forte vento traiu o goleiro adversário.

Antes disso, havia registro de gol de goleiro em circunstância diferente. Em 1964, numa excursão da Lusa pelos Estados Unidos, após o nono gol contra o Massachusetts, o goleiro Félix foi jogar de centroavante para permitir a entrada de Orlando na posição. E curiosamente ele marcou o décimo gol luso, numa partida que terminou 12 a 1.

Barbosa, morto em 2000, foi goleiro de inegáveis virtudes no Vasco, porém ficou marcado pelo gol que sofreu do atacante uruguaio Ghiggia, na Copa do Mundo de 1950, na derrota brasileira na final por 2 a 1, no Estádio do Maracanã.
Barbosinha esquentou o banco de reservas do Timão até 1967, quando foi fixado como titular. Um ano depois, taxado de frangueiro por torcedores, perdeu espaço no clube, que voltou a contar com goleiros negros com as chegadas de Tobias e Jairo nos anos 70, e posteriormente com o alagoano César, baixinho de qualidade técnica discutível, em meados da década de 80.

sábado, 20 de junho de 2020

Batata, de zagueiro vigoroso a motorista de lotação


Se no futebol de hoje é praticamente proibido escalação de zagueiro com menos de 1,80m de altura, saibam que o Corinthians conquistou o bicampeonato brasileiro 1998/99 com dupla de zaga de estatura inferior: paraguaio Gamarra tem 1,78m e Batata 1,76. Todavia, valiam-se da elogiada impulsão para se sobressaírem pelo alto. Foi o 'casamento' da técnica do estrangeiro com o espírito guerreiro do brasileiro.

O apelido de Batata 'colou' por ter sido flagrado algumas vezes comendo batatas escondido, enquanto a mãe as preparava. Fosse hoje, com aversão dos clubes por apelidos, de certo ele seria identificado pelo prenome do registro de nascimento constante como Wanderley Gonçalves Barbosa, que em novembro próximo vai completar 47 anos de idade.

Embora tivesse nascido em Barra do Piraí (RJ), o início da carreira foi na Inter de Limeira (SP) em 1993, dispensado três meses depois após rebaixamento da equipe às Série A2 do Paulista. Assim, seguiu trajetória no Ituano, esteve no Monterrey (MEX), até ganhar visibilidade a partir de 1998 no Corinthians, quando foi eleito o melhor zagueiro do Paulistão.

Lá ele ficou até 2002, com histórico de 164 partidas, registro de 84 vitórias, 45 empates e 35 derrotas. Marcou seis gols a favor e um contra. E os seus últimos anos de clube foram marcados por lesões. Assim quase não atuou nas conquistas do Mundial de Clubes em 2000 e Rio São Paulo em 2002, pois havia perdido a posição para Fábio Luciano.

Na temporada seguinte se transferiu ao Atlético Mineiro, sem contudo se firmar como titular. A partir daí começou a rodar clubes como Brasiliense (DF), Náutico (PE) e Pogón Szczecin (POL) em 2006, sem que se adaptasse. “Saí do Recife com 42 graus e cheguei na Polônia com menos 28. Quase enlouqueci”, confessou.

Após nova passagem pelo Náutico, ainda atuou no interior pernambucano no Central de Caruaru, até que o encerramento da carreira ocorresse no Salgueiro em 2008, aos 34 anos de idade. “Foi quando comecei a perceber que mais atrapalhava de que ajudava o time. Estava tirando espaço dos garotos. Cheguei a conclusão que estava na hora”.

A identificação com a cidade de Itu fez que lá voltasse a residir, pelo menos três anos atrás. E sem que tivesse migrado para outras atividades no futebol, trabalhava como motorista de lotação com sua perua Kombi.

sábado, 13 de junho de 2020

'Com Dadá em campo, não há placar em branco'


Futebol: quem te viu; quem te vê! Isso não se restringe ao aspecto técnico. Se no passado era permitido provocação de jogadores de um clube ao adversário, hoje isso é intolerável. Imaginem se alguém copiasse o ex-centroavante Dadá Maravilha? Na passagem pelo Inter (RS), véspera de jogo contra o Corinthians, ele mandou recado irônico ao saudoso zagueiro Moisés: “Não consigo ficar duas partidas seguidas sem jogar bem. Por isso você e o seu time vão pagar o pato”.
Também provocava ao prometer gols de Dadá nas partidas, e criava os respectivos nomes. Ao comemorar o 'gol PM', pulou nas costas de um policial e levou cacetada. Assim era Dario José dos Santos, 74 anos de idade completados em março passado, com passagens em Inter, Atlético Mineiro, Flamengo, Sport Recife e Ponte Preta, entre outros, após início de carreira no Campo Grande (RJ) em 1966, quando já havia saído da Febem pelo histórico de ladrãozinho. Ele jura ter marcado 926 gols até 1986 no Flamengo, ao cravar o rótulo de atleta mais folclórico do país, com produção de frases inesgotáveis, como as que seguem.
1 - "Nunca aprendi a jogar futebol, pois perdi muito tempo fazendo gols."
2 - "Com Dadá em campo, não há placar em branco."
3 - "Não existe gol feio. Feio é não fazer gol."
4 - “Três coisas que param no ar: beija-flor, helicóptero e Dadá Maravilha.”
5 - "Pra fazer gol de cabeça era queixo no peito ou queixo no ombro."
6 -“Fui o máximo como cabeceador. Com estatura de 1,85m de altura, eu saía 90cm do chão para cabecear.”
7 - "Quando eu saltava o zagueiro conseguia ver o número da minha chuteira."
8 - "Chuto tão mal que no dia em que eu fizer um gol de fora da área, o goleiro tem que ser eliminado do futebol.
9 - "A área é o habitat natural do goleador, nela ele está protegido pela constituição. Se for derrubado é pênalti."
10 - "Se minha estrela não brilhar, vou lá e passo lustrador nela."
11 - "Não venha com a problemática que eu tenho a solucionática."
12 - "No futebol existem nove posições e duas profissões: o goleiro e o centroavante."
13 - “Marquei três gols de bunda, um deles proposital.”
14 - “Pelé, Garrincha e Dadá deveriam ser curriculum escolar”.
15 - “Não falem mal do Dadá e Frank Sinatra, senão é porrada.”
16 - “Se o gol é a maior alegria do futebol, foi Deus quem inventou Dadá, porque Dadá é a alegria do povo”.

domingo, 7 de junho de 2020

Seis anos sem Eduardo Farah, dirigente de inovações


O último 17 de maio marcou o sexto ano da morte do empresário e desportista José Eduardo Farah, aos 80 anos de idade, vítima de falência múltipla de órgãos. De 1988 a 2003 ele presidiu a FPF (Federação Paulista de Futebol), após substituir José Maria Marin. Em sua gestão foi construída nova sede da entidade e revolucionado conceitos, com implementação do marketing esportivo na competição estadual, reverberado favoravelmente aos clubes.

Em 1995 ele vendeu os direitos de exploração da competição à empresa VR por R$ 45 milhões. Outro aplaudido incremento foi a venda dos direitos de transmissões ao vivo de jogos através da TV aberta e por assinatura para a Rede Gobo, emissora que, segundo ele, teria sido responsável por seu afastamento da entidade, ao abrir espaço em 2003 para a concorrência do SBT.

Farah determinou numeração fixa nas camisas dos jogadores, com os respectivos nomes. Implantou a parada técnica e spray para marcar posição de bola e da barreira. Instalou a placa eletrônica de tempo de acréscimo nas partidas, e parecia não ter limite para criatividade. Partidas que terminavam empatadas sem gols, os vencedores eram definidos através de cobranças de pênaltis.

No auge de uma gestão bem-sucedida, Farah tentou 'tacada' supostamente revolucionária em 1998. Para repatriar o meia Marcelinho Carioca - que não havia se adaptado ao futebol espanhol, no Valência -, criou o Disk-Marcelinho, concurso entre torcedores dos quatro principais clubes paulistas para adquirir o passe do jogador. Criou uma central telefônica ao custo de R$ 3 para cada ligação, estendida por onze dias, de forma que aquele que tivesse maior percentual de discagem seria o vencedor.

Se Farah projetou que superaria os US$ 7 milhões (cerca de R$ 15 milhões na cotação da época), exigidos pelo Valência, na prática a promoção foi um fiasco, com 580 mil ligações. Assim, o valor arrecadado de R$ 1,74 milhão implicou em renegociação com os espanhois e participação do Corinthians com R$ 4 milhões, que o então presidente Alberto Dualib havia prometido quitar.

Corinthians foi o clube de maior adesão de torcedores, com 62,5%, seguido de São Paulo 20,3%, Santos 9,5% e Palmeiras 7,7%. Logo, Marcelinho pôde reviver no clube momentos marcantes com gols de falta em abundância, tanto que dos 206 marcados em 433 jogos, 59 deles foram naquelas cobranças.

Djalma Dias, injustiçado em Seleção Brasileira


Neste período de pandemia, quarentena prolongada, futebol paralisado, o noticiário esportivo fica encolhido, e isso exige imaginação de produtores de programas e edições de textos para pautas sugestivas, com finalidade de cativar atenção de leitores e ouvintes.
Como integro equipe de analistas de futebol da Rádio Brasil Campinas, a coordenadoria do programa criou o quadro 'Painel Campeão', ocasião em que são elaboradas perguntas sobre o futebol de todos os tempos, uma delas sobre qual atleta seria caracterizado como maior injustiçado, ao ser relegado na Seleção Brasileira à disputa de uma Copa do Mundo?
Em viagem ao passado uns dirão ter sido o meia cruzeirense Dirceu Lopes. Outros vão citar o saudoso centroavante Toninho Guerreiro, de Santos e São Paulo, cortado de última hora do Mundial de 1970, por causa do diagnóstico de sinusite. Na prática houve ingerência do então presidente da República Emílio Garrastazu Médico para convocação de Dadá Maravilha, e o treinador Zagallo curvou-se à exigência.
Há quem lembrará que o meia Neto em 1990, no Corinthians, atravessava fase singular, e que teria sido tremenda injustiça o treinador Sebastião Lazaroni não levá-lo à Copa do Mundo da Itália, com preferência por Bismark, ora no Vasco. Aquele foi considerado um dos piores grupos de Seleção Brasileira.
Diante do universo aparentemente infindável de exemplos, justifiquei que o saudoso zagueiro-central Djalma Dias foi o maior injustiçado, pois acabou cotado em duas ocasiões às vésperas de Copa. Em 1966, vinculado ao Palmeiras, foi pré-relacionado na lista dos 45 jogadores pelo treinador Vicente Feola, e inexplicavelmente foi cortado, considerando-se que atravessava o auge da carreira, enquanto Belini, aos 36 anos, já era jogador decadente no São Paulo. O outro zagueiro central convocado àquela Copa da Inglaterra foi Brito.
Três anos depois, já em defesa do Santos, Djalma Dias havia voltado em alto estilo à Seleção Brasileira, nas Eliminatórias à Copa do Mundo do México, em 1970, ocasião em que, titularíssimo nas feras do Saldanha, formava dupla de área com o também saudoso quarto-zagueiro Joel Camargo. E foi na troca de comando do selecionado, com Zagallo assumindo como treinador, que Djalma ficou de fora, num descaso pelo estilo clássico dele para valorização da saída de bola de trás, sabedoria para desarme ao adversário sem recorrer às faltas, além do preciso tempo de bola para antecipação da jogada.

Djalma Dias foi revelado pelo América (RJ), e em 1963, já no Palmeiras, havia substituído Waldemar Carabina, ano da conquista de título estadual. Ele participou da primeira academia palmeirense comandada pelo treinador Nelson Filpo Nunes, e o vínculo com o clube se estendeu até 1967, quando, em litígio, transferiu-se ao Galo mineiro, onde permaneceu durante um ano, até que no Santos readquirisse a boa forma, que se prolongou no Botafogo (RJ) durante o triênio a partir de 1971.
Vítima de AVC (acidente vascular cerebral), ele morreu em primeiro de maio de 1990, aos 41 anos de idade, no Rio. E deixou o herdeiro Djalminha, meia extremamente habilidoso que chegou à Seleção Brasileira, e teve trajetória brilhante em Flamengo, Guarani, Palmeiras, futebol japonês, europeu, australiano e mexicano.