domingo, 21 de fevereiro de 2021

Quinze anos sem Jorge Mendonça

O ídolo marca história em clubes que passa, por vezes morre até precocemente, e a cultura do povo brasileiro o coloca na vala do esquecimento. Por essas e outras que passou batido o 17 de fevereiro passado como 15º ano da morte do talentoso ponta-de-lança Jorge Mendonça, uma carreira marcada por 411 gols, um artista da bola. Apesar disso, jamais ele avaliou o seu devido valor. Às vésperas da morte, vivia debruçado em balcão de bar, e já havia trocado a cerveja pela cachaça.

Com a chegada do Campeonato Paulista, veículos de comunicação recontam histórias da competição, e nelas está inclusa a marca de Jorge Mendonça como o segundo maior artilheiro de todos os tempos com 38 gols, em 1981, com a camisa do Guarani, atrás, obviamente, de Pelé, que em 1958 atingiu a incrível marca de 58 gols, pelos Santos. Todavia, atenção para a narrativa do ex-ponteiro-esquerdo José Macia, o Pepe, igualmente do Santos, quando enquadra Pelé como alguém de outro planeta.

Se Pelé teve a primazia de marcar oito gols pelo Santos, na goleada por 11 a 0 sobre o Botafogo de Ribeirão Preto, em jogo no Estádio da Vila Belmiro, válido pelo Paulistão de 1964, dez anos depois Jorge Mendonça entrou para a história do Náutico por ter marcado igualmente oito gols na goleada por 8 a 0 sobre o Santo Amaro, em jogo do Campeonato Pernambucano.

Apesar disso, Jorge Mendonça não era tão obediente aos preceitos do profissionalismo, e desavenças com o treinador Telê Santana, nos tempos de Palmeiras, implicaram que ficasse de fora da Copa do Mundo de 1982, ainda no auge da carreira e atuando pelo Guarani, clube que o contratara do Vasco dois anos antes para repor a saída do meia Renato ‘Pé Mucho’, transferido ao São Paulo.

À época, jornalistas que precipitadamente julgaram a chegada de Jorge Mendonça como 'refugo' tiveram que se curvar à realidade, pois ainda na temporada de 1981 o histórico dele foi de 58 gols em todos os jogos, marca inigualável no clube nos últimos 40 anos.

Isso apesar da 'pecha' de 'pipoqueiro', pela recusa de entrar em bola dividida, pois priorizava bola nos pés e aplicava dribles desconcertantes. Na sequência, usufruía do raciocínio rápido para definir a melhor jogada ou arremate. Cabeceador por excelência, sabia se posicionar na área adversária para conferir cruzamentos. E por infernizar defensores adversários, não precisava se desgastar para recomposição e ajuda na marcação.

Embora cumprisse regiamente a programação estabelecida em treinos, Jorge Mendonça foi mais um daqueles que tentavam fugir de concentração para gozar a vida noturna, assim como reservava às sextas-feiras para frequentar casas noturnas em Campinas, com a devida permissão do saudoso treinador Zé Duarte, cuja cobrança da fatura era no jogo de domingo. Assim, nas manhas de sábados Jorge Mendonça roncava em macas da enfermaria do Estádio Brinco de Ouro, e ficava fora dos tradicionais rachões.

Em 1983 trocou o Guarani pela rival Ponte Preta, sem que justificasse plenamente o investimento feito. Por isso ainda passou por Cruzeiro, futebol capixaba, paranaense e encerrou a carreira no Paulista de Jundiaí (SP), retornando a Campinas como treinador dos juniores da Ponte. Aí faltou-lhe aptidão de comandante e não prosperou na atividade. Com dinheiro rareando e família dividida, enfrentou dificuldades até a morte, aos 51 anos de idade.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Loco Abreu resiste aos 44 anos de idade

Ex-atletas têm prioridade na coluna, mas o foco é o atacante Loco Abreu, que resiste pendurar as chuteiras aos 44 anos de idade. Ao acertar contrato com a trigésima diferente agremiação, ele entra para a história como recordista em quantidade de clubes. No dia dois de fevereiro passado foi apresentado pelo Athletic Club de São João del Rei (MG) como a principal atração de um clube que após 51 anos volta a disputar o Campeonato Mineiro.

Em 2020, na última passagem pelo Boston River, do Uruguai, Loco Abreu conciliou funções de treinador e atleta. Em setembro passado, em vez da habitual postura de entrar em transcorrer de partidas, vestiu a camisa titular no jogo contra o Danubio e marcou o gol de empate por 2 a 2, ao explorar a cabeçada. Na ocasião, reviveu experiência tida em 2016 no Santa Tecla F.C., de El Salvador, quando interinamente foi treinador, após ter sido artilheiro da competição nacional daquele país, com 13 gols.

Portanto, na chegada pra jogar no Athletic mineiro, deixou claro aos dirigentes que não acumularia função de treinador, argumentando que teria lenha pra queimar. Por isso, mostrou o seu estilo de deboche quando provocado em pergunta de repórter se ainda teria condições de jogar devido à idade, durante entrevista coletiva na apresentação ao clube.

- Garoto, mude de assunto senão vou te encher de porrada - , brincou. E ao se estender sobre detalhes da carreira, deu ênfase à marcante passagem pelo Botafogo carioca no biênio a partir de 2010, quando abusava de cobranças de pênaltis no estilo cavadinha, até desperdiçar uma delas em partida contra o Fluminense, quando jurou nunca mais ter abusado. Todavia, agora não descarta a hipótese de repetição daquele repertório, no futebol mineiro.

Dos 30 clubes diferentes defendidos pelo uruguaio Wahington Sebastián Abreu Gallo, o giro na América do Sul passa por Uruguai, Argentina, Brasil, Chile e Equador. Ainda na América, passou por El Salvador e México. Na Europa registra-se contratos em clubes da Espanha, Grécia e Itália, além de ter jogado no Beitar de Jerusalém (ISR).

Loco Abreu compensa a falta de técnica pelo estilo guerreiro e faro de artilheiro, principalmente no jogo aéreo, ao explorar a estatura de 1,93m para cabeceio. A carreira foi iniciada no Defensor do Uruguai, em 1994, chegando à seleção de seu país.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Adeus ao treinador Lula Pereira

Lula Pereira foi o sétimo treinador de futebol, com passagens pelo interior paulista, que morreu no período de um ano. O falecimento dele ocorreu em Fortaleza (CE) neste sete de fevereiro, decorrente de saúde debilitada após ter sido vítima de um AVC (acidente vascular cerebral) em 2019. Luiz Carlos Bezerra Pereira, pernambucano de 64 anos de idade, teve trajetória no futebol como jogador, técnico e dirigente esportivo.

Enquanto atleta, acusou passagens por Sport Recife, Ceará e Santa Cruz. A função de treinador foi exercida em dezenas de clubes no período de 1988 a 2012, com títulos estaduais conquistados no América Mineiro, Figueirense, Ceará e em três clubes paulistas: Rio Branco de Americana, União São João de Araras e Botafogo de Ribeirão Preto. Ele ficou desempregado durante quatro anos, voltando ao meio como dirigente esportivo do Ferroviário (CE) em 2016.

Quando começou a dirigir equipes de futebol, Lula Pereira foi um dos raros treinadores negros, para na sequência se observar, indistintamente, abertura de espaço para todas as raças. Apesar dos títulos conquistados, o perfil dele foi de profissional motivador de elenco e psicologia para ajudar atletas em soluções de problemas internos e fora de campo.

Seria exagero rotulá-lo como treinador estrategista ou quem achava alternativas mais viáveis nas montagens de equipes. Isso ficou devidamente demonstrado na curta passagem pelo Guarani, quando foi demitido. Apesar disso, chegou a ser contratado para comandar o Flamengo em 2002, mas não suportou resultados desastrosos e acabou desligado do clube.

Por isso apenas se encaixou no bordão criado pelo falecido treinador Eli Carlos, de que 'o certo é aquilo que dá certo no futebol”. Eli foi auxiliar técnico e comandante no Guarani, clube em que também exerceu a função de supervisor e posteriormente migrou-se a grupos que atuam como empresários no futebol. Os outros cinco treinadores falecidos em um ano, com andanças pelo futebol paulista, foram José Luiz Carbone, pouco antes da virada do ano passado; Marcelo Veiga, vítima de Covid-19; Luiz Carlos Ferreira, o Ferreirão; Oswaldo Alvares, o Vadão, e Flamarion.

Coincidência ou não, todos tiveram passagens pelo Guarani, sendo que Carbone dirigiu a equipe que chegou à final do Paulistão de 1988, e ficou com o vice-campeonato na disputa com o Corinthians.