segunda-feira, 30 de maio de 2011

Geovani, vitória na saúde


Existem dores n'alma que machucam mais que a dor física. Imaginem o drama vivido e superado pelo ex-meia Geovani Faria de Silva, do Vasco da Gama, que ficou quase um ano em uma cadeira de rodas? Aquelas pernas que lançaram atacantes com precisão ficaram sem coordenação motora no final de 2006, vítima que foi de uma doença chamada polineuropatia. Na literatura médica é uma inflamação de múltiplos nervos das pernas provocada por diabetes, alcoolismo ou até mesmo hereditária. A falta de controle muscular aumenta o risco de quedas, e exatamente por isso Geovani fez uso de uma bengala quando o tratamento fisioterápico começou a dar resultados e possibilitou que voltasse a andar.

Esse histórico foi detalhado durante visita do jogador ao Estádio São Januário, antes dos jogos do Vasco contra o Avaí pela fase semifinal da Copa do Brasil. Na equipe cruzmaltina foram registrados os melhores momentos da carreira dele como jogador de futebol, que ganhou embalo a partir de 1982, quando trocou a Desportiva capixaba pelo Vasco sem ainda ser profissionalizado.

Em 1983, aos 19 anos de idade, 1,68m de altura, Geovani foi um dos destaques da seleção brasileira sub-20 na conquista do título mundial. Na época incorporava a verdadeira função do meia-esquerda, ao organizar jogadas de ataque e municiar principalmente seu companheiro Bebeto. Nas cobranças de falta, geralmente a bola passava pela barreira e dificultava defesas dos goleiros.

No Vasco ainda jogou com Romário, Roberto Dinamite, Mazinho, Paulo Roberto e Mauricinho, entre outros. Em 1988 foi relacionado pelo então técnico Carlos Alberto Silva aos Jogos Olímpicos de Seul, Coréia do Sul, conquistando a medalha de prata após derrota para a extinta União Soviética por 2 a 1. Também integrou a seleção principal em 23 partidas.

Geovani ficou no Vasco até 1989, quando apostou no sucesso da carreira na Itália, no Bologna. Ledo engano. Jogou num time com características defensivas durante um ano e sucumbiu. Outra experiência desastrosa foi no Karlsruher da Alemanha, o que resultou no retorno ao Vasco em 1993.

A partir daí já não manteve regularidade e foi mais um dos nômades do futebol: Tigres do México, Paulista de Jundiaí (SP), XV de Jaú (SP), novamente na Desportiva, Linhares, Serra e Vilhavelhense. A carreira de atleta profissional foi encerrada em 2002. Depois foi eleito deputado estadual, e agora ocupa a função de sub-secretário de Esportes do Espírito Santo. Ele ainda sonha volta a 'bater uma bolinha'.

Dramas de jogadores aflitos são revelados rotineiramente, um deles o lateral-direito Maílson do Bahia, nos anos 90. Ele sofre de doença degenerativa que complica movimentos de mãos, pernas e afeta a fala. E continuam as campanhas para custeio de sessões de fisioterapia, fonoaudiologia e compra de medicamentos.

Abel Braga, vitória da persistência


O técnico Abel Carlos da Silva Braga desliga-se do Al-Jazira dos Emirados Unidos no dia 8 de junho, quando acaba o seu vínculo. O desafio, a partir daí, será resgatar o bom futebol do Fluminense. E mais uma vez será persistente. Foi assim que atingiu sucesso quer como jogador, quer como treinador.

Abelão, como é identificado no futebol, vai completar 59 anos de idade no dia primeiro de setembro, sendo 43 deles vividos no mundo da bola. Se desse ouvido a conselheiros corneteiros das Laranjeiras - estádio do Fluminense - sequer teria continuado no time juvenil, porque era chamado de "grosso". Enxergavam nele apenas virtudes no jogo aéreo.

Na auto-avaliação, Abel reconhecia que precisava melhorar a cobertura, antecipação e desarme. Assim, com determinação, teve a recompensa ao ser fixado no time principal do Fluminense até 1976, quando se transferiu ao Vasco.

Em São Januário, Abelão sabia do histórico do clube em montar times com zagueiros de destaque, casos de Orlando Peçanha, Belini, Brito, Miguel e Moisés. A rigor, o Vasco teve anos dourados na década de 70. Em 1974, treinado por Mário Travaglini, foi o primeiro carioca a sagrar-se campeão brasileiro, num time que tinha Andrada; Fidélis, Miguel, Moisés e Alfinete; Alcir; Zanata e Ademir; Jorginho Carvoeiro, Roberto Dinamite e Luís Carlos. Na vitória por 2 a 1 sobre o Cruzeiro, Jorge Carvoeiro marcou o gol do título, e morreu anos depois.

Abel foi um dos responsáveis pela inigualável performance da defesa do Vasco. Em 1977, por exemplo, o time sofreu só cinco gols em 28 jogos. Consta nos acervos do clube súmulas com a seqüência de 17 partidas sem sofrer um gol sequer.

Cláudio Coutinho (já falecido), então treinador da Seleção Brasileira, admirava o futebol de Abel e o levou à Copa do Mundo de 1978, na Argentina, como reserva de Oscar. Houve quem alegasse que Abel era o típico zagueiro "limpa trilho", que só havia sido chamado porque jogava no Rio de Janeiro. Lembraram que apesar da escassez de bons zagueiros no futebol brasileiro, Osmar Guarnelli, no Atlético Mineiro, reunia mais condições.

Um ano após aquela Copa, Abel foi jogar no Paris Saint-Germain, da França. Nos três últimos anos de carreira o zagueiro atuou no futebol carioca. Em 1983/84 esteve no Botafogo. E em 1985 no Goytacaz.

Abel foi um jogador falante e liderança nata. Logo, transferiu essas virtudes à função de treinador. Consta em seu enriquecido currículo passagem pelo Olympique de Marselha, da França.

Nas últimas passagens pelo futebol do Rio de Janeiro ele colecionou título da Taça Guanabara e Campeonato Carioca pelo Flamengo, em 2004. Foi campeão regional pelo Fluminense em 2005. O ápice da carreira ocorreu em 2006 no Internacional (RS), culminando com conquistas da Libertadores da América e do Mundial de Clubes.



quinta-feira, 19 de maio de 2011

Chegamos!

Eduardo Mattos, meu mestre no jornalismo impresso, apanhou uma lauda que eu acabava de digitar na velha máquina de escrever Olivetti, após um jogo de futebol em 1978, mandou que eu fixasse bem nela, e a deixou cair no cesto de lixo no canto de sua mesa.

A justificativa pela reprovação do texto foi curta e grossa: “Que o Guarani ganhou por 2 a 0 todo mundo sabe. Que o time marcou um gol em cada tempo, também. Trate de procurar um gancho diferenciado que estimule o leitor. Que seja o complemento de uma informação ainda não explorada”.

Trinta e três anos se passaram e ainda ouço e leio matérias sobre futebol com abertura discorrendo sobre reapresentação de jogadores de tal time, dos treinos físicos, etc. Quanto desperdício!

E a proposta de ocupação deste espaço é no mínimo exigir reflexão ao caro internauta. Logo, não cabe aqui explanação sobre o óbvio e ululante. Arrogância a parte, meus cabelos brancos representam a multiplicação de incontáveis experiências de bastidores, a absorção de parte da sabedoria de treinadores extraordinários e o longo convívio com os artistas da bola.

Há 12 anos o destino reservou-me experiências em outros segmentos jornalísticos e sou grato pelo riquíssimo acervo ‘cravado na cachola’. Agora, de volta ao velho ninho, sugiro um tempo mínimo para readaptação, realinhamento, etc.

No ‘passeio’ diário pelo portal, o enfoque prioritário será a Série B do Campeonato Brasileiro. Claro que sugestivos assuntos da bola também serão apimentados.

Venha comigo!



Horários inconvenientes

Ditatorialmente a CBF impõe horários dos jogos do Campeonato Brasileiro da Série B? Talvez nem tanto. Quem consultar a tabela verá que durante o primeiro turno os horários são bem flexíveis: 16h20 aos sábados e às 19h30, 21h e 21h50 terças e sextas-feiras. Dito isso, a diretoria da Ponte Preta deve no mínimo uma explicação aos seus torcedores sobre programação de jogos noturnos em casa nunca antes das 21h, quando se sabe perfeitamente que o horário racional para jogos à noite é 19h30.

Há ingerência da televisão? Sim. Ela paga e tem o direito de ‘meter o bedelho’. Convenhamos também que alguns jogos de menor expressão poderiam ser marcados para as 19h30. Fora de casa, por exemplo, a Ponte vai jogar uma vez nesse horário: dia 19 de agosto em Natal (RN), contra o ABC. O torcedor pontepretano ainda é castigado pelo perverso horário das 21h50 em jogos contra Salgueiro (PE), Goiás e Ituiutaba (MG).

BUGRINO

O bugrino fiel igualmente vai dormir mais tarde na maioria dos jogos noturnos do clube no Estádio Brinco de Ouro. Restaram as minguadas partidas contra Duque de Caxias, dia 26 de julho, e Paraná Clube, 16 de agosto, com início às 19h30.

Pior ainda é a agenda de jogos do Americana. Ninguém merece programação às 21h em um sábado, no dia 7 de julho, contra o Ituiutaba (MG). Além disso, também vai jogar às 21h50 duas vezes: contra São Caetano, no dia 16 de junho, e Sport Recife, em 16 de agosto. Pra compensar, pelo menos duas vezes ele inicia jogos às 19h30: diante de Bragantino e Criciúma.



segunda-feira, 16 de maio de 2011

Perfumo, boa escola argentina

 “Los técnicos no son miedosos por sacar a los creativos. La cátedra se inquieta tres técnicos que predican buen fútbol sacan a la hora de los cambios a quienes juegan bien, si es que vale la expresión para los de buen, pie a quienes tratan bien la pelota. Los técnicos esta vez fueron Juan José López, Cappa y Schurrer”.
 Traduzindo do espanhol para o português, “os técnicos não têm medo de puxar a cadeira criativa. Está em causa três técnicos que pregam o bom futebol quando as mudanças para aqueles que jogam bem, se é uma boa expressão para a posição, que tratavam bem a bola. Os técnicos desta vez foram Juan José López, Cappa e Schurrer”.
 Essa breve introdução de texto é do ‘El Marechal’ Roberto Perfumo, que integra a equipe de colunistas esportivos do portal argentino ‘Olé’. Hoje, aos 68 anos de idade, esse ex-zagueiro mantém-se vinculado ao futebol com opiniões abalizadas. E fala com a autoridade de quem se aproximou da perfeição quando esteve em campo entre as décadas de 60 e 70. Saudosistas atestam que ele conciliou a indispensável raça portenha ao talento. Tinha velocidade para cobertura pelos lados do gramado e cálculo exato do tempo de bola para antecipação das jogadas. Também sabia acompanhar o bom balanço de atacantes habilidosos, para não se enganado facilmente.
 Perfumo fez história na seleção argentina a partir do Mundial de 1966 na Inglaterra, quando injustamente seu companheiro e volante Antonio Ratin foi expulso de campo pelo árbitro alemão Rudolf Kreitlein por reclamação, mesmo não entendo espanhol. Naquele selecionado jogou até 1974, ocasião em que integrou clubes como River Plate e Cruzeiro. Chegou a Belo Horizonte em 1971, e lá ficou durante quatro anos. A estatura de 1,79m de altura era aceitável a zagueiros da época. Além disso, tinha uma tremenda impulsão, e chegou precedido da fama dos argentinos revelarem zagueiros de bom nível técnico, contrastando com os vulneráveis Samuel e Demichelis na Copa do Mundo de 2010 na África do Sul.
 Aquela vinda de Perfumo ao Brasil foi num período em que a ‘imigração’ de portenhos havia crescido consideravelmente. Pode-se dizer que o saudoso zagueiro Ramos Delgado abriu a ‘porteira’ quando chegou ao Santos em 1967. Três anos depois ele ganhou companhia do compatriota Cejas, um goleiro que dispensa comentários. Um ano antes o Palmeiras apostou nos gols do artilheiro Luis Artime para conquistar títulos.
 Tal como outrora, hoje vê-se uma invasão de jogadores argentinos espalhados por clubes brasileiros. O título de melhor atleta do país para o meio Conca do Fluminense, ano passado, foi quase uma unanimidade. Os meio-campistas Guiñazu e D’Alessandro caíram nas graças da galera do Inter (RS) pela volúpia nas disputas de bola. Já o Cruzeiro, bem sucedido com argentinos, conta com o meia Montillo.



segunda-feira, 9 de maio de 2011

Luizinho, o driblador

Se você é zagueiro, diga o que faria se um atacante adversário aplicasse dribles consecutivos, colocasse a bola entre as suas pernas - a chamada caneta - e, por fim, no maior estilo provocador, sentasse literalmente na bola?

Saiba que Luizinho, o ‘Pequeno Polegar’, levou a torcida corintiana ao delírio quando humilhou o zagueiro argentino Luis Villa, do Palmeiras, há 59 anos, exatamente numa jogada como a descrita. Saiba que em outras dezenas de vezes arrancou aplausos dos torcedores pela identificação com o drible e assumia o rótulo de arrogante. "Não sou atleta para jogar para público inferior a 30 mil torcedores".

Foi Luizinho o autor do gol do título corintiano do 4º centenário da cidade de São Paulo, em 1954, no empate em 1 a 1 com o Palmeiras, na penúltima rodada do Campeonato Paulista, que se arrastou até o mês de fevereiro de 1955.

Na época, a cidade de São Paulo tinha 2,5 milhões de habitantes e os bondes corriam sobre trilhos. O Timão precisava do empate e, ao consegui-lo, sua torcida entoou o coro "Corinthians, campeão dos campeões", obra de Osny Silva. O time, comandado pelo técnico Oswaldo Brandão – já falecido -, era formado por Gilmar (Cabeção), Homero e Olavo; Roberto, Idário e Goiano; Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Simão.

A identificação de Luizinho com o Corinthians vinha da adolescência quando jogava no Maria Zélia, time da várzea paulistana, e freqüentava o Estádio Parque São Jorge para se espelhar nos atacantes Teleco e Servílio. Teleco marcou 243 gols em 234 partidas.

O apelido de ‘Pequeno Polegar’ é decorrente da estatura de 1,67m de altura. Com 55 quilos, rápido e ágil, evitava choques com zagueiros gandalhões. E assim deu seqüência à carreira até 21 de setembro de 1967, na vitória por 4 a 0 sobre o Bragantino (SP).

E quando pendurou as chuteiras não se separou do futebol. Continuou ligado ao Corinthians como funcionário, e por três vezes foi chamado para desempenhar as funções de técnico tampão da equipe. "O Corinthians me deu tudo e eu dei minha vida pelo clube".

Luizinho foi um baixinho encardido. Em 1957, num jogo amistoso com o São Paulo, discutiu asperamente com o atacante Gino, do Tricolor, ofendeu a mãe dele, e o revide foi sintomático.

Aparentemente, o bate-boca parecia restrito ao gramado, mas bastou se encontrarem casualmente na residência do jogador Alfredo - amigo comum de ambos - para, surpreendentemente, Luizinho atirar um tijolo na cabeça de Gino. O corte foi profundo, esguichou bastante sangue, e o fato ganhou manchete de jornais. Aí, o apresentador de televisão Manoel da Nóbrega, que tinha um programa com propósito de reconciliar desafetos, os recolocou frente a frente diante das câmeras, e eles se abraçaram como velhos amigos.

Luiz Trochillo nasceu no dia 3 de março de 1930 e morreu em 1998.




segunda-feira, 2 de maio de 2011

Bons tempos dos marqueteiros da bola

Paradoxalmente, num período em que o marketing se infiltrou com peso no futebol, os boleiros perderam a criatividade de outrora e poucos se arriscam a sacadas que visam promover determinados jogos. Alguns propagam ódio com manifestações dispensáveis em twitter. Infelizmente saíram de cena atletas que faziam a saudável provocação e com isso o futebol perdeu um pouco de seu glamour. Eram autênticos marqueteiros que propagavam apostas atrativas, como aquela em que o zagueiro Juninho, da Ponte Preta, teve que carregar nas costas o atacante Serginho, do São Paulo, de gol a gol.

O fato ocorreu em 1981 no Estádio do Morumbi, na partida entre aqueles clubes pelo Campeonato Paulista. A Ponte ganhou por 2 a 1, mas foi Serginho quem saiu sorrindo ao ganhar a aposta que consistia em marcar gol sobre o zagueiro. Claro que esse ingrediente motivou ainda mais o público.

Naquele mesmo ano Serginho e o volante Chicão – já falecido – também toparam outro desafio de um deixar sua marca de artilheiro e o outro de impedir o gol. Estava em jogo o corte da vasta cabeleira black power do atacante ou o preservado bigodão do volante, que na época havia trocado o Tricolor pelo Santos. E com um Morumbi lotado, Chicão torceu o nariz quando o ponteiro-direito são-paulino Paulo Cesar Capeta sofreu pênalti e Serginho se habilitou à cobrança. E após o gol, com a natural provocação do ganhador da aposta, Chicão chiou: “Gol de pênalti não vale nessa aposta!”.

Serginho não polemizou, convicto que outras chances de gols surgiriam. Na sequência, ao ser lançado, protegeu a bola ao seu estilo, girou e marcou seu segundo gol no jogo. “Esse valeu, Chicão?”, debochou. Final: São Paulo 3 x 2 Santos, com um gol de cabeça de Chicão.

César Maluco, Dadá Maravilha, Túlio e Vampeta também colocavam mais combustível na fogueira com alfinetadas e promessas de gols. Dadá exaltava sua virtude de cabeceador: “Só três pessoas param no ar: helicóptero, beija-flor e Dadá”. E promovia jogos com promessas de gols, um deles o ‘Fepasa’ nos tempos de Ponte Preta. Era uma homenagem ao torcedor ‘durango’ que assiste jogos na linha do trem, num morrinho atrás do gol da cabeceira sul do Estádio Moisés Lucarelli.

César Maluco, atacante do Palmeiras na década de 60, também prometia gols e corria ao alambrado quando cumpria. Por quê maluco? Quem teria coragem de pegar a única bola de um jogo contra o Corinthians e levá-la ao vestiário após ter sido expulso de campo, interrompendo a partida por alguns minutos?

Tal como no seu período áureo no futebol, Túlio ainda se diverte em seu site oficial com frases do tipo “Túlio e a bola são duas almas que se advinham no recanto nada poético da grande área. Ele, sereno, glacial. Ela, chegando dissimulada para a trama final que fulminará o goleiro sem dó e nem piedade”.