segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Alzheimer matou três ex-boleiros em 2010

 Há seis anos, por ocasião da morte do talentoso zagueiro argentino Ramos Delgado, num três de dezembro, publiquei texto sobre esse maldito Mal de Alzheimer que varre a memória das pessoas. Agora, é oportuno recapitulá-lo, visto que dezembro é mês de fraternidade, retrospectiva e reflexão.

 Quem tem memória razoável vai se lembrar que o Alzheimer castigou e originou mortes - além de Ramos Delgado - de ex-jogadores como Waldemar Carabina e Francisco Sarno naquele 2010. Na maioria das vezes, o drama começa com a procura de um objeto mantido no lugar costumeiro e depois se agrava gradativamente.

 O argentino Ramos Delgado, que morreu aos 75 anos de idade, deixou história de cinco anos na Vila Belmiro, entre as décadas de 60 e 70, como absoluto da camisa três do Santos. Também fez parte daquela geração o vigoroso zagueiro palmeirense Waldemar Carabina, que morreu na noite do dia 22 de agosto, aos 78 anos de idade. Carabina gabou-se de ter anulado Pelé em algumas partidas: "Poucos o marcaram tão bem quanto eu".

 Da turma da bola, Sarno foi a primeira vítima daquele ano com complicações do Mal de Alzheimer. Morreu em 17 de janeiro na capital paulista, aos 86 anos de idade, deixando biografia de zagueiro clássico, treinador supersticioso e ousadia para escrever o livro “A Dança do Diabo”, que revela desmandos no futebol dentro e fora dos gramados. Como atleta passou por clubes como Botafogo (RJ), Vasco, Palmeiras e Santos. Como treinador comandou Corinthians, Coritiba, Atlético (PR), Guarani e Ponte Preta. No Guarani, em meados da década de 60, tinha o hábito de carregar uma toalha durante os jogos, e a usava para indicar o canto que o goleiro de seu time deveria arriscar em cobranças de pênaltis para o adversário, colocando-a na mão direita ou esquerda. E se o goleiro contrariasse a sua instrução seria sacado do time.

 Urubatão Calvo Nunes, natural do Rio de Janeiro, não foi um jogador de futebol acima da média nos tempos do grande Santos das décadas de 50 e 60, quer na zaga, quer no meio-de-campo. Também foi um treinador apenas razoável e morreu no dia 24 de setembro, aos 79 anos de idade, vencido por um tumor cerebral e outro no pulmão.
 Ainda em 2010 morreu Washington Luiz de Paula, aos 57 anos de idade, em decorrência de complicação renal. Ele foi revelado pelo Guarani e apontado como provável sucessor de Pelé.


Do Inter do saudoso Fernandão só restou lembança

Esteja aonde estiver, de certo o saudoso meia-atacante Fernando Lúcio Costa, o Fernandão, deve estar perplexo com aquilo que fizeram com o seu Internacional portoalegrense, pela primeira em sua história rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro.
Quanta discrepância técnica do time colorado do tempo em que ele atuava comparativamente ao atual, com atletas do nível do zagueiro Paulão, lateral-esquerdo Gefferson, volante Rodrigo Dourado e atacantes Eduardo Sascha e Nico Lopez.
Paradoxalmente, daquele time que conquistou o mundo em 2006, com Fernandão como capitão, conseguiram transformá-lo em chacota dos rivais gremistas. Mais ainda: do orgulho a dor profunda, como verificado após consumado o rebaixamento da equipe neste 11 de dezembro, depois do empate por 1 a 1 com o Fluminense.
Há dez anos, um 17 de dezembro em Yokohama, no Japão, Fernandão levantou a taça de campeão após o Inter vencer o favorito Barcelona de Ronaldinho Gaúcho por 1 a 0, gol do meia Adriano Gabiru aos 36 minutos do segundo tempo, após passe do atacante Iarley. Curiosamente, o contestado Gabiru pelo torcedor colorado havia entrado em campo cinco minutos antes, em substituição a Fernandão, com câimbras.
Na época, comandado pelo treinador Abel Braga, o time do Inter contou com Clemer; Ceará, Fabiano Eller, Índio e Rubens Cardoso; Wellington Monteiro, Edinho, Alex (Vargas) e Fernandão; Iarley e Alexandre Pato.
Fernandão sabia explorar a estatura de 1,90m para marcar gols de cabeça, além do reflexo apurado para definição das jogadas ofensivas. Naquela decisão, o desempenho dele foi tímido, mas ele explodiu de emoção a ponto de sequer admitir troca de camisa com qualquer adversário. “Esta camisa simboliza um troféu a ser guardado pelo resto da vida”, justificou na ocasião.
O que jamais se presumia era que a vida dele fosse abreviada aos 36 anos de idade no dia sete de junho de 2014, quando morreu em Goiás, vítima de acidente de helicóptero que transportava cinco pessoas. Apesar de resgatado com vida, morreu no hospital, e a equipe do SporTV não pode contar com os comentários dele na Copa do Mundo realizada no país.

Ficou, portanto, a história dele como atleta de Inter, Goiás, São Paulo, Olympique de Marselhe e Toulouse da França e Al-Gharlafa do Catar. Foi treinador e gerente de futebol no próprio Inter, e pretendia seguir nessas funções.

Calou pra sempre a voz do talentoso atleta e comentarista Mário Sérgio

Morreu Mário Sérgio Pontes de Paiva, o Vesgo, no acidente de avião que vitimou a delegação da Chapecoense, na Colômbia. Morreu aquele que, enquanto boleiro, olhava para um lado e tocava a bola para o outro. Aquele que, enquanto treinador, não paparicava boleiro. No seu time tinha camisa apenas aqueles que cumpriam regiamente as determinações.
Como comentarista de televisão, não tinha papas na língua. Era reconhecido como um dos comentaristas esportivos que mais ‘sacavam’ futebol nesse país. Falava exatamente aquilo que pensava. Em 1994, corajosamente falou que a Seleção Brasileira entrava em campo com dez jogadores com a escalação do volante Dunga. A justificativa era que o então atleta já não tinha vigor físico de outrora para o desarme, porque tecnicamente tinha limitações.
 Exagero ou não, Dunga levantou o caneco como capitão do Brasil naquela Copa do Mundo nos Estados Unidos. Nem por isso Mário Sérgio diminuiu a capacidade de observação sobre o ex-volante.
 No Flamengo, a partir de 1969, já driblava e lançava. No Vitória da Bahia deixava companheiros na cara do gol e também fazia os seus golzinhos. E isso se repetiu no Fluminense, Botafogo (RJ), São Paulo, Inter (RS), Ponte Preta, Grêmio e Palmeiras, sempre com a camisa 11 e desempenhando a função de falso ponteiro-esquerdo.
Três passagens são marcantes na carreira dele. Em 1979, quando jogava no São Paulo, ganhou apelido de ‘rei do gatilho’. Intolerante e imprudente sacou o seu revólver e deu alguns tiros para o alto para assustar torcedores do São José, no Vale do Paraíba, que se manifestavam na saída da delegação são-paulina do Estádio Martins Pereira.
 No Grêmio portoalegrense, trazido pelo treinador Valdir Espinosa, foi campeão do mundo em 1983 na vitória por 2 a 1 sobre o Hamburgo, no Japão. No Palmeiras foi flagrado em exame antidoping e ficou suspenso durante seis meses. Ainda em 1983, contratado pela Ponte Preta, jogou ao lado dos talentosos Dicá e Jorge Mendonça.
 Mário Sérgio ainda enveredou para a carreira de treinador. Estudioso e bagagem assimilada com bons treinadores recomendavam nova carreira brilhante, mas patinou nas passagens por Corinthians e São Paulo. O perfil de comandante enérgico não permitiu que prosperasse na carreira, alongada alternadamente até 2010 no Ceará.



sábado, 26 de novembro de 2016

Osvaldo foi campeão do mundo pelo Grêmio

 Revelado pela Ponte Preta no final da década de 70, o meia-atacante Osvaldo fez história no futebol com a camisa do Grêmio portoalegrense, ao sagra-se campeão do Mundial de Clubes na decisão contra o Hamburgo da Alemanha, no Japão, na vitória por 2 a 1, dois gols de Renato Gaúcho.

 Na ocasião, o Grêmio viajou para o oriente com uma semana de antecedência para adaptação do fuso-horário e condições climáticas. Campanha singular também realizou o time gremista na conquista do título da Libertadores, ao bater o Peñarol do Uruguai por 2 a 1, ocasião em que Osvaldo foi artilheiro da competição com seis gols, três deles na etapa semifinal nos quatro jogos contra Estudiantes da Argentina e América de Cali, da Colômbia. No total, o time gaúcho participou de 12 jogos na competição, tendo como time base esses jogadores: Mazaropi; Paulo Roberto, Baidek, Hugo De Leon e Casemiro; China, Caio e Tita; Renato Gaúcho, Tarciso e Osvaldo. Técnico: Valdir Espinosa.

 Osvaldo foi contratado pelo Grêmio em 1982 após ter marcado o gol da vitória da Ponte Preta por 1 a 0, no confronto entre ambos pela fase semifinal do Campeonato Brasileiro, em partida que marcou recorde de público no Estádio Olímpico, em Porto Alegre, com 85.751 pagantes, e classificação à final dos gremistas nos critérios de desempate.

 Apesar da estatura apenas mediana, caixa torácica avantajada, Osvaldo tinha habilidade na condução da bola, raciocinava rapidamente sobre a forma mais precisa para definir as jogadas, e os gols saíam em abundância.

 Quando deixou o Grêmio em 1986, Osvaldo manteve o rendimento atuando pelo Santos na temporada seguinte, na conquista do título paulista, num time formado por Rodolfo Rodriguez; Raul, Nildo, Toninho Carlos e Luizinho; César Sampaio, Osvaldo e Mendonça; Osmarzinho, Chicão e Éder Aleixo.

 Depois disso não repetiu o desempenho nas passagens por Vasco, Coritiba, Comercial de Ribeirão Preto e novamente Ponte Preta, quando encerrou a carreira em 1992. Incontinenti ele retornou à sua cidade natal, Santa Bárbara d’Oeste, e se estabeleceu como empresário no ramo de auto-peças e oficina mecânica.

 Em entrevista ao portal Súmula-Tchê (A História do Futebol Brasileiro), dia 17 de outubro de 2012, questionado se é mais fácil jogar futebol hoje ou no seu tempo de atleta, Osvaldo Luiz Vital foi enfático: “Hoje qualquer Zé Mané consegue jogar em um bom time se tiver um bom empresário”.


 Em janeiro próximo Osvaldo vai completar 58 anos de idade, tem sonho de ainda ingressar na carreira de treinador, e aproveita os finais de semana para jogar futebol com os veteranos do Bocha do Padre, em Santa Bárbara d’Oeste. 

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Corinthians provocou cai-cai há 40 anos

 O radialista Milton Neves, do complexo de rádio e televisão Bandeirantes-SP, criou o bordão ‘apito amigo’ para explicitar benefícios de arbitragens ao Corinthians. Logo, a sacada passou a ecoar por esse Brasil afora quando claramente a ‘juizada’ ajuda o time corintiano.

 A história mostra que nem sempre foi assim. O Corinthians já teve tremendo prejuízo de arbitragem até na condição de mandante. Reflexo de flagrantes erros do então árbitro Alfredo Gomes, há 40 anos, foi o cai-cai provocado em jogo contra o Guarani pelo Campeonato Paulista. O Timão abandonou o gramado do Estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, em partida disputada no dia 14 de agosto de 1976, com renda de 175.765 cruzeiros, para um público de 9.013 pagantes e 901 menores que entraram gratuitamente.

 A recapitulação desse tenebroso dado histórico substitui, nesta edição, a descrição unitária de personagem, como de praxe. Provavelmente seja de desconhecimento da maioria que um dia o Corinthians se submeteu a esse vexame e foi penalizado no TJD (Tribunal de Justiça Desportiva) da Federação Paulista de Futebol com a perda dos pontos e placar considerado como 1 a 0 para o Guarani.

 Na edição do dia posterior do finado jornal impresso A Gazeta Esportiva, a manchete foi ‘Timão abandona o campo’. O conteúdo daquele material, textualmente, foi o seguinte: ‘Desculpem. Foi uma palhaçada. Complica-se ainda mais o panorama do futebol paulista.

 Alfredo Gomes - juiz que levou pedradas em Piracicaba - não deu um penal em Tião. Depois expulsou Edson, do Guarani. Posteriormente, mandou Zé Maria, Adilson e Ruço para fora de campo. Imediatamente, Adãozinho e Wladimir ficaram contundidos, o Corinthians ficou sem número legal de jogadores para continuar na partida - que faltava apenas 15 minutos para terminar -, empatada em 1 a 1, com Geraldão abrindo o placar para o Corinthians, aos 11 minutos, e Flecha empatando para o Guarani, aos 39 minutos do primeiro tempo’.

 Se o jornal da capital paulista evitou ser incisivo nas simulações de contusões de Wladimir e Adãozinho, na prática ambos simularam. Na época eram permitidas apenas duas substituições por equipe, e o Corinthians já havia esgotado a sua cota. Como a equipe ficou reduzida a seis jogadores, o juiz esperou 15 minutos pela recuperação dos ‘contundidos’ e, como ambos não retornaram ao campo de jogo, a partida foi dada por encerrada.

 Eis o time do Corinthians: Sérgio; Zé Maria, Darcy, Cláudio e Wladimir; Ruço e Tião (Helinho); Ivã (Zé Eduardo), Adílson, Geraldão e Adãozinho. Técnico: Duque.

 Equipe do Guarani: Neneca; Mauro Cabeção, Amaral, Edson e Caíca; Flamarion e Brecha (Renato); Flecha, Zenon, André Catimba e Ziza (Nelson). Técnico: Diede Lameiro.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Boiadeiro agora só no pasto

 Em 2013, aos 48 anos de idade, o meio-campista Marco Antônio Boiadeiro surtou literalmente. Projetou que as pernas ainda permitissem que voltasse a jogar profissionalmente no Tanabi, na quarta-divisão de profissionais do Estado de São Paulo. Aí, irremediavelmente teve que voltar às peladas com amadores de Monte Aprazível, cidade do interior paulista em que é proprietário de uma fazenda, fixou moradia, solta a voz em interpretações de músicas sertanejas, e revive a adolescência quando cuidava de gado.

 Só o fascínio pelo futebol explica o descuido dele ao aceitar contratos em equipes de menor expressão como Sãocarlense, Anápolis, Rio Branco de Americana e União Barbarense, onde encerrou a carreira em 2000. O final decadente contrastou com o apogeu no Vasco, Cruzeiro e Seleção Brasileira.

 No Vasco, a partir de 1989, comemorou o primeiro título na vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo, gol de Sorato, no Estádio do Morumbi. Ali jogou com Bebeto, Sorato, Luís Carlos Vinck, Mazinho e Bismarck, entre outros.

 No primeiro ano de Cruzeiro, em 1991, sob o comando do saudoso treinador Ênio Andrade, jogou nesse time: Paulo César Borges; Nonato, Paulão, Adilson Batista e Célio Gaúcho; Ademir, Marco Antônio Boiadeiro e Luiz Fernando; Mário Tilico, Charles e Marquinhos. No clube, foi bicampeão da Supercopa da Libertadores da América 91/92 e campeão da Copa do Brasil em 93. O desempenho refletiu em contratos no Flamengo, Corinthians e Atlético (MG), porém com rendimento inferior.

 Na Seleção Brasileira do técnico Carlos Alberto Parreira, em 1993, participou do Torneio US Cup nos EUA e Copa América, no Equador. Ao atingir a quinta partida, enfrentando a Argentina, o mundo desabou sobre a sua cabeça ao desperdiçar cobrança de pênalti que implicou na eliminação dos brasileiros, após empate em 1 a 1 no tempo normal.

 Aí recordou o trauma da perda do título do Campeonato Brasileiro de 1986 pelo Guarani, quando perdeu pênalti na final contra o São Paulo em Campinas, na definição através desse experiente, após empate por 3 a 3 no tempo normal e prorrogação.

 O apelido de Boiadeiro se justifica porque no lombo de um cavalo conduzia a boiada nos pastos de Américo Campos, cidade paulista onde nasceu. E usava traje a caráter: bota de fivela, chapéu, calça apertada e cinturão. Foi assim que apareceu no Estádio Santa Cruz, do Botafogo de Ribeirão Preto (SP), para participar de treino peneira. E orgulha-se de ter sido o único aprovado na relação de 39 garotos, em meados da década de 80.

 No time principal do Botafogo juntou-se aos também novatos Raí e Peu, e ao experiente Mário Sérgio, em 1985. O segundo passo foi no Guarani onde a carreira deslanchou.





Carlos Alberto Torres

Carlos Alberto Torres

domingo, 23 de outubro de 2016

Segundo ano da morte do treinador Nenê Boteco

 Este 29 de outubro marca o segundo ano da morte do meio-campista, treinador e pernambucano de Guararapes Érico de Paula Coelho Filho, conhecido no mundo do futebol como Nenê Boteco. Aos 70 anos de idade, ele foi tão castigado por um câncer que a sua filha Bruna pediu misericórdia a Deus, citou o jornal Diário de Marília, na ocasião.

 Nenê Buteco foi um meia-de-armação nos tempos em que jogadores dessa posição eram adaptados com facilidade à de volante. Alguns outros exemplos foram Nair e Dino Sani no Corinthians, Lorico no Botafogo de Ribeirão Preto e Zé Carlos no Cruzeiro.

 Naquele time são-paulino campeão paulista em 1970, quebrando um jejum de 13 anos sem conquista, Nenê ainda era meia, reserva de Gérson. E aquele título foi conquistado no Estádio Brinco de Ouro, em Campinas, na vitória por 2 a 1, de virada, sobre o Guarani, com Toninho Guerreiro e Paulo Nani marcando para os são-paulinos, enquanto Wagninho abriu a contagem para o Bugre. O jogo foi realizado no dia nove de setembro, com público de 17.766 pagantes.

 Curiosidade: mais da metade dos envolvidos naquela disputa já morreram. Do time são-paulino de Sérgio; Forlan, Jurandir, Roberto Dias e Gilberto Sorriso; Edson Cegonha e Nenê; Paulo Nani, Terto, Toninho Guerreiro e Paraná, já partiram Jurandir, Dias, Edson, Nenê, Toninho e o treinador Zezé Moreira.

 Entre os bugrinos daquele time, Wilson Campos, Tininho, Ferrari, Hélio Gigliolli, Wagninho, Capelosa e Wanderlei já faleceram, além do treinador Armando Renganeschi. Estão vivos Tobias, Cidinho, Milton dos Santos e Caravetti.

 Nenê Boteco enfrentou o período de ‘vacas magras’ no futebol do São Paulo, ao chegar ao clube em 1965. É que a diretoria priorizou o acabamento da construção do Estádio do Morumbi, e o time só voltou aos trilhos na década de 70, com Nenê participando do bicampeonato paulista.

 Inacabado, o Morumbi foi inaugurado dia dois de outubro de 1960, na vitória são-paulina sobre o Sporting de Portugal por 1 a 0, gol de Peixinho. Com obras concluídas em janeiro de 1970, o estádio chegou a comportar público recorde de 146.072 torcedores na decisão do paulista de 1977 entre Corinthians e Ponte Preta. Hoje, por medida de segurança, a capacidade foi reduzida para 72.032 torcedores.

 Após o bi no Tricolor, com registro de 263 partidas, Nenê passou por Náutico, São Bento - clube que se identificou e entrou na galeria de meio-campistas respeitáveis como Bazzaninho, Raimundinho e Gatãozinho -, Marília e Operário de Campo Grande (MS). Tinha característica de jogador combativo, mas sabia organizar jogadas.


 Como treinador passou, entre outras equipes, por São Bento, Atlético Sorocaba e Marília. Havia sido hospitalizado por causa de AVC (acidente Vascular Cerebral).

Cláudio Duarte, carreira curta como jogador

 Outrora a inconsequência de dirigentes de futebol de grandes clubes implicava até na entrega do comando técnico de uma equipe para um ex-jogador com incompletos 27 anos de idade. O caso em questão ocorreu no Inter portoalegrense em 1978, quando Cláudio Roberto Pires Duarte substituiu Carlos Gainete por quatro meses, quando a previsão inicial era interinidade de uma semana até a escolha do substituto.

 O presidente do clube colorado na ocasião, Marcelo Feijó, se baseou no espírito de liderança de Cláudio Duarte enquanto jogador para a aposta naquela ocasião. E o profissional, que bem assimilou a rigorosa disciplina de seu antigo mestre Rubens Minelli, saiu vitorioso naquela empreitada com a conquista do título regional, mas apesar disso preferiu migrar para a função de supervisor no ano seguinte, visando ganhar mais experiência em funções fora de campo.

 Em 1983, quando se sentiu suficientemente amadurecido para a trajetória de treinador em outro clube, Cláudio Duarte aceitou proposta do Guarani e fracassou. De prático, na passagem por Campinas, apenas a ousadia pelo lançamento do então garoto Neto, 16 anos, ponta-de-lança promissor, na equipe principal.

 Demitido pelo Guarani, o jeito foi transitar novamente pelo Inter, intercalando passagens no rival Grêmio, na maioria dos 12 anos sebsequentes. Depois se encorajou para enfrentar novos desafios em outros Estados, passando por Avaí, Criciúma, Fluminense, Paraná, Juventude, Gama (DF), Ceará e Brasil de Pelotas (RS), seu último clube em 2009.

 Esse gaúcho de São Jerônimo, nascido em nove de maio de 1951, foi mais um daqueles garotos do futsal bem aceitos no futebol, inicialmente nos juvenis do próprio Inter (RS) em 1968. Três anos depois já estava profissionalizado, deslocado da função de volante à lateral-direita e apoiado integralmente pelo treinador da época, Daltro Menezes, que da base lançou, ainda, Escurinho, Flávio, Jangada, Luiz Carlos e Carpegiani.

 Na época, identificado apenas pelo prenome Cláudio, o jogador alternava elogios pela garra e determinação como marcador. Também usufruía da estatura de 1,84m de altura para fazer cobertura dos zagueiros no miolo da área em bola aérea. Apesar disso enfrentava críticos ácidos pela lentidão, e era caracterizado por eles como ‘cintura dura’.

 Assim, o jeito foi se aplicar para progredir e fazer jus às companhias de lendários jogadores que conquistaram o bicampeonato brasileiro de 1976. Eis o time da época: Manga; Cláudio, Marinho, Figueroa e Vacarias; Caçapava, Falcão e Jair; Valdomiro, Dario e Lula.


 A partir daí, frequentes inchaços no joelho e duas cirurgias começaram a travar a carreira. O pós-jogo era no Departamento Médico com gelo local e trabalho de fisioterapia para fortalecimento. Logo, os treinos foram prejudicados e, em consequência, queda de rendimento. Por isso, já não descartava a hipótese de encerrar a carreira.

domingo, 9 de outubro de 2016

Oito anos sem o volante Chicão

 Passou batido pela maioria que o dia oito de outubro passado marcou o oitavo ano na morte do piracicabano de sotaque caipira carregado no ‘erre’ Francisco Jenuíno Avanzi, o volante Chicão, 59 anos de idade, vítima de câncer no esôfago, e que já havia trocado o vasto bigode pelo rosto lambido.

Ele se consagrou no São Paulo sem realizar o sonho de ser treinador de grandes clubes, após experiências no XV de Piracicaba, Inter de Limeira, Clube Atlético Montenegro e Paranapanema, todos do interior de São Paulo.


 Histórias não faltariam aos subordinados, a começar pela perseverança na carreira que se arrastou até 1986, aos 37 anos de idade, como condutor da campanha de acesso do Mogi Mirim ao Paulistão. Ele diria que na decisão do Campeonato Brasileiro pelo São Paulo contra o Galo mineiro, maldosamente pisou na perna quebrada do meia Ângelo (já falecido) só por suspeitar que estivesse fazendo cera. Contaria que certa ocasião entrou em uma loja da cidade de São Paulo e, ao pagar a conta, preencheu o extenso do cheque incorretamente duas vezes, ao grafar a palavra sessenta cruzeiros. Assim preferiu assinar dois cheques de trinta cruzeiros para liquidar o assunto.

 Chicão foi o xerife que colocava ordem na casa. Nos tempos em que a ‘juizada’ hesitava mostrar cartão amarelo ou vermelho para jogadas violentas, ele apelava sem dó.

 Quando lançado pelo treinador Cilinho no XV de Piracicaba já era jogador viril. No interior paulista passou pelo União Barbarense, São Bento e Ponte Preta até chegar ao São Paulo, em 1973, atuando ao lado de Waldir Peres, Gilberto Sorriso, Pedro Rocha e Serginho Chulapa. Sagrou-se campeão paulista em 1975 e do Brasileiro em 1977.

 Provocativo, tentou intimidar o ex-árbitro José de Assis de Aragão antes do clássico do Tricolor com o Palmeiras em 1976, e recebeu o cartão amarelo antes do início da partida. “Cheguei pro Aragão e disse: ‘Vê se apita direito essa porcaria’”, confessou.


 Também jogou no Atlético Mineiro, Santos e Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Na véspera do jogo contra os anfitriões, o técnico Cláudio Coutinho (já falecido) lhe chamou num canto e comunicou que seria escalado ao lado do gaúcho Batista para reforçar a marcação do meio-de-campo.

- Chicão, você vai jogar do jeito que está acostumado no São Paulo. Só tome cuidado para não ser expulso - alertou Coutinho.
 
Mal o treinador virou às costas, Chicão confidenciou aos companheiros: “Vou chegar arrepiando e esses gringos vão se encolher”.

 Na prática, foram apenas algumas ‘entradas’ intimidadoras sobre adversários. Naquele empate sem gols ele jogou muita bola. Na sequência da competição, em desvantagem no critério saldo de gols, os brasileiros perderam a vaga para os platinos. 

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Lola, habilidade no campo e vida em sítio

 O ex-zagueiro Brito, tricampeão mundial pela Seleção Brasileira no México, tomou o drible mais estonteante na carreira de atleta quando defendia o Botafogo do Rio de Janeiro no dia três de outubro de 1973, portanto lá se vão 43 anos, naquele empate por 1 a 1 pelo Campeonato Brasileiro. Quem protagonizou dois dribles secos foi o então ponta-de-lança Lola que jogava pelo Guarani, em partida noturna no Estádio Brinco de Ouro, em Campinas.

Ainda no primeiro tempo, no gol dos portões de entrada, Lola dominou a bola pela meia-esquerda, quase na entrada da grande área, arrancou em direção de Brito, aplicou-lhe um drible seco por dentro, e, incontinente, outro por fora. E Brito, pernas bambas, desequilibrado, parecia um pugilista grogue que saiu catando cavaco.

 Lola desabrochou para o futebol no Atlético Mineiro, clube que defendeu de 1967 a 1973, e entrou para a história do Estádio Mineirão por ter marcado o milésimo gol. Não fosse fratura exposta de tíbia e perônio num jogo contra o Santos, em 1971, teria participação mais ativa na conquista do Campeonato Brasileiro daquela temporada pelo Galo mineiro, num time formado por Renato; Humberto Monteiro, Grapete, Vantuir e Oldair; Vanderlei e Humberto Ramos; Ronaldo, Lola, Dario e Tião. O treinador era o saudoso Telê Santana, que sempre recebia rasgados elogios de Lola: “Ele parecia um pastor dedicado às suas ovelhas”, ou “o ouro maior daquele grupo era o Telê”.

 Aquela final foi decidida num triangular, e de cara o São Paulo goleou o Botafogo por 4 a 1. Na segunda rodada, o Atlético ganhou do Tricolor paulista por 1 a 0, e podia jogar pelo empate na terceira rodada contra o Botafogo, mas venceu por 1 a 0, gol de Dario.

 Lola jogava muito. Logo, não devia ser considerado arrogante quando se autodenominava ‘meia-direita habilidoso’, ou ‘meio-campo criador’. A prática correspondia ao discurso. Certamente jamais poderia supor é que a partir da transferência ao Guarani se transformaria num nômade do futebol. Foram pouco mais de quatro anos no futebol mexicano defendendo América e Tigre, duas passagens pela Ponte Preta, Sport Recife, Inter de Limeira (SP), Grêmio Maringá e Botafogo de Ribeirão Preto, onde encerrou a carreira de atleta e fixou residência num sítio paradisíaco, se ocupando no trato aos animais e a vegetação.


 Paralelamente também desenvolve outras atividades como a de professor universitário em faculdade de educação física, comentarista de futebol em rádio, e olheiro do Galo mineiro. E já não é visto com aquele vasto bigode tipo mexicano, característico dos tempos de atleta no passado. Em janeiro próximo o senhor Raimundo José Correia vai comemorar 67 anos de idade.

domingo, 25 de setembro de 2016

Deu zebra, invenção de Gentil

  Dezenas de vezes você citou a palavra zebra ao deparar com resultado inesperado de um jogo de futebol, sem que se desse conta que foi o saudoso pernambucano Gentil Alves Cardoso criador da metáfora?


A velha guarda conhece de cor e salteado a história desse espirituoso treinador, que passou a usar o bordão zebra quando clubes pequenos do Rio de Janeiro ganhavam dos grandes na década de 40. Por que zebra? Porque não faz parte do jogo de bicho. É estranha na jogatina.

 Evidente que Gentil jamais poderia prever que a junção verbo e substantivo ‘deu zebra’ transcendesse a bola, e fosse usada invariavelmente em todos os segmentos.
 Por que o jogador talentoso é chamado de cobra? Eis aí outra metáfora inventada por Gentil Cardoso, um frasista por excelência. Ao exigir que o seu time trabalhasse a bola no chão, costumava dizer que ‘a bola é de couro, o couro vem da vaca, e a vaca gosta de grama; então, jogue rasteiro meu filho’. Também é dele a frase de ‘quem se desloca recebe, quem pede tem preferência’.

 Apesar da contribuição folclórica ao futebol, foram raríssimas as lembranças no 46º ano de sua morte, dia oito de setembro passado. Por sinal, ele não perdeu o bom-humor até internado no Hospital Central da Aeronáutica, no Rio de Janeiro. “Doutor, estou entrando na vertical. Vê se não saio na horizontal, porque técnico de futebol não pode trabalhar nessa posição”. E saiu de lá para o cemitério, deixando uma biografia de migrante negro vitorioso. Foi engraxate, garçom e motorneiro. Nunca foi jogador, mas ingressou na função de treinador do Bonsucesso nos anos 30.


 Quando apitava treino, dizia abertamente que reservas não ganhavam dos titulares. Se o caldo engrossava, arrumava um pênalti ‘mandrake’ e acomodava a situação. ‘Bola na bunda de time pequeno é pênalti’, brincava.
 Seu reino encantado foi o Rio de Janeiro, intercalando passagens pelos grandes clubes do Estado. Em 1946, contratado pelo Fluminense, deu um recado aos cartolas logo na chegada: “Se vocês me derem o Ademir (de Menezes), eu lhes darei o campeonato”. Dito e feito. O ex-vascaíno marcou o gol do título contra o Botafogo.
 Nos anos 50, treinando o Botafogo, lançou o ponteiro-direito Mané Garrincha. Na época fazia uso de megafone para se comunicar com os jogadores durante os treinos. Em seguida voltou a Recife, em troca de bons contratos, para comandar Sport, Santa Cruz e Náutico. E nos três clubes levantou o caneco. No futebol paulista treinou Ponte Preta e Corinthians. Passou ainda por Nacional do Equador e Sporting de Portugal.
 De volta ao Vasco, nos anos 60, estimulava a boleirada a cantar músicas de Roberto Carlos e Erasmo Carlos.

Orlando Fumaça, zagueiro estilo xerife no Vasco

 Décadas passadas, clubes de futebol tinham lá as suas manias nem sempre bem explicadas. O Vasco, por exemplo, não abria mão do tal xerife na zaga central. Foi assim nos anos 50 com o saudoso bicampeão mundial Belini com a Seleção Brasileira. Na década seguinte, uma dupla de zagueiros ‘limpa área’: Brito e Fontana. O xerifão dos anos 70 foi o botinudo e também saudoso Moisés. E histórias de zagueirões raçudos que fungavam no cangote de adversários se estendeu no elenco cruzmaltino pelo menos até meados da década de 80 com Orlando Monteiro do Nascimento Filho, o Orlando Fumaça.

 “Sou jogador viril, de chegar junto. Nunca divido pra perder. E não tenho vergonha de dar chutão pra frente”, avisou Orlando Fumaça quando se apresentou em São Januário para integrar o Vasco do artilheiro Roberto Dinamite em 1982, com defesa formada por Mazaropi; Galvão, Orlando Fumaça, Celso e Gilberto.

 De fato, Orlando Fumaça, 1,91m de altura, era soberano no jogo aéreo. No chão espanava a bola para o alto, e a devolvia de qualquer maneira ao campo adversário. Claro que não se importava em valorizá-la até quando a situação permitia. Logo, a constatação entre vascaínos era de um zagueiro apenas de vitalidade, características insuficientes às pretensões do clube. Assim, ele perdeu espaço por lá e teve que continuar a vida de cigano da bola no América de Rio Preto (SP) em 1983, com vínculo de três anos. Inicialmente integrou uma defesa montada com Moacir; Brasinha, Orlando Fumaça, Cardoso e Daniel. Posteriormente formou dupla de zaga com Jorge Lima, batizada de Fumaça e Faísca, respeitada por atacantes adversários.

 Logo, nem parecia aquele zagueiro oscilante de início de carreira no Goytacaz em 1978, levado pelo ex-lateral-esquerdo flamenguista Paulo Henrique. Igualmente na Ponte Preta, dois anos depois, não foi o substituto projetado para o zagueiro Oscar Bernardes, que havia se transferido ao New York dos Estados Unidos. No time campineiro, Orlando Fumaça participou de oito jogos consecutivos e depois perdeu a vaga para Juninho. Assim, acabou transferido ao Mixto de Cuiabá (MT) e Americano de Campos, antes da chegada ao Vasco.

 A regularidade no América resultou em interesse de Cruzeiro e Atlético Paranaense, que o levaram por empréstimo para edições do Campeonato Brasileiro. Até clubes de Portugal, como Boa Vista e Amarantes, também o levaram. Registro para esse histórico antes da escala descendente no futebol no interior paulista, passando por Matonense, Novorizontino, Tanabi e novamente América, onde encerrou a carreira em 1992. Motivo: contusão no ligamento cruzado do joelho direito.


 Natural Miracema (RJ), nascido em 30 de outubro de 1960, Orlando Fumaça fixou residência em Rio Preto e trabalha em venda de veículos.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Ex-boleiros estão à caça de votos às eleições

 Se outrora apenas o nome bastava para que o ex-centroavante Reinaldo, do Atlético Mineiro, fosse sufragado nas urnas a cargos legislativos, na última tentativa a reação de seu eleitorado foi outra. Dos 15 mil votos que lhe garantiram cadeira na Assembleia Legislativa de Minas Gerais em 1990, e 6,5 mil votos à Câmara Municipal de Belo Horizonte em 2004, viu despencá-los para 840 há dois anos, quando projetou retornar ao cargo de deputado estadual pelo seu Estado. Agora, restou-lhe a alternativa de sair à caça de votos para vereador, convicto que precisa gastar sola de sapato e saliva.

 Reinaldo é um dos exemplos de ex-boleiros que a fama era revertida em votos. Ex-goleiros consagrados como Raul Plassmann, do Cruzeiro, e Mazaropi, do Grêmio, ficaram nos 9.082 e 4.721 votos, respectivamente, há dois anos, quando o ex-atacante Roberto Dinamite, do Vasco, também não se elegeu ao totalizar 9.452 votos no Rio de Janeiro, após ter saboreado vitórias em eleições passada.

 A lista de ex-boleiros candidatos a vereador no país é razoável, e justificada por motivos diversos. Alguns, bem articulados, mostram vocação para a causa pública, e até convencem o eleitor que podem ser instrumentos de mudanças políticas e sociais. Outros, alienados politicamente, são manipulados por agremiações partidárias que apostam na suposta popularidade deles para fisgar eleitores, projetando aumentar o número de votos nas campanhas eleitorais.

 Correntes de cientistas políticos diagnosticaram ex-boleiros que não dimensionaram a fama como passageira e, aflitos com o ostracismo, migram para a política visando o ressurgimento através da mídia, se eleitos forem.

 Seja como for, não faltam ex-boleiros pedindo votos aos eleitores às cadeiras dos legislativos municipais. De certo o ex-ponta-de-lança Paulo Rink do Atlético Paranaense não intercederá para que o alemão Sweinsteiger lhe peça voto dos curitibanos como ocorreu em 2014, quando não se elegeu deputado estadual. Ambos são amigos dos tempos que atuaram no selecionado da Alemanha.

 O ex-meia palmeirense Ademir da Guia quer voltar a ser vereador por São Paulo, e no próprio clube conta com a concorrência do ex-zagueiro Tonhão. Ainda na capital paulista, entre ex-boleiros postulantes às vagas, destacam-se o goleiro são-paulino Waldir Peres, e os corintianos Marcelinho Carioca e Tupãzinho, meia e atacante respectivamente. A rigor, Marcelinho, pelo PSB, obteve 19.729 votos há quatro anos, enquanto o ex-corintiano Dinei chegou a 9.243, com queda para míseros 1.541 na tentativa para deputado federal em 2014.


 Na cidade do Rio de Janeiro, o treinador Andrade também está na disputa. O zagueiro Odvan é candidato em Campos de Goytacazes (RJ), enquanto o ex-goleiro João Leite, do Galo mineiro, postula o cargo de prefeito de Belo Horizonte, após experiências legislativas.

domingo, 11 de setembro de 2016

Volante Zé Carlos é vitimado por AVC

 Nos tempos áureos de Cruzeiro e Guarani, o volante Zé Carlos falava baixinho e pausadamente. Vitimado por um ACV (acidente vascular cerebral), hoje ele tem dificuldade de fala e locomoção. Por isso tem feito fisioterapia visando recuperar os movimentos dos membros inferiores e sair da cadeira de rodas.
 Com objetivo de arrecadar fundos para a família dele, antigos companheiros do time mineiro, liderados pelo zagueiro Procópio Cardoso, organizaram jogo beneficente dia 13 de agosto passado em Esmeralda, região metropolitana de Belo Horizonte.
 Aquela fala mansa de José Carlos Bernardes, 71 anos de idade, sempre teve conteúdo e demonstrava a liderança nata. Como bom observador das alternâncias de uma partida de futebol, dissertava sobre falhas e acertos de seu time durante a carreira de atleta até os 38 anos de idade. Indicava posicionamento adequado aos companheiros e exigia valorização da bola. Claro que em tom de voz mais alto em relação ao observado fora de campo.
 E tinha habilitação para cobrança porque foi um atleta que tanto construiu como destruiu jogadas. No Cruzeiro, de 1964 a 1977, na maioria das vezes foi um meia de armação e até ponta-de-lança. Entrou para a história do clube como atleta recordista, com 633 jogos, que resultaram em 83 gols. Naquele período conquistou a Taça Brasil de 1966, Libertadores dez anos depois, e Campeonato Mineiro de 1965 a 69 ininterruptamente. E entre uma temporada e outra, exibindo a vasta cabeleira black power, teve como companheiros Tostão, Natal, Eduardo Amorim, Palhinha, Wilson Piazza, Procópio Cardoso, Dirceu Lopes, Roberto Batata, Raul e Nelinho, entre outros.
 Aos 32 anos de idade e sem o real interesse do Cruzeiro para mantê-lo no clube, aceitou convite para jogar no Guarani em 1977, porém na função de volante. Foi quando demonstrou sabedoria para desarmar sem necessidade de recorrer frequentemente ao artifício das faltas. Valia-se da precisa colocação para antecipar jogadas, sem perder a característica de refinado toque de bola.
 Assim, teve participação preponderante na conquista do título inédito do Campeonato Brasileiro de 1978, na equipe formada por Neneca; Mauro Cabeção, Gomes, Edson e Miranda; Zé Carlos, Zenon e Renato; Capitão, Careca e Bozó.
 Incontinenti, cobiçado por vários clubes, acertou transferência para o Botafogo (RJ). Depois passou por Bahia, Uberaba e Vila Nova de Nova Lima (MG), onde havia encerrado a carreira em 1983. Em seguida, assumiu a função de treinador do Guarani, porém sem êxito. Por isso topou o desafio do Mogi Mirim, que lhe reservou dupla missão: jogar e ser treinador da equipe.

 Após infrutífera experiência como treinador, Zé Carlos foi aconselhado a integrar comissões técnicas como coadjuvante.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Adeus ao centroavante Alcindo, do Grêmio

 Nas Copas do Mundo de 1958 e 1962, quando a Seleção brasileira sagrou-se bicampeã mundial, só a integrava jogadores do eixo Rio-São Paulo dos 22 convocados. Abertura para atletas de outros estados, naquele grupo, passou a ocorrer em 1966, quando o meia Tostão do Cruzeiro e atacante Alcindo do Grêmio portoalegrense foram convocados, contemplando-se mineiros e gaúchos respectivamente.

 Não se pode dizer que a convocação de Alcindo teria sido política, para contemplar os gaúchos. De fato ele era uma máquina de fazer gols, tanto que o histórico de 13 anos pelo Grêmio aponta 264 gols, o maior artilheiro na história do clube, distante do ponta-direita Tarciso, segundo colocado, com 222 gols.

 Igualmente Alcindo era jogador decisivo nos Genais. Marcou 13 gols naqueles clássicos gaúchos, mas erroneamente atribui-se a ele o retrospecto de maior artilheiro nesses jogos. Carlitos 42, Vilalba 20, Tesourinha 17 e Adãozinho 16, todos pelo Inter, estão à frente, como o também gremista Luiz Carvalho 17.

Pois esse Alcindo Martha de Freitas, nascido em Sapucaia do Sul (RS), que escreveu história de goleador no futebol brasileiro e mexicano, morreu na noite do dia 27 de agosto em Porto Alegre (RS), aos 71 anos de idade, vitimado por complicações de seu quadro de diabetes.

 Alcindo chegou à Seleção Brasileira como dono da camisa nove desde que o treinador Vicente Feola convocou 45 jogadores na fase preparatória, até que às vésperas da Copa do Mundo de 1966 definisse os 22. Na estreia contra a Bulgária, na vitória brasileira por 2 a 0, gols de Pelé e Garrincha - ambos em cobranças de faltas - o quarteto ofensivo foi formado por Garrincha, Alcindo, Pelé e Jairzinho.

 Com Pelé contundido à segunda partida, Tostão foi escolhido para substitui-lo diante da Hungria, e ele fez o gol de honra do Brasil na derrota por 3 a 1, com Frenc, Farkas e Méssoly, de pênalti, marcando para os húngaros, em jogo que Alcindo se machucou e na ocasião não era permitido substituição.

 Por causa de lesões de atletas e busca de opções técnicas no grupo, Feola fazia mudanças a cada jogo. Diante de Portugal, com Alcindo vetado, Silva - atacante do Flamengo -, foi o substituto, na derrota brasileira por 3 a 1, gol de Rildo para os derrotados.


 Aí, no processo de renovação da Seleção Brasileira, Alcindo foi perdendo espaço e restou o histórico de sete jogos, quatro vitórias, dois empates e uma derrota. Todavia, seu estilo rompedor e destemido continuou a serviço do Grêmio até 1971, quando se transferiu para o Santos. Depois, no México, atuou no Jalisco e América. Voltou ao Grêmio em 1977 e encerrou a carreira na Francana, interior de São Paulo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Peu, um reserva de luxo no grande Flamengo

 Basta um exemplo para se ratificar a degradação técnica do futebol brasileiro nas últimas décadas. O atacante Júlio dos Santos Ângelo, conhecido na bola apenas como Peu, que foi reserva no timaço do Flamengo em meados da década de 80, seria candidatíssimo a vaga na atual Seleção Brasileira.

 Peu era veloz e habilidoso. Apesar disso, como ocupar lugares de Bebeto, Nunes, Tita e Lico no time flamenguista? Foram tempos em que o clube conquistava seguidamente Taça Guanabara, Campeonato Carioca, Campeonato Brasileiro, Libertadores e Mundial de Clubes.

 Por isso o alagoano Peu era um reserva de luxo naquela patota. Geralmente entrava no segundo tempo e deixava a sua marca, como na fase semifinal do Campeonato Brasileiro de 1982, na vitória sobre o Guarani por 2 a 1. Ele e Zico construíram o placar no Estádio do Maracanã.

“Naquela tarde, foram 145 mil torcedores no Maracanã. Depois ganhamos do Guarani em Campinas e decidimos o título com o Grêmio”.

 Após empate com os gaúchos por 1 a 1 no Maracanã, o time venceu no Estádio Olímpico por 1 a 0, gol de Nunes. E Peu festejou bastante aquele título ao lado do amigo Zico, cujo relacionamento continua estreito. Logo, jamais poderia rejeitar convite para desfilar na Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense, cujo enredo foi em homenagem a Zico no Carnaval do Rio de Janeiro de 2014.

 Foram quatro anos de Flamengo, os dois últimos como titular, quando exibia a cabeleira black power, fazia gols, e nas frequentes entrevistas recordava a ligação com o CSA, clube de Alagoas que frequentava desde os dez anos de idade, até porque os pais tinham vínculo empregatício com a agremiação: mãe lavadeira e pai segurança e roupeiro.

 Claro que os pais não serviram para influenciar o ingresso dele nas categorias de base. Já se destacava entre a garotada, e os cartolas do clube negociaram o passe no primeiro assédio do Flamengo em 1981.

 Quando Peu deixou de repetir atuações convincentes, perdeu espaço no Flamengo. Aí começou o repasse de clubes como Santa Cruz, Atlético Paranaense, Botafogo de Ribeirão Preto (SP) e até passagem pelo Monterrey do México, onde se sagrou campeão nacional em 1986.

 O encerramento da carreira deu-se em 1994 no mesmo CSA de Maceió, cidade onde nasceu em abril de 1960.

 Desde 2008 Peu perambula por equipes do Norte e Nordeste como treinador, ainda sem atingir a projeção planejada. Por isso até aceitou convite do PTB de Maceió para se candidatar a vereador em 2012, provavelmente convencido de que o prestígio no futebol seria o maior cabo eleitoral para que se elegesse. Abertas as urnas veio a decepção: apenas 374 votos.

domingo, 14 de agosto de 2016

Geraldo, morte aos 22 anos de idade

 Há 40 anos, em 26 de agosto de 1976, o talentoso meia Geraldo, do Flamengo, morreu vítima de choque anafilático, provavelmente por reação à algum medicamento composto na anestesia quando se submetia a cirurgia para extrair as amigdalas. Morte aos 22 anos de idade, no Rio de Janeiro.
 Se naquela época Geraldo atendeu recomendação médica para que se submetesse a cirurgia, hoje é possível controle clínico de infecções das amigdalas devido aos avanços terapêuticos. Médicos otorrinolaringologistas prescrevem tratamentos através de antibióticos mais eficazes e seguros, com respostas satisfatórias.
 Quando a cirurgia é indicada por causa de prejuízo de respiração, sono, alimentação, fala, ou registro de infecções frequentes, pacientes se submetem previamente a exames pré-operatórios com o anesteriologista. Aí é avaliado o histórico de rejeição a remédios, que se juntam ao diagnóstico sobre aqueles que podem interagir com os anestésicos, para não haver anormalidade.
 Geraldo foi um meia extremamente habilidoso da equipe do Flamengo no biênio 1975-76, com lógica chegada à Seleção Brasileira, e frequentes elogios do então treinador Oswaldo Brandão, já falecido. Assim, disputou a Copa América de 1975, e foi considerado como promessa à Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Não deu tempo.
 Mineiro de Barão de Cocais - cidade que dista cem quilômetros de Belo Horizonte -, Geraldo Cleofas Dias Alves foi revelado nas categorias de base do Flamengo, em companhia do irmão mais velho Washington, que não vingou. Assim, Geraldo integrou a geração de ouro do clube comandada por Zico. Geração em que meias sequer precisavam olhar para a bola para conduzi-la com sabedoria, quer no drible, quer no passe. Pela extrema habilidade, cronistas cariocas até extrapolaram com projeções do surgimento de um novo Pelé.
 Geraldo corria de cabeça erguida, e o defeito incorrigível foi a falta de ambição para finalizar contra metas adversárias. Preferia o passe a companheiro, e isso reflete no retrospecto de apenas 13 gols nas 168 partidas com a camisa do Flamengo, segundo o almanaque do clube.
 Consta do histórico dele o título carioca de 1974, em época que contabilizava-se dois pontos por vitória. Como o Flamengo venceu o América por 2 a 1 e empatou sem gol com o Vasco, chegou a três pontos, em jogo presenciado por 165.358 torcedores. Já o Vasco empatou com o América por 1 a 1 e ficou com dois pontos. Eis o Flamengo da época: Renato; Júnior, Jayme, Luiz Carlos e Rodrigues Neto; Zé Mário, Geraldo e Zico; Paulinho, Édson e Julinho.

 Irônico, Geraldo tinha hábito de assoviar quando fazia jogadas de efeito. Logo, o vício lhe rendeu o apelido de Geraldo do Assovio. Zico, entretanto, acrescentou que o hábito de assoviar também era fora de campo, principalmente a música ‘You Song, do cantor Elton John e interpretada pelo saudoso Billy Paul.

Vadão

Vadão

domingo, 31 de julho de 2016

Washington, 411 gols em 17 anos de carreira

 Estão espalhados por aí, aos montes, os tais ex-jogadores em atividades, que relutam enquanto podem à ‘aposentadoria’, com conivência de incautos cartolas. A lisura do então atacante Washington ‘Coração Valente’ não permitiu que fosse usurpador de clube. Aos 35 anos de idade, até podia jogar mais um pouco sem abrupta queda de rendimento, até porque diagnósticos de saúde davam-lhe plena garantia. Todavia, teve percepção que o momento era de parar. Assim, o torcedor ficou com a última impressão dele como emérito goleador.
 Em 13 de agosto de 2011 Washington sentiu outra dor no peito. Foi a dor de despedida da carreira de atleta na sede do Fluminense, seu último clube na carreira. E o discurso foi cortado algumas vezes pelas lágrimas. “É um momento difícil demais. Infelizmente um dia a nossa profissão acaba”, confessou, sem prever que deixava claro recado a colegas que teimam em jogar, em vez de curtir a vida.
 O brasiliense Washington Stecanela Cerqueira saiu de cena com a biografia de quem entrou para o Guinnes Book (livro dos recordes) como maior artilheiro entre as edições do Campeonato Brasileiro, ao assinalar 34 gols em 2004, no Atlético Paranaense, clube que abriu-lhe as portas para que desafiasse a medicina e voltasse a jogar futebol após complicações cardíacas.
 Ano anterior, no Fenerbahçe da Turquia, Washington sentiu ardência no peito durante treino, e testes ergométricos mostraram anomalia no batimento cardíaco, o que evidenciou risco de enfarte. Logo, se submeteu a cirurgia angioplástica para desobstrução de artérias coronárias, praticamente entupidas pelo colesterol. Houve implante de minúscula válvula para o sangue voltar a funcionar.
 E que sangue! E que coração valente anexado ao nome no meio futebolístico! Foram 411 gols em 17 anos de carreira. Gols repartindo a bola com a becaiada, ou chutando de média distância indistintamente com quaisquer das pernas, embora seja destro. E gols de cabeça ao explorar a estatura de 1,89m de altura.
 Washington nasceu no dia da mentira - um primeiro de abril de 1975 -, mas sempre foi verdadeiro e destemido. O diabetes diagnosticado ainda no Caxias em 1996, seu primeiro clube, não foi empecilho. Se Grêmio e Inter (RS) mal avaliaram sua condição técnica em passagens por empréstimo, a Ponte Preta saboreou 83 gols marcados por ele em 106 jogos em duas passagens pelo clube.
 Afora os 14 meses afastado do futebol para cuidar da saúde, ele completou trajetória em Atlético Paranaense, São Paulo e Fluminense. No tricolor paulistano foram 45 gols em 86 jogos.
 Claro que ao se desligar do futebol aquele coração valente estava preparado para novas emoções. Em 2012 foi eleito vereador por Caxias do Sul com 7.979 votos, 3,37% daquele cartório eleitoral. Na cidade também é construtor de imóveis.

domingo, 24 de julho de 2016

Doze anos sem o treinador Zé Duarte

De fato a seleção feminina de futebol do Brasil parece cometa. Surge de vez em quando, principalmente em eventos relevantes como os Jogos Olímpicos, com calendário de jogos na primeira fase de três a oito de agosto contra China, Suécia e África do Sul, respectivamente.

 Impossível fazer referência à seleção feminina de futebol sem citação do saudoso treinador Zé Duarte. Se a modalidade havia sido criada antes dele, tem-se que necessariamente observar que ele a recriou em termos competitivos no país. Foi ele quem pacientemente ensinou o bê-á-bá para as meninas, e aquele trabalho promissor rendeu como fruto o quarto lugar na Olimpíada de Atlanta (EUA) em 1996.

 Qual o segredo para a transformação de uma modalidade recreativa para competitiva? Ao assumir o desafio um ano antes, Zé Duarte nada mais fez de que ensinar fundamentos para as meninas. Elas ganharam força muscular para que chutinhos se transformassem em chutes aceitáveis. Repetiu à exaustão domínio de bola, passe e cabeceio. E, como segundo passo, ajustou posicionamento delas em campo, de forma que a maioria não corresse desordenadamente atrás da bola, coisas típicas de quem treina equipe infantil masculina, como fez Zé Duarte no começo de carreira, na década de 60, no Guarani e Ponte Preta, quando deixou o ofício de encanador.

 Em 1966, no juvenil da Ponte Preta, lapidou o meia Dicá e lateral-direito Nelsinho Baptista, entre outros. E na primeira experiência com os profissionais, apostou na molecada e reconduziu o clube à divisão principal do Campeonato Paulista, após nove anos de fracasso na divisão inferior.

 Portanto, neste 23 de julho que marcou o 12º ano da morte do treinador campineiro, cabe recapitular os vices campeonatos paulista pela Ponte Preta em 1977 e 79, e ressaltar que levou o Guarani à semifinal do Campeonato Brasileiro de 1982, quando administrava com habilidade noitadas às sextas-feiras do também saudoso meia Jorge Mendonça.

 Zé Duarte o escondia no Departamento Médico durante o treino recreativo nas manhãs de sábado, mas impunha condição que desequilibrasse no jogo do domingo.

 Ao constatar o seu ex-atleta em situação degradante, apoiado em balcão de bar, Zé Duarte se irritou: “O Jorge gosta de todo mundo. Só não aprendeu gostar dele mesmo”.

 O gerenciamento do dia a dia de Zé Duarte nos clubes que dirigia ia além de conceitos técnicos e táticos. Era um paizão, e às vezes até tolerantes, com atletas indisciplinados e temperamentais, optando pelo aconselhamento. Todavia não deixava o grupo descambar com abusos da noite.

 Aí, sabiamente planificava obrigatoriedade de apresentação no clube às 7h para o café da manhã, sem se importar com ociosidade até ás 9h, quando começava a etapa de treinamentos. E após treino e banho da tarde, a boleirada tinha que esperar o jantar servido no clube por volta das 18h30. “Com o bucho cheio eles (jogadores) evitam sair à noite pra beber”, era a estratégia.

 Zé Duarte tinha olho clínico na indicação de reforços. Raramente errava e assim fazia boas campanhas por onde passava e ainda dava lucro aos clubes com vendas de passes de jogadores.


 Se não vingou no Cruzeiro, Fluminense e Internacional, teve passagens marcantes no Bahia e Atlético Paranaense. Nada comparado a vaivém nos clubes campineiros, quando usava um chapéu que ganhou da família Cury, em Campinas.

domingo, 17 de julho de 2016

Adeus ao polivalente Ferrari

 Até pouco tempo Gilberto José Ferrari era administrador da Praça de Esportes Olímpio Dias Porto, no bairro Cidade Jardim em Campinas, interior de São Paulo. Era um chefe mandão e, às vezes, até malcriado com boleiros do futebol amador que fugiam das normas para uso do campo de futebol.
 Claro que a maioria dos usuários daquela praça não se deu conta que aquele senhor calvo e de rosto enrugado fez parte da Academia do Palmeiras nos anos 60, atuando como lateral-esquerdo numa defesa que tinha Valdir; Djalma Santos, Djalma Dias, Waldemar Carabina e Ferrari.

 Pois esse Ferrari de uma história bonita no futebol morreu neste 15 de julho em Campinas, aos 79 anos de idade. Uma história que o palmeirense menos avisado custou a entender em 1963, quando o seu clube contratou um lateral destro para jogar como lateral-esquerdo, em substituição a Geraldo Scotto, que havia sofrido fratura na perna.

 Quando o Palmeiras havia sondado o interesse por Ferrari, já sabia nos mínimos detalhes a trajetória dele pelo Guarani. Verificou o lançamento na equipe principal justamente num dérbi campineiro em fevereiro de 1959, na vitória sobre a Porte Preta por 3 a 2, com gol dele logo aos dois minutos.

 Embora fumante de um maço por dia, Ferrari tinha fôlego, e era um ponta-direita rápido. Nem por isso foi fixado como titular, e alternou algumas improvisações na ponta-esquerda, sem que estranhasse mudança de lado.

 A característica de jogador combativo fez com que o treinador do Guarani de 1960, Armando Renganeschi, o adaptasse à lateral-direita, e ali foi titular absoluto até o final da temporada de 1962.

 Logo, a facilidade para que Ferrari se enquadrasse a quaisquer dos lados do campo levou os cartolas do Palmeiras a projetarem que se encaixaria bem no time na lateral-esquerda, e posteriormente levasse vantagem na disputa da posição com Geraldo Scotto e Vicente Arenari.

 No Palmeiras, apelidado de Bruxa, Ferrari colecionou os títulos paulistas de 1963 e 66, Rio-São Paulo de 1965, e dois anos depois comemorações no Torneio Roberto Gomes Pedrosa e Taça do Brasil. E sempre pautando pela firmeza na marcação e bom passe no apoio ao ataque.

 O vínculo dele com o Palmeiras foi rompido em 1969, totalizando 293 partidas. Ele e o atacante Servílio foram dispensados pelo então treinador Ernesto Filpo Nuñes, fato que provocou o retorno do atleta ao Guarani, e passagens posteriores por Comercial de Ribeirão Preto e Paulista de Jundiaí.

 Depois disso Ferrari se transformou em metalúrgico da empresa Roberto Bosch, em Campinas, e por fim o emprego público na Prefeitura de Campinas.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Nunes, atacante goleador e sarrista

 Nos tempos áureos do Flamengo, na década de 80, certa ocasião o atacante Nunes foi assediado por um exército de repórteres, sua boca ficou entupida de microfones, e, na costumeira espontaneidade, ele lançou essa ‘pérola’: “Fiz que fui, não fui, e acabei fondo”. Tudo isso para descrever lance de gol que levou a galera do ‘Mengão’ ao delírio, no Estádio do Maracanã.
 No jogo de despedida do meia Zico do Mengão, Nunes chutou o ‘velho balde’ quando iniciava comparação dentro e fora de campo: “Tanto na minha vida futebolística quanto na minha vida ‘ser humana’...”.
 Assim era João Batista de Oliveira, o baiano de Feira de Santana apelidado de João Danado, que no quesito improvisação e alegria nada ficava devendo ao jogador João Pinto, que atuava no Clube do Porto. Certa ocasião, o português nos ‘brindou’ com essa reflexão: “O meu clube estava à beira do precipício, mas tomava a decisão correta. Deu um passo à frente”. 
 O divertido João Danado ‘colocou no bolso’ o também atacante Claudiomiro, do Internacional (RS), quer na bola, quer nas ironias. O então roliço atacante gaúcho confundiu alho com bugalho e trocou o Oriente Médio pelo Estado do Pará quando a delegação do time colorado chegou a Belém (PA) para disputar partida contra o Paysandu, pelo Campeonato Brasileiro de 1972: “Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu”.
 No campo, Claudiomiro e Nunes tinham estilo semelhante. Jogavam enfiados na área adversária para completar jogadas. O diferencial de Nunes é que sabia aproveitar melhor as oportunidades de gols. Repartia as jogadas com zagueiros e levava vantagem em muitas delas quer no chão, quer no alto.
 A rigor, a estatística fala mais que as palavras. Em 212 jogos pelo Flamengo marcou 96 gols, no período de 1980 a 1987. Antes disso, fez sucesso no Fluminense, e principalmente nos três anos de Santa Cruz (PE), quando foi bicampeão estadual. Foi um período em que ele mostrou faro de gol e a recompensa sintomática foi convocação à Copa do Mundo da Argentina, de 1978. Era a grande chance dele se consagrar em um Mundial, mas uma contusão provocou o corte às vésperas da competição.
 A carreira do atacante - dispensado pelo próprio Flamengo nas categorias de base - se arrastou até 1992, no Santa Cruz, após passagens ainda por Botafogo (RJ), Náutico (PE), Boavista de Portugal, Volta Redonda (RJ), e pelo futebol da China e El Salvador. E quando parou de jogar, Nunes fixou residência no Rio de Janeiro em luxuoso apartamento de São Conrado. Só que a partir daí começou a torrar dinheiro e bens. Consequência: teve que se mudar para modesta casa em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
 Contabiliza-se, como desperdício de dinheiro, uma aventura no mundo musical. Foi um erro apostar na carreira de pagodeiro, com lançamento de dois discos, mas Nunes não quer remoer o passado.

 O Flamengo criou a função de preparador de atacantes para Nunes, na década passada, a fim de que ele ensinasse aos discípulos os segredos para enfrentar goleiros. Todavia, como não prosperou na função, preferiu arriscar a carreira de treinador, com passagem pelo futebol amazonense, porém sem emplacar como comandante de grupo. Nunes completou 62 anos de idade em maio passado.