segunda-feira, 31 de maio de 2010

Dirceu Lopes, um dos injustiçados

Dirceu Lopes, ex-meia do Cruzeiro (MG), ainda não digere a passagem de apenas 19 jogos pela Seleção Brasileira e um amargo corte entre os jogadores relacionados à Copa do Mundo do México, em 1970. Na ocasião, teve de ceder o lugar para Dadá Maravilha, uma convocação política imposta pelo então presidente da República Emílio Médici, que o técnico Zagallo teve de engolir, diferente de seu antecessor João Saldanha, que havia projetado um lugar de destaque para Dirceu naquele Mundial.

Quando Dirceu estava no auge da forma, na década de 70, recebeu a visita do fenômeno Mané Garrincha – já falecido -, na concentração do Cruzeiro, em hotel de São Paulo, e ficou com o ego bem massageado. "Olha, Dirceu, vim te dar um abraço porque você é o melhor jogador de futebol do mundo".

Claro que Mané Garrincha exagerou, mas aquelas pernas curtas de Dirceu Lopes, 1,63m, nascido em 3 de setembro de 1946, entortaram adversários. Foram 224 gols registrados em 14 anos de Toca da Raposa, marca que o coloca como segundo maior artilheiro na história do clube, atrás apenas de Tostão, que marcou 248 gols.

Dirceu tinha a frieza dos goleadores e visão de jogo dos antigos boleiros de armação. Fez parte daquele lendário time do Cruzeiro que desbancou o grande Santos em novembro de 1966, com a conquista da Taça Brasil, hoje Taça do Brasil.

Naquela época, o Cruzeiro goleou o Santos por 6 a 2, no Mineirão, na primeira partida, e Dirceu fez três gols. No segundo confronto, no Pacaembu, outra vitória do time mineiro: 3 a 2, para delírio de Raul Plassmann, Pedro Paulo, Willian, Procópio e Neco; Wilson Piazza, Dirceu Lopes e Tostão; Natal, Evaldo e Hilton Oliveira, os titulares.

Dez anos depois, Dirceu viveu outro momento de glória na carreira com a conquista da Copa Libertadores da América sobre o River Plate, da Argentina, após a vitória do Cruzeiro por 3 a 2, em Santiago, no Chile, na "negra" - terceira partida da final.

O gol da consagração foi marcado pelo ponteiro-esquerdo Joãozinho, um renomado driblador, que se antecipou a Nelinho - cobrador oficial de faltas da equipe - e bateu com perfeição, quase no final do jogo. Nem por isso Joãozinho recebeu só cumprimentos. O exigente treinador Zezé Moreira – já falecido - o classificou de "moleque irresponsável".

Claro que se viesse o título no mundial interclubes, contra os alemães do
Bayern de Munich, a festa seria completa, mas Joãozinho, Jairzinho, Dirceu e cia. não se abateram com a perda.

A partir daí, Dirceu começou a trilhar a velha estrada da volta. Foi reserva de Rivelino no Fluminense, jogou no Uberlândia (MG) e encerrou a carreira no Democrata de Governador Valadares (MG) em 1981.

Aí, tímido e sem liderança para coordenar grupos de jogadores, trocou a bola pela vida de empresário, como dono de uma fábrica de jeans em Pedro Leopoldo, sua cidade natal.

Parreira: ‘o gol é apenas um detalhe’

Outros tempos era raro um profissional prosperar na carreira de treinador sem currículo de jogador. Havia um velado preconceito da categoria, e poucos cartolas se aventuravam a desafiar a lógica.
Outros tempos dizia-se que Carlos Alberto Parreira, 67 anos de idade, um graduado homem do Exército brasileiro, era um intruso no comando de clubes, a despeito do histórico de tricampeão mundial no México na Copa do Mundo de 1970, como auxiliar de Cláudio Coutinho - já falecido -, na preparação física. Principalmente a imprensa paulista cobrava dele qualificação para o exercício da função, desconsiderando a invejável bagagem teórica. Parreira, contudo, foi obstinado e não se curvou ao desafio. De certo, o que não esperava era que ‘caísse no colo’ o comando da Seleção Brasileira tão prematuramente, em 1983. Aí, com o vice-campeonato de sua equipe na Copa América realizada no Brasil, recebeu uma ‘enxurrada’ de críticas.
Com a fortaleza de poucos soube absorvê-las e recomeçou a trajetória de treinador no Fluminense, em 1984. Quis o destino que assumisse um time bem montado pelo antecessor José Luiz Carbone, e o resultado foi a conquista do título do Campeonato Brasileira daquela temporada.
Talvez fosse o momento para que seus detratores dessem uma trégua, mas eles não se renderam. Assim, em 1991, inteligentemente, Parreira bolou uma estratégia para calá-los. Com ajuda do homem forte do Bragantino, o patrono Nabi Abi Chedid - já falecido -, assumiu o comando técnico daquele clube com missão de dar continuidade ao elogiado trabalho de seu antecessor Vanderlei Luxemburgo. E deu.
De fato Parreira pensava longe naquela empreitada. Pavimentava uma trajetória triunfal na carreira, que culminaria com retorno à Seleção Brasileira. E com a sua indisfarçável filosofia de “futebol de resultados” conquistou o tetracampeonato mundial nos Estados Unidos, em 1994, quebrando um jejum de 24 anos sem conquista.
Parreira habilmente soube o momento de sair e deixar escancaradas as portas da CBF para retorno à Seleção, o que ocorreu em 2006. Antes disso, em 1998, uma dolorosa dispensa da Seleção da Arábia Saudita após a segunda rodada da primeira fase. Saiu amargurado, porém com cuidado para não ferir suscetibilidade após a derrota para a Dinamarca por 1 a 0. O técnico da equipe no jogo seguinte, contra a África do Sul, foi Mohamed Al-Kharashi.
Nesta Copa da África do Sul é o comandante dos anfitriões, após trégua durante pouco mais de um ano, quando o técnico Joel Santana assumiu o seu lugar. Parreira já dirigiu as seleções de Arábia Saudita, Emirados Árabes e Kuait. A rigor, no ranking de treinadores com maior repasse de seleções de diferentes países em Copa do Mundo, só perde para o sérvio Borá Milutinovic. Em 1986 ele levou o México às quartas-de-final, perdendo para a Alemanha na disputa de pênaltis. Dirigiu, ainda, Costa Rica, Estados Unidos, Nigéria e China.
Parreira também ficou marcado por uma inoportuna frase: “O gol é apenas um detalhe”.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Goleiros de Seleção

Tradicionalmente goleiros brasileiros disputam mais que uma Copa do Mundo. Nos últimos 60 anos observou-se uma cultura de que jogador da posição tem que adquirir experiência na primeira competição. Projeta-se que já amadurecido não vai sentir o peso da responsabilidade quando escalado.
Pode-se dizer que o primeiro estagiário nesse quesito foi Carlos Castilho - já falecido - convocado sucessivamente de 1950 a 1962 nas competições disputadas no Brasil, Suíça, Suécia e Chile. Paradoxalmente seu melhor desempenho sempre foi em clube - caso do Fluminense -, o que resultou na identificação como “leiteria”. Nas Copas de 1958 e 1962 foi reserva de Gilmar, goleiro que disputou ainda o Mundial de 1966 na Inglaterra.
A filosofia de “ganhar experiência” teve continuidade em 1970 com Emerson Leão, quando a Seleção Brasileira fez opção de relacionar três goleiros. O receio era a perda de titular e reserva imediato motivada por contusão ou cartões vermelho e amarelo. Naquela Copa do México foi implantada punição a jogadores com cartão amarelo, três deles, cumulativamente, resultando em suspensão automática.
Dessa inclusão do terceiro goleiro se aproveitou o então garoto Leão, do Palmeiras, para respirar clima de Seleção Brasileira. Quatro anos depois - mais ‘canchado’ e precedido de atuações regularíssimas - foi titular absoluto no gol brasileiro na Copa da Alemanha. Na ocasião, os comandados do técnico Zagallo foram surpreendidos pela máquina holandesa na semifinal, e também pela Polônia na disputa pelo terceiro lugar.
Leão continuou intocável na Seleção em 1978, na Copa da Argentina. Depois, já com Telê Santana como treinador, foi relegado na competição disputada na Espanha, para voltar ao ‘antigo ninho’ em 1986, outra vez no México. Assim, completou quatro Copas, uma a menos que Carbajal da seleção mexicana.
A bem sucedida experiência foi repetida com Valdir Peres, Carlos, Taffarel, Dida e Júlio César. Valdir foi terceira opção na Alemanha em 1974. ‘Esquentou’ banco em 1978. E foi titular em 1982.
Trajetória semelhante foi a de Carlos, desde 1978 entre os convocados. Chance real, mesmo, só em 1986 no México.
Taffarel foi partícipe da precoce eliminação brasileira na Copa do Mundo da Itália, em 1990, quando o grupo escolhido pelo técnico Sebastião Lazaroni deu vexame. A redenção desse gaúcho deu-se quatro anos depois nos Estados Unidos, quando o Brasil sagrou-se tetracampeão mundial ao bater a Itália nos pênaltis, na final. Por fim, na terceira experiência, foi eximido de culpa na goleada por 3 a 0 que a sua equipe sofreu para os franceses.
Quanto a Dida, se foi considerado ‘verde’ em 1998 na França, quando era reserva de Taffarel, só não foi titular em 2002 no Japão e Coréia do Sul devido à excelente fase do concorrente Marcos. Assim, teve de esperar a Copa de 2006, novamente sediada pela Alemanha.
Agora a história se repete com Júlio César. De estagiário em 2006, deu um salto extremamente qualitativo. É reconhecido como um dos melhores do planeta, na posição.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Everaldo, tricampeão há 40 anos

Com a fartura de reminiscências sobre Copa do Mundo, às vésperas do maior evento de futebol do planeta programado para a África do Sul, o tricampeonato brasileiro no México, em 1970, será recontado muitas vezes.
Há 40 anos, entre os 22 campeões, estava o gaúcho Everaldo Marques da Silva, um lateral-esquerdo eficiente na marcação e só. Consciente das limitações para apoiar o ataque, preferia o passe curto aos companheiros.
Naquele período jogador de futebol era idolatrado por fãs mesmo quando parava de jogar. Alguns sabiamente exploravam a popularidade e enveredavam para cargos políticos, principalmente no Legislativo, mesmo sem aptidão. A certeza da votação maciça os encorajava a enfrentar as urnas, e são incontáveis os exemplos daqueles que foram eleitos com folga.
Mesma sorte não teve Everaldo. Em 1974, quando pendurou as chuteiras, tinha como certa uma cadeira na Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, e se engajou na campanha política de tal forma que podia ser visto em até dois comícios no mesmo dia. E tudo ia bem até que perdeu a vida em acidente de automóvel, na BR-286, justamente quando voltava de um comício, por volta das 22h30 do dia 27 de setembro daquele ano. O automóvel Dodge Dart do jogador entrou sob uma jamanta e ficou quase irreconhecível. Na ocasião, também morreram a esposa Célia e a filha Denise Marques.
Revelado pelo Grêmio e com flagrantes limitações técnicas, Everaldo ganhou a posição de Marco Antonio - veloz e de características ofensivas - às vésperas da Copa do México. Já no Mundialito de 1972, no Brasil, o técnico Zagallo optou por não convocá-lo, para ira dos gaúchos. Afinal, o Rio Grande do Sul tinha histórico de furar o domínio do eixo Rio-São Paulo em convocações de jogadores para Copas. Em 1950, na competição disputada no Brasil, Nena, do Grêmio, e Adãozinho, do Internacional, foram vice-campeões mundiais. Na malfadada Seleção Brasileira de 1966, na Inglaterra, lá estava o atacante Alcindo Bugre, do Grêmio. E em Mundiais subseqüentes, o Estado quase sempre esteve representado. Em 1974, na Alemanha, foram o meio-campista Paulo César Carpeggiani e o ponteiro-direito Valdomiro, ambos do Inter. Em 1978, na Argentina, o volante Batista foi o representante do time colorado. Falcão – ex-Inter (RS) - jogou os Mundiais de 1982 e 1986. Ainda em 1986 foram o zagueiro Mauro Galvão e o meia Valdo, de Inter e Grêmio, respectivamente. Depois, o goleiro Taffarel, em 1990, na Itália; e o zagueiro Ângelo Polga, em 2002, no Japão e Coréia do Sul - jogadores de Inter e Grêmio, respectivamente. Em 2006 foram os ex-gremistas Ronaldinho Gaúcho e Emerson.
O deslize na carreira de Everaldo foi a besteira feita num jogo contra o Cruzeiro em 1972, no Estádio Olímpico, quando deu um soco no árbitro paulista José Faville Neto. Na época, a suspensão de um ano foi reduzida para seis meses.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Tabaco e esporte são incompatíveis

A surpreendente confirmação de que o atacante corintiano Ronaldo “Fenômeno” é fumante reacende a discussão sobre tabagismo entre jogadores de futebol. O tema parecia sepultado por conta da consciência dos malefícios do fumo. Convém ressaltar que maio é o mês em que os tabagistas enfrentam maior pressão para se libertarem do vício, em decorrência do Dia Mundial de Combate ao Fumo, criado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), no dia 31. Só no Brasil morrem 200 mil pessoas a cada ano por causa do cigarro.
Ronaldo, como milhões de viciados no tabaco, ainda não se sensibilizou disso, apesar de contínuas campanhas de alerta. A partir de 1971, propagandas de cigarros em rádio e televisão advertiam que o fumo é prejudicial à saúde. Depois surgiram figuras de caveiras nos invólucros de cigarros, época em que o carioca e ex-meia Gerson Nunes de Oliveira, tricampeão mundial no México, gravou comercial da marca de cigarro Vila Rica com slogan que induzia o fumante a levar vantagem em tudo. O canhota, como é chamado pelos amigos, na época fumante inveterado, jamais previa que o slogan se transformaria na ‘Lei do Gerson’, atribuída aos espertões.
Naquele período, propaganda de cigarro era estrelada por galãs de cinema e passava a impressão de glamour. Anos depois foi proibida, e apertou-se o cerco contra fumantes com proibições em aviões, ônibus, restaurantes e locais de aglomerações de pessoas.
No passado, boleiro fumava até pouco antes de entrar em campo. O atacante Servilho – já falecido – um dos melhores cabeceadores que passaram pelo Palmeiras, assistia parte de jogo preliminar com cigarro entre os dedos, na década de 60. Os ex-meia Américo Murolo, também ex-palmeirense, fumava até em intervalos de partidas, no banheiro.
O fumante Sócrates não tinha a mesma condição orgânica que os companheiros, mas compensava com velocidade de raciocínio. Cerca ocasião, quando o Corinthians foi jogar em Americana (SP), contra o Rio Branco, ele apanhou um cigarro do bolso de um amigo, e só após três tragadas o atirou num canto do fosso que dá acesso aos vestiários do Estádio Décio Vitta.
Nos tempos dos boleiros fumantes convivia-se com os “serrões”. O são-paulino Benê, já falecido, era capaz de consumir, sem constrangimento, um maço de cigarro do colega. O ex-lateral-direito Deleu, seu companheiro de clube e avesso ao fumo, bronqueava quando alguém acendia cigarro perto dele. E nas caronas avisava: “Fedô de cigarro não entra no meu carro”.
Naquele período, treinadores como Oswaldo Brandão, Ênio Andrade e Élbua de Pádua Lima (Tim) davam mau exemplo ao provocarem fumaceira no banco de reservas.