segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Raçudo Ezequiel caiu no gosto da fiel


 À torcida corintiana, o então volante Ezequiel Ataliba estará sempre em alta cotação. Caiu no gosto porque atendia ao requisito primordial: raça. Assim, chegou ao clube como reserva em 1990, para se transformar no camisa oito, titular absoluto até 1995, com histórico de 254 jogos, dez gols e títulos dos campeonatos Brasileiro, Paulista e Copa do Brasil.

 No auge da fama, Ezequiel foi mordido por cachorro da Polícia Militar em jogo contra a Ponte Preta, em Campinas. Pior que isso foi ter caído numa ‘teia de aranha’ chamada mulherio e boemia. Perigosos prazeres da noite causaram-lhe transtorno. Despedaçaram a sua condição financeira, até porque filhos fora do casamento implicaram em pagamentos de pensões alimentícias, com reflexo direto quando parou de jogar profissionalmente na virada do século.

 “Eu não parei, me pararam”, confessou, quando ainda se julgava em condições de continuar. Por sinal, pararam em termos. A identidade com o futebol simplesmente exigiu que optasse pela reversão do profissionalismo ao amadorismo em Campinas, inicialmente à categoria de veteranos, e agora na chamada faixa de máster, tanto que joga na equipe Higa-Ponte Preta de Campinas, a sua cidade natal, aos 56 anos de idade.

 Como a ocupação como entregador de remédios não rendia o suficiente para manutenção da família, o amigo Neto - companheiro nos tempos de Corinthians - organizou um jogo beneficente em 2009. Depois disso, o ex-centroavante Chicão - de Ponte Preta e Santos - o acolheu como instrutor de garotos em escolinha de futebol de Campinas.

 À garotada, Ezequiel recorda começo e encerramento da carreira de atleta profissional na Ponte Preta. Da base ao profissional, projetava-se que se firmasse como titular, mas acabou repassado ao Ituano em 1989, quando mostrou capacidade de antecipação e desarme nas jogadas, raramente recorrendo às faltas.

 Logo, a estatura de apenas 1,65m de altura não foi empecilho para que o Corinthians o contratasse, e em 1997 retornasse à Ponte Preta, onde ficou até 2000. Dez anos depois, apostava que filho de peixe, peixinho é. Alardeava que o filho Gabriel tinha vocação para vingar como centroavante, mas o garotão não prosperou.

Oséas marcou o gol contra mais bonito no mundo


 A história vitoriosa do Palmeiras ao longo das décadas tem sido escancarada após a conquista do Campeonato Brasileiro. E nessas histórias cabe recapitular inimaginável gol contra marcado pelo então centroavante Oséas Reis dos Santos em 1998 contra o Corinthians, tido como o mais bonito na característica de todos os tempos do futebol mundial.

 Em cobrança de escanteio favorável ao Timão pelo lado direito, em jogo válido pelo Paulistão, Oséas subiu livre, em alto estilo, e acertou forte cabeceada contra a sua própria meta. Inacreditável! Teria dado um ‘branco’ na cabeça dele? Imaginou que a sua equipe atacava, e não defendia?

 Hoje Oséas até brinca com aquela situação, ao citar que o mundo futebolístico que não o conhecia teve a oportunidade de conhecê-lo, mas à época o drama se intensificou com corintianos gritando o seu nome ironicamente no Estádio do Morumbi. Aí, para preservá-lo, o treinador palmeirense à época - o mesmo Luiz Felipe Scolari, Felipão - optou por sacá-lo no intervalo.

 A redenção ocorreu naquele mesmo ano quando marcou o segundo gol da vitória do Palmeiras por 2 a 0 sobre o Cruzeiro, na finalíssima da Copa do Brasil, aos 44 minutos do segundo tempo, em chute sem ângulo. Aí, balançaram aqueles cabelos longos de trancinhas.

 Oséas começou a marcar o seu nome no futebol na dupla de ataque com Paulo Rink, no Atlético Paranaense, a partir de 1995. Foi quando chegou à Seleção Brasileira, após cinco anos de ostracismo em clubes como Galícia (BA), Pontevedra (2ª divisão espanhola), Maruinense (SE) e Uberlândia (MG).

 Ao decolar na capital paranaense, despertou interesse da Parmalat, cogestora do Palmeiras, que bancou a contratação por US$ 7 milhões. No Cruzeiro, em 2000, o gostinho do título da Copa do Brasil, até a extensão da carreira por mais cinco anos no Japão, Santos e Inter (RS).

 Hoje, radicado na cidade natal de Salvador (BA), atua no ramo imobiliário. Provavelmente ele não saiba explicar a origem em hebraico do nome Oshea, que quer dizer salvo, traduzido como profeta Oseias - do Velho Testamento -, que se diferencia de seu prenome pela ausência da vogal ‘i’.