quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Osvaldo, o “ponte aérea”

Por Élcio Paiola (interino)

A concepção de profissionalismo absoluto no futebol e a crescente adesão ao grupo denominado “Atletas de Cristo” mudou bastante a postura dos boleiros no quesito infidelidade matrimonial. Outros tempos, jogador de futebol - exceto raras exceções - era tido como mulherengo. Quando a chamada “Maria Chuteira” (mulher que procura jogadores) cruzava seu caminho, ele a “laçava”. Casados enganavam as mulheres com desculpas esfarrapadas de concentrações prolongadas e se esbaldavam em noitadas com as pretendentes.
Hoje, com vigência de regimes estritatamente profissionais implementados pelos clubes, a situação se modificou. O boleiro já pensa mais na família e a televisão flagra frequentemente coreografia com gestos de carinho às namoradas e esposas através de beijos na aliança, riscos imaginários no ar como símbolo de coração, e por aí vai. O atleta tem consciência que a preservação do bom condicionamento físico implica necessariamente em noites bem dormidas e sem vícios do álcool e tabaco.
Nos anos 60, quando o boleiro tinha fama de desregrado, Osvaldo Taurizano, conhecido no mundo da bola como Osvaldo “ponte área”, era uma das exceções. E sabem por que? Porque gastava boa parte do dinheiro de seu salário do Flamengo em viagens aéreas do Rio de Janeiro a São Paulo, e depois complementava o percurso até Campinas de ônibus, para encontrar a namorada Marilena, a Neca. Isso aconteceu na década de 60, após se transferir do Guarani para o Flamengo.
O jornalista Milton Neves, âncora da Rádio Bandeirantes, informou recentemente que Osvaldo estava muito doente e isso naturalmente preocupou antigos companheiros de Guarani e Flamengo. Além de bom caráter, o ex-ponteiro-esquerdo foi ovacionado, quando jogava em Campinas, por marcar gol olímpico, numa época em que raríssimos boleiros conseguiam tal façanha.
A facilidade para bater na bola transformou Osvaldo em cobrador oficial de faltas e ele correspondia plenamente com um índice de aproveitamento acima da média. Também sabia fechar em diagonal para completar as jogadas. Assim, chegou a Seleção Brasileira na década de 60, e fez gol na inauguração dos refletores do Estádio Brinco de Ouro em 1963, em jogo do Guarani contra o Flamengo. Na época, o time bugrino contava, entre outros, com o goleiro Dimas Monteiro (já falecido), Osvaldo Cunha, Eraldo, Diogo, Amauri e Berico.
No Flamengo, Osvaldo jogou ao lado do goleiro Maciel, Carlinho, Murilo e Paulo Henrique. Dessa leva, quem mais se destacou foi o volante Carlinhos, que até hoje não engole ter sido relegado do grupo de jogadores brasileiros que disputou a Copa do Mundo de 1962 no Chile, ocasião em que os comandados do técnico Aimoré Moreira conquistaram o bicampeonato mundial. Carlinhos se considerava um volante com mais potencial que Zequinha, relacionado como reserva de Zito.
Quanto a Paulo Henrique, disputou a malfadada Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, quando o Brasil foi um fiasco. Ganhou o primeiro jogo da Bulgária por 2 a 0, e depois perdeu as outras duas partidas restantes da primeira fase, ambas por 3 a 1, para Hungria e Portugal, respectivamente.
Pelé se machucou logo no primeiro jogo e o técnico Vicente Feola abusou de alterações na equipes nas partidas seguintes. E com as derrotas, o Brasil foi eliminado precocemente da competição.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Pedrinho, jogador e empresário

Por Élcio Paiola (interino)


Pra quem esqueceu, convém lembrar que o ex-palmeirense e ex-vascaíno Pedrinho foi reserva do ex-flamenguista Júnior na lateral-esquerda da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Pedrinho foi jogador de estilo vigoroso quer na marcação, quer nas investidas ao ataque. Fazia jogadas de fundo, como também tinha habilidade para fechar em diagonal e finalizar.
Pedro Luiz Vicençate, o Pedrinho, natural de Santo André (SP), completou 47 anos de idade em outubro passado. Após se destacar na Copa São Paulo de Futebol Júnior no Palmeiras, firmou-se como titular da equipe principal em 1978, e foi um dos destaques da equipe dirigida pelo carioca Jorge Vieira no Campeonato Brasileiro, surpreendida pelo Guarani na fase final com duas derrotas por 1 a 0: a primeira no Estádio do Morumbi, em São Paulo, e a segunda no Estádio Brinco de Ouro, em Campinas.
No jogo da capital paulista, o goleiro Emerson Leão agrediu o atacante Careca e foi expulso de campo. O time palmeirense jogou com Leão; Rosemiro, Alfredo Mostarda, Marinho (Zé Mário) e Pedrinho; Jair Gonçalves, Toninho Vanuzza e Jorge Mendonça; Sílvio (Escurinho), Toninho e Nei.
Na segunda partida, com a suspensão de Leão, o goleiro foi Gilmar. A dupla de zaga voltou a ser formada por Beto Fuscão e Alfredo Mostarda. Ivo retornou à função de volante no lugar de Jair Gonçalves e Escurinho foi fixado no comando do ataque.
Evidente que o time palmeirense foi alvo de uma saraivada de críticas ao permitir que pela primeira vez um time do interior do País sagrasse campeão brasileiro, caso do Guarani. Pedrinho saiu incólume daquela tragédia e a sua regularidade resultou na chegada à Seleção Brasileira. Ele estreou no jogo amistoso contra a Bolívia em 26 de julho de 1979, na derrota por 2 a 1, com o gol de honra do atacante Roberto Dinamite. Os dois gols dos bolivianos foram marcados por Aragones.
Naquela partida, Júnior teve de ser deslocado da lateral-esquerda para a direita, possibilitando a entrada de Pedrinho no time. O Brasil jogou com Leão; Júnior, Oscar, Amaral e Pedrinho; Batista, Paulo César Carpeggiani e Renato (Zenon); Nilton Batata, Roberto Dinamite e Zé Sérgio (Juari).
Constam nos arquivos da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) que Pedrinho participou de 16 partidas com a camisa da Seleção Brasileira e marcou um gol na goleada sobre Portugal por 4 a 0, em 1983. Ainda naquele ano, foi convocado pela última vez no empate com a Suécia em 3 a 3, em jogo disputado na cidade sueca de Gotoborg, com gols de Márcio Rossini, Careca e Jorginho. O time brasileiro atuou com Leão; Edson Abobrão, Márcio Rossini, Toninho Carlos (Luisinho) e Pedrinho; Batista, Sócrates, Paulo Isidoro e Éder; Careca e João Paulo (Jorginho). O técnico foi Carlos Alberto Parreira.
No Palmeiras, a trajetória de Pedrinho se estendeu até 1981. No ano seguinte transferiu-se para o Vasco e comemorou o título do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro. E, em meados de 1983, foi jogar no Catânia, da Itália.
O retorno ao Vasco deu-se em 1986. Um ano depois comemorou novamente o título estadual, e terminou aquela temporada defendendo o Bangu, onde encerrou a carreira de jogador em 1988.
Comunicativo e culto, Pedrinho poderia se enveredar para as funções de treinador ou supervisor de clubes, mas se transformou em empresário de jogadores, com carteira de agente Fifa.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Seis anos sem Julinho

Por Élcio Paiola - interino


A dinâmica do esporte trai a memória dos desportistas em geral e, por vezes, ídolos do futebol imortalizados caem no esquecimento. A atribuição precípua da coluna é resgatar esses personagens e um deles é Júlio Botelho, o Julinho, morto há pouco mais de seis anos. Na ocasião, o jornalista Ariovaldo Izac, titular da coluna e ainda afastado, lembrou que Joel - campeão mundial em 1958 na Copa da Suécia - havia morrido no mês anterior e comentou sobre ambos. Acompanhe.
O diferencial de Julinho é que desenvolvia velocidade e habilidade mesmo com quase 1,80m de altura. Julinho e Joel tinham alguma coisa em comum desde 1958. No auge da carreira, da Fiorentina da Itália, Júlio Botelho foi convocado pelo técnico Vicente Feola (já falecido) para ser o ponteiro-direito titular da Seleção Brasileira e declinou o convite, por achar que jogador em atividade no Brasil deveria ter prioridade. Com isso, as vagas na posição ficaram com Joel e Mané Garrincha (já falecido). Esse gesto resume bem o coração generoso de Julinho, que parou de bater no início da noite do dia 11 de janeiro de 2003. Terminava ali uma das mais lindas páginas sobre esse fantástico atacante.
A história de Julinho teve início no Juventus (SP), há exatos 58 anos. Depois, a Portuguesa tratou de buscá-lo, e montou um dos mais respeitados quinteto ofensivo: Julinho, Renato, Nininho, Pinga e Simões. Pinga esticava a bola para Julinho, que passava pelo marcador, ia ao fundo do campo, e, com visão privilegiada, cruzava na cabeça de Nininho, que enjoava de fazer gols. Jogador com a notoriedade de Julinho teria cadeira cativa na Seleção Brasileira e o técnico Zezé Moreira (já falecido) o levou para a Copa do Mundo da Suíça em 1954, ano em que Julinho foi titular na Fiorentina.
Em Firenze, o atacante deu show e foi aplaudido. O restaurante que freqüentava, perto do campo da Fiorentina, ainda tem uma bem cuidada placa com uma singela homenagem: Aqui almoçava Julinho Botelho.
Em 1959, de volta ao Brasil e como atleta do Palmeiras, Feola teve a ousadia de escalar Julinho num amistoso da Seleção Brasileira contra a Inglaterra, em comemoração ao título mundial de 1958, e deixou Garrincha de fora. Pra que! O Estádio do Maracanã quase veio abaixo quando Julinho pisou no gramado. Cerca de 150 mil torcedores o vaiaram, mal sabendo que Garrincha estava fora de forma. E Julinho calou a multidão logo aos 5 minutos, ao marcar o primeiro gol brasileiro. Depois, deu passe para Henrique marcar o segundo gol, e, por fim, saiu de campo aplaudido. “Foi a maior emoção de minha vida”, repetia sempre o ponteiro.
No Palmeiras, o atacante Servílio (já falecido) explorava o cabeceio através das bolas cruzadas por Julinho. Esta manjada jogada se arrastou até meados da década de 60, quando Gildo ocupou a camisa 7 do Verdão. A partir daí, Julinho pôde sentir a gostosura de um passado de glória, com repetidas homenagem, a última delas em sua despedida oficial do futebol, em fevereiro de 1967, num jogo amistoso contra o Náutico.
Agora, de certo Julinho, Joel e Mané Garrincha, sentados ao redor de uma mesa, no céu, degustam um bom vinho italiano e devem estar recordando os tempos em que os “pontas” faziam a alegria do futebol, com dribles de encher os olhos.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Atlético (PR) apostou em medalhões

Por Élcio Paiola (interino)


Há quatro décadas, jogador de futebol que atingia 35 anos de idade era tido como acabado por “ene” razões. Contusões nos joelhos, fraturas nas pernas e seqüência de contusões musculares encurtavam as carreiras dos boleiros. Paradoxalmente, na contramão da filosofia dos clubes da época, o Atlético (PR) decidiu montar em 1968 um time de medalhões, de jogadores que haviam rompido a barreira dos 35 anos.
A mudança de postura dos dirigentes deu-se após a queda da equipe à segunda divisão do futebol paranaense em 1967, com o conseqüente retorno no ano seguinte. E, para “encorpar” a equipe, os dirigentes apostaram em veteranos como o lateral-direito Djalma Santos, zagueiro Belini, ponteiro-direito Dorval e o atacante Zé Roberto, que atuaram numa equipe formada por Célio; Djalma Santos, Belini, Charrão e Nico; Paulinho e Madureira; Gildo (Dorval), Nair (Nilton Dias), Zé Roberto e Nilson. Gildo foi aquele ponteiro-direito do Palmeiras nos tempos de “academia”, em 1965. O volante Zequinha, outro ex-palmeirense, era reserva no time atleticano. E Nilton Dias morreu em dezembro de 2006.
Djalma Santos, que neste 27 de fevereiro vai completar 80 anos de idade, foi um exemplo de longevidade no futebol. Se já não tinha espaço no Palmeiras em 1968, o Furação fez questão de apostar em sua experiência, e se deu bem. Jogou até 43 anos de idade, deslocado para a zaga central no lugar de Belini, que havia abandonado o futebol.
Claro que no biênio 1969/69 ambos atuaram juntos no time paranaense, revivendo os tempos de Seleção Brasileira, com o título mundial na Suécia em 1958. Belini, que havia sido marginalizado no São Paulo, encerrou a carreira aos 37 anos de idade.
Quanto a Dorval Rodrigues, quando foi jogar no Paraná já não era aquele ponteiro velocista e compensava com habilidade e cruzamentos cheio de efeito. Ele integrou no Santos o famoso quinteto ofensivo formado por Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, de meados dos anos 60. Na época, o time peixeiro conquistou o bicampeonato mundial. Dorval ainda jogou no Racing Club, da Argentina, em 1964. Agora, em 26 de fevereiro, vai completar 74 anos de idade.
Antigamente, dirigentes se encorajavam em contratações de jogadores problemáticos, desde que decidissem partidas. E o atacante Zé Roberto, do São Paulo, tinha esse perfil. Gostava da noite, era mulherengo, e nem sempre respeitava as normas de concentração. No entanto, quando a bola rolava em partidas oficiais, se transformava. Magro e alto, tinha um aproveitamento fantástico no jogo aéreo. Em 1968 marcou 40 gols pelo Atlético (PR), ano em que o time começou a integrar o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, com a participação de 15 clubes: cinco de São Paulo, cinco do Rio de Janeiro, dois do Rio Grande do Sul, dois de Minas Gerais e um do Paraná. Na época, Portuguesa (SP) e América (RJ) tinham status de clube grande. Posteriormente, antes da denominação de Campeonato Nacional em 1971, Santa Cruz, de Pernambuco; Bahia e Ceará integraram a competição. E o Atlético (PR) conquistou o título de 2001.
O Robertão teve início em 1967. Antes dele, a única competição nacional de clubes era a Taça Brasil (hoje Taça do Brasil), que reunia os campeões estaduais em jogos eliminatórios. Também fazia muito sucesso o Torneio Rio-São Paulo.