sábado, 21 de maio de 2016

Adeus a Paulo Emílio, treinador aos 26 anos

 O nome do treinador de futebol Paulo Emílio só voltou à mídia nacional em 16 de maio, quando foi anunciada a sua morte na cidade de São José dos Campos (SP), aos 80 anos de idade. Aí informaram o currículo dele, de pouco mais de 30 anos na função, com passagens em grandes clubes como Santos, Vasco, Fluminense, Botafogo, Santa Cruz, Náutico, Bahia, Vitória, Paysandu, Fortaleza, Goiás, Atlético Paranaense e passagens por Portugal, Japão e Arábia Saudita em meados da década de 90, quando se aposentou.
 Evidente que por desconhecerem a metodologia de trabalho dele não citaram a opção pelo escanteio curto. O lance consiste em troca de passes a partir da linha de fundo, e não necessariamente levantamento de bola à área adversária. Se não foi ele o inventor desse estilo, sem dúvida está entre aqueles que mais o incentivaram. E narradores de futebol do passado batizaram a jogada de escanteio de ‘mangas curtas’.
 Em 1975, no auge da carreira, quando comandou a máquina do Fluminense montada pelo então presidente Francisco Horta, era obrigatório o escanteio curto. Aquele timaço conquistou a Taça Guanabara na decisão contra o América, quando o Estádio do Maracanã recebeu público de 96.035 pagantes.
 A vitória por 1 a 0 na prorrogação foi caracterizada com gol de falta do ex-meia Roberto Rivellino. Eis a equipe da época: Félix; Toninho, Silveira, Edinho e Marco Antonio; Zé Mário, Cléber e Rivellino; Gil, Manfrini e Zé Roberto.
 Outra marca na carreira do treinador foi a coragem para lançar garotos, o principal deles o centroavante Careca no Guarani, aos 17 anos de idade, em 1977. Mesma idade foi do lançamento de Carlos Alberto Barbosa, enquanto o lateral Rodrigues Neto subiu com 16 e o lateral-direito Rosemiro aos 18 anos.
 Essa atitude de Paulo Emílio tem tudo a ver com o seu surgimento como treinador. Aos 26 anos de idade já comandava equipe e compensava a falta de experiência com aprendizado teórico. Treinava exaustivamente bola aérea ofensiva no primeiro pau, para que alguém escorasse de cabeça visando complementação no segundo pau. De personalidade marcante, tinha habilidade para influenciar amigos e contornar problemas de indisciplina no elenco.
 Na adolescência, o sonho dele era jogar futebol profissionalmente, mas foi reprovado em teste no juvenil do Atlético Mineiro. Com a mudança da família ao Rio de Janeiro, chegou a realizar amistosos na zaga do time principal do Bonsucesso, mas teve que encerrar precocemente a carreira por causa da asma.

 No interior paulista Paulo Emílio trabalhou no Guarani e Noroeste de Bauru. São anotadas passagens ainda por Remo (PA), Nacional de Manaus e Criciúma (SC).

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Rinaldo, canhão pernambucano dos anos 60

 Na atualidade, frequentemente o atacante de beirada de campo hesita o drible no fundo de gramado sobre o lateral adversário. Na maioria das vezes opta pelo recuo de bola, ou passe lateral ao companheiro que se aproxima.
 Esse dado contrasta com o chamado ponteiro-esquerdo do passado, cuja identidade era caracterizada pelo drible, velocidade e cruzamento com efeito para o interior da área. E pode-se dizer que durante 22 anos o Palmeiras teve o privilégio de contar com ponteiros que tinham as tais virtudes.
 Palmeirense da velha guarda fica exultante ao detalhar o gol de falta de Romeiro no título paulista de 1959, na decisão contra o Santos de Pelé. O chute forte era característica marcante do saudoso Romeiro, que chegou ao clube um ano antes e ficou até 1962, com histórico de 114 jogos e 62 gols.
 No hiato de um ano sem um especialista na extrema esquerda, até que o destro Gildo foi bem adaptado ali, porque na ponta-direita Julinho Botelho era intocável. Aí, em 1964 chegou ao Palmeiras o canhão pernambucano Rinaldo Luís Amorim, precedido pelos títulos estaduais no Náutico em 1960-63, atuando em quinteto ofensivo formado por Nado, Bita, China, Ivan e Rinaldo.
 Se a estreia no Verdão diante do Santos foi marcada na derrota por 2 a 1, o histórico de 166 jogos mostra mais de um terço com gols: 61, baseados na facilidade de fechar em diagonal e explorar o chute forte, também frequente em cobranças de faltas. Logo, vieram convocações à Seleção Brasileira e retrospecto de 11 jogos, com a marcante estreia diante da Inglaterra, pela Copa das Nações, quando marcou dois gols na goleada por 5 a 1, com Julinho, Pelé e Roberto Dias completando o placar, enquanto Jimmy Greaves anotou para os ingleses. O jogo foi realizado em 30 de maio de 1964.
 Rinaldo era tão absoluto na posição que pouco se importou com a contratação do famoso Germano, jogador da posição no ano seguinte. Ele integrava o time batizado de academia e formado por Valdir; Djalma Santos, Djalma Dias, Minuca e Ferrari; Dudu (Zequinha) e Ademir da Guia; Gildo, Servilio, Tupãzinho (Ademar Pantera) e Rinaldo.
 Quando Rinaldo deixou o Palmeiras em 1968, o substituto já estava lá: o peruano Galhardo, que em 45 jogos marcou 21 gols. Depois, a Ferroviária (SP) passou a abastecer o Verdão com bons ponteiros-esquerdos. Piu chegou em 1969, e perdeu a posição para Nei em 1972, também formado em Araraquara.

 Em times grandes, Rinaldo ainda jogou no Fluminense e Coritiba. Por que alguém com o histórico dele passou por Garça, União Barbarense e Bandeirantes de Birigui, todos do interior paulista, antes do encerramento da carreira?

domingo, 8 de maio de 2016

Adeus a Zé Roberto, boêmio que deu certo

 Há três anos o atacante José Roberto Marques sofreu AVC (acidente vascular cerebral) e o processo de recuperação foi lento. No final de abril passado nova internação em hospital de Serra Negra (SP), por causa de uma úlcera. A doença se agravou e ele morreu no sábado sete de maio, aos 71 anos de idade.
 A história de Zé Roberto foi marcada por indisciplina, boemia, mas sobretudo como artilheiro. Foi um dos raros jogadores da noite que deu certo no futebol, principalmente na dupla Atlético Paranaense e Coritiba. Enquete feita pelo jornal Gazeta do Povo o apontou como maior ídolo daquele estado, período que garantiu convocações à Seleção Brasileira.
 Alto e magro, tinha aproveitamento fantástico no jogo aéreo. Em 1968, emprestado pelo São Paulo ao Atlético Paranaense, marcou 40 gols num time de medalhões como Djalma Santos, Belini, Zequinha, Dorval e Gildo, entre outros. Fim de contrato, o clube não dispunha de 150 mil cruzeiros - moeda corrente da época - para contratá-lo, e ele sugeriu que sócios se cotizassem para arrecadá-lo, propondo colaborar com três mil cruzeiros e promessa de abrir mão dos 15% a que teria direito.
 Na prática foram levantados dez mil cruzeiros, ele voltou ao São Paulo, e rapidamente o Coritiba atravessou o negócio em outras bases. E quando da formalização do contrato, na casa do então presidente Evangelino da Costa Neves, Zé Roberto aceitou dose de uísque oferecida pelo dirigente, e brincou citando que não gostava de guaraná.
 Revelado no juvenil do São Paulo em 1962, a maluquice o atrapalhou para fixação como titular. Cerca ocasião se apossou de obra de pintura a óleo de apartamento de um amigo, e se mandou para a Praça da República sem que fosse notado. Quando constataram atleta e objeto desaparecidos, saíram à procura, localizando-os em feira de expositores.
Claro que o quadro não seria vendido. Tudo não passou de brincadeira para assustá-los.
 Por essa e outras foi emprestado ao Guarani cinco anos depois, e atuou num time formado por Dimas; Miranda, Paulo, Guassi e Diogo; Bidon e Milton dos Santos; Carlinhos, Zé Roberto, Parada e Dalmar.
 Naquele período já gostava da noite e se divertia com mulherada em boates na capital paulista. Rotineiramente era visto em ônibus da Viação Cometa, única empresa de transporte de passageiros de Campinas a São Paulo, defronte à antiga estação ferroviária de Campinas, e, da janelinha, fazia farra com biscoiteiros, vendedores ambulantes e carregadores de mala.

 Repetia o lema que ‘o dia seguinte a Deus pertence’. Apesar de desfrutar de prazeres da vida noturna, negou escapadas às vésperas de jogos. “Eu saía de segunda a quinta-feira apenas, embora tenha desaconselhado garotos que ingressam no futebol profissional repetir os meus caminhos’, confessava.

Sávio, do sucesso à despedida melancólica

 Jamais será apagada a biografia do ex-atacante Sávio como ídolo do Flamengo e dez anos de futebol espanhol com passagem pelo Real Madrid resultando em três títulos da Liga dos Campeões. Aí é de se perguntar: alguém com histórico como esse precisava passar por humilhação em final de carreira, dispensado pelo Avaí de Santa Catarina?
 Em 2010, aos 36 anos de idade e com pernas travadas, era natural que o rendimento de Sávio nem de longe lembrasse aquele atleta talentoso do passado. Logo, perdeu espaço entre os titulares do clube catarinense, após 31 partidas e apenas quatro gols. Aí sentiu o drama ao ser encostado, com reclamações sistemáticas. Reflexo foi o desligamento do elenco.
 Pior é que no calor daquele momento, e tentando provar que ainda tinha ‘lenha pra queimar’ no futebol, Sávio estava propenso a aceitar proposta do Macaé (RJ) para disputar o Campeonato Brasileiro da Série C. Por sorte de ambos, o clube do interior do Rio de Janeiro desistiu do projeto de marketing que previa lotação do Estádio Moacyr de Azevedo, o Moacyrzão, e ali acabava a história de atleta profissional para o capixaba Savio Bortolini Pimentel.
 Olheiros de plantão o observaram atuar no infantil da Desportiva Capixaba em 1988 e o levaram ao Flamengo. A profissionalização ocorreu quatro anos depois, e não faltaram aquelas comparações ao meia Zico, igualmente franzino quando chegou à Gávea.
 Evidente que na bola Sávio não repetiu o repertório do ídolo, mas sabia usar a perna esquerda para penetrar em defesas adversárias com dribles em progressão e marcar gols. Por isso, era natural que projetassem trajetória de sucesso no futebol.
 No Flamengo ele conquistou títulos e participou do trio ofensivo com os renomados Edmundo e Romário em 1995. O retrospecto no clube foi de 261 jogos e 95 gols. A trajetória da Seleção Brasileira inclui passagens pelo Sub20, sub23 e principal, totalizando 80 jogos. O ápice foi a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atleta em 1996.
 Assim, era natural que despertasse interesse do futebol europeu. Na Espanha, o currículo foi enriquecido nas passagens por Real Madrid, Real Zaragoza, Real Sociedad e Levante. Em 2008 jogou no Chipe com a camisa do Anorthosis Famagusta. Posteriormene retornou ao Brasil.
 Sávio fixou residência em Florianópolis (SC) onde instalou empresa de investimentos imobiliários. Paralelamente gerencia carreiras de jovens atletas através da Real Spirit - com clínicas em cidades do país para peneirar novos talentos -, e ainda se ocupa comentando futebol em televisão no canal Esporte Interativo.
 Ele ainda tem agenda sobre lançamento do livro ‘Sávio, dribles certeiros de uma carreira de sucesso’.