segunda-feira, 25 de abril de 2016

Toninho Guerreiro, o goleador

 Quando você ouvir a ‘treinadorzada’ reclamar da falta de atacante ‘matador’, quando comentaristas de futebol dissertarem sobre incríveis gols perdidos, sugira que mostrem aos boleiros teipes com gols do atacante Toninho Guerreiro, falecido no dia 26 de janeiro de 1990, aos 48 anos de idade, vítima de derrame cerebral.
 Esse bauruense tinha invejável frieza para enfrentar goleiros. O chute era invariavelmente fraco, porém fora do alcance. “Prefiro fazer gols dentro da área. Fora dela, prefiro os bons passes”, costumava explicar. E nada de comemorações exageradas. Sarcástico, preferia debochar da desolação de zagueiros e goleiros adversários.
 A especialidade para conclusão de jogadas o projetou como quarto principal artilheiro na história do Santos, com 283 gols em 373 partidas, durante os sete anos de Vila Belmiro. No Santos, foi superado apenas por Pelé, Pepe e Coutinho, que marcaram 1.283, 405 e 370 gols respectivamente. Em 1968 Toninho Guerreiro marcou 76 gols, média de 1,055 por jogo.
 O apelido guerreiro se justificava porque brigava pela posse da bola. Aliava-se a isso a boa condição técnica, facilidade para proteger a bola, e incrível visão de gol.
 Após passagem relâmpago pelo Noroeste de Bauru (SP), Toninho Guerreiro chegou ao Santos em 1963 como substituto de Coutinho, e foi se habituando a conquista de títulos. Em 1965 quebrou a hegemonia de Pelé e foi artilheiro do Paulistão com 24 gols. Também entrou para história do futebol paulista como o único jogador a ostentar a condição de pentacampeão consecutivamente, de 1967 a 71, sendo os primeiros três anos pelo Santos e dois pelo São Paulo.
 O ciclo no Santos foi encerrado em 1969. Na temporada seguinte jogou no São Paulo, comandado pelo estrategista Zezé Moreira, que saiu da fila de títulos após 13 anos de jejum, nesse time: Sérgio; Furlan, Jurandir, Dias e Gilberto Sorriso; Edson Cegonha e Gérson; Paulo, Terto, Toninho Guerreiro e Paraná.
 Quando os gols rarearam no Morumbi, transferiu-se para o Flamengo, mas bastaram quatro jogos para ‘pular fora do barco’, com a justificativa de que não havia se adaptado no Rio de Janeiro. Na época, teve problemas familiares, começou a fumar e beber, e se transformou em atacante comum no Operário (MS) e Noroeste, onde encerrou a carreira em 1975.
 Fora da bola ficou um ‘balofo’, contrastando com aquele magrelão dos tempos de Santos. E pode-se dizer que foi um dos jogadores mais injustiçado na Seleção Brasileira, ao ficar de fora da Copa de 1970, no México.

 Motivo do corte? Uma brincadeirinha de mau gosto. Alegaram que tinha sinusite. Foi uma arataca para agradar ao intruso presidente da República Garrastazu Médici, que na época exigiu a convocação de Dario. “Sinusite? Que raio de doença é essa que não conheço”, reagiu com indignação Toninho Guerreiro.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Dez anos sem o treinador Telê Santana

 Treinador de futebol da atualidade debruça dia e noite em esquemas táticos, estuda variações de jogadas, ensaia bola aérea, e por aí vai. Treinadores do passado tinham preocupação de aprimoramento de aspectos técnicos dos jogadores. Repetiam, quantas vezes fossem necessárias, trabalhos de fundamentos com atletas, visando melhor condicionamento para os jogos.
 Telê Santana encaixava-se exatamente no perfil de aprimoramento técnico, embora fosse atento no aspecto tático, extraindo ensinamentos de ótimos professores nos tempos de jogador. No Fluminense, o saudoso técnico Zezé Moreira ensinou-lhe a importância do ponteiro ter duplicidade de função: de posse de bola fazer jogadas de fundo de campo, mas sem ela recuar no meio de campo para fechar os espaços do adversário. E isso foi repetido no final de carreira, na passagem pelo Guarani em 1962.
 Como treinador do São Paulo, pacientemente ensinou o ex-lateral-direito Cafu a cruzar, colocando a bola na área adversária em condição de o atacante marcar gols.
 Na década de 90, o ataque são-paulino não tinha cabeacedor, mas contava com um meia alto, como Raí. O que fez Telê?  Condicionou a chegada dele ao ataque, e o incumbiu de aproveitar cruzamentos do fundo do campo.
 Foi assim que Raí marcou um punhado de gols. E, aconselhado por Telê, agregou outra virtude em sua carreira de atleta: treinou exaustivamente cobranças de faltas até atingir aceitável índice de aproveitamento.
 Telê foi um dos raros treinadores que não reclamava de retrancadas adversárias. Na concepção dele, naquelas circunstâncias seu time atacava mais, criava mais oportunidades, e por isso deveria ter competência para finalizar, tanto que reservava parte dos treinamentos para exercitar esse fundamento.
 “Se o meu time ataca mais, vai sofrer faltas perto da área adversária. É aí que preciso contar com um bom batedor de faltas para marcar os nossos gols”, repetia Telê, cujo dia 21 de abril é marcado pelo décimo ano de sua morte.
 No comando da Seleção Brasileira, foi castigado naquele fatídico jogo pela Copa de 1982, da Espanha, com derrota por 3 a 2 para a Itália. Castigado porque seu time precisa do empate e ele optou por futebol ofensivo, persistido depois, e resultando no bicampeonato mundial como treinador do São Paulo na década de 90.
 Depois de cinco magníficos anos no comando técnico do São Paulo, teve de abandonar aquilo que era mais sagrado em sua vida: trabalhar no futebol. Complicações cardíacas o deixaram debilitado desde 1995. E isso lhe provocou angústia, porque só se sentia completamente realizado se estivesse envolvido no esporte.

 Ele ainda tentou se distrair com atividades agropecuárias em seu sítio, em Belo Horizonte, ou colado na televisão acompanhando futebol, novelas e programas de auditório, mas ficava deprimido facilmente. 

Zetti, exemplo de superação

 Quando saiu de Capivari para tentar a carreira de goleiro no Guarani, Zetti brigava com a balança e a instabilidade técnica resultou em dispensa na categoria juvenil do clube em 1983. O Palmeiras deu-lhe nova chance, apostou em seu futuro, e não relutou em emprestá-lo ao Toledo (PR), para que cumprisse estágio nos juniores e tivesse rápida ascensão ao profissionalismo. Três anos no futebol paranaense foram suficientes para que ganhasse maturidade, habilitando-se à condição de titular do Palmeiras.
 Treinando exaustivamente, e como exemplo de superação, Zetti foi fixado na equipe principal do Palmeiras em 1987, ao barrar Martorelli. E tudo ia bem naquela temporada, com 1.283 minutos sem sofrer um gol sequer. Por isso, jamais imaginou a transformação em vilão na final do Campeonato Paulista contra o São Paulo, quando as ‘penas voaram’ no terceiro gol são-paulino, marcado pelo ex-meia Neto, num chute de longa distância. A bola, que passou entre as suas pernas, provocou irritação da torcida palmeirense, que viu o adversário comemorar o título com goleada por 3 a 0.
 Zetti passou por outras provações no Palmeiras, uma delas em 1988 quando sofreu fratura de tíbia e fíbula, após disputa de bola com o ex-atacante Bebeto. O acidente resultou em afastamento do futebol por oito meses. No retorno, foi relegado pelo técnico Emerson Leão, na época comandante do Verdão.
 Veloso, em boa forma, foi o goleiro preferido do treinador, e Ivan o reserva imediato. Zetti ficou como terceiro goleiro. Insatisfeito, pediu para ser negociado.
 O São Paulo o acolheu. E acostumado a desafios, se entregou ao trabalho, recuperou a boa forma, e tomou o lugar de Gilmar Grimaldi em 1990. A partir daí foi uma sucessão de títulos: paulista, Libertadores, Mundial de Clubes e tetracampeão na Copa do Mundo de 1994, na reserva de Taffarel.
 Foi defendendo a Seleção Brasileira, em jogo na Bolívia, pelas Eliminatórias à Copa, que passou grande susto. Quando se submeteu ao teste de antidoping sobre uso de cocaína, o resultado foi positivo. A Fifa o suspendeu preventivamente por quatro dias, até que a CBF explicasse que ele havia ingerido o chá de coca, bebida comum na Bolívia.
 Em 1997, Zetti jogou no Santos e três anos depois defendeu o Fluminense. Ainda passou por União Barbarense (SP) e Sport Recife (PE), quando decidiu trocar a função de comandado pela de comandante dos juniores do São Paulo.
 Ele não decolou na carreira de treinador de futebol. Em 2003, na primeira experiência, superou as expectativas ao levar o Paulista de Jundiaí (SP) ao vice-campeonato regional. Dirigiu Ponte Preta, Guarani, São Caetano (SP), Fortaleza e Ituano (SP).

 Agora, aos 51 anos completados em janeiro passado, o ex-goleiro Armelindo Donizetti Quagliato se direcionou a outros segmentos do futebol e não esmorece.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Mazinho, uma família de boleiros

 Há dois casos notórios de ex-atletas que se enquadram no dito ‘filho de peixe, peixinho é’. O primeiro é o ex-atacante Lela, que após se projetar no Noroeste de Bauru (SP) conquistou título brasileiro com a camisa do Coritiba em 1985. Seus filhos são Alecsandro, centroavante do Palmeiras, e o lateral-esquerdo Richarlyson, do Novorizontino.
 O segundo é o polivalente Iomar do Nascimento, batizado no mundo da bola como Mazinho, cujos filhos brilham no exterior tanto quanto ele brilhou: Thiago Acântara, 24 anos de idade, hoje atacante do Bayern de Monique, e Rafinha, 22 anos, jogador do Barcelona da Espanha.
 Por sinal, este abril marca o cinqüentenário de vida de Mazinho no dia oito, enquanto o aniversário de Thiago será dois dias depois, com registro de nascimento na Itália, quando da passagem do pai por lá. Todavia, com cidadania espanhola, tem participado da seleção daquele país.
 Para cuidar da carreira dos filhos, visando distanciá-los de pretensiosos empresários do futebol, Mazinho gerencia tudo. Até desistiu do projeto de se transformar em treinador de futebol, após passagem experimental no Aris Salônica, clube de segundo escalação da Grécia, em 2009.
 Filhos a parte, o paraibano Mazinho, de Santa Rita, começou a se despontar na equipe Brasil Santa Cruz (PB) em 1983, despertando interesse do Vasco, que foi buscá-lo e o profissionalizou para atuar na lateral-esquerda dois anos depois, em companhia de Romário, Lira e Mário Tilico. Daquela trajetória vascaína, foi recompensado com a conquista do título brasileiro em 1989, e troféu Bola de Prata naquele ano e outros dois que antecederam, condizente com o estilo técnico e facilidade para o desarme.
 Ambidestro, se familiarizou facilmente à lateral-direita. Foi ali que chegou à Seleção Brasileira como titular da Copa América de 1989 e reserva na Copa do Mundo de 1990.
 Ele ficou no Vasco até 1991, transferindo-se posteriormente para Lece e Fiorentina da Itália. Por lá ficaria mais tempo não fosse interferência da Parmalat - então co-gestora do futebol do Palmeiras - que o buscou em 1993, para que ajudasse na quebra de jejum de títulos, época em que já estava devidamente adaptado à função de volante.
 Assim, no auge da carreira, era natural que participasse da Seleção Brasileira do Mundial de 1994, nos Estados Unidos. Provavelmente não esperava ocupar a vaga do meia Raí. Isso aconteceu a partir da segunda fase da competição, e ali se fixou até levantar o caneco num time formado por Taffarel; Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Leonardo (Branco); Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho; Bebeto e Romário.

 Do Palmeiras ao retorno à Europa não tardou. Na Espanha atuou no Valencia, Celta de Vigo, Elche e Deportivo Alavés. No regresso ao Brasil, ainda jogou no Vitória da Bahia antes do encerramento da carreira de atleta em 2001.