segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

2010 será diferente?

De certo o desportista está fatigado de retrospectiva do futebol de 2009. Igualmente foi persuadido incontáveis vezes a uma reflexão pessoal sobre erros e acertos no ano que se finda. Então, contrariando linha editorial da coluna, que tal um exercício de futurologia para 2010? Ou melhor: será que podemos esperar grandes surpresas e mudanças radicais em alguns segmentos esportivos?
Seria 2010 o ano da aparição de um novo Pelé? Céticos de plantão dizem que jamais nascerá outro igual. E acrescentam: quem viu, viu; quem não viu, não verá mais. Será? Convenhamos que passou da hora para o surgimento de outro jogador completo nos fundamentos chute, drible, cabeceio, passe e posicionamento. Pelé surgiu no futebol há mais de 53 anos, e tem lógica projetar que alguém ainda vai destroná-lo. Difícil é prever quando. O novo “rei” precisará mostrar chutes certeiros de curta e longa distância - inclusive em cobranças de falta -, sem distinção de perna direita e esquerda. Outro requisito é tabelinha objetiva com companheiro de ataque nas proximidades da área adversária. E se tiver estatura mediana como Pelé - 1,71m de altura - terá de necessariamente compensar com boa impulsão e colocação para suplantar, de cabeça, zagueiros grandalhões. E mais: o sucessor do rei terá de marcar mais de 1.200 gols.
Digamos que a expectativa maior dos esportistas é no quesito segurança nos estádios. Policiais à paisana infiltrados entre torcedores das “organizadas” é um indicativo para se distinguir baderneiros e enquadrá-los em legislação específica a ser criada para o futebol. Aí, com especificações de artigos prevendo punições drásticas, os transgressores já não ficariam impunes, ou arcariam apenas com a pena branda de prestação de serviço comunitário em dias de jogos.
Fique de olho em dinheiro público de prefeituras injetado em clubes, principalmente de municípios vizinhos. Muitos questionam a preferência da Petrobras para patrocinar seguidamente o Flamengo. E a Eletrobrás não deixa por menos: injeta milhões no Vasco.
Os anos se sucedem e dirigentes voltarão a ser acusados de jogar dinheiro no ralo, com administrações incompetentes. São gastos absurdos com jogadores de qualidade duvidosa, elencos inchados, “gorduras” em comissões técnicas e assessores incompetentes. Cadê a fiscalização através de conselhos com as devidas finalidades, nos clubes? Ela precisa ser intensificada e os abusos reduzidos.
Preços de ingressos de jogos de futebol não podem ser majorados conforme conveniência de cartolas. Lembram-se do exemplo de dirigentes santistas que elevaram de R$ 20 para R$ 80 o preço de uma arquibancada na semifinal do Paulistão contra o Corinthians, no Estádio da Vila Belmiro?
Oxalá em 2010 haja redução no número de treinadores que protegem jogadores indisciplinados. Tomara que deixem de insistir na escalação de jogadores em má fase técnica. Chega de regalias! Chega de passar a mão na cabeça do craque! E que os boleiros se conscientizem da necessidade de maior concentração em campo, para que evitem erros de passes curtos. Feliz 2010.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Vagner Love: injustiçado

O triste episódio de torcedores palmeirenses agredindo o jogador Vagner Love, vinculado ao clube, seria evitado se a nação alviverde fosse devidamente informada da queda de rendimento técnico de seu atacante.
Love pode até ser baladeiro como dizem por aí, mas a queda de produção de seu futebol não reflete acentuadamente no aspecto físico. A questão é puramente tática. É conceitual.
Quando se projeta a contratação de um jogador, independente de suas virtudes, é necessária uma avaliação criteriosa como será encaixado no esquema tático programado pelo treinador. Oras, se a principal característica de ataque trabalhada pelo técnico Muricy Ramalho é o jogo aéreo, o que esperar de produtividade de Vagner Love, jogador de pouco mais de um metro e meio de altura - 1,71m?
Convenhamos que os cartolas do Palmeiras e principalmente o gerente de futebol Toninho Cecílio deveriam ter avaliado que jogadas aéreas não se “casariam” com o estilo de Vagner Love. A rigor, nem sempre os clubes analisam criteriosamente características de jogadores e esquemas adotados por treinadores, e depois são surpreendidos.
A queda de rendimento do Palmeiras tem muita a ver com laterais ou quem caía pelas beiradas do campo insistir em alçar bola para a área adversária a procura de um cabeceador. De vez em quando o atacante Obina completava a jogada para o gol. Do contrário, gols de cabeça se restringiam às projeções de zagueiros ao ataque, principalmente em lance de bola parada.
Deve-se considerar, também, que o Palmeiras teve a infelicidade de perder, por contusão, o meia Cleiton Xavier, articulador de jogadas que sabe vislumbrar um atacante em boas condições para arrematar.
Claro que na ausência dele a incumbência de organizar as jogadas de ataque seria de Diego Souza, mas ele andou escondido em campo. Apesar de suas inegáveis qualidades, não chamou para si a responsabilidade de decidir partidas e sucumbiu, como todo time. E, considerando-se suas atuações bem aquém do esperado, jamais deveria ser eleito o craque do Campeonato Brasileiro. Em futebol, registra-se muito a última imagem. E sua última imagem foi aquele golaço do meio de campo que marcou contra o Atlético (MG). Um gol magnífico, imortalizado, sem dúvida. Para a maioria, um gol que apagou as más atuações quando merecia até ser substituído em campo.
Sorte de Diego de ter trabalhado com Muricy Ramalho, treinador que respeita a identidade do jogador. Uma leva de comandantes não hesitaria em substitui-lo, fato que alertaria a torcida sobre seu fraco desempenho. E isso resultaria em cobrança maior.
Então, sem municiamento adequado dos meias, com a natural irritação de bolas levantadas pelos laterais, e com um companheiro de ataque com claras deficiências técnicas, como Obina, Love teria mesmo que sucumbir.
Com a definição que ele, Love, e Muricy Ramalho permanecerão no Palmeiras em 2010, é imprescindível que o treinador reveja seus conceitos de insistência no jogo aéreo. Love é bom no chão. Logo, por ali devem ser preparadas as jogadas para que conclua.
Ele é rápido, tem relativa habilidade, e é “matador”.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Pedro Rocha, sucesso e doença

Pedro Virgilio Rocha Franchetti foi o jogador uruguaio de maior sucesso no futebol brasileiro. Apesar da fama, não ganhou dinheiro suficiente para tratamento do AVC (Acidente Vascular Cerebral), que limitou seus movimentos e fala, e por isso conta com ajuda de amigos dos tempos de São Paulo e da receita da venda do livro lançado em novembro, “Tricolor Celeste”, escrito pelo jornalista Luís Augusto Simon, para cobrir o custo do tratamento, com ênfase para a fisioterapia.

Uruguaios, chilenos e argentinos que por aqui aportam “arrastam um portunhol” mesmo depois de anos de convivência com a língua portuguesa. Pedro Rocha é um desses personagens que misturam, na fala, espanhol e português, apesar dos quase 40 anos de Brasil.

El Verdugo, que completou 67 anos de idade no dia 3 de dezembro, entrou para a história do futebol uruguaio como atleta que disputou quatro Copas ininterruptas, de 1962 a 1974. Pôde jogar em Montevidéu ao lado de atletas renomados como o goleiro Mazurkiewicz, Spencer e Cubilla. Também viveu o grande momento do Peñarol, na década de 60, ocasião em que o clube uruguaio conquistou sete campeonatos nacionais, três Libertadores da América e dois Mundiais de Clubes.

Apesar dessa recheada biografia, ele custou a se adaptar no futebol brasileiro, colocando em risco o investimento de US$ 150 mil (equivalente a Cr$ 870 mil - moeda brasileira na época) à vista, que o São Paulo pagou pelo passe. Também pudera: ocupar o lugar de Gerson, o Canhotinha de Ouro, era muita pretensão. Assim, o jeito foi entrar aos poucos no time, até se adaptar à meia-direita ou ponta-de-lança, como queiram.

Para quem chegou no São Paulo em agosto de 1970, é inquestionável que Pedro Rocha demorou a convencer os são-paulinos que repetiria o futebol dos tempos de Peñarol. A dúvida só foi desfeita após brilhante atuação contra o Palmeiras, em março de 1971. E o uruguaio sentiu-se mais à vontade quando Gerson retornou ao Rio de Janeiro. A partir daí, pôde reassumiu sua real posição.

No São Paulo foram sete anos de um futebol primoroso. Rocha tinha facilidade para conduzir a bola. O chute era forte e certeiro de média e longa distância. Constatava-se oportunismo no cabeceio e visão privilegiada de jogo. Raramente passava uma partida sem colocar companheiros na “cara” do gol.

Daquele São Paulo campeão paulista de 1975, Rocha teve participação destacadíssima. Eis o time base: Waldir Peres; Nelsinho Baptista, Paranhos, Samuel e Gilberto Sorriso; Chicão, Pedro Rocha e Terto; Muricy Ramalho, Serginho Chulapa e Zé Sérgio. Técnico: José Poy.

Depois, com a chegada do treinador Rubens Minelli, que privilegiava a força do conjunto, o espaço de Pedro Rocha ficou encurtado no Tricolor. Aí ele topou jogar por empréstimo no Coritiba em 1978. No ano seguinte, uma curta e apagada passagem pelo Palmeiras. Depois, jogou no México e na Arábia Saudita até 1980. Como treinador, seu histórico foi discretíssimo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Flamengo, o preço da rebeldia

Flamengo hexacampeão brasileiro? Errado. O Flamengo é pentacampeão. E o título de 1987, não conta? Sim, não conta. Na época os cartolas do Mengão ignoraram o regulamento da competição e provocaram WO (não comparecimento) nos jogos contra Guarani e Sport de Recife, nos dias 24 e 27 de janeiro de 1988, no quadrangular previsto para decisão do título. Então, a CBF oficializou o Sport como campeão, após disputa contra o Guarani.
Flamengo e Inter, que integraram o módulo verde, transgrediram o regulamento que previa cruzamento com clubes do módulo amarelo (Sport e Guarani). Portanto, legalmente o Flamengo foi campeão apenas da Copa União. Naquela temporada, os grandes clubes do futebol brasileiro manifestaram preocupação com o inchaço de equipes no Campeonato Brasileiro. Influências políticas partidárias pesavam nas admissões de mais agremiações no campeonato, e isso o inviabilizava financeiramente. Assim, os cartolas dos “grandes” optaram pelo grito de independência e criaram o Clube dos 13.
Santos, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Botafogo (RJ), Flamengo, Fluminense, Vasco, Atlético (MG), Cruzeiro, Inter (RS), Grêmio e Bahia passaram a dar as “cartas” e convidaram Goiás, Santa Cruz e Coritiba para participarem de uma competição enxuta, com 16 clubes, batizada de Copa União, em decorrência do patrocínio da empresa Açucar União. O outro patrocinador foi a Coca-Cola.
Claro que a imposição do Clube dos 13 não contou com respaldo da CBF, na época comandada pela dupla Otávio Pinto Guimarães e Nabi Chedid, presidente e vice-presidente respectivamente, já falecidos. Afinal, a estratégia rebelde do Clube dos 13 violava direitos adquiridos de clubes como Guarani, Bangu, América (RJ), Portuguesa e Criciúma. O Guarani, por exemplo, havia sido vice-campeão brasileiro no ano anterior e, em tese, jamais deveria ter sido excluído do seleto grupo. Afora essa leva relegada, clubes tradicionais como Vitória (BA), Sport Recife e Atlético (PR) também não admitiram rebaixamento à divisão inferior.
Aquele imbrólio requeria uma decisão política, e aí entrou em cena o também deputado estadual Nabi. A alternativa de cruzamento de módulos, que ele sugeriu, foi a forma acordada para equacionar o problema. Portanto, conforme o regulamento da competição, 32 clubes integraram o Campeonato Brasileiro, divididos em dois módulos de 16 equipes, com cruzamento apenas no quadrangular.
Por fim, interesses comerciais e da televisão pesaram na decisão de Flamengo e Inter para recusarem o cruzamento em seus jogos contra Guarani e Sport. Assim, coube à CBF homologar o Sport como campeão, Guarani vice, e ambos adquiriram o direito de representar o país na Copa Libertadores da América.
O Flamengo esperneou. Tentou reverter a decisão em tribunais desportivos, porém sem lograr êxito. Até a Fifa deu respaldo à CBF.
É prudente a recapitulação dos fatos para que os legalistas não contabilizem o título do Flamengo de 1987 como sendo do Campeonato Brasileiro. As regras do jogo - certas ou não - estão aí para o devido cumprimento.
Ariovaldo-izac@ig.com.br

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Andrade valoriza posse de bola

Por que o sérvio Petskovic renasceu para o futebol e foi indicado como um dos principais destaques do Campeonato Brasileiro de 2009 com a camisa do Flamengo? Claro que o dedo do técnico Andrade foi fundamental para a performance surpreendente deste meia. Como o time flamenguista foi condicionado a valorizar a posse de bola, por extensão Pet foi acionado seguidamente, e de sua cabeça pensante surgiram as principais jogadas de ataque de seu time.
Andrade deu um show no comando do Flamengo na recente vitória sobre o Corinthians por 2 a 0, em Campinas. Depois, acuado por um batalhão de repórteres, não fugiu da habitual simplicidade e transferiu os méritos aos seus jogadores, diferentemente de treinadores arrogantes e marqueteiros, que elencariam táticas para se sobrepor ao adversário.
Ainda bem que o comentarista de futebol Júnior, profundo conhecedor da matéria, explicou aos telespectadores da TV Globo a sábia estratégia de Andrade de ordenar aos jogadores flamenguistas que ficassem o maior tempo possível com a bola nos pés, para evitar riscos. “Vejam que os jogadores do Flamengo evitam até cruzamentos para a área adversária, para não darem chances de rebote e perda da posse de bola aos jogadores corintianos”, detalhou Júnior.
A impressionante visão de jogo de Andrade foi logo identificada pela boleirada de sua equipe, que apoiou sua efetivação no cargo no início de agosto, após a saída do técnico Cuca. A rigor, privilegiada visão de jogo sempre foi característica preponderante de Andrade nos tempos de jogador do Flamengo entre os anos 70 e 80, quando participou do mais aplaudido trio de meio-de-campo do clube: Andrade, Adílio e Zico. Eles faziam a bola rolar de pé em pé. Preocupavam-se extremamente em valorizá-la, e assim desafogavam o setor defensivo. Apesar disso, quando os adversários procuravam se organizar, Andrade também mostrava capacidade para o desarme, coadjuvado por Adílio que cercava bem os espaços no setor, a despeito de ter sido um jogador criativo.
Andrade participou daquele inesquecível time do Flamengo de 1981, campeão da Libertadores da América sobre o Cobreloa (CHI), e Mundial de Clubes diante do Liverpool (ING): Raul Plasmman; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. O técnico era Paulo César Carpeggiani.
Mineiro de Juiz de Fora, 52 anos de idade, Jorge Luís Andrade da Silva começou a carreira no Flamengo em 1974, ganhou experiência nos dois anos emprestado ao Ula Mérida da Venezuela, e voltou ao exterior em 1988, no Roma da Itália. Na volta ao Brasil, ano seguinte, foi campeão brasileiro no Vasco. Depois a trajetória foi marcada em clubes modestos como Desportiva (ES), Operário (MS) e Bacabal (MA).
Como auxiliar técnico do Flamengo foi leal aos treinadores com os quais trabalhou. A sabedoria ao transmitir conceitos de seu tempo de jogador ao grupo que comanda serviu para sepultar a alternativa de técnico tampão. Ele soube pacientemente esperar a oportunidade.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Ado, um goleiraço

Em 1969 o Corinthians foi buscar em Londrina o goleiro Ado e não se arrependeu. Repetidas vezes ele ia buscar as chamadas bolas na gaveta - como se diz na gíria do futebol. Tinha elasticidade para praticar defesas quer no chão, quer no alto.

Nascido em Jaraguá - interior de Santa Catarina - Ado migrou-se para Londrina e iniciou a carreira no futebol em 1966 naquela equipe do interior paranaense. Na época já usava luvas, contrastando com a maioria dos goleiros que não dispunha da “ferramenta”. A rigor, naquele período quem era da posição tinha vício de cuspir nas mãos para umedecê-las.

Goleiro do passado sofria. Além da maior dificuldade em focar a bola de cor marrom, mais pesada, que não era impermeável, dizia-se que a posição era tão diferenciada a ponto de não nascer grama na pequena área. Na prática, despejavam areia fina nas imediações da risca do gol e quem optava pela posição usava joelheira e camisa de manga comprida, dotada de acochoalho para proteção de cotovelo, ombro e região peitoral.

O único favorecimento aos goleiros era a forma retangular das traves de madeira, que muitas vezes evitavam a bola de entrar para o gol quando batia nas quinas. Hoje, as balizas são roliças e de ferro.

Em Londrina, olheiros de plantão se encantaram com as defesas de Ado e o Corinthians sabiamente o contratou. E bastaram alguns meses no Timão para que chegasse à Seleção Brasileira ainda nas Eliminatórias à Copa do Mundo do México. Pena que o teimoso treinador Mário Jorge Lobo Zagallo o deixou na reserva de Félix, com a justificativa de maior experiência do então goleiro do Fluminense.

O tricampeonato mundial em 1970 rendeu fama e projeção a Ado. Descendente de alemão, bom porte físico e vasta cabeleira, foi chamado para estrelar em comerciais de televisão, sem que isso provocasse descuido na carreira de atleta no Corinthians até 1974, quando se transferiu para o América do Rio de Janeiro.

Pode-se dizer que a partir daí não foi mais aquele goleiro regularíssimo. Assim, começou o repasse de clubes: Atlético (MG), Portuguesa, Velo Clube (SP), Santos, Ceará, Ferroviário (CE), Fortaleza e Bragantino até 1982.

Aí, o cidadão Eduardo Roberto Stinghen mostrou que tem cabeça no lugar. Aplicou o dinheiro que engordava no mercado financeiro na compra de dois restaurantes. Depois, quando bateu aquela saudade do mundo da bola, trocou de ramo: construiu quadras de grama sintética em dois complexos esportivos na capital paulista, com objetivo de incrementá-los em locações e escolinhas de futebol para crianças e adolescentes.

Hoje, aos 63 anos de idade completados em julho passado, Ado mora no Brooklin, bairro nobre de São Paulo, e lembra com orgulho daquele time corintiano de abril de 1971, na virada por 4 a 3 sobre o Palmeiras: Ado; Zé Maria, Sadi, Luís Carlos e Pedrinho; Tião e Rivelino; Lindóia, Samarone, Mirandinha e Peri.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Getúlio, o GG da cara grande

Inegavelmente boleiros têm prazer em colocar apelidos nos colegas, e ainda bem que na maioria das vezes a brincadeira fica restrita ao círculo em que trabalham. Como toda regra tem exceção, o mineiro Getúlio Costa de Oliveira encaixa nela. Por causa da grande cabeça, maldosamente foi identificado como “GG da cara grande”.
Pelo mesmo motivo, sarcásticos boleiros do juvenil do Guarani tentaram apelidar o ex-volante Mauro Silva de Tulião. Não fosse a intermediação do então técnico da garotada, Pupo Gimenez, certamente Mauro Silva se consagraria como o volante Mauro Tulião no tetracampeonato mundial de futebol do Brasil, em 1994, nos Estados Unidos. Pupo havia pedido à imprensa campineira que identificasse o jogador pelo nome verdadeiro.
Por que Tulião? A princípio era Mauro Getulião, porque os boleiros traçavam semelhança entre as cabeças dos dois jogadores. Depois, optaram pela redução do apelido para Tulião por ser mais sonoro.
Getúlio chegou nas categorias de base do Atlético Mineiro com currículo de centroavante, em 1970. Dois anos depois, na Taça São Paulo de Futebol Júnior, o técnico Barbatana o deslocou à lateral-direita, considerando o bom passe e facilidade para bater na bola nos cruzamentos.
Essas virtudes sobrepunham os defeitos de Getúlio, um lateral tido como pesado, passadas lentas e dificuldade para enfrentar ponteiros-esquerdos rápidos. Por sorte, na maior parte da carreira raramente enfrentou ponteiros-esquerdos velozes. A maioria foi quarto homem de meio-de-campo.
Podem colocar quaisquer objeções ao futebol de Getúlio, mas o certo é que só jogou em grandes clubes brasileiros. No “Galo” atuou ao lado de Toninho Cerezo e Reinaldo. Em 1977, no São Paulo, sagrou-se campeão brasileiro justamente contra seu ex-clube, no Estádio do Mineirão, diante de 102.974 pagantes. Após empate sem gols, a definição deu-se através de cobrança de pênaltis e o Tricolor ganhou por 3 a 2, com Getúlio e Chicão perdendo pênaltis para o São Paulo.
O time base são-paulino era formado por Valdir Peres; Getúlio, Tecão, Bezerra e Antenor; Chicão, Teodoro e Daryo Pereira; Viana, Serginho Chulapa e Zé Sérgio. Jogadores como Estevam Soares - hoje treinador - e Mirandinha também integravam o elenco.
Nos oito anos de São Paulo, Getúlio marcou 34 gols, a maioria de pênaltis. E ao chegar ao Fluminense em 1984, mal sabia que amargaria a reserva do velocista Aldo, que incansavelmente levava a bola ao fundo de campo. O Fluminense foi campeão daquele Brasileirão, mesmo com a imprudência dos cartolas que demitiram o técnico Carbone - com o time na liderança - e contrataram Carlos Alberto Parreira.
Getúlio jogou na Seleção Brasileira, principalmente durante as Eliminatórias à Copa do Mundo de 1982. Por isso, não esconde a mágoa ao ter sido relegado pelo técnico Telê Santana àquele Mundial, na Espanha. Edvaldo, do Fluminense, foi no lugar dele.
O final de carreira foi nos Estados Unidos, no Hollywood Kikers de Los Angeles. Depois trabalhou como técnico nas categorias de base do Galo.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Excursões e os dólares

Pelé, o atleta do século, sempre arrastou multidões aos estádios de todo planeta. Nas excursões do Santos ao exterior, entre os anos 50 e 70, a cota do clube era uma com a presença dele e outra fracionada sem ele. Em 1969, Pelé provocou trégua em uma guerra entre as facções civis Kinshara e Brazzavilei, no Congo Belga, na África. Todos queriam vê-lo em campo, mas o cessar-fogo foi negociado com a finalidade de não colocar em risco a delegação santista em dois jogos agendados pelo empresário francês Elias Zacour.
Naquele período, os grandes clubes brasileiros excursionavam a todos os continentes. Os cartolas justificavam o vaivém ao exterior, mesmo com campeonatos regionais em andamento, pela necessidade de buscar dólares para cobrir rombos nas finanças dos clubes ou servir de investimento no patrimônio.
Até a década de 90, com menos intensidade, os clubes ainda excursionavam. Todos os anos um deles participava do torneio quadrangular Ramon de Carranza, em Cardiz, na Espanha. O Vasco ganhou três vezes a competição, seguido por Flamengo duas, Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Atlético Mineiro uma vez, em 1990, na vitória por 1 a 0 sobre o Santos.
A estreita ligação de dirigentes vascaínos com comandantes de clubes portugueses implicou em seguida programações de amistosos naquele país, mas foi o Flamengo, em 1951, quem praticamente abriu o mercado de exibições de clubes brasileiros na Europa. É que o time voltou invicto após dez partidas. Dez anos depois, coube ao Fluminense também realizar uma bem sucedida excursão ao velho mundo: nove vitórias e uma derrota.
O Cruzeiro foi outro clube bem relacionado com os portugueses. Curiosamente, o primeiro gol que Ronaldo “Fenômeno” marcou na equipe celeste foi na “terrinha”, contra o Belenense, na vitória por 2 a 0, em 1993, quando ele ainda completaria 17 anos de idade.
Desde a década de 60 o Cruzeiro tem um bom nome no exterior, e na ocasião os adversários exigiam a presença do atacante Tostão. Por isso, era comum a opção de um time misto com a inclusão do principal astro nas excursões, como em 1967 na América do Norte.
A exemplo do Santos com Pelé, o Botafogo (RJ) também tinha cota diferenciada quando levava o ponteiro-direito Mané Garrincha em sua agenda no exterior. Em 1963, em nove partidas na América do Sul, Garrincha jogou sete com o joelho inchado.
Clubes de menor expressão como Bangu (RJ) e Ferroviária (SP) também viajavam para fora do país. A mais longa excursão foi de 120 dias, em 1973, do ABC de Natal, que entrou no livro dos recordes (Guinness Book). Seu último jogo, em Uganda (AFR), rendeu-lhe a cota de U$ 3 mil, três vezes mais que o negociado nas partidas anteriores.
Nem todos os clubes eram bem sucedidos nas viagens. Havia empresários os abandonavam e os deixavam sem agenda e dinheiro para pagamento de despesas. Aí, o dirigente com jogo de cintura conseguia se virar.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Novembro, o mês do Flamengo

Novembro é mês de festas para o Clube de Regatas Flamengo, cuja trajetória foi marcada inicialmente com atividade de regatas. O futebol só chegou em 1911, através de um grupo de nove jogadores dissidentes do Fluminense. No dia 15 o clube completa 119 anos de histórias, e os três últimos foram marcados por campanhas aceitáveis no Campeonato Brasileiro. Agora está entre os melhores, ano passado ficou em 5º lugar, e em 2007 só foi suplantado por São Paulo e Santos, contrastando com a 11ª colocação em 2006 e o inaceitável 15º lugar em 2005.
Novembro é mês especial para o Flamengo. Em 1981, no dia 23, ele comemorou o título da Libertadores da América, na batalha contra o Cobreloa, do Chile. Na primeira partida da final, no Estádio do Maracanã, ganhou por 2 a 1. O Cobreloa venceu a segunda por 1 a 0, no Estádio Nacional de Santiago, em jogo violento. O zagueiro Mario Sotto colocou uma pedra entre os dedos da mão e, covardemente, deu um soco no rosto do meia Adílio, que deixou o campo banhado de sangue.

No jogo extra, no Uruguai, o meia Zico comandou o Flamengo na vitória por 2 a 0, e a nação rubro-negra ficou com a alma lavada. É que o atacante Anselmo, que entrou em campo aos 42 minutos do 2º tempo, só queria vingar Adílio. E, ao se aproximar de Mario Sotto, descontou o soco, nocauteando o chileno. E nem esperou o juiz expulsá-lo. Correu para o vestiário. Semanas depois, o Flamengo conquistou o Mundial Interclubes em Tóquio, no Japão, com a goleada por 3 a 0 sobre o Liverpool, da Inglaterra.

É do Flamengo, também, o maior artilheiro de campeonatos cariocas. O atacante Sílvio Pirilo marcou 39 gols em 1941, ano em registrou-se uma das mais polêmicas decisões no Rio de Janeiro em Fla-Flu. Pirilo havia empatado faltando sete minutos para o final, o Fla tentava a virada em busca do tetra, mas o Fluminense adotava uma estratégia inusitada para sustentar o empate, que lhe daria o título no Estádio da Gávea: seus jogadores aproveitavam o muro baixo do campo para chutar a bola em direção à Lagoa Rodrigo de Freitas, ao lado. Como não havia bola para reposição, o jeito era buscá-la de barquinho, a remo. Assim, o Fluminense foi campeão na decisão conhecida como Fla-Flu da Lagoa.

O Flamengo é um clube tão singular que em 1970 o policial militar Valentim Alberto Cruz se esqueceu que estava de serviço e jogou o capacete para o alto durante comemoração do gol de empate do atacante Fio Maravilha, no empate em 1 a 1 com o Fluminense. Cruz saiu preso do Maracanã, mas feliz com o título da Taça Guanabara de seu rubro-negro. O soldado e os mais de 33 milhões de flamenguistas no País transformaram o Flamengo no clube mais querido.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Faltas na 'pancada'

Embora não haja estatísticas para se comparar proporções de gols de falta hoje com décadas passadas, no “olhômetro” pode-se assegurar que entre os anos 50 a 70 o aproveitamento era maior e habilitava-se às cobranças boleiros que pegavam forte na bola. No futebol brasileiro, provavelmente não tenha surgido quem chutasse com a força do ponteiro-esquerdo Pepe, do Santos. Ele furava redes do time adversário, e ficou conhecido como o “Canhão da Vila”. Mesmo em faltas nas proximidades da área, a preferência recaía sobre quem chutava forte. E são inúmeros os exemplos de bons cobradores: Carlucci, lateral-esquerdo do Botafogo de Ribeirão Preto (SP), raramente passava dois jogos sem marcar.

Geralmente quem cobrava era o meia de armação, que pegava forte e com direção na bola. Jair da Rosa Pinto, o Jajá, do Palmeiras, tinha uma “patada” no pé que aterrorizava goleiros adversários. Lelé, ex-Vasco e Ponte Preta, foi identificado como patada atômica. Igualmente Rivelino do Corinthians e Nelinho do Cruzeiro estufavam as redes com seus potentes chutes.

Numa demonstração de força na perna direita para o chute, Nelinho colocou propositalmente a bola fora do Estádio do Mineirão. Oldair, volante do Atlético Mineiro, também chutava forte, porém sem tanta precisão. É justo ressaltar que marcou o gol da vitória do Galo contra o São Paulo, no triangular final do Campeonato Brasileiro de 1971, no Estádio do Mineirão. Quando chutou, o meia Gerson, na barreira, abaixou a cabeça para se proteger da bola. Depois o Galo ganhou do Botafogo (RJ), no Estádio do Maracanã, e comemorou o primeiro título da competição.

Na ocasião, Telê Santana era o técnico do Atlético (MG), e ficava furioso quando seus jogadores demonstravam medo de ficar na barreira. A rigor, na primeira passagem pelo São Paulo, em 1973, durante uma partida, o técnico se irritou quando um jogador de seu time tirou a cabeça da bola num chute forte de um adversário, em cobrança de falta. A bola entrou, e na reapresentação dos jogadores, no dia seguinte, Telê os levou para o campo, ficou parado nas imediações da área, e mandou o jogador medroso chutar a bola com toda força na direção dele, desviando alguns chutes de cabeça. Depois, ficou de costas e mandou o mesmo jogador chutar com toda força no corpo dele. E quando o jogador acertou o alvo, Telê sorriu e disse que bolada não mata.

Evidente que cobradores de falta com a maestria do meia Didi - com passagens por Fluminense e Botafogo (RJ) -, que batia colocado e fora do alcance dos goleiros, também tiveram espaço. Didi inventou a folha seca, que consistia em dar efeito na bola, que caía no gol adversário. Zico, no Flamengo, talvez tenha sido quem mais se assemelhou a Didi no chute folha seca. Neto, cujo auge na carreira foi no Corinthians, batia colocado ou com força.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

20 anos sem Mário Vianna

Lembram-se dos bordões do tipo “gol legal”, ou “banheiraaaaa...”? Foram criações do lendário comentarista de arbitragem Mário Gonçalves Vianna. Pois é, num país sem memória, como o Brasil, não se estranha ter passado despercebido os 20 anos de morte de quem foi o mais polêmico árbitro brasileiro de todos os tempos. Ele, que nasceu no bairro da Urca, no Rio de Janeiro, morreu no dia 16 de outubro de 1989.
Vianna foi um dos introdutores em análise de arbitragem no rádio brasileiro há várias décadas, e o modelo foi posteriormente copiado pela mídia eletrônica. Nas transmissões de futebol da Rádio Globo do Rio de Janeiro, esse carequinha criativo fazia questão de se identificar como “Mário Vianna com dois enes”, e embelezava as jornadas com seus tradicionais bordões.
Quando Valdir Amaral, narrador da Rádio Globo, propositalmente o provocava sobre a posição de impedimento de determinado jogador, Vianna testava a enorme audiência da emissora, com sua voz estridente, ao citar “banheiraaaaa...”, provocando eco através dos radinhos de pilha levados por torcedores ao Estádio do Maracanã, para acompanhar as transmissões de futebol.
Por que banheira? Na banheira, ensaboado, você fica sozinho, assim como o jogador isolado no campo de ataque a espera do passe do companheiro, para completar a jogada.
Use o sinônimo que bem entender nessa circunstância, até a expressão inglesa "off-side", mas a posição de impedimento identificada como "banheira" é imortal.
Antes disso, Mário Vianna foi um árbitro malcriado, truculento e desafiava qualquer valentão para sair no braço. Começou apitando jogos na Polícia Especial do Rio de Janeiro, onde foi militante. Depois comandou jogos do Campeonato Carioca, protagonizando passagens marcantes, uma delas em partida do Madureira. Seguranças foram ao seu vestiário, pós jogo, oferecer-lhe proteção por causa de torcedores enfurecidos do lado de fora, e Vianna, ironicamente, sugeriu que os seguranças protegessem os irados torcedores.
Num jogo Botafogo e Flamengo, no Estádio General Severiano, torcedores rubro-negros se revoltaram com expulsões de jogadores de seu time e atiraram pedras e garrafas ao gramado, em direção de Vianna, que, incontinenti, devolveu os objetos para a arquibancada, no setor de concentração dos flamenguistas.
São incontáveis as histórias na arbitragem de Vianna, que podem ser completadas em dois episódios. Um na coragem de ter sido o único árbitro a expulsar de campo Domingos da Guia, durante os 11 anos de carreira do zagueiro; outro na Copa do Mundo de 1954, quando apitava o jogo Itália e Suíça - país sede do evento. O italiano Boniperti o empurrou, contrariado com a marcação de uma falta contra a sua equipe, e Vianna desferiu-lhe um soco direto no queixo, nocauteando-o. E ironicamente alertou o massagista italiano que Boniperti poderia voltar ao gramado quando acordasse.
Ainda naquela copa, Vianna acusou o árbitro britânico Mr. Ellis de fazer complô contra o Brasil, após derrota para a Hungria, e foi expulso do quadro da Fifa.
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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Futebol pernambucano em queda

De certo o finado Gentil Cardoso está se remoendo no túmulo com o futebol pernambucano em baixa. Como treinador, foi campeão no comando de Sport, Náutico e Santa Cruz nos anos 50, contrastando com o momento destas equipes. Se Náutico e Sport caminham a passos largos à Série B do Campeonato Brasileiro, o Santa Cruz patina na Série D.
O futebol pernambucano já envaideceu seus torcedores revelando ou projetando jogadores que se transformaram em ídolos nacionais. Que tal um time formado por Manga; Betão, Ricardo Rocha, Rildo e Marinho Chagas; Zequinha e Jorge Mendonça; Mário Tilico, Ademir de Menezes, Vavá e Rinaldo? Todos saíram de Recife antes da trajetória no eixo Rio-São Paulo. Por que a escalação no 4-2-4 e com Rildo, originalmente lateral-esquerdo, improvisado na quarta zaga? Deixa pra lá. O lema é quem te viu e quem te vê.
Manga foi campeão invicto e sem sofrer um gol sequer em 1954, no campeonato juvenil pernambucano pelo Sport. Depois jogou no Botafogo (RJ), Inter (RS) e Seleção Brasileira.
Quanto a Betão, se encantou no Sport no final de década de 80 - com chamada até a Seleção Brasileira - ficou devendo nas passagens por Santos, Inter (RS), Guarani e Portuguesa.
Eta Ricardo Rocha! Que baita zagueiro o Santa Cruz revelou para o mundo! O estilo clássico e a capacidade de desarme foram atestados por torcedores de Guarani e São Paulo, e na passagem pela Seleção Brasileira.
Rildo foi um lateral que se destacou na marcação no Sport, Botafogo (RJ), Santos e Seleção Brasileira, participando da Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Na sua época, laterais se adaptavam facilmente no miolo de zaga, justificando-se, portanto, a improvisação.
Marinho Chagas fez carreira como lateral-esquerdo contrariando o conceito básico da época de primeiro defender e só sair ao ataque na "boa". Esse potiguar preferia primeiro atacar. Foi assim no Riachuelo e ABC (RN), e com maior visibilidade no Náutico no biênio 1970-71. Depois jogou no Botafogo (RJ) e Seleção Brasileira.
Zequinha e Jorge Mendonça - já falecidos - foram ídolos de Sport e Náutico, respectivamente, antes de aportarem no Palmeiras. Zequinha tinha vitalidade física e um bom passe. Mendonça foi um meia talentoso também no Guarani entre 1980 a 1982.
Com a escalação de dois ponteiros, os indicados são Mário Tilico e Rinaldo, que atuaram na direita e esquerda respectivamente, no Náutico. O São Paulo apostou na velocidade de Tilico quando o contratou, enquanto o Palmeiras, a partir de 1964, contou com os gols de falta de Rinaldo, um exímio cobrador.
Outrora o futebol pernambucano contou com os goleadores Ademir de Menezes e Vavá - falecidos - com a camisa do Sport, e coincidentemente levados ao Vasco. Ademir, o Queixada, entrou para a história da Seleção Brasileira como o primeiro jogador a marcar gol no Estádio do Maracanã. E mais: foi o artilheiro do Brasil ma Copa do Mundo de 1950, com nove gols.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Jorginho, atleta de Cristo

Boleiros do segmento Atletas de Cristo passam por provações durante partidas. Pacientemente engolem seco provocações de adversários do tipo “você está pecando”, quando entram duro nas jogadas. Não bastasse isso, a Fifa os proibiu de usarem mensagens alusivas ao cristianismo em camisetas abaixo das camisas tradicionais em dias de jogos, há dois anos.
O ex-lateral-direito Jorginho, hoje auxiliar técnico do comandante Dunga na Seleção Brasileira, sempre perdoou os sarcásticos boleiros, mas ficou contrariado com tais proibições: “A Fifa pode tirar o nome de Jesus das camisetas, mas não do coração do atleta”. E uma das maneiras que adotava para propagar a palavra de Deus a companheiro do time adversário era presenteá-lo com uma Bíblia.
A conversão de Jorginho deu-se durante um culto, quando testemunhou a cura de um irmão alcoólatra. E o exemplo de lealdade em campo resultou no reconhecimento da Fifa com a premiação do troféu ‘fair-play’ em 1991, quando jogava no Bayer Leverkusen de Alemanha. Lá ficou de 1989 a 1992, e foi deslocado para o meio-de-campo. Posteriormente transferiu-se para o Bayem de Munique, onde ficou durante dois anos.
Naquele período criou a comunidade Evangélica Brasileira de Munique e cedia o porão de sua casa para a realização de cultos. Também estava no auge da carreira e foi recompensado com o tetracampeonato mundial da Seleção Brasileira, na Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994. A frustração foi ter se machucado na final contra a Itália, na vitória através das cobranças de pênaltis, quando cedeu o lugar para Cafu. Familiarizou-se com a Seleção ainda nos juniores, onde foi campeão Pan-Americano e Mundial. No selecionado principal, a partir de 1987, disputou duas Copas e foi titular absoluto até 1995.
Jorgino dificilmente errava passes. Entrava em diagonal e preferia o passe ao cruzamento. Também sabia defender e até fazia cobertura de zagueiros. A rigor, com 13 anos de idade, no treino peneira do América (RJ), disse que jogava na zaga, mas acabou deslocado à lateral-direita. Ali começava uma carreira com passagens por Flamengo, futebol alemão, Kashima Antlers do Japão, São Paulo, Vasco e Fluminense, onde encerrou a carreira em 2002.
Em 2005 iniciou a função de técnico, no América (RJ), e provocou polêmica ao sugerir mudança do mascote do clube, um diabinho, por uma águia. No ano seguinte, a convite de Dunga, passou a integrar a comissão técnica da Seleção Brasileira.
Jorge de Amorim Campos, carioca nascido no dia 17 de agosto de 1964, é diferenciado. Destina parte de seu salário e prêmios a instituições de caridade e estimula atletas ao mesmo procedimento. Em 1992 criou o Instituto “Bola pra Frente”, em Niterói, focado no esporte, educação e na qualificação profissional para garotos. Também foge da mesmice nas declarações. Em julho passado, defendeu aumento do número de substituições de jogadores nos jogos, com a justificativa de se evitar desgaste e melhorar o rendimento do atleta.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Chinesinho, venda milionária

O Bar do Elias, nas imediações do Estádio Palestra Itália, zona Oeste de São Paulo, ainda é reduto de ex-jogadores palmeirenses, que cultivam amizades. De vez em quando aparece por lá um septuagenário troncudo, baixinho, apelidado por Chinesinho, que aprecia um bom chope. Quem não o conhece jamais imaginará que gerou alta rentabilidade ao Palmeiras. E foi com a montanha de dinheiro proveniente da venda do passe dele para o Modena, da Itália, que os cartolas concretizaram o sonho da construção do Jardim Suspenso, em meados da década de 60. O Estádio Palestra Itália foi ampliado e o recorde de público deu-se na conquista do título paulista em 1976, na vitória por 1 a 0 sobre o XV de Piracicaba, com 35.913 pagantes.
O jornalista-empresário italiano Geraldo Sanela ficou tão encantado com os toques na bola refinados desse gaúcho que nem quis pechinchar redução de preço para a transferência, em setembro de 1962. Com isso ganhou o Modena, que desfrutou de um meia-esquerda de privilegiada visão de jogo, e depois o repassou com lucro para o Catânia. Em 1965, a cidade de Turim deu boas vindas ao hóspede ilustre, contratado pela Juventus. E os últimos cinco anos de futebol italiano foram no Lanerossi, de Vicenzo. Foi lá que ele serviu de inspiração para o ainda menino Roberto Baggio, que o acompanhou até o término da carreira em 1973, aos 38 anos de idade.
Pena que “Cinesinho” - como era chamado pelos italianos - não dimensionou a falta de vocação para exercer a função de treinador, e fracassou logo na primeira experiência, no próprio Lanerossi, com a queda da equipe à Série B daquela competição nacional.
Para os brasileiros que não tiveram privilégio de vê-lo em campo, saibam que o estilo era semelhante ao do ex-meia Zenon - Guarani, Corinthians e Atlético (MG). O diferencial pró Chinesinho foi contundência nos arremates, enquanto Zenon valorizava a assistência.
Chinesinho dava show no time do Inter (RS) e o também meia Ênio Andrade, que já estava no Palmeiras, enaltecia as virtudes ao técnico Osvaldo Brandão, que indicou a contratação. No pacote, também veio para o Palmeiras o goleiro Valdir Joaquim de Moraes. Com isso, o Verdão foi sedimentando a estrutura para o Campeonato Paulista de 1959.
Conclusão: o time quebrou um jejum de nove anos sem títulos em três jogos decisivos contra o então invicto Santos, após ambos empatarem na pontuação em dois turnos de pontos corridos. Nos dois primeiros jogos decisivos foram registrados empates em 1 a 1 e 2 a 2. Na terceira partida, o Santos vencia com gol de Pelé, mas o Palmeiras virou com gols de Julinho Botelho e Romeiro. Eis os campeões: Valdir; Djalma Santos, Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho Botelho, Nardo, Américo e Romeiro. Sidney Colônia Cunha, o Chinesinho, 74 anos de idade, jogou 20 vezes na Seleção Brasileira.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Carlos Germano, o vascaíno

A bola da vez do futebol brasileiro é o Vasco da Gama. Também pudera, mesmo com a redução natural de público nos estádios, colocou 76.211 torcedores no Estádio do Maracanã por ocasião do jogo contra o modesto Ipatinga (MG), no dia 22 de agosto passado, pela Série B do Campeonato Brasileiro, recorde absoluto de público entre as quatro divisões das competições nacionais organizadas pela CBF.
Novamente em jogo disputado num sábado à tarde, Vasco e Guarani levaram 52.904 pessoas ao Estádio do Maracanã, dia 19 de setembro. E mesmo numa sexta-feira à noite, no mesmo local, contra o Ceará, 27.450 espectadores viram a derrota cruzmaltina por 2 a 0.
No futebol, nada melhor que um dia após o outro. Ano passado, a desastrosa derrota do Vasco para o Vitória (BA) por 2 a 0, no Estádio São Januário, decretou o seu rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro. Lembram-se daquele desesperado torcedor que ameaçou se atirar das marquises? Pois é, não fossem hábeis policiais distraí-lo, e rapidamente agarrá-lo, o suicídio seria inevitável. E sabem o que aquele torcedor - identificado por Luiz Fernando - argumentou para aquele comportamento? Com o rebaixamento do Vasco já não tinha mais razão de viver.
Felizmente o rapaz está vivo e, de certo, vibrando com a extraordinária campanha de seu clube. Também o ex-goleiro Carlos Germano sofreu com o triste desfecho do ano passado. Viu a torcida cantar três vezes o hino do clube, tinha esperança que os experientes jogadores Odvan, Edmundo e Pedrinho pudessem fazer a diferença, mas foi tudo em vão.
Mais que preparador de goleiros do Vasco, a ligação umbilical com o clube provocou dor profunda, sem que se desesperasse. Mesmo com o coração partido ainda projetou rápida recuperação. “Acho que a trajetória do Vasco será que nem a do Corinthians que caiu, aprendeu a lição e voltou com sobras”.
Hoje, Carlos Germano Schwembach Neto pode comprovar sua previsão e lembrar que o Vasco é um clube recheado de glórias. Como atleta vascaíno de 1990 a 1999, foi recompensado com as conquistas do Campeonato Brasileiro e da Libertadores da América em 1997, ano em que também foi campeão da Copa América pela Seleção Brasileira.
Carlos Germano, 39 anos de idade, é um capixaba natural de Domingos Martins, tem 1,90m de altura, e foi um goleiro de elasticidade. Por incontáveis vezes “fechou o gol” e garantiu o bicho para os companheiros. Por isso o técnico Mário Jorge Lobo Zagallo o levou como reserva de Taffarel à Copa do Mundo de 1998, na França. No selecionado ele jogou nove vezes.
Divergências financeiras para renovação de contrato com o Vasco implicaram na saída do clube em 2000. A partir daí não manteve a regularidade nas passagens por Santos, Portuguesa, Inter (RS), Botafogo (RJ) - onde caiu à Série B - Paysandu, América (RJ), Penafiel de Portugal e Madureira.
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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Félix divide opiniões

Quem acessar a seção de ídolos no site oficial do Fluminense Futebol Clube vai deparar com os nomes de Tim, Telê Santana, Castilho, Pinheiros, Didi, Gérson, Rivelino, Edinho, Branco e Renato Gaúcho. Eis a questão: por que o goleiro Félix, tricampeão mundial com a Seleção Brasileira no México, em 1970, está fora dessa leva?
Simples. Felix foi um goleiro só razoável, com o diferencial de ter a sorte de estar no lugar certo na hora certa. Naquele timaço de 70 foi identificado mais pelas falhas do que as defesas importantes. Instigado sobre a polêmica, ele contra-ataca: "Todos diziam que a Seleção tinha um time, mas não tinha goleiro. Eu provei que podia ser titular".
A rigor, não fosse a troca no comando técnico da Seleção, às vésperas daquela Copa, Félix sequer teria viajado para o México. Se João Saldanha fosse mantido como treinador, prevaleceria a lista com os goleiros Ado e Leão, que atuavam no Corinthians e Palmeiras. Com a chegada de Mário Jorge Lobo Zagalo como comandante, uma das mudanças foi relacionar três goleiros. Assim, Félix voltou ao grupo e reassumiu a posição de titular.
Félix atuou pela Seleção Brasileira 48 vezes. A estréia foi no dia 21 de novembro de 1965, no Estádio do Pacaembu, na vitória sobre a Hungria por 5 a 3. A equipe foi representada por jogadores que atuavam no futebol paulista e teve a seguinte formação: Félix; Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Procópio e Edilson; Lima e Nair; Marcos, Prado, Servílio e Abel.
O goleiro foi lançado no Juventus (SP) em 1954 e, no ano seguinte, já era reserva de Cabeção na Portuguesa. E como esquentou o banco! Só estreou em março de 1956, com a convocação do titular à Seleção Brasileira. Uma estréia com vitória por 2 a 1 sobre o Newell’s Old Boys da Argentina, no Estádio do Pacaembu.
Um ano depois, mesmo com a transferência de Cabeção para o Corinthians, Felix continuou jogando no time de aspirantes, na preliminar. É que os cartolas da Lusa foram buscar o goleiro Carlos Alberto, no Vasco. Posteriormente, foi fixado como titular até 1964, com a chegada de Orlando. Aí, ambos se revezavam a cada partida, uma atitude de praxe de treinadores da época para casos de goleiros de mesmo nível técnico. O revezamento acabava quando um deles se destacava mais e, nesse caso específico, ligeira vantagem para Félix, protagonista de uma experiência inusitada.
Numa excursão da Lusa aos EUA, no jogo contra o Massachusetts, de Nova York, ele foi jogar no ataque quando seu time massacrava por 9 a 0, e marcou o décimo gol. O resultado do jogo foi 12 a 1.
Em 1968 trocou a Lusa pelo Fluminense, onde foi titular absoluto até 1977, quando encerrou a carreira. Hoje, aos 72 anos de idade, trabalha como instrutor de escolinha de futebol da Prefeitura de São Paulo, destinada a crianças carentes.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Van Basten: carreira curta

O holandês Marco Van Basten foi daqueles centroavantes que pedia bola mesmo marcado. Quando lançado, usava as pernas compridas para escondê-la do adversário, girava com rapidez, e tinha um chute forte. Conclusão: raramente passava uma partida sem fazer gols. Dos 280 jogos oficiais na carreira, balançou as redes 218 vezes.
Versátil, também sabia explorar seu 1,88m de altura, aliado à boa impulsão, para certeiras cabeçadas. Pena que essa rotina foi interrompida na iminência de completar 29 anos de idade. Cruéis zagueiros detonaram seus tornozelos e o período de dois anos para tentar se recuperar foi insuficiente. A dor insuportável resultou em andanças por consultórios ortopédicos e hospitais, sem que ocorresse a esperada cura.
Restou, portanto, programar a festa de despedida como atleta do Milan no dia 18 de agosto de 1995, no Estádio San Siro, em jogo contra a Juventus, presenciado por mais de 85 mil espectadores. Acabava ali uma carreira restrita a dois clubes e seleção de seu país.
A história de goleador teve início no Ajax, da Holanda, aos 17 anos de idade, onde foi tricampeão. Em 1986 marcou 37 gols em 26 jogos, foi laureado com a “Bola de Ouro da Europa”, e o Milan tratou de levá-lo à Itália, desembolsando 2,5 milhões de dólares ao clube holandês. Foi, até então, a maior transação de jogador de futebol do planeta.
O raciocínio de que investir em Van Basten era retorno garantido foi confirmado pelos milaneses. Como melhor jogador europeu em 1988, 1989 e 1992; e melhor do mundo em 1992, assanhou a torcida de seu clube e provocou retorno de bilheteria, através de estratégias de marketing e de cotas de contratos com emissoras de televisão para transmissão de jogos.
A seleção holandesa também desfrutou dos gols de Van Basten, um dos principais na vitória sobre a União Soviética por 2 a 0, em 1988, na conquista do título da Eurocopa. Naquele timaço, jogava ao lado de Ruud Gullit, Frank Rijkaard e Seedorf, entre outros.
Respeitado pelos cartolas da confederação de seu país, ganhou chance como treinador da seleção em 2004. E o reflexo do bom trabalho foi atestado durante a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, embora sua patota tenha sido eliminada por Portugal.
Ano passado, após derrota para a Rússia por 3 a 1, na prorrogação, em jogo válido pela Eurocopa, na Suíça, Van Basten deixou o comando do selecionado. Na sequência topou treinar o Ajax, não alcançou os resultados esperados, e deixou o clube em maio passado.
Por fim, quis o destino que um fato trágico revelasse a influência de Van Basten entre brasileiros. Um menino de 12 anos, registrado com o seu nome, morreu em decorrência de hemorragia após perfuração do pulmão esquerdo. O garoto foi atingido acidentalmente por fogos de artifícios horas antes do réveillon de 2003, na região metropolitana de Recife (PE).
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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Forlán botinudo

Os uruguaios Forlán se notabilizaram no futebol em trincheiras diferentes. Enquanto o filho Diego Martín Forlán Coraza crava seu nome no Campeonato Espanhol como artilheiro da temporada passada, o pai foi um mau exemplo de disciplina abusando da violência nos tempos de Peñarol e São Paulo.
Felizmente Diego Forlán herdou do pai apenas o bom caráter e foi aprender a jogar futebol do seu jeito, que é infernizar zagueiros adversários e fazer gols. Como recompensa ganhou a chuteira de ouro na Espanha e o título de melhor esportista uruguaio do ano. Aos 30 anos de idade, 1,79m de altura, é jogador do Atlético de Madrid e registra passagem pela seleção uruguaia na Copa do Mundo de 2002.
Quanto ao pai, Pablo Justo Forlán Lamarque, 64 anos, batia até na sombra, como se dizia no passado, e se orgulhava disso. “O melhor momento de se amedrontar os adversários são os primeiros cinco minutos de jogo, quando o juiz nunca expulsa”.
De fato nos anos 70 até meados da década de 80 havia complacência dos árbitros em relação a jogadas violentas em inícios de partidas. A aplicação do cartão amarelo era sempre precedida de advertência verbal. Enquanto isso Forlán abusava. Intimidava antigos ponteiros-esquerdos com boa “sapatada”, e muitos deles “corriam do pau”. Acovardados, voltavam ao meio de campo para armar jogadas. E quando iam à frente fechavam em diagonal na vã tentativa de se distanciar de Forlán, que na maioria das vezes os acompanhavam por dentro.
Claro que o futebol do lateral Forlán não se restringia à pancadaria. Era, de fato, bom marcador. Tinha vitalidade física invejável e cobrava o mesmo espírito guerreiro dos companheiros. Foi assim de 1963 a 1970 no Peñarol e nos seis anos subseqüentes no São Paulo, trazido pelo empresário Juan Figger. Naquele período conquistou títulos e a simpatia dos torcedores.
A maior glória do futebol foi em 1966, no Peñarol, quando conquistou a Libertadores da América com a vitória por 4 a 2 sobre o River Plate da Argentina, na terceira partida decisiva; e Copa Intercontinental, na vitória por 2 a 0 sobre o Real Madrid, em Montevidéu (URU), após derrota pelo mesmo placar na Espanha. Naquele time, jogou ao lado do também uruguaio Pedro Rocha e do equatoriano Alberto Spencer, falecido em 2006 aos 67 anos de idade. Spencer foi o melhor jogador equatoriano de todos os tempos.
Depois do São Paulo, Forlán ainda jogou no Cruzeiro antes de retornar ao Uruguai, com passagens por Nacional de Montevidéu e Defensor Sporting , onde encerrou a carreira em 1984. Tentou permaneceu no meio como treinador das categorias de base, mas terminou como olheiro no futebol uruguaio, e de vez em quando dá palpites errados. Ao citar que gostaria de ver o filho Diego jogando no Barcelona, levou uma invertida do presidente do Atlético de Madrid, Enrique Cerezo: “Quem é que joga: pai ou filho?”, questionou.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Adeus a Pinheirense

Nos anos 60 a Ferroviária de Araraquara (SP) ficou conhecida como produtora de jogadores qualificados, e o São Paulo se apressava em buscá-los para reabastecer seu elenco. Foi assim com a dupla de ataque Maritaca e Téia e os ponteiros-direitos Peixinho e Faustino, para não se alongar nos exemplos. Nos anos 80 essa mesma “Ferrinha” foi propagada nacionalmente porque contava com um dos jogadores mais violentos do futebol brasileiro: Antenor José Cardoso ou simplesmente Pinheirense, que morreu no dia 21 de agosto em Recife (PE).
Pinheirense completaria 54 anos de idade em novembro, era natural do Maranhão, e sua aparição deu-se no Náutico no final dos anos 70. A fama de homem mau se consolidou na Ferroviária, nos anos 80, quando impiedosamente “abria a caixa de ferramenta”, diziam antigos locutores esportivos. Na maioria das vezes acertava meio gomo da bola e metade do pé do adversário. Logo, foi recordista de expulsões e, apesar disso, ainda arrumou emprego em clubes do interior de São Paulo, Londrina (PR) e Coritiba.
Quis o destino que Pinheirense vivesse os últimos dez anos em uma cadeira de roda. Ficou paraplégico ao ser alvejado com um tiro pelas costas, disparado pelo marido de uma ex-namorada, na capital paulista.
Alguns treinadores do passado foram responsabilizados por violência de seus jogadores. Mandavam “matar” jogadas no nascedouro e pernas de adversários eram atingidas. Houve um período em que se dizia “bola ou bolim”, referência que passava a bola, mas não passava o adversário. Na época, descreviam jogador violento como aquele que “batia da medalhinha pra cima”.
O falecido zagueiro Moisés - que jogou no Bangu e Corinthians - tinha fama de xerife, mas raramente era expulso. Ele lembrava que jogava duro, mas sem deslealdade. “Quase ganho o Belfort Duarte”, brincou certa ocasião, numa referência ao prêmio instituído pelo Conselho Nacional de Desportos em 1945, e entregue ao atleta que passava dez anos sem ser expulso de campo.
Márcio Rossini - ex-Marília (SP), Santos, Bangu e Flamengo - jogava duro e muitas vezes recebeu o cartão vermelho. Foi o típico zagueiro temido por atacantes adversários, embora não se valesse só da compleição física para se impor. Era bom marcador, tanto que jogou em grandes clubes e foi campeão paulista no Santos em 1984, quando formava dupla de zaga com Toninho Carlos.
Na época, parte dos zagueiros extrapolava em jogadas mais duras quando seus times eram mandantes de jogos. Pressionada, a “juizada” pipocava no momento da expulsão, porque não tinha segurança nos estádios e temia por agressões.
Agora, quem abusa do antijogo na maioria das vezes recebe o cartão vermelho até mesmo no primeiro tempo. E o ex-árbitro Almir Ricci Peixoto Laguna ficou marcado num derbi campineiro - Ponte e Guarani - há 26 anos, pela coragem ao expulsar o lateral-direito pontepretano Édson Abobrão com menos de um minuto de jogo, após entrada violenta sobre o meia Neto.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

‘Deu zebra', invenção de Gentil

O pernambucano Gentil Alves Cardoso jamais poderia prever que a junção verbo e substantivo “deu zebra”, que criou para caracterizar resultado inesperado de um jogo de futebol, transcendesse seu meio. A expressão é usada invariavelmente em todos os segmentos.
O espirituoso Gentil Cardoso inventou “deu zebra” quando clubes de futebol pequenos do Rio de Janeiro ganhavam dos grandes na década de 40. Por que zebra? Oras, porque ela não faz parte do jogo de bicho. É uma estranha na jogada.
Saudosistas dividem opiniões sobre a competência de Gentil como treinador. O que não se questiona é que foi um dos maiores, senão o maior, frasistas do futebol brasileiro. Ainda ecoa a sacada para que boleiros trabalhem a bola no chão: “A bola é de couro, o couro vem da vaca, e a vaca gosta de grama; então, jogue rasteiro meu filho”. Ou a frase imortalizada alertando que “quem se desloca recebe, quem pede tem preferência”. Essas frases e a palavra cobra, para qualificar o jogador clássico, foram invenções dele.
Gentil morreu há 37 anos. Ao entrar no Hospital Central da Aeronáutica, no Rio, bem humorado, recomendou: “Doutor, estou entrando na vertical. Vê se não saio na horizontal, porque técnico de futebol não pode trabalhar nessa posição, não fica bem”. E saiu de lá para o cemitério, deixando uma biografia de migrante negro vitorioso. Antes da bola foi engraxate, garçom e motorneiro. Nunca foi jogador, e mesmo com o indisfarçável racismo da época ingressou na função de treinador do Bonsucesso em 1931. A partir daí, com o inseparável boné xadrez, ficou marcado como personagem folclórico, e copiado pela “treinadorzada”. Quando apitava treino, dizia abertamente que reservas não ganhavam dos titulares. Se o caldo engrossava, arrumava um pênalti “mandrake” e acomodava a situação. E a justificativa estava na ponta de língua: “Bola na bunda de time pequeno é pênalti”.
Em 1939, conciliando a função de tenente da Marinha à de treinador, comandou o Rio-grandense (RS). Seu reino encantado, no entanto, era o Rio de Janeiro, e intercalou passagens pelos grandes clubes daquele Estado. Em 1946, contratado pelo Fluminense, deu um recado aos cartolas logo na chegada: “Se vocês me derem o Ademir (de Menezes), eu lhes darei o campeonato”. Dito e feito. O ex-vascaíno marcou o gol do título contra o Botafogo.
Nos anos 50, treinando o Botafogo, lançou o ponteiro-direito Mané Garrincha. Na época fazia uso de megafone para se comunicar com os jogadores durante os treinos. Em seguida voltou a Recife, em troca de bons contratos, para comandar Sport, Santa Cruz e Náutico. E nos três clubes levantou o caneco. No futebol paulista treinou Ponte Preta e Corinthians. Passou ainda por Nacional do Equador e Sporting de Portugal.
De volta ao Vasco, nos anos 60, estimulava a boleirada a cantar músicas de Roberto Carlos e Erasmo Carlos.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Natal, boemia e futebol

Ah se a noite de Belo Horizonte falasse! De certo contaria histórias mirabolantes do ex-boêmio Natal de Carvalho Baroni, que em novembro vai completar 63 anos de idade. Ele foi um hábil e veloz ponteiro-direito do Cruzeiro na década de 60, período em que também fazia sucesso com a mulherada em automóveis conversíveis.
Se desde aquela época até boleiros com indescritível feiúra viviam rodeados de mulheres, imaginem alguém que exibia a cabeleira esvoaçada e metido a galã como Natal, que adorava o assédio de “Marias Chuteira”.
Felizmente Natal jogou numa época em que a maioria dos clubes programava treinos apenas no período da tarde. Assim, era possível recompor o sono perdido à noite no período da manhã. À tarde, dava piques e levava a bola ao fundo do campo com extrema facilidade. Também sabia fechar por dentro em jogadas no lado oposto, e por isso fazia gols, o principal deles na vitória de virada do Cruzeiro sobre o Santos por 3 a 2, no Estádio do Pacaembu, na finalíssima da Copa Brasil (hoje Copa do Brasil). Naquele dia 7 de dezembro de 1966, o time mineiro perdia por 2 a 0, reagiu, e ganhou por 3 a 2, gols de Tostão, Dirceu Lopes e Natal aos 44 minutos do 2º tempo. Pelé e Coutinho marcaram para o Peixe e o público foi de 45 mil pagantes.
Uma semana antes, no Estádio do Mineirão, o Cruzeiro goleou por 6 a 2, com três gols de Dirceu Lopes, Natal, Zé Carlos e Tostão. Toninho Guerreiro (já falecido) marcou os gols do Santos. O árbitro dos dois jogos foi Armando Marques.
O time titular Cruzeiro tinha Raul Plasmman; Pedro Paulo, William, Procópio e Neco; Wilson Piazza, Dirceu Lopes e Tostão; Natal, Evaldo e Hilton Oliveira. O futebol era comandado pelo dirigente Felício Brandi, ligado ao clube de 1961 a 1982, e morreu no dia 24 de fevereiro de 2004 quando passava o carnaval em sua fazenda, em Campinas (SP).
Aquela foi a 8ª edição da Copa Brasil, organizada pela antiga CBD (Confederação Brasileira de Desporto). O Santos havia conquistado as últimas cinco competições, e a copa se prolongou por mais dois anos. Em 1967 o título foi conquistado pelo Palmeiras. O Botafogo levantou o caneco na temporada seguinte.
Natal, 1,66m de altura, nascido em Belo Horizonte, foi levado ao Cruzeiro com 13 anos de idade. Estreou na equipe principal em 1965 e permaneceu na Toca da Raposa até 1971. Lá ganhou o apelido de “Diabo Loiro” e foi decisivo em jogos contra o Atlético (MG).
Em 1971 foi jogar no Corinthians e a partir daí começou o repasse de clubes, com volta ao Cruzeiro em 1972, ano em que também jogou no Bahia. Depois passou por Vitória (BA) e clubes mineiros como América, Valeriodoce e Vila Nova. Jogou ainda no Londrina e Deportivo da Colômbia.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Zequinha, um bicampeão

É gratificante para o personagem focalizado semanalmente neste espaço receber homenagem em vida e a coluna tem priorizado isso, tanto que em abril de 2008 contou a história do volante Zequinha, do Palmeiras. Com a morte dele dia 26 de julho, evidentemente o texto será reproduzido.
Nas décadas de 50 e 60, treinadores de Seleção Brasileira tinham que pautar pelo equilíbrio entre Rio de São Paulo nas convocações de jogadores. Veículos de comunicação de ambos os Estados pecavam pelo bairrismo e por isso via-se, com freqüência, chamados inesperados de jogadores para integrar o selecionado.

O ex-técnico Carlinhos - jogador do Flamengo nãos anos 60 - não esconde a mágoa de ter sido relegado para a Copa do Mundo de 1962, no Chile, quando o Brasil conquistou o bicampeonato. Definição política ou não, o certo é que Zequinha, então volante do Palmeiras, também tinha credenciais para estar entre os 22 relacionados, como reserva de Zito, ex-Santos, e comemorou o bicampeonato mundial.

A rigor, segundo o livro "Seleção Brasileira - 90 anos", de Roberto Assaf e Antonio Napoleão, Zequinha participou de 17 partidas pelo selecionado brasileiro, com retrospecto de 14 vitórias, um empate, duas derrotas e marcou dois gols.

Naqueles tempos seria exagero cobrar dos volantes postura de marcadores implacáveis. Quando muito cercavam meio-campistas adversários e deslocavam para os lados do campo para cobrir laterais. E, com a bola, eram bons distribuidores de jogadas, principalmente acionando os laterais.

Essa era, basicamente, a função do pernambucano José Ferreira Franco, do Palmeiras, apelidado por Zequinha devido ao tamanho - 1,66m de altura. No entanto, ele se diferenciava da maioria na posição pela excelente preparação física. Como corria demais, atrevia-se, com freqüência, às “descidas” ao ataque e finalizava ao gol adversário de média distância, com chute forte.

Zequinha, nascido em 18 de novembro de 1934, em Recife (PE), começou a carreira no extinto Auto-Esporte de Recife, na década de 50, depois passou pelo Santa Cruz (PE) e jogou no Palmeiras entre 1958 e 1968, com histórico de 417 jogos: 247 vitórias, 83 empates e 87 derrotas. Foram 40 gols e o orgulho de colecionar títulos do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (Robertão), Taça Brasil, Torneio Rio-São Paulo e Campeonato Paulista de 1959, 1963 e 1966, segundo informações citadas no "Almanaque do Palmeiras".
Sem dúvida que o título paulista de 1959 foi especial. Na ocasião, atuou num time formado por Valdir de Moraes; Djalma Santos, Valdemar Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho, Nardo, Américo e Romeiro.
Já nos anos 60, com a chegada de Dudu, ex-Ferroviária de Araraquara (SP) ao Parque Antártica, o pernambucano foi para a reserva e, ao sair do Palmeiras, ainda jogou respectivamente no Atlético (PR) e Náutico.
Ao pendurar as chuteiras, fixou-se em Recife, garantiu a aposentadoria, e ainda melhorou a renda ao adquirir uma casa lotérica em Olinda (PE), administrada por pessoas de confiança, pois seqüelas de um derrame haviam limitado suas atividades.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Adeus a Zé Carlos

Que bom seria se o dito popular “quem aqui faz aqui paga” correspondesse à verdade. Cafajestes receberiam o duro castigo e o exemplo desencorajaria seguidores. Paradoxalmente esses inescrupulosos continuam por aí “vendendo” saúde, enquanto gente de bem morre aos 47 anos de idade, caso de Zé Carlos, goleiro do Flamengo nos anos 80.
Quis o destino que o mortífero câncer no abdômen vitimasse o carioca José Carlos da Costa Araújo no início deste ano. Se o rastreamento fosse precoce, a chance de cura seria maior. Com o diagnóstico tardio, disseminação da doença no organismo, a recuperação ficou muito difícil. Na literatura médica, na década passada, esse era o maior caso de morte por câncer no mundo.
Somos egoístas. Não aceitamos que um ente querido vá embora em qualquer circunstância. Esquecemos o quanto o paciente sofreu antes da morte. No caso específico de Zé Carlos, estava internado desde o início de junho no Hospital Ordem Terceira da Penitência, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e morreu no dia 24 de julho, 20 quilos mais magro.
É justificável a aversão pelo tema morte, porque não há receita que abrande a dor de quem fica. Assim, após considerações indispensáveis, convém recapitular a carreira de altos e baixos de Zé Carlos.
O estágio inicial deu-se no Americano de Campos (RJ) e Rio Branco (ES). Como correspondeu praticando defesas difíceis, despertou interesse do Flamengo. Foi contratado para substituir Raul Plassman, em 1984, e lá jogou ao lado de craques renomados como os laterais Leandro e Júnior, meia Zico e atacante Bebeto. Logo, comemorou títulos de campeonatos estadual, brasileiro e Copa do Brasil.
A boa fase o levou inicialmente à seleção olímpica de futebol em 1988, em Seul, Coréia do Sul, voltando com a medalha de prata. Também foi recompensado com convocação à Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 1990, na Itália, embora na condição de segundo reserva de Taffarel. O primeiro foi o então vascaíno Acácio.
Em 1991, com a chegada do técnico Vanderlei Luxemburgo na Gávea, o ex-são-paulino Gilmar Rinaldi foi fixado como goleiro do Flamengo. Ao perder espaço, restou a Zé Carlos topar a transferência para o Cruzeiro, passagem pelo futebol português, e retornou ao rubro-negro cinco anos depois. E foi na segunda passagem pelo clube carioca que entrou para a história como o segundo goleiro a marcar gol com aquela camisa. Foi através da cobrança de pênalti num jogo contra o Nacional (AM), no Estádio Vivaldo Lima, em Manaus, em 1997. Antes, Ubirajara havia marcado em jogo contra o Madureira, pelo Campeonato Carioca, na Ilha do Governador, em 1970. Na reposição, com o forte vento, a bola ganhou força e traiu o goleiro adversário.
Depois do Flamengo, Zé Carlos percorreu a estrada da volta no futebol, com passagens por Vitória (BA), XV de Piracicaba (SP), América (RJ) e Tubarão (SC). A carreira de jogador foi encerrada em 2000.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Fogos, relação com futebol

Aquela tonelada de fogos de artifícios encalhada com a derrota do Cruzeiro para o Estudiantes na final da Libertadores, dia 15 de julho, foi usada no jogo subseqüente contra o Corinthians, no Estádio Mineirão, pelo Campeonato Brasileiro, no show pirotécnico ainda permitido em estádios.
Estampidos provocados por rojões são um aviso, entre outras coisas, que algum time de futebol marcou gol, que o telespectador está vibrando com a vantagem de seu clube. Por questão de segurança, desde meados da década de 70, proibiram o acesso de torcedores com fogos nos estádios. Eles se transformaram em armas nos confrontos de torcidas rivais.
A rigor, na década de 40, quando as torcidas tinham comportamento civilizado, no lugar de alambrados via-se cercas de madeira de 1m de altura. Nos anos 50, nem era preciso revistar torcedores nos portões de entrada dos estádios. Nos anos 80, foi necessário um pacote de medidas para garantir segurança durante os jogos. Impediram acesso de bandeira com mastro inferior a 4m de altura, instrumento de percussão, guarda-chuva de ponta e até radinho de pilha, uma das medidas posteriormente revogada.
Quando o torcedor fazia festa nos campos soltando rojões, pessoas nas imediações acompanhavam a contagem dos gols pelo barulho dos fogos. Se ensurdecedor, a comemoração era do time da casa. Se discreto, a alegria era do clube visitante.
Que foguetório! Aquela fumaceira deixava tudo embaçado. Pena que alguns gaiatos mal sabiam manusear rojões e sofriam queimaduras. Estouros para baixo assustavam torcedores ao redor e abria-se um “clarão” na arquibancada. Algumas vítimas sofriam mutilações nos dedos, danos nos olhos e até surdez.
Bons tempos em que os jogadores só subiam aos gramados minutos antes das partidas, plenamente aquecidos nos vestiários. Depois, preparadores físicos importaram da Europa a metodologia de aquecê-los nos gramados, antes de se uniformizarem, e ficou sem graça a saudação posterior aos torcedores.
Naquela época, editores de jornais não priorizavam imagens em movimento. Publicavam foto posada do time da casa, restrita aos 11 jogadores e o massagista, posicionado sempre à esquerda, entre os agachados. E agachava-se literalmente, com a parte posterior da coxa encostada na panturrilha. Hoje, nem se pode dizer que a turma da frente fica agachada, já que sequer dobra o joelho.
Se nos estádios a rigorosa fiscalização sobre fogos inibe torcedores a burlarem a proibição, fora deles os abusos continuam. A maioria lembra do confronto entre vascaínos e corintianos em 2007, na capital paulista, resultando na morte de Clayton Ferreira de Souza, de 27 anos. E sabem quais as armas dos briguentos? Barra de ferro, faca e rojão.
Tal como aqui, na Alemanha torcedores usam rojões como arma, com Eintracht Frankfurt e Nuremberg multados em 50 e 25 euros, respectivamente. Pior na Áustria, porque o goleiro Georg Koch, do Rapud, perdeu parte da audição após ser atingido no ouvido por fogos de artifício. Por isso teve que abandonar a carreira.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Benê, injustiçado no futebol

Por Ariovaldo Izac

No futebol, em lances de bola parada, antes de algum atleta alçá-la para o interior da área, o que se vê é um agarra geral de jogadores, que mais parece uma luta livre. Tudo isso com complacência dos árbitros que, se aplicassem a regra, teriam de marcar pelo menos um pênalti a cada partida.
Esse futebol truculento de hoje contrasta visceralmente daquele praticado décadas passadas, quando atacantes e meias só recuavam até o limite do meio de campo para cercar adversários. E quando treinadores rigorosos exigiam marcação mais dura, a resposta era “não sei marcar”.
No final da década de 50 e durante os anos 60, o meia esquerda Benedito Leopoldo da Silva, o Benê, mostrava privilegiada visão de jogo. Sabia acionar os chamados ponteiros com bolas alongadas, como também cadenciava o jogo quando a circunstância era recomendável.
O início da carreira foi no Paulista de Jundiaí (SP). No Guarani, a partir de 1959, foi decisivo no título de um torneio triangular em Curitiba (PR), na goleada por 5 a 2 sobre a seleção paranaense e vitória por 1 a 0 diante do Botafogo (RJ) de Quarentinha, Garrincha, Didi e Manga.
Embora naquele período não havia descabida preocupação com condicionamento físico, Benê foi uma das exceções. O arranque era impressionante. Guardando-se as devidas proporções, há quem compare seu futebol ao do meia Rivaldo, hoje no Bunyodkor do Uzbequistão, com o diferencial de que Benê tinha mais velocidade.
Evidente que com as citadas virtudes teria de chegar à Seleção Brasileira. Eis que, após convocação para disputar a Copa do Mundo de 1962, foi cortado com o diagnóstico de sopro no coração, contestado por médicos do São Paulo. Assim, o técnico Aimoré Moreira chamou Mengálvio, do Santos, para ocupar a vaga.
O Brasil voltou do Chile com o bicampeonato mundial, e nem por isso Aimoré, que também dirigia o São Paulo, foi perdoado pelos cartolas. A demissão foi sintomática e Benê, contratado pelo Tricolor em 1961, continuou brilhando num período em que o departamento de futebol era relegado. Os recursos eram destinados às obras de ampliação do Estádio Cícero Pompeo de Toledo, o Morumbi.
Nos dez anos de São Paulo, Benê não se cansava de repetir o jogo do cai cai provocado pelo Santos, dia 15 de agosto de 1963. O Peixe se acovardou numa jornada de gala do Tricolor, que abriu vantagem de 3 a 1 no primeiro tempo, gols de Faustino, Benê, Sabino e Pelé. Contundido, o lateral Cido Jacaré não voltou para o segundo tempo. Como não era possível fazer substituições, o time santista ficou com dez jogadores.
Aí, por reclamações, o árbitro Armando Marques expulsou Pelé e Coutinho no início da etapa final. Em seguida, Pepe alegou contusão e saiu. Pagão marcou o quarto gol são-paulino aos sete minutos e, na sequência, Dorval também deixou o campo e o jogo acabou.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Vampeta, língua afiada

Imaginem se o ex-volante Vampeta tivesse aceitado o convite da Rede Record de Televisão para o confinamento no reality show “A Fazenda”. Com certeza aquela casa estaria de ponta cabeça. Sem dúvida, roubaria a cena como principal protagonista.

Claro que os participantes do reality show o interrogariam sobre a experiência de posar pelado para a revista G Maganize, destinada ao público gay, em 1999. O desbocado baiano, natural de Nazaré das Farinhas, teria de recapitular a origem do rótulo bambis para provocar são-paulinos; e explicar sobre a quebra de protocolo com cambalhotas na rampa do Palácio do Planalto, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso recepcionou a delegação do selecionado brasileiro após o pentacampeão mundial no Japão e Coréia do Sul em 2002; e a língua afiada causadora de frases imortalizadas no futebol.

A justificativa do apelido Vampeta ocorreu após a perda da primeira dentição. Para uns parecia um vampiro, para outros tinha jeito de capeta. Logo, associando-se prefixo de uma palavra ao sufixo de outra deu nisso. O nome Marcos André Batista Santos é lembrado só quando assina documentos, um deles o primeiro contrato profissional no Vitória da Bahia, em 1993. Na temporada seguinte, com 20 anos de idade, já era ídolo na Holanda jogando no PSV Eindhoven.

A partir daí transformou sua carreira num vaivém Brasil/Europa durante dez anos. Naquele período havia passado duas vezes pelo Corinthians, Fluminense, Paris Saint Germain (FRA), Inter de Milão (ITA), Flamengo e Al-Salmiya Club do Kuwait.

Até aí Vampeta escreveu bonita história no futebol, exceto a conturbada passagem pelo Flamengo em 2001, marcada por duas frases: “Eles fingem que me pagam, e eu finjo que jogo”, quando reclamava de salário atrasado. “A camisa do Flamengo não caiu bem em mim”, emendou.

Nos primeiros dez anos de carreira foi um volante moderno que conciliava força na marcação, velocidade na saída de bola para organizar os contra-ataques, e bom passe. Por isso integrou o grupo de jogadores brasileiros na Copa do Mundo de 2002.

A partir de 2005 começou a trilhar a penosa estrada da volta no futebol, e foi tri-rebaixado atuando por Vitória (BA), Brasiliense e Corinthians (terceira passagem). Também fez parte do elenco do Juventus que caiu para a segunda divisão paulista em 2008. Aí se mancou, pendurou as chuteiras profissionalmente, mas continua ligado ao futebol através da empresa Vamp Sport, que administra carreiras de atletas.

Quem supõe que é desmiolado, com base nas provocações gratuitas ao meia Sousas - hoje no Grêmio (RS) – se engana redondamente. Vampeta é dono de um bem montado restaurante no bairro Santana, na capital paulista, e designou seu pai para administrar sua fazenda em Nazaré das Farinhas, que produz abacaxi, manga, jaca e maracujá.

Ficou chato quando agrediu o goleiro Marcelo do Bahia, no começo deste ano, em Salvador (BA), só porque suspeitava que o ex-companheiro de Corinthians havia mantido relacionamento com sua ex-mulher.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Manga, goleiro de 45 anos


Por Ariovaldo Izac


Diga aí: goleiros gostam de ser exigidos para que mostrem eficiência ou preferem sair de campo sem sujar o uniforme? De certo a maioria dirá que é melhor trabalhar menos durante os jogos. Claro que alguns adoram ser bombardeados com chutes e cabeceios de adversários, um deles o ex-goleiro Manga, o Manguita, imbatível no quesito longevidade no Brasil.

O pernambucano Aílton Correa Arruda jogou até os 45 anos de idade, e comenta-se que ficava irritado quando os adversários não finalizavam contra o seu gol. Gostava de ver a bola rondando a sua área para praticar defesas. E que defesas!

Cara marcada pela varíola, magro, alto, mãos enormes, e com invejável impulsão, contorcia o corpo no ar para espalmar a bola. Talvez por isso geralmente desafiava cartolas a se responsabilizarem por pagamentos de dívidas caso fechasse o gol. Naturalmente os credores do goleiro agradeciam.

Manga jogou futebol profissionalmente de 1957 a 1982. Evidentemente assinou contratos com valores razoáveis nas passagens por Sport (PE), Botafogo, Nacional do Uruguai, Inter (RS), Coritiba, Grêmio, Operário (MS) e Barcelona de Guayaquil, do Equador, até 1982, quando encerrou a carreira. O problema é que gastava mais do que ganhava e tinha que correr atrás do prejuízo. Pessoas ligadas a ele revelam que torrava bolada considerável em jogos de sorte e azar.

Seja como for, com 72 anos de idade completados no dia 26 de abril passado, ainda não garantiu uma aposentadoria tranqüila. Ano passado retornou a Guayaquil para trabalhar em escolinha de futebol destinada a crianças e adolescentes, após dois anos de residência na Flórida, nos Estados Unidos.

Claro que nas preleções para os garotos recorda sua longevidade no futebol. Gaba-se de ter sido campeão juvenil pelo Sport sem sofrer um gol sequer em 1954. Comenta os bons tempos de Botafogo, quando atuou ao lado de jogadores consagrados como Nílton Santos, Garrincha, Didi e Jairzinho, uma patota que levantava canecos rotineiramente e vivia excursionando para a Europa.

Folclórico, Manga provocava flamenguistas às vésperas do clássico com bordões do tipo “o leite das crianças está garantido”, ou “já gastei o bicho da vitória contra eles”. Tudo ia bem até a final do estadual contra o Bangu em 1967, com vitória botafoguense por 2 a 1. O jornalista João Saldanha (já falecido), torcedor confesso do ‘Fogão’, acusou o goleiro de ter sido subornado por Castor de Andrade (já falecido), patrono do Bangu, e o desdobramento da história foi ameaça a mão armada contra o goleiro, que posteriormente teve de se desligar do clube.

Até 1973 Manga ficou no Uruguai. Transferiu-se posteriormente para o Inter e sagrou-se bicampeão brasileiro em 1975/76 ao lado de jogadores como Batista, Falcão, Marinho Perez, Valdomiro e Dadá Maravilha.

Infelizmente teve passagem negativa na Seleção Brasileira. Cometeu falha grotesca no gol de Simões, na vitória de Portugal por 3 a 1 sobre o Brasil na Copa do Mundo de 1966, com eliminação brasileira ainda na primeira fase.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Adílson Batista, carreira vitoriosa

Por Élcio Paiola (interino)

A nova safra de treinadores tem ocupado cada vez mais espaço no mercado de trabalho, capitaneada pelo gaúcho Mano Menezes, do Corinthians. Hoje, profissionais como Wagner Mancini, Dorival Júnior, Ricardo Gomes, Zetti, Cuca, Sérgio Guedes e Adílson Batista são reconhecidos.
Desta leva, Adílson Batista está no comando do Cruzeiro desde dezembro de 2007, e agora levou o time à fase semifinal da Copa Libertadores da América, paradoxalmente disputando vaga de finalista contra o Grêmio, seu ex-clube.
Adílson Dias Batista, nascido em Andrianópolis, norte do Paraná, completou 41 anos de idade no dia 16 de março passado, e tem um histórico de colecionador de títulos, o primeiro no Atlético (PR) em 1988. Um ano antes, identificado pelo apelido de Pezão, jogava de volante. Aí, o treinador Levir Culpi o deslocou à quarta-zaga, para formar dupla com Marcão.
Ainda com idade de juniores integrou a seleção brasileira da categoria, destacando-se pelo futebol técnico e raçudo. Essas virtudes resultaram no interesse do Cruzeiro que o contratou. Aí, começou a sucessão de títulos: estaduais de 1990 e 92 e da Supercopa da Libertadores da América em 1991/92, naquele timaço com os atacantes Renato Gaúcho e Roberto Gaúcho, volante Douglas e zagueiro Luisinho, ex-atleticano, entre outros.
Animada com a fase da equipe, a torcida do Cruzeiro respondia com presença marcante nas bilheterias do Estádio Mineirão, com público médio de 80 mil pagantes em 1992. Na primeira partida da final, o time ganhou do argentino River Plate por 2 a 0. Depois, no segundo jogo, sofreu tropeço pelo mesmo placar no Estádio Monumental de Nuñes, em Buenos Aires. Assim, a definição se prolongou nas cobranças de pênaltis com vitória cruzeirense.
Quando seguia para o estádio, a delegação do Cruzeiro foi “repecionada” por torcedores rivais com pedradas e pauladas nos vidros do ônibus. A estratégia era amedrontar a boleirada que, em campo, também enfrentou a violência dos jogadores do River Plate.
Durante o transcorrer da partida, Luisinho foi expulso de campo porque fazia “cera” na cobrança de tiro de meta. Adílson, que voltava ao time após fratura na perna, entrou para recompor a dupla de zaga e sequer tocou na bola. No primeiro lance foi vítima de um carrinho maldoso de um adversário, que provocou nova fratura na perna.
Claro que passou pela cabeça de Adílson abandonar a carreira. Felizmente prevaleceu a persistência e a recompensa foi a brilhante carreira. Depois passou rapidamente pelo Inter (RS), mas foi no rival Grêmio que festejou os títulos gaúcho de 1995/96, a Libertadores da América de 95 e o Campeonato Brasileiro de 96. Também foi campeão da Supercopa da Ásia em 98/99 pelo Jubilo Iwata do Japão, e encerrou a carreira no Corinthians após o título do Mundial de Clubes em 2000.
O estágio inicial como treinador foi no Mogi Mirim (SP), Avaí e Paraná Clube. Depois foi campeão regional no América (RN), Figueirense e Cruzeiro. Também passou pelo Grêmio.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Cristóvão, boleiro de sorte

Por Élcio Paiola (interino)



Seleção Brasileira de futebol deveria ser referência para escolha dos melhores jogadores nascidos no país, quer atuando aqui, quer no exterior. Deveria, mas na prática nem sempre acontece. Exemplos estão aí e em competições mundiais.

Em 1998, na Copa do Mundo da França, o lateral-direito Cafu ficou de fora do jogo contra a Holanda, na semifinal, e a maioria se assustou com a escalação de Zé Carlos para substitui-lo. O volante Doriva - ex-São Paulo - também foi reserva naquela Copa. E, em competições como a Copa América, incontáveis jogadores foram relacionados para integrar a Seleção Brasileira, sem que fossem os melhores.

Um exemplo claro foi o meio-campista Cristóvão, que pode se gabar de ter sido campeão da Copa América de 1989, no Brasil. Como era opção de banco, claro que não saiu na foto daquele time formado por Taffarel; Mauro Galvão, Aldair e Ricardo Gomes; Mazinho, Dunga, Silas (Alemão), Valdo e Branco; Bebeto e Romário. Essa leva venceu o Uruguai por 1 a 0 na final, diante de um público de 132.743 pagantes, no Estádio do Maracanã.

O Brasil foi mal na primeira fase. Ganhou da Venezuela por 3 a 1 na estréia, mas na sequência empatou sem gols com Peru e Colômbia. Como os jogos foram realizados no Estádio da Fonte Nova, em Salvador (BA), o torcedor baiano vaiou bastante o time porque o técnico Sebastião Lazaroni não escalava o centroavante Charles e sequer havia relacionado o meia Bobô, que atravessava a melhor fase na carreira. Ambos jogavam no Bahia.

Depois, já em Recife e com público de 76.800 pagantes, o Brasil iniciou arrancada ao título com a vitória por 2 a 0 sobre o Paraguai. A competição foi disputada em Goiânia, Salvador, Recife e Rio de Janeiro.

O passe de Cristóvão ficou valorizado após a competição e o Guarani, que montava um time de medalhões, foi buscá-lo no Grêmio. Mas, por ironia do destino, uma equipe que tinha jogadores do nível do goleiro João Leite, Washington (que fez dupla com Assis no Atlético-PR), Pita e Cristóvão foi rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro após ter sido goleado por 4 a 1 pelo Atlético (PR), no Paraná. O meio-campista ainda disputou o Campeonato Paulista de 1990 pelo Guarani, com histórico de quatro gols: dois de pênaltis, um de falta e outro de bola rolando.

Detalhe curioso é que na chegada a Campinas, com fome, Cristóvão procurou uma casa de lanche e fez questão de pedir nota fiscal para ser ressarcido pelo Guarani. Em campo, jamais passou de jogador razoável. Quem esperava dele um meio-campista combativo no desarme se equivocou. Também seria exagero rotulá-lo de jogador criativo. Trocado em miúdos, ajudava a cercar os espaços do adversário no meio-de-campo e tinha um índice aceitável nos passes de curta e média distância. Convenhamos: pouco para chegar à Seleção Brasileira principal, de juniores, sub-23 e apresentar uma biografia de atleta de grandes clubes.

Cristóvão Borges dos Santos, que nasceu em Salvador, completou 50 anos de idade neste 9 de junho. Ele iniciou sua trajetória no futebol nas categorias de base do Bahia, transferindo-se, em seguida, para o Fluminense (RJ). Jogou no Operário (MS), Atlético (PR), Corinthians, Grêmio (RS), Guarani e Portuguesa até 1992. Depois disso passou por equipes de menor expressão.

A experiência como auxiliar técnico foi possível devido à amizade com o treinador Ricardo Gomes, desde os tempos de Fluminense. Ambos trabalharam juntos no Juventude, Guarani e Vitória (BA). No Juventude, Cristóvão teve a chance de assumir o posto de Ricardo Gomes, porém sem sucesso.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Levir Culpi, técnico falante

Por Élcio Paiola (interino)

Levir Culpi é o típico treinador que não tem papas na língua e fala aquilo que pensa sem medir conseqüências. Desconsiderando a boa fase do então atacante Romário, as vésperas da Copa do Mundo de 2002, também posicionou-se contrário a convocação do jogador no selecionado brasileiro, com alegação que estava “velho” para a Seleção.
Com a repercussão negativa, Levir procurou se expressar melhor: “Ninguém discorda que o Romário é um ótimo jogador. O que me refiro é uma questão de produtividade. Não tem produzido o suficiente para disputar uma Copa”, disse na época.
E vejam que Levir Culpi esteve cotado para assumir a Seleção Brasileira em 2000, quando o técnico Luiz Felipe Scolari havia rejeitado o primeiro convite da CBF (Conferação Brasileira de Futebol) para comandar o grupo, aceitando-o posteriormente.
Levir, paranaense nascido em fevereiro de 1953, foi zagueiro de Coritiba, Colorado (PR), Santa Cruz (PE) e Botafogo (RJ) nos anos 70 e 80. E avisa: “Fui um bom zagueiro. Tinha técnica”.
Se como boleiro quase não se destacou - exceto na passagem pela Seleção Brasileira sub18 em 1972 na França, no Torneio de Cannes, como treinador o histórico é de trajetória ascendente a partir do Juventude (RS) em 1987. E ganhou fama de técnico pé quente para acesso de clubes ao grupo de elite do Campeonato Brasileiro. Foi assim na Inter de Limeira (SP) em 1988, Botafogo (RJ) em 2003, e Atlético (MG) em 2006. No Japão também foi o principal responsável pelo acesso do Cerezo Osaka à principal divisão de futebol daquele país. A rigor, por ora tem vínculo com o Osaka e ganhou experiência no futebol asiático na passagem pelo Ettifaq da Arábia Saudita.
Levir também teve percalços consideráveis, um deles na passagem pelo Palmeiras em 2002. Assumiu o comando técnico do clube em situação delicada, mas considerou que jogadores do nível do goleiro Marcos, Arce, Nenê e Dodô fossem preponderantes para que a equipe reagisse.
Erro de previsão. O Palmeiras caiu para a segunda divisão e Levir, em 18 jogos, ficou com o retrospecto de cinco vitórias, seis empates e sete derrotas. Seus antecessores foram Vanderlei Luxemburgo, Paulo Cesar Gusmão, Flávio Teixeira - o Murtosa -, e Karmino Colombini.
Claro que Levir não se abalou com o fracasso no Palmeiras. Já havia mostrado sua competência no futebol paulista com o título estadual em 2000, no São Paulo, quando recebia salário de R$ 160 mil, metade do valor oferecido pela CBF para que Felipão assumisse o comando da Seleção Brasileira.
Levir também conquistou títulos regionais em Pernambuco, Santa Catarina, Paraná, e principalmente em Minas Gerais. Até hoje é lembrado pela torcida cruzeirense pelos títulos estaduais de 1996 e 98, Copa do Brasil de 96 e Recopa Sul-Americana de 98. E um dos segredos do sucesso foi a exigência para que seus comandados se aplicassem no fundamento “passe”, que julga ser fundamental no futebol.
Organizado, Levir criou o próprio site. Lá revela todas as conquistas desde os tempos de jogador. Em decorrência da penetração em todo planeta, o internauta pode acessar páginas redigidas em inglês e espanhol.
Nas horas de folga Levir diverte-se em pescarias, seu passatempo ideal. Em casa, gosta de ouvir músicas brasileiras em volume exagerado. Claro que esse comportamento irrita a esposa que reduz o volume, mas ele volta a aumentá-lo.
Levir adora a culinária. É dono de dois restaurantes especializados de comida mineira e projeta um terceiro só com pratos japoneses, em Curitiba (PR).

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Procópio, ídolo em Minas

Por Élcio Paiola, interino

Há decisões e decisões de campeonatos. E uma decisão inesquecível foi a do Campeonato Brasileiro de 1980 entre Atlético Mineiro e Flamengo, com o título comemorado pelo time carioca. No primeiro jogo da final, no Estádio Magalhães Pinto, o Mineirão, dia 28 de maio, mais de 90 mil pessoas pagaram ingressos, e o Galo venceu por 1 a 0, gol do atacante Reinaldo. A arbitragem foi do paulista Romualdo Arppi Filho.
O Estádio Mário Filho, o Maracanã, foi palco do segundo do confronto, com 154.355 pagantes, no dia primeiro de junho. Com arbitragem contestadíssima de José Assis Aragão, que expulsou os atleticanos Reinaldo, Palhinha e Chicão; e o Flamengo venceu por 3 a 2.
O Flamengo marcou primeiro através do atacante Nunes, aos 7 minutos do 1º tempo, mas o talentoso Reinaldo empatou um minutos depois. O meia Zico colocou o Flamengo em vantagem aos 44 minutos, todavia Reinaldo voltou a empatar para o Galo aos 22 minutos do 2º tempo, silenciando os rubro-negros que gritavam “bichado, bichado”.
O Flamengo decidiu o jogo aos 37 minutos do 2º tempo, novamente através de Nunes. O time do técnico Cláudio Coutinho - já falecido -, jogou com Raul; Toninho, Manguito, Marinho e Júnior; Andrade, Carppegiani (Adílio) e Zico; Tita, Nunes e Júlio César.
O técnico do Galo era Procópio Cardoso Neto, personagem em foco da coluna, que escalou seu time com João Leite; Orlando (Silvestre), Osmar Guarnelli, Luizinho (Geraldo) e Jorge Velença; Chicão, Toninho Cerezo e Palhinha; Pedrinho, Reinaldo e Éder.
Procópio Cardoso entrou para a história do futebol mineiro por ter jogado e treinado as duas principais equipes de Belo Horizonte. Como treinador, comandou o Atlético (MG) em 328 jogos, superado por Telê Santana - já falecido – que dirigiu o time 434 vezes.
Natural de Salinas (MG), nascido no dia 21 de março de 1939, Procópio foi contratado pelo Cruzeiro em 1959 para atuar na quarta zaga. Em 1961 foi jogar no São Paulo, passou por Fluminense, Atlético (MG), Palmeiras, e depois voltou ao Cruzeiro, onde é considerado o melhor zagueiro da história do clube.
E vejam que pelo Cruzeiro passaram bons zagueiros. O argentino Roberto Perfumo, por exemplo, mesclava talento e raça. Esteve na Toca da Raposa de 1971 a 1974, participou de 138 partidas e marcou seis gols. Fontana - já falecido - foi outro zagueiro que caiu no gosto dos cruzeirenses, mas ninguém foi tão aplaudido quanto Procópio, que só não abandonou o futebol em 1968 porque era obstinado. Na Taça de Prata daquele período foi atingido por Pelé, num jogo Cruzeiro e Santos, e rompeu o tendão do joelho exatamente quando atravessava a melhor fase da carreira, e esperava convocação à Seleção Brasileira.
Posteriormente Procópio lembrou que seu companheiro Pedro Paulo, lateral do Cruzeiro, dedo em riste, partiu pra cima do “rei” prometendo vingança. E, para prevenir o inevitável, o juiz (não revelou o nome) decidiu expulsá-lo.
Maldade de Pelé ou não, o certo é que o então zagueiro cruzeirense teve de esperar cinco anos para jogar futebol. Durante esse período se ocupou como supervisor da categoria juvenil e depois voltou aos campos plenamente recuperado.
Procópio uniu raça e sabedoria para atuar na zaga e por isso disputou dez jogos pela Seleção Brasileira, de 1963 a 1968, com retrospecto de cinco vitórias, dois empates e três derrotas. Foi tido como um dos técnicos imbatíveis na orientação aos defensores. Foi ele, também, que descobriu o quarto-zagueiro Luizinho, do Atlético (MG)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Acácio, bom goleiro

Por Élcio Paiola (interino)


No passado, goleiros como Mazaroppi, Zetti, Gainete, Neneca, Emerson Leão, Jairo e Acácio comemoraram centenas de minutos sem sofrer gols. Em 2007 o são-paulino Rogério Ceni totalizou 898 minutos sem que fosse vazado e essas marcas entraram para a história do futebol brasileiro.
O recordista de tempo sem sofrer gols ainda é Mazaroppi com 1.816 minutos. Isso aconteceu quando defendia o Vasco da Gama em 1977. Em seguida vem Neneca, nos tempos de Náutico (PE), com a marca de 1.726 minutos. Foram 19 jogos e 16 minutos cravados em 1974. Depois vem Zetti, quando defendia o Palmeiras, com 1.242 minutos.
O catarinense Gainete, goleiro do Internacional (RS) em 1970, evitou que a bola entrasse em seu gol durante 1.202 minutos. Jairo, no Corinthians de 1978, totalizou 1.132 minutos, e Emerson Leão, quando jogava no Palmeiras, alcançou a marca de 1.057 minutos sem ser vazado.
Embora com marca inferior aos goleiros citados, o ex-goleiro Acácio Cordeiro Barreto, o Acácio do grande Vasco dos anos 80, ainda recorda com satisfação os 879 minutos sem sofrer gols em 1988. No ano seguinte, ainda no clube cruzmaltino, foi um dos principais responsáveis pela conquista do título brasileiro. Foram atuações regularíssimas ao longo da competição e, para fechá-la com chave de ouro, praticou três defesas fantásticas na vitória sobre o São Paulo por 1 a 0, gol de Sorato, em pleno Estádio do Morumbi, na final.
Vejam que naquela época registrava-se público pagante sempre superior a 70 mil torcedores em finais de campeonatos. Foram 71.552 são-paulinos e vascaínos que se distribuíram no estádio, fora os penetras, autoridades, etc.. O Vasco foi campeão com Acácio; Luiz Carlos Vinck, Marco Aurélio, Quiñones e Mazinho; Zé do Carmo, Marco Antonio Boiadeiro, Bismarck e William; Sorato e Bebeto.
Na época, Acácio era nome certo na relação de jogadores convocados à Seleção Brasileira e, inclusive, ganhou a posição de titular. Tudo ia bem até que num jogo contra a Dinamarca, em Copenhagen, capital daquele país, o time brasileiro foi goleado por 4 a 0 e sobrou para Acácio, que perdeu lugar na equipe para Taffarel. Ainda assim, o goleiro vascaíno integrou o elenco do Brasil na Copa do Mundo da Itália de 1990. O terceiro goleiro foi Zé Carlos, do Flamengo.
Acácio nasceu em Campos, norte do Estado do Rio de Janeiro, participou das categorias de base do Americano (RJ), mas profissionalizou-se no Rio Branco, outro time da cidade, além do Goytacaz. Seu futebol ganhou destaque quando defendeu o Serrano, de Petrópolis (RJ), despertando interesse dos dirigentes vascaínos, que o levaram para São Januário em 1982.
Claro que no início Acácio teve de enfrentar a reserva de Mazaroppi. Depois, entrou no time e se firmou como titular. Estranhamente teve que dividir o posto com Roberto Costa, num esquema de revezamento de goleiros adotado pela comissão técnica da época.
Em 1991, trocou o Vasco pelo Tirsense, equipe da segunda divisão do futebol português. Na sequência jogou no Beira-Mar, e só retornou ao Brasil após três anos em Portugal.
Claro que na ocasião Acácio já não tinha a elasticidade de outrora e seu último clube como jogador foi o Madureira (RJ). Incontinenti iniciou a carreira de treinador de goleiros no Fluminense, passou pelo Botafogo e pretende continuar ensinando os segredos da posição para goleiros novos. Ele completou 50 anos em janeiro passado.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Paulo, zagueiro do grande Santos

Élcio Paiola (interino)


Dias atrás, numa roda de desportistas que recordavam bons zagueiros do passado, de repente alguém citou Paulo Davoli, que fez sucesso no Santos no final da década e 60 e início dos anos 70. Até aí ninguém discordou.
O que aqueles saudosistas não sabiam é que Paulo Davoli morreu há pouco mais de dois anos, precisamente no dia 13 de abril de 2007. Na ocasião o titular da coluna, Ariovaldo Izac, escreveu que Paulo Davoli era conhecido no início de carreira apenas pelo prenome, a exemplo do goleiro Luiz do São Caetano.
Milhares de Luízes estão “esparramados” por este Brasil afora, e o uso só do prenome pode trazer dificuldade para distinguir aquele que se deseja indicar. Talvez por jogar no gol, futuramente os desportistas terão mais facilidade para distinguir o Luiz do Azulão.
Nos casos de jogadores com prenomes conhecidíssimos, adota-se nome composto para facilitar a identificação: Luís Alberto, Luiz Henrique, Sílvio Luiz, Paulo Henrique, Paulo Roberto, etc..
No passado, os veículos de comunicação identificavam o zagueiro apenas como Paulo. Acresceram o sobrenome Davoli só depois que ele pendurou as chuteiras no São José, quando se transformou num próspero empresário no Vale do Paraíba.
A rigor, nascido em Mogi Mirim (SP), Paulo, que havia completado 58 anos de idade em janeiro de 2007, foi castigado por tumor maligno no intestino.
Nos anos 60, formado nas categorias de base do Guarani, Paulo foi lançado no time principal aos 19 anos pelo então técnico Dorival Geraldo dos Santos, no lugar de Cidinho (Alcides Romano Júnior), na época zagueiro e hoje treinador de futebol. No Bugre, Paulo jogou com os ponteiros Joãozinho, Carlinhos e Vagninho, o meia Capolosa, e o atacante Vanderlei. Exceto Joãozinho, os demais já morreram.
Paulo se firmou como titular do Guarani pelo estilo clássico, capacidade de antecipação, bom posicionamento e ótimo no desarme. No alto era quase imbatível, e sabia passar a bola corretamente. Claro que o Santos logo observou essas virtudes e tratou de levá-lo à Vila Belmiro. E lá, após um período na reserva, se firmou como titular em meados da década de 70, num time que tinha Cejas; Orlando Lelé, Paulo, Oberdã e Zé Carlos; Clodoaldo e Afonsinho; Edu Jonas, Alcindo, Pelé e Ferreira.
Desse time, o lateral Orlando Lelé morreu há nove anos, vítima de embolia pulmonar. A rigor, pode-se dizer que também foi duramente castigado nos últimos meses de vida. Imaginem alguém agitado como Orlando perder os movimentos do corpo do pescoço para baixo? Ele ficou tetraplégico após uma queda doméstica. Estava no banho quando sentiu tontura e, ao cair, bateu a cabeça no chão.
Orlando ainda jogou no Coritiba, mas atingiu o auge da carreira no Vasco, onde fazia precisos cruzamentos para o centroavante Roberto Dinamite. E quando perdeu a velocidade para fazer o incansável vaivém, ainda foi útil na zaga central.
Observe que o meia-de-armação daquele time santista de 1972 foi o irreverente Afonsinho, jogador da barba comprida, confundido como subversivo e discriminado. Acreditem: em 1971, quando jogava no Botafogo (RJ), foi impedido de treinar e deu o troco na medida. Recorreu ao STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) da antiga CBD (Confederação Brasileira de Desportos) contra a proibição do exercício profissional e entrou para a história como o primeiro jogador do País a conseguir passe livre.
Radicado no Rio de Janeiro, Afonsinho é um médico especialista em psiquiatria e atende pacientes portadores de desequilíbrio mental do Hospital Pinel, em Botafogo.