segunda-feira, 31 de dezembro de 2012


 

 

Corinthians teve zagueiros questionáveis

 

 Quer na conquista da Libertadores da América, quer no Mundial de Clubes, o Corinthians contou com a eficiência de seu miolo de zaga, com Chicão, Leandro Castán e Paulo André se alternando nas duas posições. Esse quadro contrasta com um setor historicamente contestado. Nos últimos 40 anos poucos zagueiros talentosos passaram pelo clube. O clássico Amaral na década de 70. Posteriormente vieram Antônio Carlos e o paraguaio Gamarra. Quem mais?

 A maioria dos zagueiros recorreu à superação para cair no gosto da torcida. Era praxe o Corinthians pautar por contratações de zagueiros vigorosos, rebatedores, o chamado limpa área. Em 1966, o camisa 3 era Ditão (já falecido), que veio da Portuguesa de Desportos e formou dupla com Clóvis e depois Luís Carlos, numa defesa que tinha os laterais Jair Marinho e Édson Cegonha. O goleiro era Marcial. Nair e Rivelino formavam o meio-de-campo. No ataque jogavam Marcos, Tales, Flávio e Gilson Porto.
 Em 1974, o central do Corinthians era Brito, tricampeão mundial pelo Brasil, no México, mas com limitações claras no chão. A equipe, na época, era formada por Buttico; Zé Maria, Brito, Ademir Gonçalves e Wladimir; Tião e Rivelino; Vaguinho, Lance, Zé Roberto e Adãozinho.
 Na sequência chegou ao Timão o zagueiro Moisés, precedido da fama de jogador violento. Ele saiu do Bangu para ser o xerife da zaga corintiana, e participou do memorável time campeão paulista de 1977, com Tobias: Zé Maria, Moisés, Ademir Gonçalves e Vladimir; Russo, Luciano e Basílio; Vaguinho, Palhinha e Romeu Cambalhota.
 O nível técnico da zaga corintiana cresceu no ano seguinte com a chegada de Amaral, que cobria as falhas do grandalhão Mauro, beque cintura dura e facilmente batido no chão. Ele só foi mantido titular porque no jogo aéreo era quase intransponível.

 Já em 1982, o companheiro de zaga de Mauro foi Daniel Gonzalez, um uruguaio falecido em acidentes de automóvel. No ano seguinte, a parceria foi com Juninho, o Alcides Fonseca Júnior, revelado pela Ponte Preta.
 O Corinthians foi campeão paulista em 1988 e o zagueiro central era Marcelo, na época um garoto saído das categorias inferiores do clube, que se destacou pela velocidade nas coberturas. O time tinha novatos como o goleiro Ronaldo, quarto-zagueiro Denílson e o atacante Viola. Eis a formação: Ronaldo; Édson Abobrão, Marcelo, Denílson e Dida; Márcio, Biro-Biro e João Paulo; Everton, Viola e Paulinho Carioca.
 Em 1993, Marcelo fez dupla de zaga com Henrique. Dois anos depois deixou o posto para Célio Silva, que caiu no gosto da fiel pela garra e chute forte em cobranças de faltas, que assustava goleiros adversários. Convenhamos: jogador limitadíssimo.
 Passaram pelo Corinthians ao longo dos anos zagueiros como Gomes, Jatobá, Batata, Marinho, Betão e Cris, todos de superação.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012


 Sorlei, carreira encerrada aos 28 anos de idade

 
 Sorlei Murali Crudzinki foi um zagueiro clássico, cuja carreira foi interrompida aos 28 anos em 2002, quando atuava pela Portuguesa Santista. Agora, enquanto descansa em Coritiba, no Paraná, dá entrevistas citando o sonho com a carreira de treinador. Ou melhor: projeta um futuro promissor na nova função.

 “Ainda vou dirigir o Fluminense. Pode escrever aí”, afirmou ao portal do Globo Esporte em abril de 2009, quando foi flagrado na capital paranaense com a cabeça raspada.

 Que Sorlei tem boa leitura de partidas, isso ficou claro para quem teve contato com ele no pós-jogo. Nas avaliações, era tão realista que, por vezes, sobravam críticas até para companheiros, que resultavam em situação constrangedora.

 No quesito comunicador sempre mostrou facilidade de expressão, e por isso sempre foi requisitado para entrevistas. Os assuntos fluíam. Jamais o entrevistador deparava com o irritante monossílabo. Então, a boa capacidade de argumentação influenciava. E adicionava a isso a postura de um líder de grupo.

 Dos outros quesitos indispensáveis a treinadores, restaria ser testado sobre atualização profissional, se sabe ouvir críticas, persistência e sobretudo sorte. Sem isso, de nada adiantaria imaginar que entender de futebol e ter competência para transmitir a sua filosofia aos comandados seria suficiente. E diferente da posição de algumas correntes, não é exigência básica que seja formado em educação física.

 Já que uma casa começa pelo alicerce, a opção para Sorlei seria um clube de menor expressão, para se transformar em vitrine na hipótese de alcançar bons resultados. Ainda assim precisa se conscientizar que treinador fica eternamente na ‘corda bamba’.

 A carreira de atleta bem sucedida em grandes clubes como Coritiba, Fluminense e São Paulo contribuiu para Sorlei absorver bons ensinamentos de seus treinadores. No Flu, foi campeão carioca em 1995, num time comandado por Jorge Vieira - já falecido - e formado por Wellerson; Ronald, Sorlei, Lima e Lira; Márcio Costa, Aílton, Djair e Rogerinho; Renato Gaúcho e Leonardo.

 No São Paulo ele ficou pouco mais de seis meses em 1996. Depois, transferiu-se ao Guarani e formou dupla de zaga com Sangaletti, num time treinado por Carbone e formado por Hiran; Sorlei, Sangaletti e Júlio César; Germano, Valdeir, Cairo, Elso e Alexandre Gaúcho; Ailton e Marcelo Carioca.

 Sorlei desarmava bem, sabia antecipar ao adversário, mas era vulnerável no jogo aéreo, com a estatura de 1,81m de altura, hoje considerada inapropriada para zagueiros.

 Seguidas contusões em joelhos, que resultam em cinco cirurgias, impediram que tivesse sequências de jogos e por isso o rendimento em campo foi decrescendo quando saiu do Guarani em 1999, passando por Vila Nova (GO), ABC potiguar, Bragantino e Portuguesa Santista.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012


Eurico Miranda, uma história em livro



 Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco, estava no ostracismo até o dia 13 de dezembro passado quando autografou o livro ‘Todos Contra Ele’, no Rio de Janeiro, obra que tem a biografia do dirigente, e que foi escrita por Sérgio Frias.

 Com saudade dos holofotes, Eurico aproveitou a oportunidade para as alfinetadas características: “Só quero que não me provoquem muito. Eu tinha decidido me aposentar e cuidar dos meus netos, mas estão me provocando muito. De repente posso mudar de idéia”, foi a insinuação de que pode disputar a próxima eleição presidencial do clube cruzmaltino.

 Na presidência do Vasco e como deputado federal, Eurico ousou bateu de frente com a Rede Globo de Televisão ao exibir o logotipo do concorrente SBT nas camisas dos jogadores do Vasco, durante transmissão da ‘poderosa’ na final da Copa João Havelange de 2000, contra o São Caetano.

 Também deve constar nesta biografia sobre Eurico Miranda a criticada atitude dele ao transportar para a sua casa a receita que cabia ao seu clube de partida contra o Flamengo de 1997, pelo Campeonato Brasileiro, no Estádio do Maracanã, com vitória vascaína por 1 a 0, gol de Pedrinho.

 Detalhe: no caminho de seu apartamento Eurico foi interceptado e rendido por assaltantes que levaram o malote com o dinheiro. A mídia informou o valor de R$ 62 mil, versão contestada pelo dirigente: “Foram R$ 27 mil e pouco, e devidamente registrados”.

 Questionou-se na época por que o dirigente não fez uso de carro forte para transporte seguro, em vez da arriscada opção de confiar apenas em seguranças, no acompanhamento?

 Na época, irritado com suspeitas de situação forjada, Eurico fez questão de detalhar que os bandidos usavam colete à prova de bala e metralhadora R15. “Deram um tiro que deixou marca no asfalto. Conclusão: naquele ano o Vasco foi campeão para ‘delírio’ desses caras”.

 Outro constrangimento de Eurico Miranda foram denúncias e investigações feitas pela CPI do Futebol da Câmara, posteriormente confirmadas pela 4ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, que em maio de 2007 o condenou a dez anos de reclusão, e ao pagamento de multa de aproximadamente R$ 53 mil por crime contra a ordem tributária.

 Segundo o Ministério Público Federal, Eurico deixou de declarar em 1999 e 2000 cerca de R$ 274 mil que teriam sido movimentados em contas de laranjas. O ex-presidente do Vasco recorreu em liberdade da decisão.

 Décadas passadas, no auge de uma comemoração vascaína, após vitória sobre o Flamengo, e com a sua habitual irreverente, Eurico destilou todo veneno contra o rival: “Não sei se tenho maior prazer numa relação sexual ou se quando ganhamos do Flamengo”.
 Eurico provoca brigas desnecessárias, tem fascinação pelo cenário político, e o reprovável hábito de enfumaçar ambientes com baforadas de seu charuto.

 

 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012


Cláudio Pinho, o maior artilheiro do Corinthians

 

 No céu, ou aonde estiver, o ponteiro-direito Cláudio Cristovam Pinho também deve entoar o grito de guerra do representante do Brasil no Mundial de Clubes, no Japão: ‘Vai Corinthians’.

 É obrigação do corintiano saber que Cláudio entrou para a história do clube como o principal artilheiro de todos os tempos com 295 gols, estatística confirmada em depoimento do jogador ao finado jornal impresso A Gazeta Esportiva em abril de 1998, dois anos antes de sua morte. Há informações contraditórias de que ele teria marcado 305 gols em 533 partidas disputadas pelo Corinthians.

“Sempre fui lembrado não pelos gols que marquei, mas pelos passes que dei. Tem gente que até hoje fala dos cruzamentos na cabeça do Baltazar”, revelou Cláudio naquela ocasião, em defesa da solidariedade do conjunto. “O futebol tem que ser assim. Todo mundo tem o seu papel. O que faz o gol e o que faz o passe, porque sem ele não sai o gol”, acrescentou.

 A passagem pelo Corinthians de 1945 a 1957 foi marcada como um ponteiro-direito rápido, habilidoso e exímio cobrador de faltas e escanteios. Há historiadores que lembram de um gol olímpico marcado contra o Palmeiras logo que foi contratado pelo Timão, num ataque formado por Cláudio, Luizinho, Rafael, Simão e Carbone. Posteriormente ele foi companheiro do centroavante Baltazar, o cabecinha de ouro.

 A postura de líder em campo resultou no apelido de ‘Gerente’. E, em uma de suas últimas entrevistas, Cláudio não se constrangeu ao afirmar que quando as coisas não davam certo em campo, ele fazia aquilo que achava melhor, deixando explícito que não era subserviente ao comandante. “O treinador pedia uma coisa, mas eu mudava dentro de campo. Tinha liderança sobre os meus companheiros, e tinha liberdade com o técnico”.

 Por essas e outras razões que Cláudio já criticava meias que participavam de jogadas apenas quando a bola chegava aos pés, como se projetasse que o treinador Tite, do Corinthians, fosse assimilar os seus conceitos de futebol participativo. “Algumas vezes os meias se desligam do jogo, como se não tivessem a menor responsabilidade”.

 Apesar da identificação com o Corinthians, Cláudio entrou para a história por ter atuado nos quatro grandes clubes do futebol paulista. O início da carreira foi no Santos, sua cidade natal, em 1940. Dois anos depois transferiu-se por empréstimo para o Palmeiras e marcou o primeiro gol do clube na era pós Palestra Itália, na vitória por 3 a 1 sobre o São Paulo. Del Nero e Echevarrieta completaram o placar no jogo do título paulista. Waldemar de Brito marcou para o tricolor paulistano.

 Cláudio jogou no Corinthians até 1957. Depois, ainda no clube, foi técnico interino com a saída de Oswaldo Brandão. De 1958 a 1960 atuou no São Paulo, onde encerrou a carreira de atleta. Na biografia constam 12 jogos pela Seleção Brasileira.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012


 Fidélis, o ‘Touro Sentado’

 
 A finalidade de homenagear aqui jogadores do passado preferencialmente em vida foi cumprida à risca no caso do lateral-direito José Maria Fidélis dos Santos, que morreu no dia 28 de novembro passado em São José dos Campos (SP), aos 68 anos de idade, após um câncer de estômago durante sete meses. Agora a história será recapitulada.

 Fidélis media, se muito, 1,70m de altura, e esticava o cabelo com brilhantina, um cosmético em forma de pomada, de aspecto gorduroso, usado em larga escala até nos anos 70. E vejam que a brilhantina inspirou até o músico Raul Seixas - já falecido - em letra de composição intitulada ‘Teddy Boy, Rock e Brilhantina’. Eis a citação da primeira estrofe: “Eu quero avacalhar com toda turma de esquina, com meu cabelo cheio de brilhantina”.

 Fidélis, lateral-direito dos anos 60 e 70, tinha limitações técnicas quando passava do meio de campo. Dele não se esperava um passe alongado, drible ou cruzamento com efeito. Valia-se da força física. Era um implacável marcador, estilo exigido para quem atuasse naquela época na posição, com incumbência de anular antigos ponteiros.

 Isso foi preponderante para que o treinador Vicente Feola o relacionasse entre os 22 jogadores da Seleção Brasileira à Copa do Mundo de 1966 na Inglaterra. E se lá chegou como reserva de Djalma Santos, saiu como titular quando o treinador modificou toda defesa na terceira partida da primeira fase contra Portugal, escalando Manga, Fidélis, Brito, Orlando e Rildo. As modificações foram infrutíferas e o time perdeu por 3 a 1.

 Natural de São José dos Campos, nascido em 13 de março de 1944, Fidélis integrou o melhor time do Bangu de todos os tempos em 1966. Aquele elenco protagonizou inesquecível final de Campeonato Carioca, com goleada por 3 a 0 sobre o Flamengo até os 25 minutos do 2º tempo. Uma confusão generalizada entre jogadores, com o flamenguista Almir Pernambuquinho como pivô, resultou no encerramento antecipado da partida.

 Na época o Bangu mandava jogos até contra grandes clubes do Rio de Janeiro no Estádio Proletário Guilherme da Silva, chamado de Moça Bonita. Se lá já se espremeram 17 mil pessoas no jogo contra o Fluminense em 1949, hoje, por medida de segurança, a lotação não excede 9,5 mil pessoas.

 Fidélis, que chegou ao Bangu em 1963, estranhou a generosidade do bicheiro Castor de Andrade, patrono do clube e já falecido, que pagava bichos aos atletas até em treinos coletivos. Também assimilou bem o apelido de ‘Touro Sentado’, referência a Tatanka Iyotake, índio norte-americano chefe da tribo dos sioux hunkpapa, que viveu entre os anos 1834 e 1890.

 Em fevereiro de 1969 Fidélis trocou o Bangu pelo Vasco, e foi recompensado com a conquista do título brasileiro de 1974, após vitória por 2 a 1 sobre o Cruzeiro, no Estádio do Maracanã, com 112.993 torcedores presentes.