segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Nem frei Cebolinha

O leitor identificado apenas como Nelson indica de uma só vez quatro pautas sugestivas. Inicialmente lembra que em 1980 o Palmeiras atravessava uma fase horrorosa, e para afastar a “urucubaca” os dirigentes concordaram que o frei Cebolinha entrasse no gramado com o time e abençoasse jogadores e bola. Tudo foi feito como manda o figurino, conforme relato do site oficial do clube, mas a maldição não foi espantada.
O marqueteiro Dadá Maravilha sabia como poucos promover jogos das equipes que atuava com promessa de gols. Assim, na final do Campeonato Brasileiro de 1976 contra o Corinthians, no Estádio Beira Rio, em Porto Alegre, o atacante prometeu e cumpriu a marcação do gol Shirley. Lembram-se?
O leitor solicita abordagem sobre o folclórico atacante "Fio Maravilha", jogador do Flamengo na década de 70. Há cerca de oito anos a coluna recapitulou a história do dentuço Fio, que um dia ousou processar o cantor Jorge Bem Jor, argumentando uso indevido de imagem com a música Fio Maravilha. Na prática, o interprete só pretendia render homenagem ao flamenguista.
Por fim, Nelson sugere oportunamente um histórico do único árbitro de futebol “artilheiro”: José Assis Aragão. Em 1983 ele marcou um gol a favor do Palmeiras no empate em 1 a 1 com o Santos. Aragão estava mal posicionado na pequena área do Peixe, entre a linha de fundo e o poste direito do goleiro Marola, quando acidentalmente a bola chutada por Jorginho, do Palmeiras, que ia para fora, desviou em sua perna e foi para o gol. O assunto foi superficialmente abordado no passado, mas cabe aprofundamento em tópico sobre a polêmica carreira deste árbitro.
O foco hoje é o folclórico frei Cebolinha, um palmeirense assíduo freqüentador de jogos de seu time no Estádio Palestra Itália, entre as décadas de 70 e 80. Esse frade Franciscano entrava em campo de batina, saudava os torcedores de braços erguidos e fazia o “v” da vitória com as mãos. Uma dessas ocasiões foi no dia 14 de setembro de 1980, no Estádio do Morumbi, quando o Verdão ficou no empate sem gols com o Santos.
Naquela temporada o Palmeiras foi goleado pelo Flamengo por 6 a 2, no Estádio do Maracanã; 4 a 1 pelo Inter (RS), em Porto Alegre; 3 a 0 pelo Guarani, em Campinas; 3 a 0 diante do XV, em Piracicaba; e 4 a 0 em jogo com o São Paulo, no Estádio do Morumbi. Perdeu em casa para times pequenos como Ferroviária (2 a 0) e Juventus, Noroeste e Francana, todos por 1 a 0. Jogadores como Gilmar, Rosemiro, Sotter, Polosi, Mococa, Pires, Carlos Alberto Seixas, Jorginho, Cesar, Baroninho e Romeu Cambalhota não conseguiram dar a necessária sustentação ao time. Romeu, na época com 30 anos de idade, só foi capaz de dar duas cambalhotas nos únicos dois gols que marcou na passagem de um ano pelo Verdão.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Adeus a Francisco Sarno

O livro “A Dança do Diabo”, de autoria do então treinador Francisco José Sarno Matarazzo, revela desmandos no futebol dentro e fora dos gramados. Este corajoso Sarno morreu neste 17 de janeiro na capital paulista, vitimado por complicações do Mal de Alzheimer. Essa doença degenerativa é incurável e terminal. O tratamento só resulta no adiamento da evolução dela. Perda da memória é um sintoma comum entre pacientes.
Essa perversa doença o castigou bastante, já que não se lembrava de quase nada ultimamente. Nascido em Niterói (RJ), no dia 5 de novembro de 1924, esteve diretamente ligado ao futebol até a década de 70. Foi um zagueiro de estilo clássico com passagens por Botafogo (RJ), Vasco, Palmeiras, Santos e Jabaquara de Santos. Polivalente, de vez em quanto era deslocado à lateral-esquerda e à função de volante. Como treinador, passou por mais de uma dezena de clubes, entre eles Corinthians, Jabaquara, XV de Piracicaba, Coritiba, Atlético (PR), Noroeste, Guarani, Ponte Preta e futebol colombiano.
Sarno ficou marcado positivamente no Coritiba pelo bicampeonato nas temporadas 1968/69, quando o clube quebrou um jejum de títulos de oito anos. No futebol campineiro, primeiro passou pelo Guarani, em meados da década de 60, ocasião em que os atletas estranharam longas preleções pós jogo, quando o time era derrotado.
Ainda no Guarani tinha o hábito de carregar uma toalha durante os jogos, e a usava para indicar o canto que o goleiro de seu time - no caso Dimas - deveria arriscar em cobranças de pênaltis para o adversário, colocando-a na mão direita ou esquerda. E se o goleiro contrariasse sua instrução seria sacado do time.
Sarno dirigiu a Ponte Preta durante o Campeonato Paulista da segunda divisão de 1964, que se estendeu até 7 de março de 1965. Na última rodada, bastava uma vitória para a Macaca garantir acesso ao Paulistão, mas foi derrotada pela Portuguesa Santista por 1 a 0, no Estádio Moisés Lucarelli, em Campinas. O gol da Briosa foi marcado por Samarone aos 6 minutos do 1º tempo, o público pagante foi de 16.757, e irados pontepretanos depredaram ônibus que conduziam torcedores visitantes. Na época, contabilizava-se pontos perdidos pelas equipes. A Santista terminou a competição com sete e a Ponte nove pontos.
Sarno escalou Anibal (Fernandes); Valmir e Antoninho; Ivan, Sebastião Lapola e Jurandir; Jairzinho, Ari, Da Silva, Urubatão e Almeida. A Santista foi campeã com Cláudio; Alberto e Anderson; Norberto, Osmar, e Zé Carlos; Lio, Samarone, Valdir, Pereirinha e Babá. Juiz: Albino Zanferrari.
Quatro meses antes, a Santista ganhou dois jogos amistosos contra Ponte - em Santos e Campinas - por 2 a 1.
Quem acompanhou o trabalho de Sarno testemunha que tratava-se de um ótimo observador. Pedia aos seus atacantes que explorassem falhas de adversários como aplicação de dribles no pé “bobo” de zagueiros, jogadas de velocidade diante de marcadores lentos, e jogo aéreo contra defesas vulneráveis.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Atleta vovô: coisa antiga

A mídia alardeia que os atletas vovôs têm ganhado cada vez mais espaço no futebol brasileiro. O foco principal é o meia sérvio Petskovic, de 37 anos de idade, que deu show de bola no último Campeonato Brasileiro. Outros exemplos de longevidade de boleiros estão aí. Os atacantes Viola e Túlio Maravilha, respectivamente com 41 e 40 anos de idade, prometem continuar estufando as redes de equipes adversárias nesta temporada. Sávio foi repatriado pelo Flamengo. Dodô vai jogar no Vasco após suspensão por ter sido flagrado em exame antidoping. Ambos estão com 35 anos de idade e são goleadores.
Além deles, outros “velhinhos” ainda tratam a bola com carinho. Giovanni, que em fevereiro completa 38 anos de idade, voltou a jogar no Santos. Edilson ‘Capetinha’, 39 anos, retorna à profissão após dois anos parados. Seu novo clube é o Bahia, estado privilegiado por contar com Ramon Menezes, 37 anos, meia do Vitória.
Motivos que os estimulam a sequência na carreira não faltam. Boleiros famosos ainda assinam contratos salariais compensadores, diferentemente se migrarem para outras atividades. Avanços na ortopedia e fisioterapia provocam milagres em joelhos “bichados” e garantem sobrevida ao atleta. A consciência profissional implica em vida regrada e aceitável condicionamento físico para acompanhamento do grupo.
Apesar disso, longevidade no futebol não é fato novo. Em 1963, na Ponte Preta, aos 42 anos, o meia Jair da Rosa Pinto, o Jajá, ainda lançava com precisão e chutava forte. Em 1969 o Atlético (PR) apostou em medalhões e se deu bem. Lá o lendário lateral-direito Djalma Santos jogou até meados da década de 70, aos 42 anos. O zagueiro Belini, capitão do título mundial brasileiro na Suécia em 1958, encerrou a carreira aos 39 anos.
Nos anos 70, Edu Jonas brilhou no Santos e Edu Bala no Palmeiras. A fase decadente de Jonas começou em 1977 no Corinthians, todavia se arrastou por mais oito anos ao encerrar a carreira no Dom Bosco de Cuiabá (MT). Edu Bala foi mais longe. Contabilizando passagens por pequenas equipes do futebol paulista - Nacional, Saltense e Sãocarlense - jogou até os 40 anos.
O exemplo cristalino de veterano encerrar a carreira no auge foi o do polivalente Júnior, do Flamengo. Em 1992 marcou gols e comandou seu time nas duas partidas da final do Campeonato Brasileiro contra o Botafogo (RJ). A recompensa foi a comemoração do título em alto estilo. Depois, no ano seguinte, aos 39 anos, pendurou as chuteiras. Igualmente o atacante Serginho Chulapa parou de jogar com a mesma idade, no São Caetano, clube onde também passou o zagueiro Luiz Pereira, que encerrou a carreira no São Bento, aos 43 anos.
Como Luiz Pereira, Toninho Cerezo jogou até os 43 anos, no Atlético (MG). O renascimento deu-se nos dois títulos mundiais de clubes conquistados pelo São Paulo – 1992/93. No bi, na vitória por 3 a 2 sobre o Milan, foi eleito o melhor jogador.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Veja os horários do Paulista da A-2

Quem observou atentamente a tabela do Campeonato Paulista da Série A-2 de certo se espantou com os diversificados horários de jogos. A Federação Paulista de Futebol delegou aos clubes a opção de escolha, e com isso você terá de se habituar a uma verdadeira salada mista.
No período de vigência do horário de verão, nenhum jogo vespertino começará antes das 16h. A outra opção é às 17h. A partir do dia 21 de fevereiro, clubes mandantes como Votoraty, Pão de Açucar, Osasco, São Bernardo e Flamengo de Guarulhos vão começar seus jogos às 15h.
Diferentemente da Série A-1, na A-2 são programados jogos no meio de semana no período da tarde para clubes que não dispõem de iluminação, ou com luminárias comprometidas. À noite, a tabela programa jogos em três horários. O São Bento optou por mandar suas partidas sempre às 19h30, quartas ou quintas-feiras. Agremiações como Catanduvense, Osvaldo Cruz, Linense, União Barbarense e Sorocaba vão jogar às 20h na condição de mandante. Marília, Taquaritinga, Guaratinguetá, Guarani e Noroeste preferiram recepcionar adversários a partir das 20h30.
Nos finais de semana, então, uma balbúrdia. Aos sábados estão definidos horários das 15h, 16h, 17h, 18h e 19h. União São João de Araras e Marília programaram seus jogos aos sábados, nos estádios Hermínio Ometto e Bento de Abreu Sampaio Vidal, respectivamente, às 19h. Só na última rodada da primeira fase suas partidas serão realizadas às 10h do domingo, dia 28 de março, porque a Federação Paulista de Futebol programou toda rodada no mesmo horário.
Aos domingos, a bola começa a rolar a partir das 10h, quando o Pão de Açucar recepcionar seus adversários no Estádio Conde Rodolpho Crespi, a Rua Javari (SP); o América atuar no Estádio Benedito Teixeira, em São José do Rio Preto; e o Linense no Estádio Gilberto Siqueira Lopes, o Gilbertão, em Lins. O Linense só deixará de mandar jogos aos domingos pela manhã no dia 27 de fevereiro, um sábado, quando optou pelo horário das 18h em sua partida contra o Rio Preto. O Flamengo de Guarulhos optou por seus jogos às 11h. E ainda aos domingo, a Federação Paulista de Futebol designou início de jogos às 15h - após o encerramento do horário de verão -, além dos horários convencionais: 16h e 17h.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O homem ainda é da mala preta

No futebol, de uns tempos pra cá, resolveram aleatoriamente mudar a cor da mala quando o assunto é o suborno branco, estratégia de se premiar terceiros para se obter vantagens na tábua de classificação. Estão tentando sepultar, de forma impiedosa, o consagrado homem da mala preta. Criaram o homem da mala branca.
Oras, o homem da mala preta é uma tradição quase secular no mundo da bola. O personagem inspirava ilustradores e chargistas de jornais e revistas a criações notáveis. Seu papel precípuo era transportar malas recheadas de dinheiro e oferecê-lo a jogadores de outras equipes, com objetivo de estimulá-los em busca de vitórias nas partidas.
Por que mala preta? Porque ela simboliza a tradicional pasta de executivos, geralmente de cor preta, com formato propício para acomodação de cédulas. Entendeu? Você já viu pasta branca requisitada para transportar dinheiro nessas circunstâncias?
Fica aqui, portanto, meu protesto àqueles que ignoram a essência do homem da mala preta e inadvertidamente transformam-no em homem da mala branca.

ariovaldo-izac@ig.com.br

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Um 2010 diferente

Anos atrás a TV Globo exibia um criativo slogan de campanha publicitária de final de ano sugerindo ao telespectador que “tente, invente, faça um ano novo diferente”. Façamos, então, um 2010 diferente com participação mais incisiva de você, do outro lado do balcão. Sugira a pauta, critique, peça recapitulação de artigos e acrescente detalhes não revelados através do e-mail ariovaldo-izac@ig.com.br. Façamos, juntos, esta coluna Reminiscência, combinado?
Este janeiro marca 11 anos ininterruptos da coluna Reminiscência, e alguns veículos da mídia impressa atravessaram a década como fiéis parceiros. Neste período contamos histórias de craques como Tostão, Clodoaldo, Gérson, Garrincha, Pelé, Sócrates, Júnior, Zico e centenas de outros ídolos do passado. Com isso saciamos curiosidades principalmente de jovens que não os viram nos gramados. Eles depararam com fatos surpreendentes, engraçados e insólitos. A velha guarda, que vivenciou aqueles doces momentos do futebol, admirou os toques de calcanhar do doutor Sócrates, a genialidade de Zico, viu um Casagrande como centroavante goleador e condenou precipitados cronistas esportivos que compararam Toninho Cerezo a um "peladeiro" até pouco antes da Copa do Mundo de 1982, na Espanha.
Caso de beijo na boca entre jogadores foi lembrado. Deliciosas histórias de trocadilhos propositais do imortal Vicente Matheus - presidente do Corinthians - ganharam destaque. Para ele, o volante Biro-Biro era Lero-Lero. Também foi capaz de projetar a junção das cervejarias Antarctica e Brahma - a AmBev -, quando sugeriu que trouxessem umas "braminhas da Antarctica" para o seu "Curíntia" comemorar uma festa.
Histórias de zagueiros fantásticos no futebol gaúcho foram igualmente recontadas. O Inter (RS) foi "abençoado" na década de 70 com o futebol do chileno Elias Figueiroa. O Grêmio foi sortudo ao buscar no Uruguai o zagueiro-cantor Anchieta.
Treinadores renomados ou não que davam péssimo exemplo com baforadas de cigarros em bancos de reservas foram “caguetados”. Técnicos vencedores como Telê Santana foram esmiuçados. A coluna recapitulou ainda histórias dos tempos em que as traves eram feitas com balizas de madeira, quando os árbitros só usavam uniformes integralmente pretos.
Zenon de Souza Farias, catarinense de Tubarão que em meados da década de 80 foi buscar petrodólares na Arábia Saudita, está na pauta dos personagens em foco para este ano. Zenon, que fez sucesso no Guarani, Corinthians e Atlético Mineiro, hoje comenta futebol na TV Século XXI, com sede em Valinhos (SP). Ainda falta focalizar dezenas de outros atletas consagrados do passado, mas sempre haverá espaço para recapitulação de boas biografias neste amigável passeio semanal. O diferencial, agora, é a proposta para que essas histórias não sejam contadas apenas pelas mãos do jornalista. Que tal você interagir com Reminiscência? Você pode sugerir e sobretudo apontar eventuais erros. Quem viaja no tempo junta peças de quebra-cabeça e às vezes não consegue montá-lo adequadamente.
A rigor, muita vezes o cérebro trava e a gente sequer lembra do "zoião" digerido no almoço. Portanto, juntos, caminharemos melhor em 2010.
ariovaldo-izac@ig.com.br