segunda-feira, 28 de maio de 2012


Formiga era do Palmeiras no jogo de 7 a 6



 O coração do então jogador-treinador Chico Formiga, que parou de bater no dia 22 de maio, havia sido forte demais para suportar tantas emoções. Quando o Santos quebrou o jejum de títulos de 20 anos em 1955, lá estava ele como volante da equipe. No mais emocionante jogo de todos os tempos do futebol brasileiro, no 7 a 6 dos santistas sobre os palmeirenses em 1958, ele defendeu o Verdão.

 Chico Formiga participou do período áureo do Santos de Pelé, com títulos da Libertadores e Mundial de Clubes em 1962. Depois, como treinador, fez história no próprio Santos ao conquistar o primeiro título após a ‘Era Pelé’. Não só ganhou o Campeonato Paulista de 1978 como foi o responsável pela formação de uma garotada batizada de ‘Meninos da Vila’, como os atacantes Juari, Nilton Batata e João Paulo, e o meia Pita. Eles se juntaram aos experientes meio-campistas Ailton Lira e Clodoaldo.

 O sucesso como treinador se estendeu no São Paulo em 1981, quando conquistou o título paulista comandando um timaço: Waldir Peres, Getúlio, Oscar, Dario Pereyra e Marinho Chagas; Almir, Heriberto e Renato Morungaba; Paulo César Capeta, Serginho Chulapa e Mário Sérgio.

 A recompensa do trabalho foi um contrato em ‘petrodólares’ na Arábia Saudita, mas em 1983 já estava novamente no Santos. No entanto voltou a ficar em evidência em 1987, quando pegou o Corinthians em crise e o reergueu, levando-o à disputa do título com o São Paulo. Depois, em 1993, foi campeão regional pelo América Mineiro, sucumbindo na sequência em clubes como Palestra de São Bernardo e Catanduvense.

 Como jogador, o mineiro de Araxá Francisco Ferreira Aguiar chegou ao Santos em 1950, e reafirmou a fama de zagueiro clássico. No título de 1955 jogou num time cuja média de gols foi de 3,42 por partida, formado por Manga; Hélvio e Sarno; Zito, Formiga e Urubatão; Alfredinho, Álvaro, Del Vecchio, Vasconcelos e Pepe.

 Depois do bi em 1956, ele se transferiu ao Palmeiras numa troca envolvendo o meia Jair da Rosa Pinto e o goleiro Laércio Milani. E quis o destino que vestisse a camisa palmeirense naquela derrota de 7 a 6 para o Santos, no dia 6 de março de 1958, com 43.068 pagantes no Estádio do Pacaembu.

 O Palmeiras saiu na frente através de Urias, e o Santos virou com Pelé e Pagão. Nardo empatou, mas o Peixe abriu vantagem de 5 a 2 no 1º tempo, gols de Dorval, Pepe e Pagão.

 Até 34 minutos do segundo tempo o Palmeiras havia virado o placar para 6 a 5, com dois gols de Mazola, Paulinho e Urias. Todavia era noite do Santos com mais dois gols de Pepe, aos 38 e 41 minutos.

 Eis o Palmeiras: Edgar (Vitor); Edson e Dema; Waldemar Carabina, Waldemar Fiúme e Formiga (Maurinho); Paulinho, Nardo (Carabalo), Mazola, Ivan e Urias. Eis o Santos: Manga; Hélvio e Dalmo; Ramiro, Urubatão e Zito; Dorval, Jair, Pagão (Afonsinho), Pelé e Pepe. Em 1959 Formiga voltou ao Santos e encerrou a carreira em 1963.

segunda-feira, 21 de maio de 2012




Barbosa, 50 anos como ‘bode expiatório’





 Imaginem alguém que durante 50 anos teve que explicar como sofreu um gol de bola defensável em Copa do Mundo? Para Moacir Barbosa Nascimento, esse calvário começou no dia 16 de junho de 1950 e teve fim quando o seu corpo foi sepultado na cidade de Praia Grande, litoral sul de São Paulo, em 7 de abril de 2000. Lá ele vivia com uma filha adotiva.

 A final do Mundial de 1950 foi disputada no Estádio do Maracanã, com a superlotação de 200 mil pessoas entre pagantes e penetras. O Brasil precisava de um empate diante do Uruguai para ser campeão e ‘posou’ com a faixa quando Friaça abriu o placar. Só que os aguerridos uruguaios chegaram ao empate através de Juan Alberto Schiaffino e emudeceram o estádio com o gol da vitória anotado pelo ponteiro-direito Alcides Ghiggia.

 Aí, registro de lágrimas e perplexidade naquele momento. Um país inteiro custava a acreditar que a bola lançada nas costas do zagueiro Bigode fosse chegar aos pés de Ghiggia, que, sem ângulo, optou pelo chute direto quando o lógico seria o cruzamento. Assim também pensou Barbosa, traído naquela finalização, com a bola entrando entre ele e o poste esquerdo.

 Aquele 16 de junho de 1950 ficou conhecido como Maracanazo e Barbosa o ‘bode expiatório’, o homem que fez o Brasil chorar. Ele jamais poderia supor uma condenação eterna por causa daquela falha. Pior é que deixou de ser citado pela elasticidade, boa colocação e inventor da defesa de mão trocada.

 Historiadores citam que lhe deram a trave do gol em que estava naquela fatídica decisão, e que ele não titubeou em fazer fogueira delas na casa em que morava, na zona norte do Rio de Janeiro.

 Para os vascaínos, Barbosa foi considerado o melhor goleiro da história do clube. O pênalti defendido na cobrança do argentino Labruna, do River Plate, na final do Campeonato Sul-Americano de Clubes em 1948, ainda é lembrado. Aquele empate sem gol deu o título ao clube cruzmaltino que tinha, entre outros, Barbosa, Augusto, Rafanelli, Danilo, Jorge, Eli, Djalma, Maneco, Friaça, Lelé e Chico.

 A história de Barbosa esteve intrinsecamente ligada ao Vasco. Teve início em 1945 e se prolongou por dez anos, com 494 partidas, período em que o clube ficou conhecido como ‘Expresso da Vitória’.

 Em 1953 nova amargura. Sofreu fratura de tíbia e perônio num choque com o atacante Zezinho do Botafogo, mas teve determinação para jogar novamente e manteve-se no futebol até os 42 anos de idade, com passagem por Santa Cruz, novamente no Vasco, Bonsucesso e Campo Grande, nos tempos em que goleiro usava joelheira e cotoveleira, porque saltava sobre areia.

 Barbosa nasceu em Campinas no dia 27 de março de 1921 e tentou ser ponteiro-esquerdo do extinto Comercial da capital paulista, porém sem sucesso. Décadas passada chegou a ser funcionário do Suderje, no Estádio do Maracanã.

segunda-feira, 14 de maio de 2012


Muricy, vencedor como técnico e jogador


 Se antes alertavam para não se esperar resultados imediatos do trabalho do treinador Muricy Ramalho, desde que assumiu o comando do Santos, ano passado, isso mudou. Ajustou de imediato compartimentos desalinhados - principalmente a marcação - e o reflexo foi a transformação daquela base em equipe vitoriosa.

 Desde os tempos de treinador de juniores do São Paulo, Muricy pautava o trabalho por metas a serem atingidas gradativamente. Foi um especialista em lançamentos de garotos, e os exemplos foram no expressinho do São Paulo, como o goleiro Rogério Ceni e o atacante Denílson.
 Muricy aprendeu com mestre Telê Santana que não se pode abrir mão da disciplina e que Deus ajuda quem madruga. Por isso tem uma disposição fantástica para o trabalho, principalmente no aspecto técnico. Assim, corrige defeitos e aprimora virtudes de jogadores.
 O reflexo do trabalho se traduz em títulos. Levantou caneco no Náutico (PE), conduziu o São Caetano à conquista do primeiro título do Paulistão, foi campeão gaúcho pelo Inter em 2005, e, de volta ao futebol paulista, foi tricampeão brasileiro pelo São Paulo. Também foi campeão nacional pelo Fluminense, e agora recebe aplausos no Santos.

 Claro que Muricy teve percalços na carreira de treinador, principalmente no interior paulista, nas passagens por Guarani e Botafogo de Ribeirão Preto, mas soube superá-los. Paciente esperou a chance para furar o seleto bloco de treinadores de grandes clubes.
 Dos quase 40 anos envolvidos no futebol, passou a maior parte no São Paulo. Primeiro como jogador - e dos bons - na década de 70. Foi um ponta-de-lança de habilidade e tinha o hábito de partir com bola dominada sobre adversários.

 Embora pegasse bem na bola nas finalizações, não foi fominha. Na maioria dos lances se destacou como assistente do atacante Serginho Chulapa, nas jogadas de gols de seu time.
 Coincidência ou não, Muricy participou de uma patota de boleiros com vocação para ser treinador de futebol, alguns com maior e outros com menor destaque. Jogou com o goleiro Waldir Peres, lateral-direito Nelsinho Baptista, meio-campistas José Carlos Serrão, Chicão (já falecido) e Pedro Rocha, e o atacante Serginho Chulapa.
 Naquele período era o típico jogador ranheta. Encrencava facilmente com treinadores, sem contudo ser punido. Também ‘batia boca’ constantemente com companheiros de equipe, todavia jamais foi considerado desleal, tanto que sempre foi admirado pelos amigos.
 Hoje, Muricy adota com sabedoria uma cartilha de como o jogador deve se comportar disciplinarmente. Exige profissionalismo e determinação de seus comandados. Não é um estrategista de variações táticas que modificam resultados de jogos, mas compensa com trabalho planificado nos dias que antecedem as competições.

segunda-feira, 7 de maio de 2012


Eurico, terceiro melhor lateral-direito do Palmeiras



 Prenomes comuns do passado como Eurico, Lázaro e Benedito raramente são registrados nos cartórios do Brasil afora. O mais famoso dos Euricos brasileiros assumiu a presidência da Republica em 1946, o general Eurico Gaspar Dutra.

 O mais briguento dos Eurico que se tem conhecimento presidiu o Vasco da Gama até meados da década passada, o Eurico Miranda. E o único jogador com esse nome que ficou famoso foi Eurico Pedro de Faria, que passou pelo Palmeiras de 1969 a 1976, e é tido como o terceiro melhor lateral-direito na história do clube, superado por Djalma Santos e Cafu.

 Saiba que o Eurico do Palmeiras jogou na Seleção Brasileira em 1972, no auge da carreira. Naquele ano o Verdão tinha um baita time, conquistando o Campeonato Brasileiro após empate sem gols com o Botafogo (RJ) no Estádio do Morumbi, diante de um público de 58.287 pagantes.

 Que diferença daquele campeonato para o atual! Aquela decisão ocorreu no dia 23 de dezembro, quando ainda se respirava futebol na proximidade do Natal. O regulamento da época era generoso com o clube mais bem qualificado. Previa finalíssima em apenas uma partida, com vantagem de mando de campo e direito de jogar pelo empate ao Palmeiras. Isso havia ocorrido na semifinal no empate por 1 a 1 com o Inter (RS), no Estádio do Pacaembu.

 Em vez de pontos corridos, fases classificatórias. Influência do governo militar na antiga CBD (Confederação Brasileira de Desporto) implicou no aumento de 20 para 26 clubes na competição, com vagas para Remo do Pará, CBR de Alagoas, Nacional do Amazonas, ABC potiguar, Sergipe e outro representante da Bahia, caso do Vitória. Na primeira fase os grupos eram distribuídos de forma desproporcional: dois com seis integrantes e dois com sete.

 O comandante técnico do Palmeiras daquele título era Osvaldo Brandão, e o time contava com Leão; Eurico, Luiz Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Ronaldo (Edu Bala), Madurga, Leivinha e Nei.

 A boa fase do Palmeiras se estendeu à temporada seguinte com o bi do Brasileirão. Na época sobraram elogios para Eurico devido à segurança na marcação e velocidade no apoio, confirmando-se, portanto, a fama que o precedeu de 1966 a 1969 no Botafogo de Ribeirão Preto, seu primeiro clube profissional.

 O Grêmio (RS) também desfrutou do futebol de Eurico de 1976 a 1980, período em que conquistou os títulos regionais de 1977 e no ano da despedida. Mais que isso: foi considerado o melhor lateral-direito de todos os tempos do clube, em votação feita pela revista Placar com gremistas, em 1994.

 Agora que completou 64 anos de idade em abril passado, Eurico não quer descanso. Trabalha em escolinha de futebol para garotos em Ribeirão Preto, e não desperdiça a chance de contar aos meninos que é o 12º jogador a vestir mais vezes a camisa do Palmeiras: 467 jogos. Ademir da Guia lidera com 901 jogos.