segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Búfalo Gil fazia gols no peito e na raça

 Nas últimas três décadas o Corinthians contou com três atletas renomados com apelido de Gil, o mais recente este ‘titularíssimo’ quarto-zagueiro que forma dupla com Paulo André. Nos primeiros cinco anos do século XXI o time corintiano contou com o franzino, veloz e hábil ponteiro-esquerdo que infernizou adversários. Por fim, no ano de 1980, esteve no Timão o mais famoso dos três Gils, que paradoxalmente teve passagem tão efêmera quanto discreta no clube. Ele sequer se firmou como titular num período em que Vaguinho e Peter se revezaram na ponta-direita.
 Mais famoso porque chegou ao Estádio do Parque São Jorge precedido da fama de atacante que decidia partidas por clubes do Rio de Janeiro. No bicampeonato carioca conquistado pelo Fluminense no biênio 1975-76, a jogada característica do time era lançamento do meia Roberto Rivellino para explorar a velocidade de Búfalo Gil, tão manjada quando decisiva.
 O ponteiro Gil tinha caixa torácica avantajada e isso permitia que disputasse jogadas corpo a corpo com adversários. Assim, tanto era assistente de artilheiros como também fazia gols. Na passagem de pouco mais de três anos pelo Fluminense, a partir de 1973, marcou 75 gols em 172 jogos. E o brilho foi mantido após se transferir para o Botafogo, onde ficou até 1980, já exercendo as funções de ponta-de-lança ou centroavante.
 Evidente que a Seleção Brasileira não podia prescindir de um atacante com as virtudes de Búfalo Gil, e por isso ele começou a ser convocado a partir de 1976. O ciclo com a ‘amarelinha’ foi encerrado dois anos depois, na Copa do Mundo da Argentina, quando foi titular no empate por 1 a 1 com a Suécia, na partida de estréia, com este time brasileiro: Leão; Toninho, Oscar, Amaral e Edinho; Batista, Rivellino e Zico; Búfalo Gil, Reinando e Toninho Cerezzo.
 Já com futebol decadente na década de 80, Búfalo Gil ainda passou por Corinthians, Coritiba, São Cristóvão, Múrcia da Espanha e Forense de Portugal, onde encerrou a carreira de atleta em 1986. Incontinente ingressou na função de treinador com passagens por clubes do exterior e no Botafogo do Rio em 1992, ocasião em que não engoliu seco a ironia do então atacante Renato Gaúcho: “Olha aí o treinador que nunca jogou bola”, provocou o hoje comandante do elenco do Grêmio, desconhecendo o histórico vitorioso de Búfalo Gil.
 Aí, prevaleceu o dito de que quem fala aquilo que quer ouve o que não quer. Eis a imediata resposta: “Como é que é? Joguei no Fluminense, Botafogo e disputei Copa do Mundo. E joguei muito mais do que você”.
 Búfalo Gil ou Gilberto Alves - nome de registro - é mineiro de Nova Lima e completa 63 anos de idade na véspera do Natal. Ele quer continuar a carreira de treinador, após últimas e discretas passagens por Marília e Portuguesa Santista, entre 2008 e 2009. “O problema é que nunca tive empresário”.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Milton Buzetto, o rei das retrancas

 O discurso da maioria significativa da treinadorzada de ‘fechar a casinha e jogar por uma bola’ remonta aos tempos. Esta estratégia foi aplicada pela primeira vez em 1938 pelo treinador austríaco Karl Rappan, quando dirigia o Grashoppers da Suíça.
 Tal como agora, o time de Rappan já se posicionava com duas linhas de quatro e por vezes uma linha de quatro, outra de cinco, e apenas um atacante de velocidade para puxar o contra-ataque. A filosofia de aglomerar quase todos os jogadores atrás da linha do meio de campo foi batizada de ‘ferrolho suíço’, e aplicada pelo selecionado daquele país na Copa do Mundo da França em 1938.
 No Brasil, ninguém absorveu tão bem os ensinamentos de Rappan como o piracicabano Milton Buzetto, quando dirigiu o Juventus a partir de 1971, após encerramento da carreira de zagueiro rebatedor no próprio clube. E a explicação pela ultra-retranca foi o pacto feito com os jogadores para evitar derrotas. “Assim, todos nós seríamos valorizados. E deu certo”, recorda o ex-treinador.
 Em 1972, a retranca juventina era notícia em todo país, e apostadores da loteria esportiva procuravam espantar a zebra com o hábito de cravar triplo em jogos com envolvimento do clube. E uma das repetidas atuações do time grená era de Miguel; Chiquinho, Carlos, Guassi e Osmar; Luís Moraes e Brecha; Luís Antonio, Adnã, Sérgio e Antoninho.  Ano seguinte, no mesmo estilo, o Juventus continuou provocando zebras e fez boa campanha no Campeonato Paulista, basicamente com os mesmos jogadores.
 Em 1975 o presidente do Corinthians, Vicente Matheus, contratou Milton Buzetto, mas o trabalho não trouxe resultado prático. Melhor sorte o treinador teve nas passagens por Mixto de Cuiabá (MT) e Atlético Paranaense ao conquistar títulos regionais. O treinador ainda passou por Guarani, Comercial de Ribeirão Preto e Jabaquara, já sem aplicação de rigorosos esquemas defensivos, e sem o destaque de outrora.
 Curioso é que, como atleta, Milton Buzetto iniciou a carreira num time de característica eminentemente ofensiva, caso do Palmeiras, onde passou de 1956 a 1958. No ano seguinte, após rápida passagem pelo Noroeste, foi contratado pelo Juventus e se revezava na zaga com Carlos e Clóvis. No entanto não chegou ao clube em tempo de participar da memorável derrota para o Santos por 4 a 2, ocasião em que Pelé ‘chapelou’ quatro jogadores adversários - inclusive o goleiro Mão-de-Onça - e marcou o gol mais bonito de sua carreira.
 O time juventino de 1966, treinado por Sylvio Pirilo, contava com Picasso; Virgílio, Carlos, Milton (Clóvis) e Nenê; Sidnei e Jair Francisco; Antoninho, Alencar, Bira e Valdir. Em 2001 Buzetto optou pela aposentadoria, retornou a Piracicaba, e mora num sítio batizado de ‘Retranca’. E foi lá que ele comemorou os 75 anos de idade no dia 14 de novembro.



segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Lato, velocidade e gols para a Polônia


 Este nove de novembro marcou a contagem regressiva de mil dias para o início dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em 2016. E talvez seja de desconhecimento da maioria que os países da cortina de ferro, que integram o leste europeu, ‘paparam’ quase todas as edições de 1952 a 1980 da competição.
 O que representavam aqueles países da cortina de ferro? A divisão de Europa pós 2ª Guerra Mundial, com prevalecimento do regime político comunista, em razão da decisiva influência da então União Soviética. Entre os principais países daquele bloco destacavam-se Rússia, Alemanha Oriental, Polônia, Tchecoslováquia, Iugoslávia, Hungria, Bulgária e Romênia.
 E o que o futebol daqueles países diferenciava do restante da Europa? O regime era amadorista. O ganha pão do atleta era em atividade do trabalhador comum. Por isso treinava-se leve durante a semana visando competições basicamente aos domingos.
 Entre aqueles atletas estava o ponteiro-direito polonês Grzegorz Lato, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1972 em Munique, na Alemanha, após vitória por 2 a 1 sobre a Hungria, e medalha de prata em 1976, com derrota na final para a Alemanha Oriental por 3 a 1.
 Já em 1974, Lato foi o principal responsável pelo terceiro lugar conquistado pelo seu selecionado na Copa do Mundo da Alemanha, após vitória sobre o Brasil por 1 a 0, resultado que provocou crise na Seleção Brasileira.
 O lateral-esquerdo Marinho Chagas não conseguiu segurar Lato nas repetidas jogadas de velocidade, e em uma delas saiu o gol da Polônia, aos 41 minutos do segundo tempo. Aí, o inconformado então goleiro Emerson Leão não se controlou e, já nos vestiários, agrediu o companheiro com um soco.
 Por mais três vezes, após aquele Mundial de Futebol, a Polônia participou da competição e Lato esteve presente em 1982, na Espanha, quando o seu país voltou a ficar em terceiro lugar. E as suas jogadas em velocidade e gols em abundância o colocaram como segundo maior artilheiro de todos os tempos de seu selecionado, com 45 gols, contabilizando-se também jogos disputados pela seleção olímpica. Portanto, na artilharia Lato ficou atrás apenas de Wladzimierz Lubanski, que marcou 48 gols.
 Aos 30 anos de idade, em 1980, Lato recebeu autorização para jogar fora de seu país, e a escolha recaiu sobre o KSC Lokeren da Bélgica. Assim, a carreira foi encerrada três anos depois no Atlante do México, mas a popularidade foi mantida entre os cidadãos poloneses. Por sinal, ele ainda é considerado o maior jogador de todos os tempos daquele país.

 O reflexo da idolatria do polonês pelo atacante se estendeu às urnas, quando se elegeu senador para o quadriênio 2001-2005. Posteriormente, indignado com a corrupção desenfreada na Federação Polonesa de Futebol, Lato topou disputar a eleição da entidade e a venceu em 2008.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Jaime, o zagueiro que virou treinador

 Se o bom filho a casa torna, o ex-zagueiro Jaime de Almeida Filho voltou ao Flamengo quase que no anonimato após o encerramento da carreira de atleta. E nas categorias de base iniciou a função de treinador, até que ascendesse a condição de auxiliar técnico da equipe principal. Aí, quando Mano Menezes se demitiu com alegação de que não conseguiu passar ao elenco aquilo que sabia de futebol, coube a Jaime a responsabilidade de ser o treinador ‘tampão’.
 Sim, o projeto inicial era de que fosse um tapa buraco, mas começou a ganhar jogos e reverter o perigo de rebaixamento da equipe no Campeonato Brasileiro. Aí ganhou notoriedade e a mídia passou a informar quem é este Jaime que habilmente se aliou a atletas veteranos como Léo Moura, André Santos e Chicão, pra fazer o grupo correr mais. E o resultado está aí.
 Na prática, Jaime de Almeida Filho segue o histórico do Flamengo em buscar solução caseira para o cargo de treinador. Foi assim com o seu ex-atleta Paulo César Carpeggiani, que substituiu Cláudio Coutinho e em 1981, e conquistou o título da Libertadores da América.
 A repetição do expediente deu-se com a aposta no ex-volante Carlinhos como treinador. Por sinal, Luís Carlos Nunes da Silva, carioca da gema, registra cinco passagens como comandante do elenco do Flamengo, a partir de 1983, tentando fazer o time jogar ao seu estilo: futebol técnico e ofensivo.
 Carlinhos foi um volante titular absoluto do Flamengo de 1958 a 1969, e a lamentação no período de atleta foi não ter sido convocado à Seleção Brasileira à Copa do Mundo de 1962, no Chile, quando atravessava a melhor da carreira.
 Depois foi a vez do ex-volante Andrade, igualmente na condição de auxiliar técnico, assumir o elenco com a saída de Cuca em 2009. E bastaram dois jogos pelo Campeonato Carioca para que fosse efetivado na função no Campeonato Brasileiro, levando a equipe à conquista do título da competição.
 Agora é a vez de Jaime Filho, cujo pai foi um renomado zagueiro flamenguista entre 1938 a 1950, período em que conquistou quatro títulos estaduais e integrou a Seleção Brasileira entre 1942 a 1946. E o filho, que herdou o futebol clássico do pai, fez carreira no Flamengo a partir de 1973, só saindo quatro anos depois em transferência ao São Paulo.
 Lá, a carreira foi truncada por seguidas contusões e a estabilidade de duplas de zaga formadas por Antenor e Tecão em 1977, e Estevam e Bezerra no biênio 1978-79. Assim, Jaime só conseguiu reviver seus bons momentos no futebol quando foi jogar no Guarani em 1982, num time que chegou à semifinal do Campeonato Brasileiro, eliminado em confrontos com o Flamengo. No jogo disputado no Estádio Brinco de Ouro foi registrado recorde de público, com 52.002 pagantes. Eis o time bugrino: Wendell; Rubens, Jaime, Edson e Almeida; Éderson, Banana e Jorge Mendonça; Lúcio, Careca e Zezé.