domingo, 31 de maio de 2015

Fábio Costa, fama de goleiro violento

 Qual o zagueiro mais violento do Brasil de todos os tempos? Não erra quem elege o saudoso Pinheirense, ex-Ferroviária de Araraquara (SP). Zagueiro bater faz parte da cultura do futebol, mas goleiro não. E como toda regra tem exceção, o já ‘aposentado’ Fábio Costa é uma delas, se não a única: violentíssimo.
 Duvida? Pois então acesse imagens de ‘entradas criminosas’ dele sobre adversários documentadas no You Tube, uma delas em um carrinho que quase aleijou o meio-campista Tinga, que em 2005 defendia o Inter (RS) contra o Corinthians no Estádio do Pacaembu. Outro flagrante foi a entrada desleal sobre o então atacante são-paulino Aloísio Chulapa, que pulou providencialmente para não ser atingido.
 E quando não havia adversário para extravasar o seu destempero, Fábio Costa arrumava encrencas com outras pessoas. No ano seguinte, de volta ao Santos, enfrentou um grupo de torcedores que o xingou por falha em gol de empate do Fluminense por 1 a 1, no Estádio da Vila Belmiro. Conclusão: afora um soco acertado em um torcedor, só não foi mais espancado porque recebeu ajuda dos seguranças do clube.
 Em 2009, com a habitual aspereza responsabilizou o zagueiro Fabiano Eller por gol sofrido em derrota fora de casa para o Marília, mas o acusado não engoliu seco. Assim, ambos trocaram socos e pontapés e o goleiro ainda tentou agredi-lo com tesoura. Cinco anos atrás, injustificadamente já havia tentado agredir jornalista mineiro.
 Paradoxalmente o castigo veio a cavalo para Fábio Costa naquela temporada de 2009, quando entrou para rachar no atacante Tardelli, do Atlético Mineiro, mas virou o pé e se contundiu gravemente. Castigo porque na maioria dos clubes que passou arrumou confusão. No Corinthians foi barrado pelo então treinador argentino Daniel Passarella em 2005.
 O histórico de encrenca superou proporcionalmente a estatística de 341 partidas pelo Santos até 2010, atingido, portanto, o limite de tolerância. Por isso foi desligado do elenco e passou a treinar em separado. E para se ver livre dele o Peixe topou emprestá-lo ao Atlético Mineiro mesmo pagando metade do salário de R$ 170 mil mensais.
 No Galo Fábio Costa igualmente não teve espaço e a última tentativa foi no São Caetano em 2013, marcada apenas por sumiço e acusação de injúria racial ao chamar o seu companheiro lateral-direito Samuel de macaco. Paradoxalmente, apesar do alto salário, o goleiro participou de apenas duas partidas no último ano como atleta, defendendo o Azulão contra Corinthians e Bragantino.
 Apesar do temperamento explosivo, Fábio Costa foi inegavelmente um bom goleiro e chegou à Seleção Brasileira entre 1999 e 2000, com participação em seis jogos. Baiano de Camaçari, canhoto, 1,86m de altura, ele nasceu em novembro de 1977 e jogou ainda no Bahia, Cruzeiro, PSV Endhovem da Holanda e Vitória (BA).



Pampolini, centro-médio que marcava e jogava

 Volante brucutu é coisa da década de 80 pra cá. Antes disso quem vestia a camisa cinco também tinha que saber jogar, além da natural capacidade de marcação. E um exemplo típico de quem unia o útil ao agradável foi o saudoso Pompolini, que se despontou no fantástico Botafogo do Rio de Janeiro da década de 60 e foi capitão da equipe naquele memorável título estadual de 1957, com goleada sobre o Fluminense na partida final por 6 a 2, cinco gols do centroavante Paulinho Valentim, um deles de bicicleta, com Garrincha completando o placar para os botafoguenses.
 Aquele placar foi o maior já registrado em finais do Campeonato Carioca na era do profissionalismo e, no time do Fluminense jogavam, entre outros, o goleiro Castilho, zagueiro Pinheiros e atacantes Telê Santana e Escurinho. O jogo disputado no dia 22 de dezembro daquela temporada, no Estádio do Maracanã, teve público de 89.100 pagantes, que contrasta com esta temporada quando o recorde de público no mesmo local foi na decisão estadual com 66.156 torcedores, na vitória do Vasco sobre os botafoguenses por 2 a 1, resultando no título ao time cruzmaltino.
 A discussão inevitável é como pode ter encolhido o público nos estádios após 58 anos? Motivos sobejamente conhecidos são crescente violência de torcedores, ineficiência ou falta de transporte público, estacionamento, carros riscados ou furtados, elevado preço de ingressos e produtos vendidos no interior de estádios, televisionamento ao vivo de jogos, falta de partidas preliminares, etc.
 Américo Pampolini Filho atuou na época romântica do futebol. Nascido em Belo Horizonte na véspera do Natal de 1932, teve rápida passagem pelo Cruzeiro antes de chegar ao Botafogo em 1955, onde formou dupla de meio de campo com mestre Didi. Conta o jornalista e historiador mineiro Plínio Barreto que Pampolini tinha bom domínio de bola e chute forte. Logo, o conjunto de virtudes foi preponderante para que o então treinador da Seleção Brasileira, o saudoso Vicente Feola, o convocasse à Copa do Mundo de 1958, mas uma lesão durante a preparação em estância hidromineral da cidade mineira de Araxá motivou o corte da relação de jogadores.
 Foi um período em que o volante era chamado de centro-médio, e a trajetória de Pampolini no Botafogo se estendeu até 1962, quando se transferiu à Portuguesa para formar dupla na ‘meiúca’ com Nair. E o falecido treinador Aimoré Moreira, que o indicou à Lusa, não se arrependeu. O jogador foi um dos destaques do vice-campeonato paulista em 1964, num time que contava, entre outros, com Félix, Jair Marinho, Ditão, Henrique Frade e Ivair.
 Na estrada da volta no futebol Pampolini jogou no Taubaté em 1966, mas encerrou a carreira dois anos depois na Lusa. Ele faleceu no dia 20 de dezembro de 2006 no Rio de Janeiro, vítima de ataque cardíaco.



domingo, 17 de maio de 2015

Manga só parou de jogar aos 45 anos de idade

 Certamente a maioria dos goleiros prefere trabalhar o mínimo possível durante os jogos. Como toda regra tem exceção, o ex-goleiro Manga contrariava a lógica. Preferia ser bombardeado com arremates e cabeceios de adversários para praticar defesas. E que defesas! E quando os adversários não finalizavam contra o seu gol ficava irritado.
 O pernambucano Aílton Correa Arruda, apelidado de Manga e Manguita para os íntimos, rosto marcado pela varíola, foi imbatível no quesito longevidade no Brasil. Jogou profissionalmente até os 45 anos de idade, de 1957 a 1982. Magro, alto, mãos enormes, e com invejável impulsão, contorcia o corpo no ar para espalmar a bola. Talvez por isso desafiava cartolas a se responsabilizarem por pagamentos de dívidas caso fechasse o gol. Naturalmente os credores do goleiro agradeciam.
 Manga assinou contratos com valores razoáveis nas passagens por Sport (PE), Botafogo, Nacional do Uruguai, Inter (RS), Coritiba, Grêmio, Operário (MS) e Barcelona de Guayaquil do Equador até 1982, quando encerrou a carreira. O problema é que gastava mais de que ganhava. Torrava bolada considerável em jogos de sorte e azar, e depois precisava correr atrás do prejuízo.
 Seja como for, aos 78 anos de idade completados no dia 26 de abril passado, ainda não garantiu uma aposentadoria tranqüila. Por isso voltou a fixar residência no Equador. Lá dá palestras para garotos de categorias de base e recorda sua longevidade no futebol. Ele já passou dois anos na Flórida, nos Estados Unidos.
 Manga gaba-se de ter sido campeão juvenil pelo Sport sem sofrer um gol sequer em 1954. Comenta os bons tempos de Botafogo ao lado de jogadores consagrados como Nílton Santos, Garrincha, Quarentinha, Amarildo, Didi e Jairzinho, uma patota que levantava canecos rotineiramente e vivia excursionando para a Europa.
 Folclórico, provocava flamenguistas às vésperas do clássico com bordões do tipo ‘o leite das crianças está garantido’, ou ‘já gastei o bicho da vitória contra eles’. Tudo ia bem até a final do estadual contra o Bangu em 1967, com vitória botafoguense por 2 a 1. O jornalista João Saldanha (já falecido), torcedor confesso do ‘Fogão’, acusou-lhe de ter sido subornado por Castor de Andrade (já falecido), patrono do Bangu, e o desdobramento da história foi ameaça de arma de fogo contra o goleiro, que posteriormente teve que se desligar do clube.
 Até 1973 Manga ficou no Uruguai. Transferiu-se posteriormente para o Inter e sagrou-se bicampeão brasileiro em 1975/76 ao lado de jogadores como Batista, Falcão, Marinho Perez, Valdomiro e Dadá Maravilha.
 Ele teve passagem negativa na Seleção Brasileira. Cometeu falha grotesca no gol de Simões, na vitória de Portugal por 3 a 1 sobre o Brasil, na Copa do Mundo de 1966, com eliminação brasileira ainda na primeira fase.


segunda-feira, 11 de maio de 2015

Miguel, zagueiro dos bons na década de 70

 Qual o time base da Seleção Brasileira de Futebol de 1976, comandada pelo saudoso treinador Oswaldo Brandão? Acerta quem cita a formação com Valdir Peres; Nelinho, Miguel, Amaral e Marinho Chagas; Chicão, Rivellino e Zico; Flexa (Edu), Palhinha e Lula.
 Aquele time venceu tanto Uruguai como Argentina por 2 a 1, pela Taça do Atlântico daquela temporada, e um dos destaques foi o carioca Miguel Ferreira de Almeida, nascido em 20 de setembro de 1949, que fazia dupla de zaga com o então jogador bugrino Amaral. E Miguel chegou à Seleção Brasileira porque era soberano na função. A facilidade para antecipar adversários permitia que raramente cometesse faltas.
 Aquelas virtudes de desarme começaram a ser identificadas quando ele se despontou no Olaria do Rio de Janeiro no final dos anos 60. Por isso o Vasco tratou de contratá-lo em 1971. Aí, três anos depois, ele comemorou o título do Campeonato Brasileiro num time treinado pelo também saudoso Mário Travaglini, com estes titulares: Andrada, Fidélis, Moisés, Miguel e Alfinete; Alcir Portela e Zanata; Jorginho Carvoeiro, Ademir, Roberto Dinamite e Luís Carlos.
 Curiosamente, naquela competição de 1974, o regulamento previa que dos 40 participantes duas vagas de classificação à segunda fase eram reservadas a clubes com melhores arrecadações, visto que o preço do ingresso era rigorosamente tabelado. No total, 24 clubes passaram à segunda fase.
 Quis o destino que a nova história no futebol para Miguel fosse contada no esquadrão imortal do Fluminense bicampeão carioca de 1975-76, cuja base era de Félix; Toninho, Silveira, Assis (Edinho) e Marco Antonio; Zé Mário e Carlos Alberto Pintinho; Gil, Manfrini, Rivellino e Paulo César Caju. Foi um período que o juiz de direito Francisco Horta assumiu a presidência do clube e, obstinado, pautou por decisões revolucionárias no futebol carioca com trocas de jogadores de clubes rivais.
 No período que se estendeu do final de 1978 a 1980 a passagem de Miguel foi no Botafogo (RJ), num time que contava entre outros jogadores com o lateral Perivaldo, meio-campistas Ruço e Mendonça, ponteiros Renato Sá e Ziza, e o zagueiro Renê, que já havia sido companheiro de Miguel no Vasco. A rigor, dois fatos foram marcantes na carreira de Renê: cometeu o pênalti sobre Pelé que resultou no milésimo gol em 1969 e marcou cinco gols contra no ano seguinte atuando pelo time cruzmaltino.
 Os dois últimos anos na carreira de atleta profissional de Miguel foram em três clubes: Unión Magdalena da Colômbia, Chicago Sting dos Estados Unidos e Madureira do Rio de Janeiro. Posteriormente ele ainda tentou seguir a carreira de treinador, mas não prosperou na função após passagens por Bonsucesso e Bangu. Ele ainda chegou a trabalhar como auxiliar técnico de Antonio Lopes no Atlético Paranaense.


segunda-feira, 4 de maio de 2015

Vagner Bacharel, morte aos 36 anos de idade

 Há sete anos publiquei material sobre Vagner Bacharel e convém recapitulá-lo com as devidas adaptações, para que a memória dele seja preservada. Ele morreu há 25 anos, em 20 de abril de 1990, aos 36 anos de idade. Por sinal, morte estúpida.
 Na disputa de bola pelo alto com César Ponvoni, do Campo Mourão (PR), ele bateu com a coluna cervical no chão e, desacordado, foi levado a um hospital paranaense para atendimento, não se diagnosticando lesão grave. Por isso recebeu alta hospitalar e voltou para casa com orientação de continuar o tratamento. Só que as dores de cabeça se intensificaram e, levado novamente ao hospital, não resistiu e morreu.
 O futebol paranaense já havia sido enlutado no dia 18 de setembro de 1978 com a morte de Valtencir, aos 32 anos de idade, então jogador do Colorado, clube que posteriormente se fundiu com o Pinheiros para a criação do Paraná. O lateral-esquerdo sofreu lesão na coluna cervical e cérebro após choque com Nivaldo, do Maringá, e morreu no Estádio Willie Davis, em Maringá.
 O carioca Vagner de Araújo Antunes foi apelidado de Bacharel porque chamava seus companheiros também de bacharel. Com 1,80m de altura, foi mais um daqueles casos de jogadores mortos que raramente são lembrados, exceto em casos de estatística de falecimentos de atletas no exercício da profissão.
 A aparição dele na bola foi no Madureira do Rio de Janeiro. Depois passou por Joinville (SC), Inter (RS) até chegar ao Palmeiras em 1983, lá ficando durante quatro anos com histórico de 22 gols em 260 jogos. Em seguida se transferiu para o Botafogo do Rio e Guarani em 1988. A trajetória seguinte foi no Fluminense, Vila Nova (GO) e Paraná.
 No Palmeiras formou dupla de zaga com Luiz Pereira. Ambos jogavam de cabeça erguida, tinham um bom passe e jamais se apavoravam na saída de bola. Claro que Luiz Pereira era mais clássico e tinha capacidade de desarmar raramente recorrendo às faltas. Arrancava com bola ao ataque nos tempos em que cobravam de zagueiros apenas eficiência na marcação. Ele foi diferente até na Seleção Brasileira, considerado um dos melhores da posição na Copa do Mundo de 1974, na Alemanha.
 Bacharel foi uma liderança positiva que ajudava na preservação do bom ambiente de elencos. Bem humorado, puxava o samba com o seu inseparável pandeiro. Também sabia discernir bem o momento da cervejinha com amigos do trabalho árduo do dia a dia. 
 Embora a sua principal virtude fosse o jogo aéreo, tinha malícia para evitar dribles manjados. Só passava apertado quando enfrentava atacantes rápidos, porque não tinha velocidade para acompanhá-los.

 As pernas arqueadas de Bacharel em nada atrapalhavam o seu rendimento. Teria problema se ficasse na barreira de futsal, porque a bolinha certamente passaria no ‘vão’ de suas pernas e o gol do adversário seria inevitável.