domingo, 25 de setembro de 2016

Deu zebra, invenção de Gentil

  Dezenas de vezes você citou a palavra zebra ao deparar com resultado inesperado de um jogo de futebol, sem que se desse conta que foi o saudoso pernambucano Gentil Alves Cardoso criador da metáfora?


A velha guarda conhece de cor e salteado a história desse espirituoso treinador, que passou a usar o bordão zebra quando clubes pequenos do Rio de Janeiro ganhavam dos grandes na década de 40. Por que zebra? Porque não faz parte do jogo de bicho. É estranha na jogatina.

 Evidente que Gentil jamais poderia prever que a junção verbo e substantivo ‘deu zebra’ transcendesse a bola, e fosse usada invariavelmente em todos os segmentos.
 Por que o jogador talentoso é chamado de cobra? Eis aí outra metáfora inventada por Gentil Cardoso, um frasista por excelência. Ao exigir que o seu time trabalhasse a bola no chão, costumava dizer que ‘a bola é de couro, o couro vem da vaca, e a vaca gosta de grama; então, jogue rasteiro meu filho’. Também é dele a frase de ‘quem se desloca recebe, quem pede tem preferência’.

 Apesar da contribuição folclórica ao futebol, foram raríssimas as lembranças no 46º ano de sua morte, dia oito de setembro passado. Por sinal, ele não perdeu o bom-humor até internado no Hospital Central da Aeronáutica, no Rio de Janeiro. “Doutor, estou entrando na vertical. Vê se não saio na horizontal, porque técnico de futebol não pode trabalhar nessa posição”. E saiu de lá para o cemitério, deixando uma biografia de migrante negro vitorioso. Foi engraxate, garçom e motorneiro. Nunca foi jogador, mas ingressou na função de treinador do Bonsucesso nos anos 30.


 Quando apitava treino, dizia abertamente que reservas não ganhavam dos titulares. Se o caldo engrossava, arrumava um pênalti ‘mandrake’ e acomodava a situação. ‘Bola na bunda de time pequeno é pênalti’, brincava.
 Seu reino encantado foi o Rio de Janeiro, intercalando passagens pelos grandes clubes do Estado. Em 1946, contratado pelo Fluminense, deu um recado aos cartolas logo na chegada: “Se vocês me derem o Ademir (de Menezes), eu lhes darei o campeonato”. Dito e feito. O ex-vascaíno marcou o gol do título contra o Botafogo.
 Nos anos 50, treinando o Botafogo, lançou o ponteiro-direito Mané Garrincha. Na época fazia uso de megafone para se comunicar com os jogadores durante os treinos. Em seguida voltou a Recife, em troca de bons contratos, para comandar Sport, Santa Cruz e Náutico. E nos três clubes levantou o caneco. No futebol paulista treinou Ponte Preta e Corinthians. Passou ainda por Nacional do Equador e Sporting de Portugal.
 De volta ao Vasco, nos anos 60, estimulava a boleirada a cantar músicas de Roberto Carlos e Erasmo Carlos.

Orlando Fumaça, zagueiro estilo xerife no Vasco

 Décadas passadas, clubes de futebol tinham lá as suas manias nem sempre bem explicadas. O Vasco, por exemplo, não abria mão do tal xerife na zaga central. Foi assim nos anos 50 com o saudoso bicampeão mundial Belini com a Seleção Brasileira. Na década seguinte, uma dupla de zagueiros ‘limpa área’: Brito e Fontana. O xerifão dos anos 70 foi o botinudo e também saudoso Moisés. E histórias de zagueirões raçudos que fungavam no cangote de adversários se estendeu no elenco cruzmaltino pelo menos até meados da década de 80 com Orlando Monteiro do Nascimento Filho, o Orlando Fumaça.

 “Sou jogador viril, de chegar junto. Nunca divido pra perder. E não tenho vergonha de dar chutão pra frente”, avisou Orlando Fumaça quando se apresentou em São Januário para integrar o Vasco do artilheiro Roberto Dinamite em 1982, com defesa formada por Mazaropi; Galvão, Orlando Fumaça, Celso e Gilberto.

 De fato, Orlando Fumaça, 1,91m de altura, era soberano no jogo aéreo. No chão espanava a bola para o alto, e a devolvia de qualquer maneira ao campo adversário. Claro que não se importava em valorizá-la até quando a situação permitia. Logo, a constatação entre vascaínos era de um zagueiro apenas de vitalidade, características insuficientes às pretensões do clube. Assim, ele perdeu espaço por lá e teve que continuar a vida de cigano da bola no América de Rio Preto (SP) em 1983, com vínculo de três anos. Inicialmente integrou uma defesa montada com Moacir; Brasinha, Orlando Fumaça, Cardoso e Daniel. Posteriormente formou dupla de zaga com Jorge Lima, batizada de Fumaça e Faísca, respeitada por atacantes adversários.

 Logo, nem parecia aquele zagueiro oscilante de início de carreira no Goytacaz em 1978, levado pelo ex-lateral-esquerdo flamenguista Paulo Henrique. Igualmente na Ponte Preta, dois anos depois, não foi o substituto projetado para o zagueiro Oscar Bernardes, que havia se transferido ao New York dos Estados Unidos. No time campineiro, Orlando Fumaça participou de oito jogos consecutivos e depois perdeu a vaga para Juninho. Assim, acabou transferido ao Mixto de Cuiabá (MT) e Americano de Campos, antes da chegada ao Vasco.

 A regularidade no América resultou em interesse de Cruzeiro e Atlético Paranaense, que o levaram por empréstimo para edições do Campeonato Brasileiro. Até clubes de Portugal, como Boa Vista e Amarantes, também o levaram. Registro para esse histórico antes da escala descendente no futebol no interior paulista, passando por Matonense, Novorizontino, Tanabi e novamente América, onde encerrou a carreira em 1992. Motivo: contusão no ligamento cruzado do joelho direito.


 Natural Miracema (RJ), nascido em 30 de outubro de 1960, Orlando Fumaça fixou residência em Rio Preto e trabalha em venda de veículos.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Ex-boleiros estão à caça de votos às eleições

 Se outrora apenas o nome bastava para que o ex-centroavante Reinaldo, do Atlético Mineiro, fosse sufragado nas urnas a cargos legislativos, na última tentativa a reação de seu eleitorado foi outra. Dos 15 mil votos que lhe garantiram cadeira na Assembleia Legislativa de Minas Gerais em 1990, e 6,5 mil votos à Câmara Municipal de Belo Horizonte em 2004, viu despencá-los para 840 há dois anos, quando projetou retornar ao cargo de deputado estadual pelo seu Estado. Agora, restou-lhe a alternativa de sair à caça de votos para vereador, convicto que precisa gastar sola de sapato e saliva.

 Reinaldo é um dos exemplos de ex-boleiros que a fama era revertida em votos. Ex-goleiros consagrados como Raul Plassmann, do Cruzeiro, e Mazaropi, do Grêmio, ficaram nos 9.082 e 4.721 votos, respectivamente, há dois anos, quando o ex-atacante Roberto Dinamite, do Vasco, também não se elegeu ao totalizar 9.452 votos no Rio de Janeiro, após ter saboreado vitórias em eleições passada.

 A lista de ex-boleiros candidatos a vereador no país é razoável, e justificada por motivos diversos. Alguns, bem articulados, mostram vocação para a causa pública, e até convencem o eleitor que podem ser instrumentos de mudanças políticas e sociais. Outros, alienados politicamente, são manipulados por agremiações partidárias que apostam na suposta popularidade deles para fisgar eleitores, projetando aumentar o número de votos nas campanhas eleitorais.

 Correntes de cientistas políticos diagnosticaram ex-boleiros que não dimensionaram a fama como passageira e, aflitos com o ostracismo, migram para a política visando o ressurgimento através da mídia, se eleitos forem.

 Seja como for, não faltam ex-boleiros pedindo votos aos eleitores às cadeiras dos legislativos municipais. De certo o ex-ponta-de-lança Paulo Rink do Atlético Paranaense não intercederá para que o alemão Sweinsteiger lhe peça voto dos curitibanos como ocorreu em 2014, quando não se elegeu deputado estadual. Ambos são amigos dos tempos que atuaram no selecionado da Alemanha.

 O ex-meia palmeirense Ademir da Guia quer voltar a ser vereador por São Paulo, e no próprio clube conta com a concorrência do ex-zagueiro Tonhão. Ainda na capital paulista, entre ex-boleiros postulantes às vagas, destacam-se o goleiro são-paulino Waldir Peres, e os corintianos Marcelinho Carioca e Tupãzinho, meia e atacante respectivamente. A rigor, Marcelinho, pelo PSB, obteve 19.729 votos há quatro anos, enquanto o ex-corintiano Dinei chegou a 9.243, com queda para míseros 1.541 na tentativa para deputado federal em 2014.


 Na cidade do Rio de Janeiro, o treinador Andrade também está na disputa. O zagueiro Odvan é candidato em Campos de Goytacazes (RJ), enquanto o ex-goleiro João Leite, do Galo mineiro, postula o cargo de prefeito de Belo Horizonte, após experiências legislativas.

domingo, 11 de setembro de 2016

Volante Zé Carlos é vitimado por AVC

 Nos tempos áureos de Cruzeiro e Guarani, o volante Zé Carlos falava baixinho e pausadamente. Vitimado por um ACV (acidente vascular cerebral), hoje ele tem dificuldade de fala e locomoção. Por isso tem feito fisioterapia visando recuperar os movimentos dos membros inferiores e sair da cadeira de rodas.
 Com objetivo de arrecadar fundos para a família dele, antigos companheiros do time mineiro, liderados pelo zagueiro Procópio Cardoso, organizaram jogo beneficente dia 13 de agosto passado em Esmeralda, região metropolitana de Belo Horizonte.
 Aquela fala mansa de José Carlos Bernardes, 71 anos de idade, sempre teve conteúdo e demonstrava a liderança nata. Como bom observador das alternâncias de uma partida de futebol, dissertava sobre falhas e acertos de seu time durante a carreira de atleta até os 38 anos de idade. Indicava posicionamento adequado aos companheiros e exigia valorização da bola. Claro que em tom de voz mais alto em relação ao observado fora de campo.
 E tinha habilitação para cobrança porque foi um atleta que tanto construiu como destruiu jogadas. No Cruzeiro, de 1964 a 1977, na maioria das vezes foi um meia de armação e até ponta-de-lança. Entrou para a história do clube como atleta recordista, com 633 jogos, que resultaram em 83 gols. Naquele período conquistou a Taça Brasil de 1966, Libertadores dez anos depois, e Campeonato Mineiro de 1965 a 69 ininterruptamente. E entre uma temporada e outra, exibindo a vasta cabeleira black power, teve como companheiros Tostão, Natal, Eduardo Amorim, Palhinha, Wilson Piazza, Procópio Cardoso, Dirceu Lopes, Roberto Batata, Raul e Nelinho, entre outros.
 Aos 32 anos de idade e sem o real interesse do Cruzeiro para mantê-lo no clube, aceitou convite para jogar no Guarani em 1977, porém na função de volante. Foi quando demonstrou sabedoria para desarmar sem necessidade de recorrer frequentemente ao artifício das faltas. Valia-se da precisa colocação para antecipar jogadas, sem perder a característica de refinado toque de bola.
 Assim, teve participação preponderante na conquista do título inédito do Campeonato Brasileiro de 1978, na equipe formada por Neneca; Mauro Cabeção, Gomes, Edson e Miranda; Zé Carlos, Zenon e Renato; Capitão, Careca e Bozó.
 Incontinenti, cobiçado por vários clubes, acertou transferência para o Botafogo (RJ). Depois passou por Bahia, Uberaba e Vila Nova de Nova Lima (MG), onde havia encerrado a carreira em 1983. Em seguida, assumiu a função de treinador do Guarani, porém sem êxito. Por isso topou o desafio do Mogi Mirim, que lhe reservou dupla missão: jogar e ser treinador da equipe.

 Após infrutífera experiência como treinador, Zé Carlos foi aconselhado a integrar comissões técnicas como coadjuvante.