segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Oito anos sem João Avelino, o folclórico

 Este 24 de novembro marca o oitavo ano da morte do folclórico treinador João Avelino, o popular 71. Vítima do Mal de Alzheimer, meses antes de morrer sequer reconhecia as pessoas. Antes de adoecer permaneceu ligado ao futebol como consultor para treinadores e cartolas. Transmitia catimba e malandragem que usava no futebol. Ele deixou histórias inacreditáveis.
 Imagine um vestiário no intervalo de uma partida: boleiros ofegantes, falatório e treinador aos berros tentando ajustar a equipe. Acreditem: Avelino isolou-se desse ambiente quando dirigia o CAT (Clube Atlético Taquaritinga) num jogo noturno contra o Guarani, no Estádio Brinco de Ouro, na década de 80.
 Seu time jogava tão mal que, revoltado, se recusou entrar no vestiário para orientações de praxe aos jogadores, após derrota por 2 a 0 no primeiro tempo. Surpreendentemente ele colocou uma cadeira no túnel que dá acesso ao vestiário visitante e, com um canivete afiado, descascava e chupava laranjas com se tivesse em momento de descontração.
 - João, e as instruções para o seu time? - questionou o radialista Paulo Moraes, na época repórter da Rádio Central, de Campinas.
 - Perda de tempo. Nada entra na cabeça desses caras - retrucou Avelino.
 Cerca ocasião, o treinador foi trabalhar no Fortaleza e se espantou com o tamanho do goleiro, pouco mais de 1,70m de altura. E sabem o que ele fez para resolver o problema? Mandou diminuir a altura da trave. E quando perceberam a tramóia, ele já havia festejado um título cearense perseguido há cinco anos.
 Em 1959, o Guarani corria risco de rebaixamento à divisão inferior do paulista e tinha jogo decisivo em casa contra o Santos. E sabem o que fez Avelino? Exigiu que os jogadores bugrinos usassem meias pretas, nada a ver com as tradicionais cores verde e branca do Bugre.
 Superstição ou não, o certo é que o Guarani teve atuação fantástica naquela partida e ganhou do Peixe por 3 a 2, dois gols de Ferrari - um ponteiro-direito adaptado à lateral-esquerda - e outro de Rodrigo.
 Avelino foi homem de confiança do saudoso treinador Osvaldo Brandão, e por isso foi seu auxiliar por muito tempo, num ‘casamento’ batizado de corda e caçamba. E Avelino era a caçamba.
 O ex-treinador Antonio Augusto, o Pardal, conta que Avelino foi o inventor do treino coletivo sem bola. ‘O João ficava cantando as jogadas e o atleta simulava estar com a bola’, detalhou Pardal.
 Naquele treino, de repente Avelino gritava para o ponteiro cruzar, para o atacante driblar e chutar para o gol, tudo sem a bola. E os obedientes boleiros cumpriam à risca a maluquice.
 Ex-jogadores corintianos como Palhinha e Basílio citam que quando Avelino deparava com jogadores de chutes fracos dava-lhes uma bolota de cinco quilos, para que fizessem embaixadas. Assim, ganhavam força muscular e o chute era mais forte.


Atacante França gostou do Japão e lá ficou

 No próximo Dia de Natal o ex-atacante França, do São Paulo, vai completar 38 anos de idade, e até o ano passado levava vida de adolescente que adora balada, discoteca, pista de dança, requintados restaurantes, mulherada e companhia de amigos bilionários. Assim, cultivava a atraente vida noturna de Tóquio, no Japão, completada sem traumas da insegurança do Brasil e com uma educação no trânsito de fazer inveja.
 Foi esta a confissão do ex-jogador sobre a definição da capital japonesa que optou para viver depois que parou de jogar futebol no Yokohama F.C. em 2011. A fascinação pelo estilo de vida daqueles asiáticos era tal que sequer fazia planos para retornar ao Brasil, exceto uma vez por ano para visitar a filha de um casamento que durou até 2004.
 A gorda conta bancária dele foi reflexo dos milionários contratos de seis anos feito no Kashiwa Reysol e de pouco menos de um ano no Yokohoma. Soma-se a isso a independência financeira já garantida na passagem pelo futebol alemão de 2002 a 2005, no Bayer Leverkusen.
 Para que ganhasse notoriedade no mercado do exterior, França se destacou no São Paulo como o quinto maior artilheiro de todos os tempos do clube com 182 gols em 327 partidas, no período de 1996 a 2002. A fase foi tão boa que a convocação à Seleção Brasileira à Copa do Mundo do Japão e Coréia do Sul era tida como certa, não fosse uma lesão ter precipitado o corte da relação do treinador Luiz Felipe Scolari, o Felipão.
 O São Paulo ainda negociou os direitos econômicos do jogador por 12 milhões de dólares. Os alemães se renderam à habilidade no domínio da bola, facilidade para se desvencilhar de zagueiros adversários, e frieza para enfrentar goleiros.
 Este estilo começou a ser aprimorado em 1993 quando se profissionalizou no Nacional de Manaus (AM). Depois ganhou mais visibilidade na passagem pelo XV de Jaú, despertando interesse dos cartolas são-paulinos e trajetória de dois anos na Seleção Brasileira, com direito ao gol de empate por 1 a 1 contra a Inglaterra, no Estádio de Wembley.
 Claro que este ‘vidão’ no primeiro mundo contrasta com a pacata cidade de Codó, interior do Maranhão, onde França nasceu e foi registrado com o nome de Françoaldo Sena de Souza. Segundo censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010, aquela cidade maranhense, que dista 292 quilômetros da capital São Luís, contava com 118.072 habitantes e ganhou fama nacional como terra da macumba.
 De Codó igualmente saíram outros dois boleiros que brilharam em grandes centros. Primeiro o habilidoso volante Fausto, apelidado de Maravilha Negra, que foi jogador do Vasco e defendeu a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1930, no Uruguai. Depois o lateral-direito Maranhão, que entre outros clubes passou por Bragantino, Guarani, Santos e Atlético Paranaense.


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Paulo Rick, de goleador a político

 A história de vida do ex-atacante Paulo Roberto Rink, eterno ídolo dos torcedores do Clube Atlético Paranaense, é marcada por situações diametralmente opostas. Quem diria que de goleiro de futsal, na pré-adolescência, fosse se transformar num atacante nos gramados? E mesmo aprovado para jogar nas categorias de base do Atlético Paranaense, no início houve desconfiança sobre as suas possibilidades, tanto que em meados da década de 90 acabou emprestado a Atlético Mineiro e Chapecoense.
 A reviravolta começou no segundo semestre de 1995 no retorno ao Atlético Paranaense, ao formar dupla de ataque com Oséas, revivendo a ‘dobradinha’ Assis-Washington (ambos falecidos) da década de 80, no próprio clube.
 Paulo Rink foi um canhoto que driblava em velocidade e chutava forte ao se aproximar da área adversária. A boa pontaria e facilidade para enfrentar goleiros o transformaram num dos principais artilheiros do futebol do Brasil na época, fato que despertou cobiça do Bayer Leverkusen, que pagou seis milhões de dólares pela contratação em 1997.
 A descendência de avós paternos alemães não significava familiaridade com o dificílimo idioma daquele país, caracterizado por 16 formas para se falar o artigo definido ‘o’ ou ‘a’, por exemplo. E contrariando o americano John Madison, que escreveu livro citando que não vale a pena aprender a língua alemã, o destemido jogador topou o desafio.
 Assim, bastou um ano de sucesso no futebol Leverkusen para que se naturalizasse alemão e abrisse caminho para convocação à seleção daquele país através do treinador Berti Vogts, e atuasse 23 vezes. Ele foi o primeiro brasileiro a atingir o objetivo com futebol recheado de gols. “Optei por jogar na Alemanha porque não tinha espaço na Seleção Brasileira”, justificou.
 Em 1999, no curto período de empréstimo ao Santos, os objetivos não foram atingidos. Depois passou por outros clubes alemães de menor expressão, futebol do Chipre, Coréia do Sul até o retorno ao Atlético Paranaense em 2006, com propósito de jogar mais um ano e, incontinenti, iniciar trajetória como dirigente do clube.
 Como mudança de rota tem sido frequente para Paulo Rink, a política entrou na vida dele com a eleição para vereador de Curitiba em 2012, com os 5.625 votos obtidos pela legenda do PPS (Partido Popular Socialista). Aí caiu na besteira de apresentar projeto que isentaria clubes profissionais da cidade de pagamento do IPTU, rejeitado pela Câmara de Vereadores e pela população em geral.

 Apesar disso, o gosto pela política o animou a se candidatar a deputado federal, mas obteve insuficientes 19.307 votos para se eleger, bem mais que o ex-goleiro Raul Plassman (9.082) e o atacante do Galo mineiro Reinaldo (840 votos pelo PT do B). Dos ex-jogadores, foi expressiva a votação do goleiro Danrlei: 158.520 votos.

domingo, 2 de novembro de 2014

Adeus ao polivalente Oldair do Galo mineiro

Apenas citação da morte do então lateral-esquerdo Oldair Barchi do Atlético Mineiro, dia 31 de outubro passado, provavelmente geraria questionamento sobre quem foi este jogador. Acrescendo-se que foi polivalente, é possível recontar período do futebol em que atletas mudavam sistematicamente de posições a pedido de treinadores.
Quando foi contrato pelo São Paulo em 1977, o uruguaio Dario Pereyra chegou como meia de armação, posição originária no Nacional de Montevidéu. Todavia, na sequência foi recuado à função de volante e por fim à quarta zaga.
O lendário Nilton Santos - já falecido – atuava como meia-esquerda no time varzeano da praia de Flexeiros na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, até se transformar num dos principais laterais-esquerdos do futebol brasileiro defendendo a única camisa profissional do Botafogo (RJ).
Décadas passadas, comumentemente meias de armação se transformavam em volantes. São os casos de Dino Sani - São Paulo e Corinthians -, Lorico - Vasco, Portuguesa e Botafogo (SP) -, Paulo Isidoro e Zé Carlos, que fizeram sucesso por Atlético Mineiro e Cruzeiro respectivamente.
Igualmente são adaptações de praxe as de volantes a quarto-zagueiro, ou de laterais como zagueiros. Vagner Basílio, que jogou no São Paulo e Corinthians como quarto-zagueiro, originariamente foi volante. Leandro, Djalma Santos e Carlos Alberto Torres foram laterais-direitos que terminaram a carreira na zaga central.
Quanto a Oldair Barchi, a trajetória no futebol foi marcada de quem inicialmente atacava e terminou a carreira se defendendo. Quando se profissionalizou no Palmeiras e participou como reserva da campanha do título paulista de 1959 atuava como meia-direita, nomenclatura modificada para ponta-de-lança, característica do jogador que mais se aproximava do centroavante.
Sem espaços no Palmeiras e com a cobiça do treinador Zezé Moreira para se que se submetesse a teste no Fluminense, Oldair aceitou o desafio em 1960 e saboreou o título do Torneio Rio-São Paulo daquela temporada.
Cinco anos depois, já adaptado à função de volante, foi jogar no Vasco após outra indicação de Zezé Moreira. O diferencial é que na decisão de título da Taça Guanabara foi deslocado à lateral-esquerda e anulou o ponteiro-direito Mané Garrincha na vitória vascaína por 2 a 0, um dos gols dele.
A carreira foi coroada ao se transferir ao Atlético Mineiro em 1968. Tão logo o lateral-esquerdo uruguaio Cincunegui se desligou do clube Oldair assumiu a posição, e ali foi intocável até 1973. Dois anos antes foi campeão brasileiro numa final com triangular. O Galo venceu o São Paulo por 1 a 0 com de falta marcado por ele, enquanto na repetição do placar sobre o Botafogo, no Rio, Dario fez o gol da vitória. A carreira foi encerrada no Ceub do Distrito Federal.