segunda-feira, 26 de novembro de 2012


 

Guarani, quem te viu, que te vê...

 

 O Guarani convive com a chaga de rebaixamentos desde 2001, culminando com a volta à terceira divisão nacional neste 24 de novembro, após derrota para o São Caetano por 2 a 1, em seus domínios. Há 11 anos o Bugre ficou em penúltimo lugar do Campeonato Paulista com 15 pontos, à frente apenas do Mogi Mirim no critério número de vitórias.

 Aquele rebaixamento foi convertido em vaga para o Torneio Rio-São Paulo, competição que substituiu os campeonatos regionais dos respectivos estados. Isso por causa de uma virada de mesa provocada pelo então presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo Farah.

 E naquela competição de 2002 o Guarani acabou novamente rebaixado, porque o regulamento estabelecia que o último colocado de São Paulo e do Rio de Janeiro cairiam. Na ocasião, dos 16 participantes, o Bugre ficou em 12º lugar, à frente de Flamengo, Americano, Bangu e América (RJ).

 Com a extinção do Torneio Rio-São Paulo, o Guarani voltou normalmente ao Paulistão, mas em 2004 foi rebaixado no Campeonato Brasileiro, após derrota por 4 a 2 para o Paysandu, no Estádio Mangueirão, no Pará, na penúltima rodada.

 Em 2006, o então presidente bugrino José Luiz Lourencetti não suportou a pressão, após rebaixamentos à Série C do Campeonato Brasileiro e Série A2 do Campeonato Paulista, e renunciou ao mandato antes da iminente destituição.
 Em dois anos o time reacendeu à Série B e recuperou vaga no Paulistão. No entanto o torcedor continuou convivendo com o sobe e desce. Em 2009, novo rebaixamento do Paulistão e acesso à Série A do Brasileiro. Em 2010, rebaixamento à Série B do Brasileiro. Por fim, a penosa queda à Série C do Brasileiro.

 Bons tempos em que o Bugre revelava ídolos. Na década de 70 lançou Mauro Cabeção (falecido), Amaral, Júlio César, Miranda, Renato 'pé murcho' e Careca. Nos anos 80 surgiram Neto, Evair e João Paulo. Na década de 90 apareceram Amoroso e Luizão.

 O bugrino saudosista lembra com orgulho da arrancada triunfal de 1978, culminando com a conquista do título brasileiro. Na primeira partida decisiva contra o Palmeiras, no Estádio do Morumbi, dos 99.829 torcedores pagantes, cerca de 30 mil eram bugrinos, que empurraram o time na vitória por 1 a 0, gol de pênalti cobrado por Zenon. Aquela foi a segunda maior caravana de torcidas que se tem conhecimento no País, suplantada, obviamente, pela invasão corintiana ao Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, em 1976, na semifinal do Brasileiro, diante do Fluminense.

 O Guarani já colocou 52.002 torcedores no Estádio Brinco de Ouro, na semifinal do Campeonato Brasileiro em 1982, contra o Flamengo. E pelo clube passaram ídolos como os meias Jorge Mendonça e Djalminha, e o zagueiro Ricardo Rocha, contratados a preço de banana. Eles foram dignos de aplausos, e garantiram lucratividade invejável nas negociações dos passes.

 


Alex Alves, no campo um atleta feliz


Morte de uma pessoa aos 37 anos de idade, como a do jogador Alex Alves, é impactante. E o pensador italiano Cícero, nascido no ano 106 a.C., já filosofava na época: “Que há de mais natural para o velho do que a perspectiva de morrer?”. E arrematava comparando a dor pela perda de vida de quem não é velho.

“Quando a morte golpeia a juventude, a natureza resiste e se rebela. Assim como a morte de um adolescente me faz pensar numa chama viva apagada sob um jato d’água, a de um velho se assemelha a um fogo que suavemente se extingue”.

Desde que mundo é mundo a espécie humana sabe que não há certeza da chegada ao tempo de velhice, da necessidade de conscientização de que estamos por aqui apenas de passagem, que a morte é inexorável.

Adianta? Claro que não. Prevalece por aí a empáfia, ganância sem fim pelo dinheiro e poder.

Pelo menos Alex Alves transmitia a sensação de viver em sua plenitude quando irradiava satisfação a cada gol marcado. Cambalhotas eram a marca registrada. E tal como no campo, fora dele demonstrava irreverência com cabelos pintados e arrumados de seu jeito.

Esse hábito se repetiu de 1992 - quando iniciou a carreira no Vitória da Bahia -, e se prolongou até 2007 quando a doença HPN (Hemoglobinúria Paroxística Noturna) se manifestou e abreviou o encerramento da carreira em 2010, no União Rondonópolis (MT).

Naqueles 18 anos de profissionalismo atuou como ponteiro-direito veloz que fecha em diagonal nas proximidades da área adversária, e fez gols em abundância. Passagens coroadas com os principais títulos foram no Campeonato Brasileiro pelo Palmeiras em 1994 e Libertadores da América no Cruzeiro em 1997.

O bom desempenho abriu-lhe portas para ingressar em clubes do exterior. Consta da biografia que atuou pelo Hertha Berlim da Alemanha, Boa Vista de Portugal e Kavale da Grécia, passagens entremeadas com volta ao Brasil para defender Atlético Mineiro, Portuguesa, Vasco, Fortaleza, Juventude e União Rondonópolis.

Naturalmente o intrigado desportista que desconhecia a HPN já foi informado que trata-se de uma doença rara das células-tronco hemotopoéticas, causada por mutação de um gene ligado ao cromossomo X. Ela se manifesta no limite de dez pessoas no universo de um milhão. Um dos sintomas é a urina escurecida no período noturno; outro as infecções recorrentes.

Alex Alves travou batalha incansável pela cura, submetendo-se a transplante de medula, doada por um de seus irmãos. Contudo perdeu a luta contra doença e não realizou o sonho de uma partida de despedida do futebol.

Da morte dele restou o ensinamento de que as pessoas devem viver intensamente cada dia e saborear cada momento como se fosse o único.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Dá-lhe Fluminense!

 
 Se o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues fosse vivo, de certo diria que o seu Fluminense havia incorporado o sobrenatural de Almeida na vitória por 3 a 2 sobre o Palmeiras, a três rodadas para o encerramento do Campeonato Brasileiro, resultando na conquista título de 2012. Para o jornalista, os grandes feitos do time tinham a ver com o personagem fictício criado para evocar a capacidade de superação.
 Quem contar a trajetória do Fluminense tem que retroceder à década de 30 quando o meia Élbua de Pádua Lima, o Tim, aplicava dribles secos e desconcertantes. Nos anos 40 e 50 sobressaía o vigor físico do zagueiro Pinheiros (falecido), que se moldou à marcação por zona criada em 1951 pelo treinador Zezé Moreira (falecido). Foi o período em que surgiu o falso ponteiro, missão executada pelo raçudo Telê Santana (falecido).
 O Fluminense é tão diferenciado que nas Eliminatórias à Copa do Mundo de 1954 os seus dois goleiros foram convocados: o titular Castilho (falecido) e o reserva Veludo. A sina de ter goleiros na Seleção prosseguiu em 1970 com Félix (falecido), tricampeão no México.
 Na Copa de 1962, no Chile, foram do clube os dois laterais reservas, casos de Jair Marinho e Altair, respectivamente pela direita e esquerda. O franzino Altair ainda jogou na Copa de 1966, na Inglaterra.


 A vocação do Fluminense para ceder laterais à Seleção foi ratificada nas Eliminatórias à Copa de 1970. Se era raro um lateral-esquerdo atacar, Marco Antonio mostrava atrevimento ofensivo, copiando o bom exemplo de Carlos Alberto Torres na lateral-direita. E sucessor de Marco Antonio atacava ainda mais, caso do potiguar Marinho Chagas.
 Naquela época o Fluminense era uma usina de craques. Por lá passaram o meia Gérson, o habilidoso Carlos Alberto Pintinho, o irreverente Paulo César Caju, e o ‘patada atômica’, apelido que Rivelino ganhou dos mexicanos em 1970. Riva aperfeiçoou o drible elástico e o Fluminense não resistiu a montanha de dólares oferecida pelos príncipes do El Helal de Riad, Arábia Saudita, em 1978, para a liberação do passe.
 Recapitular a década de 70 sem citar o meia-atacante Manfrini seria um erro impordoável. Esse paulistano da Moóca foi artilheiro do Campeonato Carioca de 1973, com 13 gols.
 Nos anos 80, os torcedores do Flu vibraram com a dupla de ataque formada por Assis e Washington, batizada de ‘casal 20’, tal o entrosamento entre ambos desde os tempos de Atlético-PR. Foi de Assis, em 1983, o gol do título carioca diante do Flamengo.
 Naquele período, o lateral-esquerdo do Fluminense era Branco, que assustava goleiros adversários com o chute forte. Essa característica ajudou a levá-lo a três Copas e conquistar uma delas: o tetracampeonato de 1994, nos Estados Unidos.
 É obrigatório citar Renato Gaúcho como condutor do título carioca de 1995, com o inesquecível gol de barriga.

 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Chulapa, gols e irreverência

 Por alguma razão, a passagem do ex-atacante Serginho Chulapa sempre é lembrada no São Paulo, entre as décadas de 70 e 80. Ora pelo envolvimento em encrencas, ora pelos gols e destemor ao prometê-los.

 Quando citam que o atual centroavante são-paulino Luís Fabiano ultrapassou a marca de gols de Chulapa em jogos do São Paulo pelo Campeonato Brasileiro - 84 a 83 -, falta o complemento de que Chulapa marcou 243 gols em todas as partidas atuando pelo Tricolor paulistano. Também são raros os comentários de que ele ficou 14 meses afastado do futebol, suspenso após agressão a um bandeirinha.
 Por isso, cabe amostragem ao torcedor são-paulino da nova geração quem foi esse Serginho Chulapa que jogou futebol até aos 39 anos de idade no Atlético Sorocaba, em 1992.

 Em 30 de agosto de 1981, a Ponte Preta bateu o São Paulo por 2 a 1, no Morumbi, e nenhum torcedor arredou pé do estádio após a partida. O zagueiro Juninho, da Ponte, havia perdido aposta para o amigo Chulapa, e teve de carregá-lo nas costas de gol a gol, porque o então são-paulino cumpriu a promessa de deixar sua marca de artilheiro. Do contrário, ele carregaria o zagueiro.
 Apostas de Chulapa eram chamativas. Havia captado o estilo provocativo de Dadá Maravilha, o marqueteiro ‘mor’ da bola. Bons tempos em que o jogador sabia promover espetáculos de futebol.

 Chulapa viajava do céu ao inferno em segundos. Ora sorridente e gozador, ora briguento por coisa tola. Com a mesma facilidade que abria os braços e usava as pernas compridas para evitar a aproximação do adversário, se irritava com marcação implacável e acabava expulso.

 Seus gols foram decisivos para que o São Paulo conquistasse o título do Campeonato Brasileiro em 1977, num time formado por Toinho; Getúlio, Estevam, Tecão e Bezerra; Chicão, Teodoro e Neca; Zequinha, Serginho Chulapa e Viana.  

 O reinado de Chulapa no Morumbi se encerrou em 1983 com a chegada do atacante Careca, revelado pelo Guarani. Aí, Sérgio Bernardino foi fazer gols no Santos. A missão era completar jogadas de uma "patota" boa de bola, como o ponteiro-esquerdo João Paulo, meias Pita e Paulo Isidoro, e atacante Juari.
 No Santos, Serginho parecia o lobo que perde o pelo mas não perde o vício. Deu seqüência à carreira de gols, encrencas e expulsões. Reflexo da velha rixa com o então goleiro Leão - do Palmeiras - foi agredi-lo covardemente com um chute, pois o adversário estava caído.
 Em 1987, levado ao Corinthians pelo técnico Chico Formiga (já falecido), Chulapa já não era nem sombra daquele atacante com faro de gols.

 Cinco anos depois, já como treinador do Santos, perdeu a cabeça novamente ao desferir chute violento que atingiu a bolsa escrotal do então diretor do futebol bugrino José Giardini, num jogo em Campinas. E essa instabilidade emocional prejudicou sobejamente a carreira dele.