sexta-feira, 24 de junho de 2016

Dois anos sem o treinador Giba

 Esse 24 de junho marcou o segundo ano da morte do treinador de futebol Giba, vítima de doença rara e grave chamada amiloidose. Ele morreu aos 52 anos de idade, em São Paulo, desmanchando um projeto de entrar no seleto grupo de comandantes que dirigem grandes clubes brasileiros.
 Enquanto jogador, Giba também havia projetado carreira longa, mas foi abruptamente interrompida aos 31 anos de idade quando estava vinculado ao Corinthians em 1993, após se submeter a cirurgia de joelho.
 Dispensado pelo clube, ele acusou o médico Joaquim Grava de inutilizá-lo para o futebol, mas perdeu o processo na Justiça. Assim, o jeito foi pensar em continuar no futebol como treinador, e o Paulista de Jundiaí (SP) abriu-lhe as portas em 1996. Quis o destino que fosse também o último clube em sua carreira, em 2014.
 Dos grandes clubes, Giba comandou o Santos em 1999 e 2000, mas o histórico predominante foi em clubes pequenos e médios, como Portuguesa, Santa Cruz (PE), Remo (PA) e Guarani em duas passagens, a última delas em 2011 quando convenceu os jogadores a continuarem trabalhando normalmente, apesar do atraso de salário de três meses.
 A rigor, foi o Guarani o clube que serviu para dar um salto na carreira do atleta Antonio Gilberto Manies em 1984. A princípio teve que ser paciente na reserva de Ricardo Rocha. Bastou o companheiro ser deslocado à zaga, para formar dupla com Júlio César, para que lhe fosse aberto espaço como titular. Começava, então, a se deslanchar a vitoriosa carreira para orgulho dos amigos de Cordeirópolis (SP), a cidade natal.
 O apogeu da forma física-técnica foi atingido no Corinthians, com inevitáveis comparações a consagrados laterais-direitos que por lá passaram como Zé Maria e Edson Abobrão. Se Giba não tinha o vigor físico como marcador, não se pode afirmar que não correspondia na função. Com a bola nos pés, mesmo não sendo veloz tinha consciência no apoio ao ataque.
 Giba participou do primeiro título brasileiro conquistado pelo Timão em 16 de dezembro de 1990, na vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo, com gol de Tupãzinho. O jogo foi realizado no Estádio do Morumbi, com público de 100.858 pagantes. O técnico corintiano era Nelsinho Baptista, e o time formado por Ronaldo; Giba, Marcelo, Guinei e Jacenir; Mário, Wilson Mano e Neto; Fabinho, Tupãzinho e Mauro.

 Reflexo de atuações convincentes resultaram em convocações à Seleção Brasileira, e na ocasião demonstrava gratidão ao Independente de Limeira e União são João de Araras, clubes do interior paulista que lhe deram as primeiras oportunidades na carreira de atleta. 

Mário Sérgio, jogador, técnico e comentarista

 Mário Sérgio Pontes de Paiva mantém a língua afiada como comentarista do canal Fox Sport. Bem ao seu estilo, quando analisava futebol pela TV Bandeirantes em 1994, avisou que, com Dunga escalado como volante, a Seleção Brasileira entrava em campo com dez jogadores. “O Dunga perdeu a força para tomar a bola dos outros, e essa era a única coisa que sabia fazer”.
 Exagero ou não, Dunga levantou o caneco como capitão do Brasil, e nem por isso diminuiu a capacidade de observação de Mário Sérgio, um dos comentaristas esportivos que mais ‘saca’ futebol nesse país. E fala com autoridade de quem esteve no gramado e fazendo a bola rolar com brilhantismo.
 A história dele no futebol começou em 1969 no Flamengo, quando driblava e lançava. No Vitória da Bahia ganhou o apelido de Vesgo porque olhava de um lado e lançava para o outro, deixando companheiros na cara do gol. E isso foi se repetindo no Fluminense, Botafogo (RJ), São Paulo, Inter (RS), Ponte Preta, Grêmio e Palmeiras, sempre com a camisa 11 e desempenhando a função de falso ponteiro-esquerdo.
 Três passagens são marcantes na carreira dele. Em 1979, quando jogava no São Paulo, ganhou apelido de ‘rei do gatilho’ quando deu alguns tiros para o alto para assustar torcedores do São José, no Vale do Paraíba, que se manifestavam na saída da delegação são-paulina do Estádio Martins Pereira.
 No Grêmio portoalegrense foi campeão do mundo em 1983 na vitória por 2 a 1 sobre o Hamburgo, no Japão. Já no Palmeiras, foi flagrado em exame antidoping e ficou suspenso durante seis meses.
 Língua ferina, jamais deixou de falar aquilo que pensava, independente das consequências.
 Em 1983, contratado pela Ponte Preta, participou daquele time de medalhões montado pelo então presidente pontepretano Lauro de Moraes. Na ocasião, os técnicos Dudu, Nicanor de Carvalho, Tim e Cilinho não conseguiram extrair grande coisa com os talentosos Mário Sérgio, Dicá e Jorge Mendonça juntos.
 Mário Sérgio ainda se aventurou na carreira de treinador. Estudioso e bagagem assimilada no trabalho com bons treinadores recomendavam nova carreira brilhante, e isso ia se confirmando nas passagens por Corinthians e São Paulo. Entretanto, o perfil de comandante enérgico não permitiu que prosperasse na carreira, alongada alternadamente até 2010 no Ceará.
 Mário Sérgio não mandava recado. Dizia abertamente aquilo que pensava ao jogador e vários discordam dessa postura, resultando em rota de colisão.
 Na televisão, passou pela TV Bandeirantes, Sport TV - canal a cabo da Rede Globo, até integrar a equipe esportiva do canal Fox Sport, onde dá show

sábado, 11 de junho de 2016

Oscar, nada de beque de fazendas

 Como a Seleção Brasileira ganha notoriedade com a Copa América nos Estados Unidos, cabe viagem no tempo para lembrar o quão seguro foi Oscar Bernardes na zaga do selecionado, como integrante dos Mundiais de 1978 a 1986, o último como reserva de Júlio César.
 Hoje Oscar é um empresário bem-sucedido em sua cidade natal de Monte Sião e Águas de Lindóia. É o reflexo de como administrou bem o dinheiro ganho nos contratos feitos na Ponte Preta, quando se transferiu ao Cosmos dos Estados Unidos em 1979, e coroação no São Paulo nos anos 80.
 Claro que Oscar ‘peneirou’ ramos de atividades para avaliar que não prosperaria como pecuarista:
“Quem falar que fazenda dá lucro é maluco”, repetia. Por isso decidiu vender as duas que tinha para pastagem de gado em Monte Sião, e uma fábrica de laticínio com manipulação de cerca de sete mil litros de leite diariamente. Optou pela compra de imóveis e apostou em turistas naquela região para montar hotel rural na cidade.
 Em Águas de Lindóia instalou sofisticado centro esportivo para formação de atletas e receber delegações de clubes, após aposentar projeto infrutífero como treinador de futebol, inclusive com passagem pelo Guarani. Embora comunicativo, líder nato e inegáveis conhecimentos táticos do futebol, foi mais um dos ex-jogadores sem prosperidade como comandante em clubes.
 Isso contrasta com o seu histórico de atleta iniciado em meados da década de 70 nas categorias de base da Ponte Preta. Dos garotos lapidados, foi promovido aos 17 anos de idade em decorrência de bom posicionamento, desarme, e ter sido quase imbatível no jogo aéreo. Oscar fez da determinação a arma principal para corrigir defeitos e aprimorar virtudes.
 Do primeiro contrato profissional foi possível comprar um Fusca branco recheado de acessórios, principalmente o teipe para ouvir sambas de Paulinho da Viola, Clara Nunes e Martinho da Vila.
Naquela época ele cursava o antigo colegial, era rodeado de puxa-sacos que, na ausência dele, até respondiam presença nas chamadas aos alunos, além de assédio da mulherada. Nada disso o empolgava. Tinha discernimento para administrar aquelas situações.
 Na época, o seu professor da disciplina de Educação Moral e Cívica, Benedito Mezacappa - que jurava ser torcedor pontepretano -, não conseguiu associar o jogador ao aluno. Por isso, ao comunicar notas do bimestre dos estudantes, atribuiu um zero para Oscar por pela ausência à prova.
 Paradoxalmente o aluno bugrino Cláudio Corrente - futuramente diretor de futebol do Guarani - alertou o professor que o então zagueiro jogava no dia da referida prova.
 - Você é o Oscar jogador? -, questionou o professor, provavelmente torcedor de radinho, e de certo avesso à leitura de jornais e noticiário de televisão.

Dois anos sem o irreverente Marinho Chagas

 Este primeiro de junho marca o segundo ano da morte do lateral-esquerdo potiguar Marinho Chagas, cracasso nos gramados e beberrão que se encostava em balcão de bar. Ele antecipou a conotação de ala no futebol nas décadas de 70 e 80. Apoiava frequentemente o ataque, contrariando a principal atribuição dos laterais de marcar ponteiros.
 A irreverência veio desde o Riachuelo em 1969, clube do Rio Grande do Norte em que se profissionalizou, quando ganhou o apelido de ‘Bruxa’. Claro que a manteve nas passagens por Náutico (PE), Botafogo (RJ), Fluminense e São Paulo, quando treinadores tinham tempo adequado para montagem de esquema de cobertura.
 Na Seleção Brasileira, com escassez de tempo para treinamentos e ajustes, o setor ficava desguarnecido a cada avanço ao ataque, e por isso divergências com o então goleiro Emerson Leão foram inevitáveis na Copa do Mundo de 1974. Segundo versões, Marinho teria sido agredido após a derrota brasileira por 1 a 0 para a Polônia, na disputa pelo terceiro lugar.
 Embora destro, ele deu certo pelo lado esquerdo. Tinha passadas largas, habilidade, fechava em diagonal, chutava forte e fazia gols, quatro deles nos 38 jogos no selecionado. No Fluminense disputou 93 jogos e marcou 39 gols, atuando num time que tinha o argentino Doval, Rivellino, Edinho e Gil, entre outros.
 Irreverência dentro e fora de campo era marca registrada de Marinho Chagas. Em 1981 desligou-se do Cosmos, nos Estados Unidos, para jogar no São Paulo, mesmo a contragosto do então treinador Carlos Alberto Silva. Aí, véspera da final do Campeonato Brasileiro contra o Grêmio, ele mandou recado provocativo ao então árbitro carioca José Roberto Wright para que apitasse direito. E quando soube que o juizão era faixa preta de judô, ironizou: “Depois que inventaram aquela máquina que cospe chumbo não existe mais homem valente no mundo”.
 Foi o período em que Marinho exibia vasta cabeleira loira, usava pulseiras e roupas extravagantes. E não perdeu a mania quando perambulou por Bangu, Fortaleza e América (RN), onde encerrou a carreira em 1988. A pretensão era se transformar em treinador, mas logo percebeu que não tinha aptidão pelo troço.
 A cúpula do diretório do PL de Natal conseguiu persuadi-lo a se lançar candidato a vereador. No entanto não foi eleito. Projetou, então, alugar buggys e acabou flagrado em blitz policial com placas falsas no veículo que conduzia.

 Depois disso, restaram cachês de participação em eventos e devorar copos de bebidas alcoólicas, fossem quentes ou geladas. Os amigos não conseguiram convencê-lo a parar com a bebida, e assim continuou até a morte, aumentando a incidência de ex-boleiros que perderam a disputa contra o alcoolismo.