domingo, 29 de dezembro de 2019

Beijo na aliança já marcou comemorações de gols


O 'embala nenê' do ex-atacante Bebeto - tetracampeão pela Seleção Brasileira -, em comemoração de gol com bola na barriga, dentro da camisa, ainda não perdeu a atualidade. Todavia, múltiplas câmaras de televisão espalhadas ao redor de gramados possibilitam que o boleiro mande recado de amor e carinho a familiares.

Por vezes são eles flagrados até sugerindo desenho de coração, como fazia o atacante Robinho nos tempos de Santos. O que caiu em desuso nas tais comemorações foi o beijo na aliança, outrora repetido até em torneio mixuruco, em gesto que supunha-se fidelidade ao cônjuge.

Comemorações do tipo 'trenzinho', ou quaisquer outras formas praticadas, ganham 'ene' interpretações. Uns acham que neste meio há casos de boleiros que aproveitam a ocasião para 'desbaratinar', a fim de que sobre eles não recaiam suspeitas de adultério. Outros citam que o jogador amadureceu e já não se curva às tentações da Maria Chuteira, que rodeia campos de futeol e é sedutora.

Seja como for, é preciso uma viagem ao passado para se motrar o contraste cultural entre gerações. Antes, quando o boleiro fazia jus à fama de mulherengo, bastava um olhar insinuante da mulher para que envolvesse rapidamente, indiferente aos conselhos de riscos da aventura amorosa.

Foram tempos em que algumas sábias venderam caro as tentações dos mulherengos. São incontáveis os casos daquelas que arrancaram carros, apartamentos e dinheiro de boleiros, sem que eles tivessem percepção de que um dia a encantadora carreira chegaria ao fim e, concomitantemente, acabariam os prazeres advindos do futebol. Aí, sem qualquer constrangimento, elas os abandonaram.

Supõem-se que a nova geração tenha refletido nesses exemplos para não copiá-los. Entre outros, o saudoso lateral-direito Orlando Lelé, que jogou em Santos e Vasco, foi preso por não ter pagado pensão alimentícia à ex-mulher. No passado, na busca por aventura amorosa, boleiro usava várias mutretas. Há casos de quem enrolava lençois no formato de um corpo sob cobertor, e com isso enganava supervisor que fazia ronda nos quartos de concentração.

Há registro de boleiros espertos que acomodavam amantes no mesmo hotel em que estavam concentrados. Assim, na calada da noite, davam aquela escapadinha. De repente, escapada ou não, uma aqui e outra acolá, o desfecho era gravidez indesejável da acompanhante, e cobrança posterior de reconhecimento de paternidade.

Pelé, por exemplo, teve relacionamento amoroso com a doméstica Anízia Machado em 1963, que resultou no nascimento da saudosa Sandra Regina. Ele relutou enquanto pôde para reconhecê-la como filha, até que exames de DNA apontavam resultados positivos e comprovaram que era o legítimo pai dela, que passou a ser chamada como Sandra Regina Machado Arantes do Nascimento Felinto. Assim, a Justiça determinou que fosse herdeira dele.
Boleiros do passado eram oriundos de famílias pobres e usufruíam da fama para diversão com mulheres, geralmente em noites recheada de bebedeiras. 

A primeira mudança brutal de comportamento no meio deu-se nos anos 80, com Baltazar, o artilheiro de Deus, ajudando a criar o grupo 'Atletas de Cristo'. Hoje, imagens de televisão, em quaisquer dos Estados, mostram a nova versão do boleiro na hora do gol. Resta saber, agora, o que vem por aí.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Jogador mudar de posição era rotina no Brasil


Corajoso treinador Jungen Klopp, do Liverpool (ING), transformou o lateral-direito Gomez em zagueiro central e puxou o volante Henderson à quarta-zaga, em jogos do recente Mundial de Clube. O planejamento era contar com zagueiros rápidos e condutores de bola, providos de bom passe.

 Já os treinadores brasileiros se fixam no conservadorismo, contrariando seus antecessores que sabiamente descobriam melhor posicionamento do atleta em campo. Por que a discussão? Porque a Ponte Preta dispõe de um atacante de baierada que retorna de empréstimo ao Botafogo de Ribeirão Preto (SP), sem ter marcado um gol sequer na temporada, caso de Felipe Saraiva, que certamente já teria sido adaptado por treinadores do passado como lateral-direito, visto que sabe fazer a recomposição e tem velocidade para a transição.

 Décadas passadas eram incontáveis os exemplos de laterais que terminavam a carreira na zaga. Leandro no Flamengo, Carlos Alberto Torres no Santos, Djalma Santos no Atlético Paranaense e Alberto no Gurani são alguns exemplos. Transformação surpreendente ocorreu com Fábio Luciano, na Ponte Preta, que subiu da base como ponta-de-lança e acabou transformado em zagueiro central. Justificativa era lentidão para ser atacante, e que a estatura de 1,98m de altura seria mais bem explorada defendendo.

 Curioso é que o saudoso treinador Cilinho elaborou caminho inverso ao falecido zagueiro Marcão, transformando-o em centroavante, nos tempos de XV de Jaú, para que explorasse o cabeceio com quase dois metros de altura.

 Na década de 70, o então ponteiro-esquerdo Bezerra foi transformado em lateral, no Guarani. Ano depois, já no São Paulo, foi fixado na quarta-zaga, em exemplo parecido com o uruguaio Dario Pereyra, que chegou ao São Paulo como meia de armação, acabou recuado à função de volante, até que o saudoso treinador Carlos Alberto Silva julgou que ele seria mais útil na quarta-zaga.

 Jogador ter mudado de posição por acaso ocorreu com o então centroavante Luís Ricardo, na Portuguesa, em 2011. Para cobrir a lacuna do lateral-direito expulso, o treinador Jorginho iria sacá-lo do time, a fim de proceder a troca, quando o atleta implorou para que ocupasse a função até o final da partida. E depois disso nunca mais voltou a ser atacante, embora com 1,83m de altura ainda explora jogo áreo em bola parada e tem feito uns golzinhos.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Que 2020 será diferente?


 Há exatos dez anos, em mais um dezembro, sugeri compartilhamento dos desportistas à reflexão se ainda havia espaço para surgimento de outro atleta do século, do tipo Pelé. Pois agora, num exercício de futurologia para 2020 e década subsequente, a questão que se coloca é se haverá mudanças radicais em alguns segmentos esportivos?

 Céticos de plantão asseguram que jamais vai nascer outro igual a Pelé. E acrescentam: quem viu, viu; quem não viu, não verá mais. Será? Convenhamos que passou da hora para o surgimento de outro jogador completo nos fundamentos chute, drible, cabeceio, passe e posicionamento. Pelé surgiu no futebol há mais de 63 anos, e tem lógica projetar que alguém ainda vai destroná-lo. Difícil é prever quando.

 O novo 'rei' precisará mostrar chutes certeiros de curta e longa distância - inclusive em cobranças de falta -, sem distinção de perna direita e esquerda. Outro requisito é tabelinha objetiva com companheiro de ataque nas proximidades da área adversária. E se tiver estatura mediana como Pelé - 1,73m de altura - terá de necessariamente compensar com boa impulsão e colocação para suplantar, de cabeça, zagueiros grandalhões. E mais: o sucessor do rei terá de marcar mais de 1.200 gols.

 Há dez anos já se questionava melhor segurança nos estádios, do tipo policiais à paisana infiltrados entre torcedores de organizadas, como indicativo para se distinguir baderneiros e enquadrá-los em legislação específica sugerida ao futebol, prevendo punições drásticas a transgressores.

 Fique de olho em dinheiro público de diferentes esferas governamentais injetado em clubes. Igualmente os anos se sucedem e dirigentes voltarão a ser acusados de jogar dinheiro no ralo, com administrações incompetentes. São gastos absurdos com jogadores de qualidade duvidosa, elencos inchados, 'gorduras' em comissões técnicas e assessores incompetentes. Cadê a fiscalização através de conselhos de clubes?

 Preços de ingressos de jogos não podem ser majorados conforme conveniência de cartolas. E se há uma década criticava-se treinadores que protegem jogadores indisciplinados, parte significativa já mostra postura rigorosa, mas ainda há insistência na escalação de jogadores em má fase técnica. Então, chega de regalias! Chega de passar a mão na cabeça do craque! E que os boleiros parem de cometer erros de passes curtos. Feliz 2020.

domingo, 8 de dezembro de 2019

Três anos sem Mário Sérgio Pontes de Paiva


 O 28 de novembro passado marcou o terceiro ano da morte de Mário Sérgio Pontes de Paiva, o Vesgo, no acidente de avião que vitimou a delegação da Chapecoense, na Colômbia. Morreu aquele que, enquanto boleiro, olhava para um lado e tocava a bola para o outro. Aquele que, enquanto treinador, não paparicava boleiro. No seu time tinha camisa apenas aqueles que cumpriam regiamente as determinações.
 Como comentarista de televisão, não tinha papas na língua. Como ‘sacava’ futebol como poucos, falava aquilo que pensava. Em 1994 corajosamente falou que a Seleção Brasileira entrava em campo com dez jogadores pelo fato de o volante Dunga ter sido escalado. Dizia que o então atleta já não tinha vigor físico para desarme, enquanto no aspecto técnico citava frequentemente sobre as limitações.

 Exagero ou não, Dunga levantou o caneco como capitão do Brasil naquela Copa do Mundo nos Estados Unidos. Nem por isso Mário Sérgio diminuiu a capacidade de observação sobre o ex-volante.

 No Flamengo a partir de 1969, Mário Sérgio já driblava e lançava. No Vitória da Bahia deixava companheiros na cara do gol e também fazia os seus golzinhos. E isso se repetiu no Fluminense, Botafogo (RJ), São Paulo, Inter (RS), Ponte Preta, Grêmio e Palmeiras, sempre com a camisa 11 e desempenhando a função de falso ponteiro-esquerdo.

 Três passagens são marcantes na carreira dele. Em 1979, quando jogava no São Paulo, ganhou apelido de ‘rei do gatilho’. Intolerante e imprudente, sacou o seu revólver e deu alguns tiros para o alto para assustar torcedores do São José, no Vale do Paraíba, que se manifestavam na saída da delegação são-paulina do Estádio Martins Pereira.

 No Grêmio portoalegrense, trazido pelo treinador Valdir Espinosa, foi campeão do mundo em 1983 na vitória por 2 a 1 sobre o Hamburgo, no Japão. No Palmeiras foi flagrado em exame antidoping e ficou suspenso durante seis meses. Ainda em 1983, contratado pela Ponte Preta, jogou ao lado dos talentosos Dicá e Jorge Mendonça, oscilando bastante.

 Mário Sérgio ainda enveredou para a carreira de treinador. Estudioso e bagagem extraída de conceituados treinadores recomendavam trajetória igualmente brilhante, mas patinou nas passagens por Corinthians e São Paulo. O perfil de comandante enérgico não permitiu que prosperasse na carreira, alongada alternadamente até 2010 no comando do Ceará.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Adeus a Cilinho, técnico à frente de seu tempo


 Uma semana antes do Carnaval de 2018 telefonei para o então treinador Otacílio Pires de Camargo, o Cilinho, propondo que colocássemos a resenha em dia sobre esse inesgotável assunto chamado futebol, mas ele estava de malas prontas para o Rio de Janeiro, com missão de também ultimar preparativos da Escola de Samba Acadêmicos de Salgueiro, a convite dos diretores.

 Demorei pra retomar o contato, e neste hiato, já na primeira quinzena de abril, ele sofreu avc (acidente vascular cerebral) e foi internado em estado grave no Hospital da PUC-Campinas.

 De certo Cilinho teria muito a contar sobre o empobrecimento do futebol brasileiro, com essa europerização que burocratizou demais a boleirada. Não deu tempo. No dia 28 de novembro ele morreu, aos 80 anos de idade.

 Três meses depois de receber alta hospitalar, estava lúcido, mas com paralisação do lado esquerdo do corpo e perda da fala. Aí ocorreu preparo psicológico para que assimilasse aquela situação, com estágio lento de recuperação.

 Foi informado, há dois meses, que Cilinho já balbuciava, o que dava esperança de retomar a comunicação verbal. Todavia o destino estava traçado. Amigos próximos informaram que o estado de saúde era irreversível, e dona Priscila, esposa dele, esteve sempre presente até o último momento, quando na varanda de sua residência, em condomínio no distrito de Sousas, em Campinas, morreu sentado em poltrona.

 Assim, além da convivência formal e informal com Cilinho desde a década de 70, a última vez que nos encontramos foi a convite dele, para que saboreasse uma dobradinha preparada exclusivamente por ele, o cozinheiro, há 21 anos.
Da resenha, a sobremesa foi conceito de futebol, quando Cilinho disse que iria abolir terminantemente os chamados chuveirinhos.

 Claro que o mestre discorria sobre diferentes temas, sem se vangloriar que em 1970 abdicou de um lateral-direito para que a Ponte Preta ganhasse mais um atacante, na troca. Na ocasião sacou Nelsinho Baptista, lateral-direto de marcação, em transcorrer de jogos, para colocar o ponteiro-direito Vicente.

Lateral descoberta? Não. Zagueiro Samuel era incumbido de fazer a cobertura.
Quem, em são consciência, àquela época, teria tamanha ousadia?
Coisa de Cilinho, capaz de deixar até o meio-campista Falcão na reserva nos tempos de treinador do São Paulo.