segunda-feira, 22 de abril de 2024

Dez anos sem o brilhante narrador Luciano do Valle

 Neste espaço destinado ao enfoque de bem-sucedidos ex-jogadores de futebol, o saudoso narrador Luciano do Valle é uma justa exceção neste bojo. Não bastasse ter sido o 'Pelé' da narração esportiva, deu incrementos a várias outras modalidades esportivas, foi empreendedor em projetos ambiciosos, e subitamente morreu no dia 19 de abril de 2014, aos 66 anos de idade, quando passou mal em viagem aérea para Uberlândia (MG), para transmitir o jogo entre Atlético Mineiro e Corinthians. Ele ainda foi socorrido após o pouso da aeronave.

O campineiro Luciano do Valle, de voz forte e marcante, foi locutor da antiga Rádio Educadora de Campinas em 1963. Aí, sem o devido espaço para se deslanchar, optou pela mudança à Rádio Brasil-Campinas, para narrar futebol. Anos depois, o laureado e saudoso narrador Pedro Luiz Paoliello flagrou que ele poderia incorporar a linha de seus discípulos, levando-o à Rádio Gazeta de São Paulo.

Foi a Rádio Nacional, da capital paulista, a partir de 1968, o último estágio dele nesse tipo de veículo, com migração à TV Globo, do mesmo grupo, quando se transformou no principal narrador da emissora em eventos esportivos além do futebol, a partir de 1974, devido à saída do titular Geraldo José de Almeida.

Ambicioso, em 1983 ele trocou o confortável posto ocupado na emissora para projetos pessoais de empresário e promotor esportivo, montando as empresas Promoção e Luqui, para parceria com a TV Record. E começou organizando jogo entre as seleções masculinas de vôlei do Brasil e União Soviética, no Estádio do Maracanã, com público de 95 mil pessoas.

Aquele foi o primeiro passo para 'abraçar' outras modalidades esportivas, em projeto na TV Bandeirantes, que lhe abriu espaço de dez horas, aos domingos, para transmissão ao vivo do Show do Esportes, em que até o jogo de sinuca ganhou proporção inimaginável.

Como não havia freio para as iniciativas dele, juntou-se à Empresa de Marketing Esportivo Traffic, de J.Hawilla, ocasião que acreditou alavancar o futebol feminino, 'ressuscitar' o boxe com o surgimento de Adílson 'Maguila' Rodrigues, e ainda brincou de ser técnico da Seleção Brasileira de Master, criada por ele.

Em 2012, um AVC provocou falha em sua fala. E, após a recuperação, reduziu as atividades empresariais, se mudou para Porto de Galinhas (PE), e optou por menos aparições em transmissões esportivas.

domingo, 14 de abril de 2024

21 de abril, data da morte de Telê Santana

Na fase preparatória da Seleção Brasileira à Copa do Mundo de 2002, no Japão e Coreia do Sul, o técnico Luiz Felipe Scolari reclamava da falta de malícia do jogador brasileiro para catimbar, fazer cera e enervar o adversário, contrastando com os tempos do treinador Telê Santana, na década de 80, que orientava os seus atletas para jogar limpo e no ataque, em busca de gols.

Certa ocasião, instigado a criticar retrancas adversárias, Telê surpreendeu na resposta: “Se o adversário fica lá atrás, meu time tem o domínio do jogo, cria mais chances e basta ter competência para marcar e ganhar o jogo”.

Telê, morto no feriado de 21 de abril de 2006, era mestre em atacar. A Seleção Brasileira só precisava de um empate diante da Itália, naquele fatídico jogo pela Copa de 1982, da Espanha, mas Telê jamais abandonou a busca do gol, mesmo que o preço de uma defesa aberta tenha custado a eliminação de seu selecionado. E esses conceitos ofensivos resultaram no bicampeonato mundial como treinador do São Paulo, na década de 90.

Depois de cinco magníficos anos no comando técnico são-paulino, Telê teve de abandonar aquilo que era mais sagrado na sua vida: trabalhar no futebol. Complicações cardíacas o deixaram debilitado desde 1995. E isso lhe provocou angústia, porque só se sentia completamente realizado se estivesse envolvido no esporte.

Ele ainda tentou se distrair com atividades agropecuárias de seu sítio em Belo Horizonte, ou colado na televisão acompanhando futebol, novelas e programa de auditório, mas ficava deprimido facilmente. Não aceitava a distância dos gramados, de gritar com seus jogadores e resmungar com árbitros. Ali sentia a emoção típica do futebol.

Telê teve ótimos professores. Nos tempos de atleta do Fluminense, com a camisa sete, o saudoso técnico Zezé Moreira ensinou-lhe a importância do ponteiro ter duplicidade de função: de posse de bola fazer jogadas de fundo de campo, mas sem ela recuar no meio de campo para fechar os espaços do adversário.

Foi Zezé Moreira quem implantou o esquema 4-3-3. E, no final de carreira de jogador, no final da década de 50, Telê aportou em Campinas e jogou no Guarani já sem a versatilidade de outrora, e justificando o apelido de ‘mão de vaca’ quando morava na casa do saudoso treinador Élba de Pádua Lima, o Tim, pois comia e bebia sem desembolsar um tostão sequer.

domingo, 7 de abril de 2024

Zagueiro Edmílson, um gol de bicicleta pela Seleção em Copa

 No futebol, são incontestáveis os atletas que gradativamente atingem degraus altos na carreira e anos antes de se despedirem da atividade têm decréscimo acentuado de rendimento, muitas vezes justificados por repetidas lesões. Enquadra-se neste contexto o volante/zagueiro Edmílson, pentacampeão pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2002, no Japão e Coréia do Sul.

Edmílson foi um exemplo de superação e facilidade de se adaptar às posições de volante e zagueiro, com trajetória iniciada no XV de Jaú em 1993/94, ano em que o São Paulo tratou de levá-lo e com gostinho de título paulista já na temporada seguinte. E ao pautar por atuações regulares nos anos subsequentes, o Olympique Lyonnais, da França, tratou de buscá-lo.

A estatura de 1,86m de altura e boa impulsão faziam dele soberano no jogo aéreo e alta incidência no desarme, além da facilidade para valorizar o passe. E no futebol francês ficou quatro anos, com transferência para o Barcelona da Espanha, ocasião que atuou ao lado do argentino Messi e colecionou títulos nacionais e da Liga dos Campeões da Europa de 2005/2006.

Dois anos depois, prejudicado por lesões e queda de rendimento técnico, foi jogar no Villarreal, ainda na Espanha, mas lá ficou apenas seis meses. No regresso ao Brasil, foi atuar no Palmeiras, que atravessava período de oscilação, e, na sequência, devido ao alto salário, entrou na lista dos dispensáveis.

O Zaragoza o acolheu sem imaginar que lá ele ficaria apenas por 12 jogos. Incontinenti, na volta ao País, a última e apagada passagem foi no Ceará em 2011, ano marcado pela queda do clube à Série B do Brasileiro.

José Edmílson Gomes de Moraes, natural de Taquaritinga (SP), 48 anos de idade, atuou 42 partidas pela Seleção Brasileira, entre 2000 e 2007. Na Copa de 2002, ele marcou um gol de bicicleta contra os costa-riquenhos, quando a defesa brasileira era composta por três zagueiros: ele, Lúcio e Roque Júnior. E estava relacionado para a Copa de 2006, mas foi cortado por causa de lesão no joelho.

Ele criou uma fundação que leva o seu nome em 2005, na sua cidade, que visa beneficiar crianças. Já foi vice-presidente de futebol do Grêmio Barueri, é embaixador mundial das escolas do FC Barcelona, e acumula as funções de gestor de futebol do Foz de Iguaçu (PR) e do Ska Brasil de Santana do Parnaíba, que disputa a quarta divisão paulista.


segunda-feira, 1 de abril de 2024

Matador Jonas é aniversariante no primeiro de abril

Se Washington, o 'Coração Valente', nasceu em primeiro de abril, o 'Dia da Mentira', um outro centroavante 'matador', como ele, o Jonas, também festeja aniversário na mesma data: 40 anos de idade. Calma! Antes que seja feita a pergunta de que Jonas se trata, saiba que esse chegou à Seleção Brasileira e viveu o seu melhor momento no exterior.

Futebol é um troço enigmático, pois o mesmo atleta que passa despercebido em algum clube 'explode' em outro. Enquadra-se neste contexto o centroavante Jonas, revelado com potencial pelo Guarani em 2005, com 12 gols pela Série B do Brasileiro, para posterior oscilações no restante daquela década, em outras agremiações.

Embora tivesse desempenho satisfatório na segunda passagem pelo Grêmio, Jonas atingiu o auge da carreira no exterior, vinculado ao Valência da Espanha e Benfica de Portugal, quando a facilidade para ocupar os lados do campo e finalizar indistintamente com os dois pés significavam faro de gol.

Pelo Valência, no triênio a partir de 2011, marcou 51 gols em 156 jogos, um deles considerado o segundo mais rápido da história da Liga dos Campeões da UEFA, aos 10.96 segundos, na vitória de 3 a 1 sobre o Bayer Leverkusen. Performance melhor ocorreu no Benfica, nos quatro anos a partir de 2015, com 137 gols em 183 partidas, clube que encerrou a carreira em decorrência de lombalgia crônica.

Ele saiu de cena com histórico de 12 jogos pela Seleção Brasileira e três gols, durante o período de 2011 a 2016. O futebol dele, na primeira década do século, foi prejudicado por lesões no joelho. Foi assim no Santos, ao se desligar do Guarani, e se repetiu na primeira passagem pelo Grêmio.

Aí, o empréstimo à Portuguesa, em 2008, serviu como divisor de água na carreira, pois voltou à vitrine ao se transformar em artilheiro do Brasileirão, com nove gols, o bastante para que o Grêmio o trouxesse de volta e foi recompensado com 24 gols dele em 2009 e outros 23 na temporada seguinte.

Jonas Gonçalves Oliveira, natural de Taiuva (SP), goza de aposentadoria na cidade de Ribeirão Preto (SP), e quem ainda não entendeu porque ele não enveredou para quaisquer dos cargos no futebol - analista em veículo de comunicação, treinador, olheiro, executivo ou empresário de futebol - a resposta foi curta e grossa: tempo reservado exclusivamente à família.


domingo, 24 de março de 2024

Caração Velente, o verdadeiro, aniversaria no dia da mentira

Se primeiro de abril é tido como o dia da mentira, quis o destino que a comemoração de aniversário na data - 49 anos de idade - seja de um ex-centroavante verdadeiro, como o brasiliense Washington, facilmente diferenciado de xarás neste Brasil afora pelo apelido de 'Coração Valente', com marcantes passagens na carreira por Ponte Preta e Athletico Paranaense.

Por que 'coração valente'? Por ter superado problemas de saúde durante passagem pelo Fenerbahçe da Turquia, ao ser diagnosticado com uma de suas artérias praticamente obstruída e risco de sofrer infarto. Aí, ao se submeter às cirurgias de cateterismo e angioplastia, foi aconselhado a abandonar o futebol, mas 'desafiou' a medicina, venceu-a, e passou a comemorar os seus gols batendo com a mão no peito.

Ao longo dos 17 anos de carreira, justificou a fama de 'verdadeiro matador'. Afinal, foram 411 gols durante o período que se estendeu de 1994, no Caxias do Sul, a 2011, no Fluminense, sendo 83 deles pela Ponte Preta, em 106 jogos, momento que chegou à Seleção Brasileira na Copa das Confederações de 2001.

No Athletico Paranaense em 2004, estabeleceu o recorde de gols anotados em uma única edição do Brasileirão, com 34 gols, e o segundo maior artilheiro da competição, após a CBF ter adotado a fórmula dos pontos corridos a partir de 2003. Logo, o Tokyo Verdy, do Japão, veio buscá-lo, com histórico de 20 gols em outras 32 partidas na primeira temporada.

Já no Fluminense, em 2008, foi um dos principais nomes na campanha do vice-campeonato da Libertadores, com seis gols, mas, como cigano da bola, em seguida foi jogar no São Paulo, com marca de 32 gols em 56 partidas, até decidir pelo retorno ao clube carioca, onde optou pelo encerramento da carreira em 2011, com retrospecto de 83 partidas e 45 gols.

No retorno a Caxias do Sul, investiu no ramo da construção civil e foi o candidado a vereador mais votado em 2012, com 7.979 votos, pelo PDT. A inclinação pelo futebol o trouxe de volta ao meio em 2017, como treinador do Vitória da Conquista (BA) e Itabaiana (SE), sem que desistisse da ambição política, tanto que assumiu provisoriamente a cadeira de Onyx Lorenzoni como deputado federal, pois na sequência assumiu cargo na Secretaria de Esporte do governo federal. Atualmente atua como analista de futebol na TV Bandeirantes.

Fábio Santos

 Fábio Santos

sexta-feira, 8 de março de 2024

Raçudo Terto emplacou no São Paulo há mais de 50 anos

Ainda contam por aí estórias que só atacantes talentosos vestiam camisas de grandes clubes brasileiros no século passado. Mentira! Se o atleta mostrava eficiência sobre aquilo que lhe era determinado, seu espaço entre os titulares estava reservado.

Um claro exemplo disso foi o pernambucano Tertuliano Severino dos Santos, cuja identificação ficou simplificada apenas como Terto. Ao chegar no São Paulo em 1968, procedente do Santa Cruz (PE), mostrou que a característica de velocidade permitia que chegasse ao fundo do campo com facilidade, para os cruzamentos.

E chegou ao São Paulo num período em que a prioridade do clube era a conclusão das obras de ampliação do Estádio do Morumbi, fato que implicou em relegar o Departamento do Futebol para um segundo plano, em período marcado como figurante no antigo Campeonato Paulista.

Quando aquele 'monumento' estava erguido e os cartolas voltaram a olhar para o futebol, equipes qualificadas foram montadas e frutos foram colhidos a partir da competição estadual de 1970, quando Terto teve relevância quer na posição originária de ponteiro-direito, quer adaptado pelo saudoso treinador Zezé Moreira como meia-direita que servia o artilheiro centroavante Toninho Guerreiro - já falecido. Logo, a vaga na beirada do campo passou a ser ocupada por Paulo Nani.

Naquele período de júbilo do São Paulo, registro também para outro título estadual em 1975, e anos anteriores vice da Libertadores, a exemplo de chegar em mesma situação duas vezes no Brasileirão, em todas situações com Terto aplaudido. Todavia, deslumbrado com a noite paulistana, ele provocava atraso na chegada aos treinos matinais, e apresentava desculpas esfarrapadas de ter ficado entretido em programações de televisão até altas horas da noite.

Como foi atleta que se valia da força física para aceitável rendimento, a queda implicou em correr menos e perda de espaço entre titulares. Assim, o São Paulo não colocou obstáculo para que se transferisse ao Botafogo de Ribeirão Preto em 1977, quando se juntou aos meias Sócrates - já falecido - e Lorico.

Na década de 80, com carreira de atleta já encerrada, comandou escolinha de futebol destinada a filhos de sócios são-paulinos. E no último 29 de dezembro ele completou 77 anos de idade.

domingo, 3 de março de 2024

Cláudio Garcia, carreira bem-sucedida de atleta e treinador

Há cerca de 60 anos, jogador de futebol era identificado apenas pelo prenome. Um exemplo típico foi o centroavante Cláudio, da extinta Prudentina, da cidade de Presidente Prudente, que dista 558 quilômetros da capital paulista, rebaixada no Paulistão em 1967, mas com história cravada por propiciar aparições de atletas. No caso específico dele, ao migrar à função de treinador passaram a chamá-lo de Cláudio Garcia.

Naqueles anos sessenta do século passado, registro para a trágica morte do então lateral-direito Lidu, vítima de acidente de automóvel, quando havia se transferido da Prudentina para o Corinthians. Também de lá saiu para o Palmeiras o saudoso volante Suingue, rosto marcado por cicatrizes, após ter sobrevivido igualmente a acidente de carro.

A Prudentina de 1965, que perdeu para o Guarani por 2 a 1, no Estádio Brinco de Ouro, em Campinas, contava com Glauco; Luís Carlos, Vicente, Rubens Caetano e Sabiru; Suingue e Lopes; Valdir, Reginaldo, Cláudio e Noriva. Aí, dois anos depois, Cláudio desembarcou no Rio de Janeiro, já vinculado ao Fluminense, e registro por ter marcado o gol do título carioca de 1971, sobre o Botafogo, num time formado por Félix; Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antonio; Silveira e Didi; Wilton, Cláudio Garcia, Ivair e Lula.

Jogador de recursos técnicos e goleador, Cláudio foi aplaudido no Estádio do Maracanã, em final daquela competição, com público de 142.339 pagantes. Como naquela época atleta de grande clube se transferia a outro de menor expressão, ele optou pela volta à Prudentina, com intenção de encerrar a carreira, mas por fim a prolongou um pouco mais no Ceub, da capital federal, aos 30 anos de idade.

Foi no Brasília, em 1975, que ele iniciou a carreira de treinador. Depois passou pelo Uberlândia, até que em 1980 o Guarani o contratou, porém sem sucesso, visto que dirigentes do clube, à época, procederam desmanche de equipe campeã brasileira de 1978. Entretanto, como Taubaté e Botafogo de Ribeirão Preto (SP) serviram de alicerce para recomeço, o Fluminense o contratou. E de lá passou por Flamengo, Vasco, Arábia Saudita, Grêmio (RS) e União São João de Araras, em 2001.

Aos 80 anos de idade completados em setembro passado, esse paulistano curte merecida aposentadoria, e de certo prefere o futebol que se praticava no seu tempo, com prevalecimento da qualidade técnica do atleta.


sábado, 24 de fevereiro de 2024

Nem Ditão, nem Dito; apenas Tobias

Que pai ousa registrar o filho em cartório com o prenome Benedito, como antigamente? Convenhamos: não soa bem o apelido ‘Dito’ ou ‘Ditão’. Digamos que a identificação como Benê até passa, mas ainda assim é melhor evitá-la, como evita-se registros de nomes como Adamastor, Abelardo, Almerindo, Bráulio, Clemente, Felisberto, Isaltino e Ludovico, por exemplo.

Outrora registravam recém-nascidos com o nome de Benedito em homenagem ao santo intercessor de milagres na Itália, séculos passados. Nem a expressão ‘será o Benedito’, criada em Minas Gerais em 1930, desestimulou pais da época ao repasse do nome ao filho. A expressão tem o significado de decepção ou impaciência com alguma coisa.

Cabe a introdução para esclarecer que o ex-goleiro José Benedito Tobias, do Corinthians, foi identificado pelo sobrenome desde os tempos de atleta do Noroeste de Bauru (SP), em 1968. No ano seguinte, ele se fixou como titular do Guarani, onde ficou até 1975, com transferência ao Sport Recife e posteriormente Corinthians, quando ratificou reflexo apurado, regularidade, e foi considerado herói da classificação de seu clube à final do Brasileirão da temporada seguinte, ao suplantar o Fluminense no Estádio do Maracanã.

Aquele 5 de dezembro de 1976 foi histórico para o Corinthians. Afinal, jamais algum clube brasileiro repetirá a proeza de colocar 70 mil torcedores no estádio do adversário, na chamada invasão corintiana ao Maracanã. Na véspera do jogo, um bando de malucos cobriu bustos e estátuas com bandeiras alvinegras, no Rio. Alguns sequer se deram conta que a aglomeração nas imediações do hotel, onde o clube se concentrava, tirava o sossego dos jogadores, exigindo que o então presidente do clube, Vicente Matheus - já falecido -, se dirigisse de pijama ao saguão, para dispersá-los.

Já o técnico Duque chamou um pai-de-santo para iluminar os seus jogadores, enquanto dezenas de outros torcedores místicos optaram por praias cariocas, nas altas horas, para reforçar a macumba com garrafas e velas.

Na final da competição, o Corinthians viu o Inter (RS) sagrar-se bicampeão. O desjejum de título ocorreu no ano seguinte, na decisão do Campeonato Paulista, contra a Ponte Preta. Tobias ainda jogou no Fluminense e Bangu, até 1986. Em maio próximo ele vai completar 76 anos de idade, os cabelos rarearam, e mora em São Paulo.

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Carlos Alberto Borges sobreviveu ao ser vitimado por raio

Quando a mídia noticiou neste 10 de fevereiro a morte de um atleta na Indonésia, durante partida de futebol, vitimado por descarga elétrica de um raio no gramado, outras três situações semelhantes foram registradas com envolvimento de jogadores brasileiros e preparador físico que, medicados imediatamente, conseguiram sobreviver.

A bruxa já andou solta nas imediações do CT da Barra Funda do São Paulo, com dois registros. Em 1996, o preparador físico Altair Ramos, atingido pela descarga, foi atirado para o alto e caiu duro no chão. Ele sofreu parada cardíaca e respiratória, recebeu os primeiros socorros de jogadores, foi internado em UTI de hospital, mas sobreviveu.

Três anos depois, outra descarga elétrica nocauteou o meia Adriano, do Figueirense (SC), clube que fazia uso do local para treinamento. O forte impacto provocou paralisação do lado esquerdo dele, com perda temporária do estado de consciência.

Susto maior ocorreu quando o raio caiu no gramado durante treino matinal do Palmeiras, em 15 de setembro de 1983, por falha no sistema de pára-raios do antigo Estádio Palestra Itália - hoje Allianz Parque. A descarga atingiu o então meia Carlos Alberto Borges, que desmaiou e precisou ser reanimado pelo médico do clube Naércio dos Santos, que diagnosticou língua travada, e exigência de internação hospitalar, porém com alta no dia seguinte.

Nascido em Quintana (SP), 63 anos de idade, Borges deu os primeiros passos no futebol em clubes como Araçatuba e Corinthians de Presidente Prudente, mas passou a ganhar destaque a partir de 1979, ao atuar na bem montada equipe do Marília, em time formado por Zecão; Valdir, Márcio Rossini, Rubão e Reinaldo: Soni, Nenê e Carlos Alberto Borges; Luís Sílvio, Jorginho e Ferreira.

Em 1982, o Palmeiras tratou de buscá-lo, a exemplo de Jorginho, e a recompensa pela boa visão de jogo na armação de jogadas foi convocação à Seleção Brasileira, já na temporada seguinte, com participação em três jogos. O trauma por ter sofrido descarga elétrica, provocada por raio, tirou-lhe a concentração nos jogos, com consequente queda de rendimento, mas recuperação posterior. E lá ele ficou até 1987, sendo que na temporada anterior atuou no Santos por empréstimo. A carreira prosseguiu no Novorizontino, Ceará e Sãocarlense em 1991, onde tentou seguir a carreira de treinador, sem prosperar. 

 

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Gilberto Sorriso, lateral do São Paulo e Santos

Apelidos de jogadores eram vistos com naturalidade no século passado. Nos anos 60 e 70, os titulares da camisa seis são-paulina não se zangavam quando chamados de Tenente e Gilberto Sorriso, respectivamente. O diferencial técnico entre ambos se caracterizava pelo primeiro ter sido notabilizado pela forte marcação, enquanto o seu substituto já tinha atributos técnicos que permitiam avançar ao ataque, com a bola nos pés, pois, embora destro, sabia usar a perna esquerda.

O apelido 'sorriso' se casou com o comportamento sempre bem humarado dele, revelado nas categorias de base do São Paulo em 1968, mas assumiu a titularidade do profissional em 1970, ano da conquista de título paulista aguardado durante 13 anos, num time formado por Sérgio; Forlan, Jurandir, Dias e Gilberto (Tenente); Edson e Nenê; Paulo, Terto (Benê), Toninho Guerreiro e Paraná. O técnico era o saudoso Zezé Moreira.

Outra faixa de campeão foi repetida na temporada seguinte, mas ele marcou história singular no clube em 1974, quando atuou 73 partidas consecutivas, sem que fosse substituído ou expulso. Três anos depois foi jogar no Santos, e integrou um elenco renovado e batizado de 'Meninos da Vila', que conquistou o Campeonato Paulista de 1978. Lá também voltou a ser campeão em 1984, em equipe comandada pelo saudoso treinador Carlos Castilho.

Durante onze anos esteve vinculado ao Santos, porém saindo por empréstimo em curtos períodos para Goiás, Noroeste (SP), Santo André, e por fim a Portuguesa Santista. E quando parou, tornou-se gerente de futebol do Santos, cargo que ocupou durante três anos. Em 1990, ingressou na função de treinador das categorias de base do São Paulo, e participou da revelação do ponteiro-esquerdo Denílson. Também foi técnico do juvenil do Fortaleza.

Fora da bola, Gilberto Ferreira da Silva, o Gilberto Sorriso, paulistano de 72 anos de idade, passou susto em 2001, ao ser detido por engano, indiciado e processado, até desvendarem a ficha do verdadeiro criminoso, procurado por ter matado uma pessoa a golpes de macaco do veículo Opala. Todavia, inicialmente a acusação recaiu sobre o ex-atleta, pois a investigação policial foi confundida pelo perfil falso do criminoso, que se identificava como Gilberto Sorriso, e descobridor de talentos na região de Porto Feliz (SP). Assim, o verdadeiro Gilberto Sorriso provou a sua inocência.

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Rodriguinho troca o gramado pela função de empresário

 Quando a mídia anunciou no último 26 de janeiro que o meia Rodriguinho - que atingiu o auge da fama no Corinthians - havia anunciado o final da carreira de atleta, perguntou-se como alguém talentoso, como ele, na iminência de completar 36 anos de idade, sai de cena? E a evolução da medicina esportiva e preparação física, que permitiram prolongamento das carreiras dos laterais Léo Moura, ex-Grêmio, e Zé Roberto, que parou no Palmeiras, aos 41 e 43 anos, respectivamente?

A última passagem de Rodriguinho foi no Cuiabá, como artilheiro da equipe com 13 gols em 2022, mas caiu no ostracismo na temporada seguinte, tanto que o contrato vencido em abril não foi renovado. Assim, como virou o ano sem clube, decidiu trocar o uniforme de atleta pelo blazer social de quem agencia carreira de boleiros. E parece ter jeito para a nova empreitada, pois mostra facilidade para se comunicar e ganância em negócios supostamente compensadores. Isso ficou claro quando trocou o auge da fama e bom salário no Corinthians em 2018, para receber em dólar no Pyramids, do Egito.

Quando bateu o arrependimento naquele clube, sem receber o acordado, na volta ao Brasil já não repetiu o futebol então mostrado, quando passou a defender Cruzeiro, Bahia e Cuiabá, constratante com a evolução na carreira começada no ABC de Natal (RN) - cidade que nasceu - Bragantino, América Mineiro, primeira passagem pelo Corintians em 2013, Grêmio e Sharjah dos Emirados Árabes.

No regresso ao Timão em 2015, inicialmente o espaço ficou encurtado porque o clube dispunham dos meias Renato Augusto e Jadson, mas quando ambos foram jogar no futebol chinês, foi a vez dele, Rodriguinho, cair no gosto da fiel torcida com dribles em progressão, visão de jogo privilegiada para assistência a parceiros e finalizões com sucesso.

Há momentos na vida que propostas financeiras vantajosas mexem com a cabeça de atletas, e foi assim com Rodriguinho, quando decidiu trocar o estágio ímpar que se encontrava no Corinthians pela Índia, e se deu mal. Como o recomeço na volta ao Brasil não foi como desejava, Rodrigo Eduardo Costa Marinho aposta em recomeço no futebol como empresário de boleiros, na expectativa que a experiência seja tão promissora como nos tempos em que foi aplaudido nos gramados e até cogitado para integrar a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2018, na Rússia.

domingo, 28 de janeiro de 2024

Adeus ao zagueiro Deodoro, identificado com o Juventus

A morte do ex-zagueiro Deodoro no ultimo 25 de janeiro, decorrente de AVC (acidente vascular cerebral), aos 74 anos de idade, remete desportistas a décadas passadas, quando o papel primordial de zagueiros era 'zagueirar', ou seja: 'limpar a área', sem que houvesse constrangimento para chutões. E ele, vigoroso, sabia usar a caixa torácica avantajada nas disputas de jogadas com atacantes adversários.

Deodoro jogou futebol nos tempos que boleiros desfilavam nos gramados vastas cabeleiras. Aquelas lisas, caíam nas testas e ombros; para cabelos crespos, o modismo era estilo 'black power', o escolhido pelo zagueiro, que fazia uso do pente de madeira, com dentes largos, para facilitar o penteado.

Quem passou a acompanhar Deodoro a partir de 1978, no Coritiba, como quarto-zagueiro, desconhece que até então contrariava a lógica, pois nos dez anos anteriores da carreira atuou como lateral-esquerdo tipicamente de marcação, com início na Portuguesa em 1969, onde ficou durante quatro anos, transferindo-se ao Juventus.

Aí passou a intercalar passagens por empréstimos, como no Vasco em 1975, e Guarani na temporada seguinte. Já em 1977, vinculado ao Coritiba, começou a experimentar improvisações na quarta-zaga, até que na temporada seguinte, o então treinador Chiquinho o fixou definitivamente na posição.

Como o bom filho a casa torna, em 1979, de volta ao Juventus, cumpriu trajetória durante mais quatro anos, o derradeiro coroado com a conquista da Taça de Prata (antiga segunda divisão nacional), numa equipe que contava com o então lateral-direito Nelsinho Baptista e o meia Gatãozinho.

Deodoro José de Almeida Leite, natural de Piracicaba (SP), saiu de cena como atleta em 1984, com passagens pelo Garça e Nacional, da capital paulista. E ficou marcado como quem, apesar da compleição física avantajada, não se valia do jogo violento contra adversários.

Transtornado ficou contra a arbitragem de jogo de seu Juventus contra o Corinthians, em 1981, ao impedir cobrança de pênalti marcado equivocadamente contra a sua equipe. Logo, a arbitragem deu a partida por encerrada antes do tempo regulamentar, com registro de empate por 2 a 2.

No relato da súmula, havia indicação para que o time juventino fosse penalizado, mas o TJD (Tribunal de Justiça Desportiva) da FPF (Federação Paulista de Futebol) manteve o resultado da partida.


segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Argentino Fischer foi ídolo do Botafogo (RJ) nos anos 70

O futebol brasileiro está infestado, como nunca, de jogadores oriundos de países sul-americanos. Até clubes de porte médio e pequeno fizeram investimentos neles, o que nos remete a décadas passadas, quando basicamente as chamadas grandes agremiações os importavam, principalmente no Sul do País.

Pelo Grêmio passaram os paraguaios Arce e Rivarola - lateral-direito e zagueiro, respectivamente -, além dos zagueiros uruguaios Ancheta e De Leon, entre outros. No Inter (RS) jogou o zagueiraço chileno Elias Figueroa, nos anos 70, mesmo período que o saudoso argentino Roberto Perfumo fez sucesso no Cruzeiro . Antes deles, o goleiro argentino Andrada ficou marcado, na passagem pelo Vasco, por ter sofrido o milésimo gol de Pelé. Ele morreu em 2019, aos 80 anos de idade.

Daquela leva que vinha pra cá, também deve ser citado o centroavante Rodolfo Fischer, falecido em 2020, que marcou época no Botafogo (RJ) de 1972 a 75, identificado apenas pelo sobrenome. Ele veio da Argentina, revelado pelo San Lorenzo, em transação intermediada pelo saudoso treinador Tim, seu velho conhecido. E soube explorar a elevada estatura para cabeçadas certeiras na bola, o que o credenciou entre os principais artilheiros das competições, mas também explorava a qualidade técnica com a bola nos pés e velocidade.

No Botafogo, ele fez dupla de ataque com Jairzinho, o furacão da Copa de 70, mas paradoxalmente é lembrado por botafoguense da época pelo gol perdido na final do Campeonato Brasileiro de 1972, contra o Palmeiras, quando, quase no final da partida, ficou cara a cara com o então goleiro Emerson Leão e chutou a bola na trave, quando poderia ter definido o título ao seu clube. Como o empate sem gols favoreceu ao Verdão, há quem jura ter testemunhado que, raivoso pelo gol perdido, ele teria 'esfaqueado' a bola.

Antes do regresso à Argentina, ainda passou pelo Vitória (BA), com histórico de 31 gols em 41 jogos. A carreira foi prolongada no San Lorenzo, Once Caldas da Colômbia, nos argentinos Sarmiento e Sportivo Belgrano, onde encerra a carreira em 1981.

E por ter defendido a seleção de seu país entre 1967 e 1972, com histórico de 12 gols, sempre era citado pelo mídia portenha. Como curiosidade, antes do ingresso no futebol, ele chegou a estudar um ano na Faculdade de Odontologia de Rosário (ARG), mas prevaleceu o sonho de ser jogador de futebol.


domingo, 14 de janeiro de 2024

Amaral, ex-volante que debocha de si mesmo

No futebol, há jogadas imortalizadas além de gols e grandes defesas. Exemplo: o drible elástico que o ex-centroavante Romário, pelo Flamengo, aplicou no então volante Amaral, com a camisa do Corinthians, em 1999, pelo Torneio Rio-São Paulo, com goleada da equipe carioca por 3 a 0, no Estádio do Pacaembu -, com dois gols do Baixinho, um deles na sequência do citado drible.

Quem sofre drible estonteante como aquele fica irritadíssimo, mas Amaral ainda debocha de si mesmo, reconhecendo que perdeu o rumo naquela jogada. Só que a carreira dele foi marcada pela eficiência no desarme e alegria dentro e fora de campo.

A designação Amaral nada tem a ver com o nome de registro em cartório, que é Alexandre da Silva Mariano, natural de Capivari, cidade do interior paulista, na iminência de completar 51 anos de idade. E ele não esconde ter trabalhado em funerária antes de ingressar no futebol, mas corrige desinformados que sarcasticamente citam ter sido coveiro.

Da carreira, iniciada nas categorias de base do Palmeiras, chegou à Seleção Brasileira no biênio 1995/96, ano que participou dos Jogos Olímpicos de Atlanta, nos Estados Unidos. E foi marcada por vaivém Brasil-Europa, com passagens controvertidas em clubes do 'velho mundo', pela dificuldade de comunicação. Se o domínio da língua portuguesa facilitou ingressos no Sport Lisboa e Benfica, a situação não foi a mesma no Parma e Fiorentina da Itália e Beşiktaş da Turquia. Entretanto, nada se compara quando esteve no Pogón Szczecin, da Polônia, pois além de ter sido vítima de racismo, correu risco de expulsão de partida pela dificuldade com o idioma.

Ao gritar para outro jogador brasileiro colocar mais curva na bola, o árbitro o ameaçou com o cartão vermelho. “Eu não sabia que curva, lá na Polônia, é filho da p... A minha sorte é que um jogador que falava polonês explicou para ele e tudo ficou bem", recordou, mas, apesar dessas inconveniências, ainda jogou no exterior no Perth Glory da Austrália, além do Manado United e Persebaya Surabaya da Indonésia.

Essas passagens foram intercaladas em clubes brasileiros como Corinthians, Vasco da Gama, Grêmio (RS), Vitória, Atlético Mineiro, Santa Cruz, Grêmio Barueri, Grêmio Catanduvense e Capivariano, que integrava a Série A2 do Campeonato Paulista. Depois ele ainda participou do realit show 'A Fazenda', de 2015, da TV Record.

domingo, 7 de janeiro de 2024

Adeus ao velho lobo Zagallo

Quando Mário Jorge Lobo Zagallo completou 80 e 90 anos de idade foi feita reprodução do histórico dele, inicialmente como atleta de América, Flamengo e Botafogo (RJ) na década de 50 e que se estendeu até 1963. Depois, a polêmica trajetória como treinador e coordenador técnico, com rótulo do único tetracampeão mundial pela Seleção Brasileira.

Desde os 80 anos de idade, quando desfrutava de merecida aposentadoria, a saúde dele já estava debilitada, após retirada de um tumor no aparelho digestivo. Com o falecimento, o cenário apontou ao desavisado que ele era unanimidade, mas na prática, em 1997, ao conquistar a Copa América pela Seleção Brasileira, devolveu provocação de parte da imprensa com frase que imortalizada: "Vocês vão ter que me engolir".

Enquanto atleta, Zagallo tinha fôlego privilegiado, o que lhe permitiu que incorporasse o estilo de fechar espaços no meio de campo, para ajudar na marcação, mudando a característica do time de 4-2-4 para 4-3-3. E assim foi titular nas Copas de 1958 e 1962. Na primeira conquista da Seleção Brasileira, na Suécia, marcou o quarto gol da goleada por 5 a 2 sobre os anfitriões. E após isso, trocou o Flamengo pelo Botafogo, e se juntou a astros como Garrincha, Quarentinha, Didi, Amarildo.

Zagallo foi técnico do juvenil botafoguense e, na sequência, comandou os profissionais, sem projetar que seria o sucessor de João Saldanha no selecionado canarinho de 1970, que sagrou-se tricampeão mundial no México. Todavia, durante a preparação, ousou colocar Pelé no banco de reservas em amistoso contra a Bulgária, com a camisa 13, número de sua superstição.

Quatro anos depois, na Alemanha, Zagallo subestimou o forte selecionado holandês ao citar que não o conhecia e que ele deveria se preocupar com o Brasil. Pagou para ver e viu a eliminação brasileira na semifinal. Incontinenti ficou quase oito anos na Arábia Saudita, voltou a comandar clubes brasileiros, até que em 1994, como coordenador técnico da Seleção, sagrou-se tetracampeão nos Estados Unidos.

Depois, de volta ao comando técnico do selecionado, protagonizou aquela coreografia imitando um aviãozinho, ao devolver provocação do treinador da Seleção da África do Sul, num amistoso em que o Brasil ganhou de virada por 3 a 2, em Johanesburgo, em 1996. Dois anos depois, foi o comandante na perda do Mundial para a França.




Primeiro grito de 'Pelé morreu' foi fake; segundo, infelizmente, verdadeiro

Em decorrência do primeiro ano da morte do 'rei' Pelé, no dia 29 de dezembro de 2022, cabe recapitulação da coluna então publicada, com citação inicial sobre um equivocado grito 'Pelé morreu' no dia três de dezembro de 1967, quando, no Estádio Brinco de Ouro, o então ponteiro-esquerdo Edu Jonas cruzou e Pelé mergulhou na bola. Ou melhor: ficou na horizontal, em situação paralela ao gramado.

    Ao se atirar na bola, em tempo de encontrá-la e mandá-la ao fundo das redes do finado goleiro Dimas, do Guarani, naquele empate por 1 a 1, o susto foi geral. Detalhe: após a testada, a cabeça do 'rei' continuou 'voando' e colidiu violentamente contra a antiga trave de madeira do lado esquerdo, sentido cabeceira norte.

    Desacordado, silêncio generalizado no estádio. Quase cinco minutos depois, ainda estático no gramado, alguém nas dependências vitalícias do Guarani gritou: 'Pelé morreu'. Pior é que o dito cujo da fake news estava com radinho de pilha colado ao ouvido, aumentando a suspeita de informação possivelmente colhida por repórter no gramado.

    Pronto. Semblantes constritos de torcedores. Lágrimas começaram a brotar de quem já imaginava o pior, pela proporção do choque.

    E quando Pelé 'ressuscitou', aqueles, como eu, já precipitadamente 'enlutados', o aplaudimos de pé. Assim, no 29 de dezembro de 2022, bem que gostaríamos que aquele grito de 'Pelé morreu' fosse mais um igual ao de três de dezembro de 1967, mas quis o destino que não fosse.

    Aos 82 anos de idade, em decorrência de um câncer no colo ter avançado para outros órgãos, Pelé partiu para outro destino, na certeza que jamais será superado enquanto mundo for mundo. Dele, com a singular voz grave, já não mais ouviremos a palavra mais repetida durante as entrevistas: 'entendeu?'.

    E pra matar saudade daquele grito mentiroso 'Pelé morreu', de dezembro de 1967, eis a ficha técnica daquele empate por 1 a 1, com registro de frangaço do saudoso goleiro Gylmar em chute de Milton dos Santos. O Santos, do técnico Antoninho, contou com Gylmar; Lima, Ramos Delgado, Joel e Rildo; Clodoaldo e Buglê; Edu, Toninho, Pelé e Abel. Já o Guarani, de Alfredinho Sampaio, com Dimas; Miranda, Paulo, Tarciso e Diogo; Tonhé e Milton dos Santos; Carlinhos, Osvaldo, Parada e Wagner. A arbitragem foi de Etelvino Rodrigues.


Yustrich, o ‘homão’ encrenqueiro

Os berros de técnicos de futebol que ecoam pelos gramados são ‘fichinhas’ se comparados aos estilos de disciplinadores como Flávio Costa, Osvaldo Brandão e Yustrich, já falecidos. Num jogo do Vasco contra o América-RJ em 1950, pelo Campeonato Carioca, o meia vascaíno Ipojucan se dirigiu a Flávio Costa, no intervalo, e pediu para sair, com alegação de que não passava bem. Diz a lenda que Flávio Costa, irritado com a derrota parcial por 1 a 0, esbofeteou o jogador e exigiu que continuasse em campo. Conclusão: o Vasco virou o placar para 2 a 1 e Ipocujan ‘deitou e rolou’.

Dorival Knipel, o Yustrich, teve rico histórico como goleiro do Flamengo nas décadas de 30 e 40, quando conquistou os títulos em 1939 e 1942, o que lhe abriu portas como treinador nos principais clubes do Rio de Janeiro.

Metido a valentão, Yustrich comprava brigas com jogadores, imprensa e até companheiros de profissão. Ganhou o apelido de ‘homão’ porque era alto e forte. Se inovou ao exigir mesa farta de frutas para boleiros após treinos e jogos, impunha contestável estilo militar no comando dos grupos e arrumava encrencas.

Em 1971, por exemplo, quando era treinador do Flamengo, barrou o talentoso argentino Doval - já falecido - porque não admitia jogadores de cabelos compridos. Yustrich desconsiderou habilidade, velocidade, boa impulsão e gols daquele ponteiro-direito, um gringo loiro, olhos azuis e que fazia sucesso com a mulherada nas boates da zona sul do Rio de Janeiro. Acreditem: Doval voltou ao futebol argentino por empréstimo e Yustrich - que também tinha ojeriza por barbudos - ficou na Gávea.

Dois anos antes, Yustrich só escapou da ira do técnico João Saldanha porque não estava na concentração do Flamengo, time que treinava. Saldanha comandava a Seleção Brasileira e já estava desgastado devido ao temperamento igualmente explosivo. E entre o bombardeio de críticas somava-se a de Yustrich, que o caçoou após derrota num amistoso por 2 a 0 para o Atlético Mineiro. E não é que Saldanha, com revólver na cinta, invadiu a concentração do Mengo, em São Conrado, para ajuste de contas! Sorte que o ‘homão’ não estava lá.


O pior, para Yustrich, estava reservado na década de 70, quando era treinador do Cruzeiro. Peitudo, decidiu substituir Brito durante uma partida e o irado zagueiro tricampeão mundial, ao se aproximar do banco de reservas, atirou a camisa suada no rosto do treinador.


Claro que Brito saiu correndo! Seria suicídio enfrentar aquele brutamente, mesmo envelhecido. O objetivo de humilhar o ‘homão’ estava consumado.


Apesar dos métodos rigorosos e polêmicos, Yustrich sempre colocou as equipes que dirigiu nas primeiras posições em diferentes competições. Por isso era requisitado por grandes clubes, sendo que o Atlético-MG foi aquele em que mais se identificou e foi campeão regional em 1977.



Roger Machado

 Roger Machado

Marcelinho Paulista

 Marcelinho Paulista