sábado, 25 de abril de 2020

Marcelinho Carioca justificava apelido de 'pé de anjo'


 Da mesma forma que alfinetava goleiros adversários com mortíferos disparados em chuteira número 36, o então meia Marcelinho Carioca, apelidado de 'pé de anjo', alfineta o treinador do Corinthians Tiago Nunes pelo fracasso da equipe na Libertadores e Paulistão desta temporada: “A responsabilidade dele é total”.

 Marcelinho, nascido e registrado no Rio de Janeiro com nome Marcelo Pereira Surcin, em dezembro de 1971, tem propriedade para opinar. Afinal, entrou para a história do Corinthians como um dos principais jogadores de todos os tempos, e inigualável em cobranças de faltas. Foram 59 gols, proporção que supera um quarto da totalização daqueles marcados, que chegaram a 206 em 433 jogos.

 A peculiaridade ao bater na bola em cobranças de faltas o habilita a criar curso online para discípulos se aprimorarem. E o aviso a amadores e profissionais que se candidatarem é que a evolução só será possível caso dispendam horas e horas de treinamento para cálculo da curva na batida de trivela na bola.

 A trajetória dele no futebol foi mal dimensionada pelo Flamengo, onde se profissionalizou. É que em dezembro de 1993, para cobrir rombos de salários de medalhões, dirigentes do clube negociaram o passe com o Corinthians, ignorando o desejo dele de permanecer no Rio de Janeiro.

 Com rápida adaptação à então desconhecida capital paulista, Marcelinho caiu no gosto da galera corintiana. E distinguido pelo nome composto para se diferenciar do volante Marcelinho Paulista, que já estava no clube. Assim, a primeira passagem se arrastou até 1997, quando o Valência da Espanha veio buscá-lo, sem contar que ele não se adaptaria por lá, e por isso abriu preço de US$ 7 milhões - cerca de R$ 14 milhões - para interessados em repatriá-lo.

 Como o alto custo afastou manifestantes, Eduardo José Farah, então presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol) lançou campanha Disque-Marcelinho, com cada telefone ao custo de R$ 3, visando arrecadar o valor. E venceria o concurso aquele clube que tivesse maior adesão de torcedores, com vitória do Corinthians, mas prejuízo à FPF pela fracassada promoção.

 Marcelinho Carioca brilhou no Corinthians até 2001, quando saiu após briga com o meia Ricardinho. Aí perambulou, retornou em final de carreira, e depois esteve ligado aos meios políticos e ao atuar como jornalista profissional.

domingo, 19 de abril de 2020

Aos 53 anos de idade, Kazu é recordista no futebol


Na década de 70, raros eram os jogadores de futebol profissional que venciam a barreira dos 36 anos de idade. O magricelo volante Lorico, no Botafogo de Ribeirão Preto, foi uma das exceções ao encerrar a carreira aos 38 anos de idade. Nas passagens por Vasco, extinta Prudentina e Portuguesa atuou como meia, mas já no Noroeste foi recuado. Ele morreu em 2010, na cidade de Santos.

O mundo do futebol viu a carreira do goleiro Manga se estender até os 45 anos de idade no Barcelona de Guayaquil, do Equador. O histórico mostra passagem pela Seleção Brasileira na disputa da Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Em clubes foi idolatrado por torcedores de Botafogo (RJ) e Inter (RS), nas décadas de 60 e 70, respectivamente. Em setembro passado, aos 80 anos de idade, doente, foi acolhido por simpatizantes do Nacional (URU), que providenciaram transferência de país, a fim de que se submetesse a tratamento real.

No Brasil, exemplo mais recente de longevidade de atleta no futebol foi Zé Roberto, lateral-esquerdo nos tempos de Lusa, Santos, Grêmio, Real Madrid (ESP) e Bayern de Monique (ALE), mas no Palmeiras, a partir de 2015, foi transformado em meia, com carreira estendida até 2017.

Aí o atacante japonês Kazuyoshi Miura, o Kazu, atingiu recorde mundial que provavelmente jamais será batido no segmento. No dia 26 de fevereiro passado, ao completar 53 anos de idade, estava vinculado ao Yokohama do Japão, equipe que havia retornado à divisão principal daquele país, e com contrato vigente até dezembro.

Três anos antes Kazu já havia superado a marca do inglês Stanley Mattheus, que jogou até os 50 anos de idade e sete dias, em 1965. Convencionando-se a hipótese de que não seja vitimado por lesões, o japonês tem propósito de estender ainda mais a carreira iniciada na base do Juventus em 1982, quando aos 15 anos de idade chegou sozinho ao Brasil, bancado por um pai milionário. E pela características de velocidade pelo lado esquerdo, a carreira foi estendida em clubes brasileiros como Palmeiras, Santos, Coritiba, Matsubara, CRB e XV de Jaú, até que em 1990 optou pelo retorno ao Japão.

Em 2012 havia migrado para o futsal e até disputou o mundial da modalidade na Tailândia pelo seu país. Todavia, a inclinação pelos gramados implicou no retorno a clube japonês, visto que à época não havia perda considerável da preparação física.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Clebão, atacante que achou a sua posição na zaga


Quando chegou ao Palmeiras em 1993, o zagueiro mineiro Cléber Américo da Conceição foi identificado apenas pelo prenome. Logo, aquela caixa torácica avantajada, que impunha respeito a atacantes adversários nas divididas, foi suficiente para que caracterizassem-no no aumentativo: Clébão. E no jogo aéreo também foi soberano, ao explorar a singular impulsão com aquele 1,82m de altura.

Aos 13 anos de idade, integrante de família pobre, aquele brutamonte do Cléber não teria como estranhar o emprego de carregador de caixas em supermercado. Precocidade no trabalho implicou facilmente em adaptação em fábrica de linguiça, mas a vocação pelo futebol o levou ao desafio de teste peneira no Atlético Mineiro, porém na função de atacante, já que à época mostrava relativo domínio de bola.

Sabe-se lá quem 'mediu' Cléber do pé à cabeça, constatou semelhança com porte físico de zagueiros do tipo Ditão e Moisés de Corinthians de décadas passadas, e imaginou que com lesões de dois jogadores da posição no juvenil, não seria descabida a improvisação do então pretendente à artilharia. E como Cléber desarmava melhor que os antecessores, sabia usar rispidez para se impor, foi fixado naturalmente na posição.

Jogador de personalidade, não se abateu com a goleada por 4 a 1 sofrida para o rival Cruzeiro em 1987, na estreia. Assim, dois anos depois o Logroñes, da Espanha, veio buscá-lo, e quando lá esteve foi convocado à Seleção Brasileira. O regresso ao Brasil, em 1993, foi decorrente da montagem do seleto time palmeirense, quando de imediato barrou o zagueiro Tonhão e conquistou bicampeonato brasileiro e Paulistão.

Assim, a trajetória no Verdão se estendeu até 1999, ano do título da Libertadores, quando gradativamente foi perdendo espaço na equipe para Roque Júnior e Júnior Baiano. O Cruzeiro apostou que recuperasse a velha forma, sem que ele ratificasse o passado, como se repetiu na sequência em Santos, Yderdon da Suíça e Figueirense, quando frequentes lesões o prejudicaram ainda mais.

Em 2006, aos 37 anos de idade, com propensão para engordar, encerrou a carreira no São Caetano, certo que continuaria no meio. Topou proposta para ser coordenador de futebol de América (MG) e Mogi Mirim, posteriormente treinou Rio Claro, Araxá (MG) e Poços de Caldas, mas a vocação ficou demonstrada como executivo de futebol.

sábado, 4 de abril de 2020

Adeus ao goleiro João Marcos, aos 66 anos de idade


A morte do ex-goleiro João Marcos Coelho da Silva no dia dois de abril passado, aos 66 anos de idade, com passagem pelo Palmeiras nos três anos que precederam 1983, remete à discussão sobre companheiros de profissão que enveredam ao alcoolismo quando do encerramento da carreira. Embora tenha travado luta titânica para vencer a doença - assim considerada pela Ordem Mundial da Saúde -, os desdobramentos foram letais, após complicações no esôfago.
Esse vício maldito não escolhe gênero, classe social e idade. Compromete seriamente o bom funcionamento do organismo, porque é uma doença lenta e progressiva que pode levar à morte. O processo de recuperação é cheio de obstáculos, mesmo com ajuda psicológica e do núcleo dos Alcoólicos Anônimos, cuja filosofia de superação é conscientizar o viciado a uma vitória em cada dia.
Em determinado estágio da doença o reflexo é irreversível, como foi o caso de João Marcos, vítima do uso constante, descontrolado e progressivo da bebida. Ele se submeteu ao processo de internação para desintoxicação em 2010, na cidade de Mogi das Cruzes, tinha determinação para vencer o desejo do próximo gole, considerava-se curado, e até dava palestras orientando sobre o malefícios do vício.
Restou o histórico do atleta João Marcos, natural de Botucatu (SP), revelado pela base do Guarani em 1971, quando teve como companheiros, entre outros, o meio-campista e hoje jornalista Roberto Diogo, lateral-esquerdo Ricardo Cascorão, meio-campistas Ednaldo e Eli Carlos, e Washington. Todavia, promovido ao profissional, jamais se firmou como titular, e a partir de 1975 seguiu a carreira no São Bento de Sorocaba e Noroeste, ambos do interior paulista. Depois foi levado ao Palmeiras, quando atingiu o pico da carreira marcada por elasticidade e coragem para sair da meta. Ele atuou num time formado por João Marcos, Perivaldo, Wagner Bacharel, Nenê Santana e Márcio; Batista, Cléo, Carlos Alberto Borges e Jorginho; Carlos Alberto Seixas e Carlos Henrique.
Em 1984 realizou a única partida na Seleção Brasileira, na vitória por 1 a 0 em amistoso contra o Uruguai. No mesmo ano, no Grêmio, a atribuição seria substituir o goleiro Mazaroppi, mas após 69 jogos o ombro lesionado implicou em falha, quando largou a bola nos pés do saudoso Kita, que marcou para o Inter. Ano seguinte ainda tentou jogar no Novorizontino, mas em vão.

Perivaldo, história de um ídolo que perdeu tudo


Décadas passadas jogador de futebol trilhava carreira sem assessoria de empresários. Fazia aquilo que dava na telha. Curtia bebedeiras, mulherada, e torrava o dinheiro sem dó. Inserido neste contexto estava o baiano Perivaldo Lúcio Dantas, lateral-direito que chegou à Seleção Brasileira em 1981, e na disputa direta por vaga à Copa do Mundo de 1982 foi cotado até no dia convocação, ao ser preterido por Edevaldo, jogador da posição do Inter (RS), visto que o titular absoluto era Leandro, do Flamengo.
Boa cotação do Peri da Pituba deu-se pela regularidade no Botafogo (RJ) nos cinco antes que precederam a transferência ao Palmeiras em 1983. À época, aquelas passadas largas permitiam que chegasse com facilidade ao fundo de campo quer para cruzamentos, quer para se infiltrar por dentro e finalizar com aceitável pontaria. Assim, ora fazia gols, ora dava assistências.
Como a fascinante carreira de atleta um dia acaba, Perivaldo não se deu conta disso. Continuou a vida de gastança, mesmo sabendo que não se enquadraria em outras funções no futebol. Foi atrás de oportunidade em Portugal, porém sem sucesso. Acabou, sim, flagrado pelo programa 'Fantástico', da Rede Globo, em 2013, vendendo roupas usadas na feira da ladra de Lisboa. Na ocasião, seu testemunho serve de alerta a boleiro descabeçado.
- Erro foi meu. Vim pra cá e fiz tudo errado. Foi a 'morte' do artista. Gastei tudo. Emprestei dinheiro a amigo para compra de ações, e ele desapareceu com o dinheiro. Não uso droga, mas tomo uma bebidazinha.
O diminutivo colocado por Perivaldo foi apenas força de expressão. Na prática enchia a cara de cachaça e tocava a vida em quarto alugado, já sem contato com familiares. Aí o Sindicato dos Atletas Profissionais do Rio de Janeiro providenciou o regresso ao Brasil.
Cabelo estilo Bob Marley, ele morreu no dia 27 de julho de 2017, vitimado por pneumonia, aos 64 anos de idade. E deixou histórico a não ser seguido por quem milita na profissão. Devem se mirar apenas nos tempos de ídolo do Botafogo, em time formado por Paulo Sérgio; Perivaldo, Gaúcho, Gaúcho Lima e Jorge Luís; Rocha, Ademir Lobo e Mendonça; Ziza, Mirandinha e Jerson. Ou então no Palmeiras de João Marcos; Perivaldo, Luiz Pereira, Wagner Bacharel e Carlão; Rocha, Márcio, Carlos Alberto Borges e Jorginho Putinatti; Baltazar II e Capitão.

Zagueiro Chicão, exímio cobrador de faltas


Em período de carência de atletas que convertam gols em cobranças de faltas no futebol brasileiro, registra-se a história do ex-zagueiro Chicão, com alto índice de aproveitamento neste quesito, principalmente durante a passagem de quase seis anos pelo Corinthians, a partir de 2008. Da carreira iniciada no Mogi Mirim em 2000, e prolongada até o final de 2015 no Bahia, o atleta totalizou 85 gols, percentual que supera 10% das partidas disputadas no período, que foram de 587 jogos.
Apenas com a camisa do Corinthians Chicão marcou 42 gols, parte deles em desdobramentos de jogadas de bola parada. Apesar da estatura de 1,81m de altura, tinha boa impulsão e os gols de cabeça saíam com naturalidade. Ainda no clube, foi absoluto na posição até 2011, quando cedeu o posto para Paulo André, mas o retomou na temporada seguinte, quando de memoráveis campanhas da equipe, com conquistas de Libertadores da América e Mundial de Clubes.
Na mais significativa conquista da história do clube, no enfrentamento com o Chelsea da Inglaterra, o gol da vitória por 1 a 0 foi anotado pelo atacante peruano Guerrero. Naquele jogo disputado no Japão, com 68.275 pagantes, o time comandado pelo treinador Tite teve essa formação: Cássio; Alessandro, Chicão, Paulo André e Fábio Santos; Ralf, Paulinho e Danilo; Jorge Henrique, Guerrero (Martinez) e Emerson Sheik (Wallace).
Exagera quem cita Chicão como zagueiro de alto nível técnico. Foi sim o típico jogador de superação, por vezes até viril, que procurava jogar simples e travava acirrados duelos com atacantes adversários. Na carreira, foi ganhando degraus. Passou por Portuguesa Santista, América (SP), Juventude e Figueirense antes da chegada ao Timão. Em 2013, já no Flamengo, inicialmente manteve o rendimento, mas ao longo de um ano e meio já não desfrutava do mesmo prestígio. Assim fez do Bahia o último estágio na carreira, no final de 2015.
Ao ingressar com ação trabalhista contra o Corinthians, o Tribunal Superior do Trabalho lhe deu ganho de causa em 2018, em valor estimado de R$ 1,5 milhão. À época o Corinthians alegou que recorreria ao Superior Tribunal Federal.
Quem supõe que o apelido de Chicão seja decorrente do nome de registro como Francisco se engana. Ele se chama Anderson Sebastião Cardoso, é natural de Mogi Guaçu (SP), e hoje é auxiliar técnico do Boa Esporte (MG).

Adeus ao ex-lateral-direito Jair Marinho


Há cinco anos o ex-lateral-direito Jair Marinho, radicado em Niterói (RJ), ainda impressionava pela força física e dava aulas em escolinha de futebol. Nos últimos dois anos, mesmo após ter sofrido quatro AVCs transitórios, ele mostrava uma resistência creditada a herança de família. É que a mãe dele, Leonor Albina, morreu aos 116 anos. Aí, novo AVC em fevereiro passado foi resistido até sete de março passado, com morte aos 83 anos de idade.
A principal referência que se tem de Jair Marinho foi ter sido reserva do saudoso Djalma Santos na Copa do Mundo de 1962, no Chile, por ocasião da conquista do bicampeonato mundial, mas não jogou naquela competição. Por sinal, chegou ao selecionado na temporada anterior e atuou em apenas cinco jogos, um deles não oficial.
Para caracterizar estilo de jogo de Jair Marinho é necessário contextualizar quais as funções cobrava-se de lateral nas décadas de 50 e 60, que não foram outras se não a marcação. Com 1,73m de altura, valia-se da caixa torácica avantajada e vigor físico para ganhar disputa no chamado 'jogo de corpo', e assim evitar ser batido na velocidade. Afora isso, tinha o adequado tempo de bola para 'chegar junto' nas disputas, e versatilidade de uso dos dois pés para evitar dribles daqueles que tentavam fazer a diagonal.
Natural de Santo Antônio de Pádua (RJ), Jair Marinho começou a integrar a equipe do Fluminense em 1956 e prosseguiu até 1964, totalizando 258 jogos. Falante, rasgava elogios ao saudoso treinador Zezé Moreira, embora levasse bronca se errasse mais de três passes ao longo de uma partida. Na temporada de 1959, quando da conquista do estadual e bi do Torneio Rio-São Paulo, o time tinha essa formação: Castilho; Jair Marinho, Pinheiro, Clóvis e Altair; Edmilson e Maurinho; Telê Santana, Valdo, Jair Fancisco e Escurinho.
Na vinda a São Paulo, atuou durante o primeiro ano na Portuguesa. Na passagem pelo Corinthians, ficou até 1967. E no característico estilo gozador, foi logo avisando ao então companheiro Rivellino para que não se atrevesse tentar aplicar-lhe o drible elástico durante treino, se não levaria botinada. Apesar da propensão pra ganhar peso, a carreira ainda prosseguiu com regularidade no Vasco, quando atuou em defesa formada por ele, Brito, Fontana e Oldair. As últimas passagens foram no Alianza Lima (PER) e Campo Grande (MS).