domingo, 27 de maio de 2018

Saudoso treinador Carlinhos priorizava a técnica


 A cada convocação de jogadores à Seleção Brasileira visando à Copa do Mundo, é praxe opiniões de que alguém teria sido injustiçado ao não figurar na lista, como foi o caso do saudoso volante do Flamengo Luís Carlos Nunes da Silva, o Carlinhos, falecido dia 22 de junho de 2015, aos 77 anos de idade, devido à complicações no sistema circulatório. Ele não escondia a mágoa com o igualmente saudoso treinador Aimoré Moreira, que o relegou à Copa do Mundo de 1962 no Chile, quando o Brasil conquistou o bicampeonato.

 À época, Carlinhos desarmava sem recorrer às faltas, e tinha estilo elegante no domínio de bola e transição ao ataque. Logo, era considerado superior ao concorrente Zequinha, do Palmeiras, reserva de Zito naquela Copa. Por isso esperava pela vaga, mas a única oportunidade na Seleção ocorreu em 1964, num amistoso contra Portugal.

 Como nos tempos de atleta do Flamengo, de 1958 a 1969, Carlinhos fazia o time jogar por música, e por isso foi apelidado de violino. Do histórico de 517 partidas pelo clube, marcou 23 gols e recebeu o troféu Belfort Duarte, destinado a jogadores sem expulsão na carreira. Também participou da final do Campeonato Carioca de 1966, na tumultuada partida em que o Flamengo perdeu para o Bangu, com público de 143.978 pagantes, no Estádio do Maracanã. Eis o Mengão da época: Franz; Murilo, Ditão, Jaime e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Carlos Alberto, Almir Pernambuquinho, Silva e Osvaldo II.

 Após pendurar as chuteiras como atleta, Carlinhos não deixou de frequentar a sede da Gávea. Era viciado no baralho, com preferência pelo buraco. Assim, bastava o Flamengo enroscar em competições para que fosse chamado como técnico tampão. E isso se repetiu por cinco vezes a partir de 1983, sempre tentando fazer o time jogar ao seu estilo técnico e ofensivo.

 Ele se preocupava com a preparação do time no pré-jogo. Para valorização de posse de bola, exercitava treinos dois toques em apenas metade do gramado. Assim aproximava os jogadores para viabilizar o desarme, sem que praticassem faltas.

 Diferentemente da treinadorzada que esgoela à beira do gramado, a voz mansa e fina dele só era ouvida, do banco de reservas, quando o boleiro de seu time aparecia para cobranças de laterais. Ele trabalhou ainda no Guarani e Remo.

De Sordi fica fora da foto


 Vésperas de Copa do Mundo, cabem recapitulação de histórias de brasileiros que lá estiveram. Nilson de Sordi, falecido em 24 de agosto de 2013, aos 82 anos de idade, foi titular da lateral-direita do selecionado de 1958 até a partida final contra a Suécia.

 Diz a lenda que ele teria amarelado e simulado lesão muscular, acusação que o deixava irritado e por isso a rechaçava: “Levei em conta a temeridade de entrar em campo machucado. Na época, a Fifa não permitia substituição. Caso arriscasse, podia prejudicar o time”, explicou.

 Ao ficar de fora do time e da foto oficial do título mundial brasileiro, possibilitou que o substituto Djalma Santos tivesse atuação exuberante contra a Suécia, em Estocolmo, na goleada brasileira por 5 a 2, que resultou no rótulo de melhor jogador da posição daquele Mundial. Também terminava ali a trajetória de De Sordi na Seleção, com 25 jogos.

 Restava, portanto, seguir a trajetória no São Paulo, iniciada em 1952, ao deixar o XV de Piracicaba (SP), aos 18 anos de idade. No tricolor ele ficou até 1965, onde comemorou títulos do Paulistão de 1953 e 1957, o último após vitória por 3 a 1 sobre o Corinthians, num time formado por Poy; De Sordi e Mauro; Sarará, Vitor e Ribeiro; Maurinho, Amauri, Gino, Zizinho e Canhoteiro.

 Na época, o treinador era o húngaro Bela Gutman, que fixou estacas de madeiras no gramado e pediu aos jogadores que acertassem a bola em cada uma delas, com chutes de 20m de distância. Como bom provocador, Gutman acertou todos os alvos.

 De Sordi sobressaía-se na marcação. Pouco se atrevia passar do meio de campo. Com vigor físico invejável, ganhava a maioria dos duelos de ponteiros, e ainda fazia coberturas no miolo de zaga. Apesar da estatura mediana - 1,71m de altura -, explorava a boa impulsão para rebater bolas de cabeça.

 O piracicabano, que parou de jogar em 1966 no União Bandeirantes - interior do Paraná -, havia se acomodado na cidade, no sossego da família em sua fazenda. Todavia, por influência de dois filhos agrônomos, foi convencido a mudar para João Pessoa, capital da Paraíba, e citou ter ouvido lá incontáveis histórias de pescadores, que exercem uma das principais atividades econômicas naquela cidade.

 Foi quando, vitimado pelo Mal de Parkinson, teve dificuldade na fala até morrer de falência múltiplas dos órgãos.

domingo, 6 de maio de 2018

Bebeto, da bola à política


 Consagrado boleiro de Seleção Brasileira, Bebeto abria entrevista citando ‘ouvintes meus cumprimentos’. Ao manter a notoriedade como deputado estadual do Rio de Janeiro, desde de 1º de fevereiro de 2011, se habituou a chamar políticos da casa de vossa excelência ou nobre parlamentar.


 Naquela casa de leis, José Roberto Gama de Oliveira - que integra a bancada do PDT - apresentou projeto de implementação de resgate de meninos de rua de seis a 16 anos de idade, um prolongamento do Instituto Bola Para Frente, criado em 2000. À época, lateral Jorginho e volante Dunga, companheiros de seleção, integravam a parceria.

 Atacante veloz, hábil e oportunista para enfrentar goleiros, Bebeto marcou época em duas passagens por Flamengo e Vasco, e contratos com Botafogo do Rio de Janeiro e Cruzeiro. Na Seleção Brasileira, se orgulha de ter participado da conquista do tetracampeão mundial em 1994, nos Estados Unidos. Na época, comemorou gol diante da Holanda com coreografia embala-neném, uma homenagem ao filho Matheus, recém-nascido.

 Baiano de Salvador, Bebeto não tinha projeto de ingresso imediato na vida pública. A prioridade era ‘decolar’ na carreira de treinador de futebol, e o primeiro degrau da escala foi no América (RJ), através da oportunidade dada pelo então coordenador técnico Romário, hoje Senador da República (RJ). Os resultados de jogos não foram satisfatórios, ele acabou demitido, e aí se explica o desafio de disputar eleição legislativa.

 A aparição dele no futebol deu-se no Vitória (BA) em 1983, onde retornou em 1997, patrocinado pelo Banco Excel-Econômico. A transferência ao Flamengo, pouco depois da profissionalização, deu-lhe visibilidade nacional e os títulos do carioca em 1986 e da Copa União em 1988. Na época já havia se especializado em marcar gols de voleio.

  A saída para jogar no rival Vasco em 1989 criou mal-estar entre flamenguista, e isso foi perceptível na segunda passagem pela Gávea, em 1996. Na primeira passagem como vascaíno, ganhou o Brasileirão logo de cara, e Campeonato Carioca em 1992, ano em que se transferiu ao La Coruña da Espanha, onde ficou durante três temporadas, com passagem ainda pelo Sevilla. Ele jogou anda no Toros Neza do México, Kashima Antlers do Japão e Al-Ittihad da Arábia Saudita em 2002, quando encerrou a carreira aos 38 anos de idade.