segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Lusa, quem te viu; quem te vê!

 A decadência da Portuguesa de Desportos nos remete à coluna publicada em 13 de março de 2006, quando o torcedor do clube apenas havia sido consolado com o histórico glorioso. Nas décadas de 40 e 50 passou pela Lusa o lendário Pinga, um meia-esquerda rápido, driblador e principal goleador de todos os tempos com 190 gols. O prestígio rendeu-lhe atribuição de garoto propaganda do comercial da Gillette. Ele jogou ao lado de Júlio Botelho, o ponteiro-direito Julinho, já falecido.
 Na década de 60, a Portuguesa mostrou ao país os pontas-de-lança Leivinha e Servílio (falecido), eméritos cabeceadores. Quase simultaneamente surgiram o habilidosíssimo Ivair - apelidado de ‘o príncipe’ -, meia-esquerda Nair, baixinho Ratinho (falecido) que vestia a camisa 7, lateral-direito Jair Marinho e os zagueiros Ditão e Marinho Perez.
 A década de 70 foi marcante para a Portuguesa, que tinha incrível facilidade para reposição de jogadores. Quando Nair foi para o Corinthians, Basílio estava pronto para substitui-lo. O volante Lorico transferiu-se para o Botafogo (SP), mas Badeco ocupou a posição com vantagem, e posteriormente se transformou em delegado da Polícia Federal.
 Lembram-se do ataque da Lusa em meados da década de 70? Era formado por Xaxá, Enéas, Cabinho e Wilsinho. Xaxá, a exemplo de Ratinho, era um baixinho rápido e está radicado nos Estados Unidos. O centroavante Cabinho veio do América de Rio Preto (SP) e correspondeu plenamente. Wilsinho foi um ponteiro-esquerdo funcional, num ataque que tinha em Enéas o principal jogador.
 Enéas Camargo cravou seu nome como segundo maior artilheiro na história do clube com 179 gols. Apesar da fama de ‘dorminhoco’ em campo, provocava desespero nos adversários com dribles desconcertantes e facilidade para bater na bola.
 Ao se transferir ao Bologna da Itália, em 1979, não correspondeu. Quando ele estava na Udinese, o Palmeiras projetou recuperá-lo, mas era flagrante a trajetória da estrada da volta após seguidas contusões no joelho.
 No XV de Piracicaba, Enéas se recusou realizar exame antidoping depois de uma partida e foi penalizado com 90 dias de suspensão pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) da CBF (Confederação Brasileira de Desporto). Na ocasião, ele quebrou o vidro para coleta de urina.
 Enéas morreu aos 34 anos de idade no dia 27 de dezembro de 1988, quando já era ex-atleta. Ele perdeu o controle de seu veículo Monza e o colidiu na traseira de um caminhão. Aí, foram quatro meses em coma.
 O último grande ídolo da Portuguesa foi Dêner, também ponta-de-lança, que coincidentemente perdeu a vida em acidente de automóvel no Rio de Janeiro em 1994, quando defendia o Vasco por empréstimo.

 O último momento marcante da Portuguesa foi em 1996, com o vice-campeonato brasileiro. Depois, restou só paciência ao torcedor luso.

2014, ano que marcou a morte de Di Stéfano

 É natural que você tenha esquecido da morte do lendário argentino naturalizado espanhol Alfredo Di Stéfano no dia e junho deste ano, em decorrência problemas cardíacos, às véspera da Copa do Mundo no Brasil.
 Di Stéfano tinha 88 anos de idade e a história mostra que antes da aparição de Pelé - indiscutivelmente o melhor jogador de futebol do planeta -, todas as honras do topo se concentravam em Di Stéfano.
 Paradoxalmente, este gênio do futebol não disputou uma Copa do Mundo sequer. Quando defendia o River Plate da Argentina, a partir de 1945, participou do Sul-Americano de Clubes de 1948, ocasião em que marcou quatro gols. Um ano depois o futebol argentino enfrentou uma greve de jogadores que reivindicavam melhores condições de trabalho, porque a pauta elaborada de negociações foi negada. Disso se aproveitou o clube Milionários da Colômbia para levá-lo, acenando com boa proposta financeira e sem necessidade de pagamento do passe, visto que a liga colombiana era amadora e não havia como a Fifa intervir.
 Lá, Di Stéfano participou de 292 partidas e marcou 267 gols. Logo, chegou ao selecionado da Colômbia, onde ficou conhecido como ‘Flecha Loira’. Por isso despertou interesse dos rivais espanhóis Barcelona e Real Madrid, que se digladiaram para contratá-lo. E naquele impasse surgiu proposta alternativa para que ambos se revezassem na vinculação do jogador a cada ano durante um quadriênio. Houve discordância do Barcelona e assim Di Stéfano se transferiu ao Real a partir de 1953.
 Velocidade, habilidade e gols aos montes consagraram este ponta-de-lança já naturalizado espanhol, que não se constrangia com a fama de ‘fominha’, com a justificativa de que “o goleador tem mesmo é que ser egoísta”. Só que a Espanha não se classificou à Copa do Mundo da Suécia de 1958, e assim ele aguardou quatro anos para a competição no Chile, jamais contando que fosse se lesionar às véspera do embarque, o que provocou o corte da delegação.
 Assim, restou continuar brilhando no Real Madrid até 1966, quando pendurou as chuteiras, sem contudo sair do meio. Optou por morar na Espanha e lá foi treinador de clubes e até presidente honorário do Real.
 E entre as muitas histórias que gostava de contar, Di Stéfano ressaltava que mesmo integrando o time do River Plate teve que serviu ao Exército argentino simultaneamente à carreira de atleta, obrigatoriedade da época tanto lá como cá.
 Talvez seja de desconhecimento da maioria que Pelé, mesmo após ter sido campeão mundial em 1958, um ano depois foi o soldado Nascimento do Grupo Motorizado da Costa da Praia Grande, do Exército brasileiro, conciliando a atividade de profissional do Santos F.C. E isso se repetia aos montes com jogadores brasileiros, que tinham naturais regalias de liberação para participação nos chamados treinos aprontos e dias de jogos.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Um ano sem Nilton Santos, a enciclopédia

 Em 16 de maio de 2005, quando Nilton Santos completou 80 anos de idade, a coluna o homenageou em vida. No dia 27 de novembro de 2013, data de falecimento dele, o texto foi recapitulado com adaptações. Agora, um ano depois do desaparecimento, poucos se lembraram do lateral-esquerdo da seleção do século XX, em votação de jornalistas no mundo inteiro. Ele aliava o estilo clássico à eficiente na marcação. Logo, era incapaz de dar um bico na bola.
 Antes de adoecer, com quase o dobro do peso dos tempos de jogador e sem o bigode ralo, coordenava uma escolinha para meninos do Distrito Federal. Já impaciente, se irritava com partidas de futebol truncadas e técnicos adeptos às retrancas.
 Nos tempos em que era terminantemente proibido laterais passarem do meio de campo, Nilton Santos contrariava a orientação e se mandava ao ataque. Foi assim que marcou três gols pela Seleção Brasileira, nos 85 jogos disputados.
 A biografia aponta início em Seleção Brasileira no dia 17 de abril de 1949, na goleada por 5 a 0 sobre o selecionado colombiano. Um ano depois foi reserva na Copa do Mundo no Brasil e titular absoluto de 1954 a 1962. A vitória por 3 a 1 sobre a Tchecoslováquia, na final em Santiago, no Chile, teve duplo significado: consagração do bicampeonato e despedida da Seleção aos 37 anos de idade.
 A malandragem de Nilton Santos, identificado como a enciclopédia do futebol, foi determinante para a conquista do bi. Na terceira partida da competição, contra a Espanha, o Brasil perdia por 1 a 0, gol de Abelardo, e ao cometeu pênalti - pelo menos um metro dentro da área - sobre um espanhol, ele levantou os braços, adiantou-se e induziu o árbitro chileno Sergio Bustamante - mal colocado no lance - a marcar apenas a falta.
 Com o erro da arbitragem e o futebol endiabrado de Garrincha, o Brasil conseguiu reverter o placar e vencer por 2 a 1, dois gols do também botafoguense Amarildo.
 Depois daquilo, Nilton Santos ainda jogou mais dois anos pelo Botafogo-RJ. Pendurou as chuteiras em 16 de dezembro de 1964, na vitória por 1 a 0 sobre o Bahia, fechando, portanto, uma história de 17 anos como jogador de um só clube: seu amado Botafogo-RJ, onde disputou 729 partidas e marcou 11 gols.
 Em 1947, quando se apresentou no Botafogo-RJ, Nilton Santos treinou como atacante, mas foi mandado para a defesa por ordens do lendário dirigente Carlito Rocha.

 Experiência amarga foi vivida em 1956, num treino do Botafogo, quando teve de marcar um ponteiro-direito de pernas tortas. E o atrevido Mané Garrincha passou a bola entre as pernas dele, que atribuiu o lance ao acaso. Na seqüência, outra ‘caneta’ e dribles desconcertantes. Ao final do treino, o lateral chamou um dirigente do clube e ordenou a contratação do rapaz do município Pau Grande, no Estado do Rio de Janeiro. O resto da história o mundo conhece.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Dalmo ficou com a fama e Geraldino esquecido

 Deu no finado jornal impresso A Gazeta Esportiva no dia 15 de novembro de 1963: ‘Sem Calvet, sem Zito, sem Pelé Santos ganhou de 4 e deu olé’. A linha fina complementou a manchete com citação de ‘gols de Pepe, Lima e Almir liquidaram o Milan’.
 É que na noite anterior o Santos havia devolvido ao Milan o placar adverso de 4 a 2 da Itália, da primeira partida da final do Mundial Interclubes. Este segundo jogo foi disputado no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, diante de 132.728 pagantes. Com igualdade na pontuação e saldo de gols entre clubes, foi necessária uma terceira partida dois dias depois, no mesmo local, ocasião em que Santos venceu por 1 a 0, gol de pênalti assinalado pelo lateral-esquerdo Dalmo, que originou o bicampeonato mundial.
 Curioso é que por cinqüenta anos o lateral-esquerdo Geraldino, do Santos, conviveu silenciosamente com a injustiça do nome excluído entre os desfaques nas partidas disputadas no Brasil. Por isso reivindicou reconhecimento em entrevista ao jornal A Folha de São Paulo de novembro de 2013, durante a comemoração do cinqüentenário do bicampeonato mundial de clubes: “Todo mundo diz que o Santos teve três desfalques naquela decisão - Zito, Calvet e Pelé -, mas se esqueceram do Geraldino. Joguei a primeira partida na Itália, quando perdemos para o Milan. Só não joguei no Rio por causa de uma lesão no joelho”.
 De fato, na primeira partida daquela final o quinteto defensivo santista era composto por Gilmar; Lima, Haroldo, Calvet e Geraldino. E esta formação já havia sido registrada na reta de chegada da Libertadores da América daquela temporada: empate por 1 a 1 e goleada por 4 a 0 sobre o Botafogo (RJ) na semifinal, e vitórias diante do Boca Junior na final: 3 a 2 no Brasil e 2 a 1 na Argentina.
 Geraldino em questão não é diminutivo de Geraldo. É nome mesmo: Geraldino Antonio Martins, nascido em 11 de janeiro de 1940, em Raposos (MG). Curiosamente, na adolescência quase o futebol perde um lateral-esquerdo que desarmava sem recorrer às faltas e veloz para levar a bola ao ataque. É que ele foi seminarista e por isso ganhou o apelido de padre. E antes de se profissionalizar no Vila Nova de Nova Lima foi alfaite.
 A notoriedade no futebol implicou na transferência ao Cruzeiro em 1960, e três anos depois foi eleito o melhor lateral-esquerdo do Brasil. Por isso acabou contratado pelo Santos na maior transação até então feita por clubes mineiros. Vasco e Botafogo também estavam no páreo para contratá-lo e surpreendentemente ele manifestou interesse de continuar em Belo Horizonte, justificando família adaptada por lá.

 A transferência foi compensada com títulos paulistas do Peixe em 1964, 65 e 67. Em 1966 ele perdeu o posto de titular para Rildo, contratado ao Botafogo. E três anos depois se transferiu à Portuguesa, onde ficou por duas temporadas.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Romeu, o rei da cambalhota

 Difícil dizer quando foi inventada a cambalhota no futebol, na comemoração de gols. É certo que Romeu Cambalhota foi um dos jogadores que mais se identificaram com esse comportamento. Caio Cambalhota, atacante revelado pelo Botafogo (RJ) na década de 60 - com passagens por Flamengo e Ponte Preta -, também a abusava. Ele participou de uma família de boleiros atacantes, casos de César Maluco, do Palmeiras, e Luisinho, que fez sucesso no América do Rio de Janeiro.
 Romeu Evangelista, mineiro de Esmeralda , 64 anos de idade completados em março, foi revelado pelo Galo mineiro no final da década de 60, e lá jogou até 1974. Ao se transferir para o Corinthians manteve o estilo de ponteiro-esquerdo que travava duelos interessantes com laterais. Além de levar a bola ao fundo do campo, sabia entrar em diagonal, e trabalhava bem a jogada com laterais-esquerdos. Assim marcou 34 gols em 220 jogos pelo Timão e chegou à Seleção Brasileira em 1975, levado pelo treinador Oswaldo Brandão.
 Romeu também integrou o inesquecível time corintiano de 1977 que acabou com jejum de títulos de quase 23 anos, contra a Ponte Preta, nas finais do Campeonato Paulista, em três jogos no Estádio do Morumbi.
 Brandão era o comandante da equipe e a nação corintiana esperava a conquista do título na segunda partida daquela final, num domingo à tarde, após a vitória por 1 a 0 na primeira partida. Para surpresa geral, a Ponte ganhou de virada o segundo jogo, por 2 a 1, e provocou partida extra, que resultou na explosão dos corintianos com o gol da vitória marcado por Basílio.
 Na ocasião, o time corintiano era formado por Tobias (Jairo); Zé Maria, Moisés, Ademir Gonçalves e Cláudio Mineiro; Luciano, Basílio e Palhinha; Vaguinho, Geraldão e Romeu Cambalhota.
 Na época, Romeu exibia uma vasta cabeleira black power e costeleta. Era brincalhão e por isso entrou na relação dos jogadores folclóricos. E ainda no Corinthians voltou a ser campeão em 1979, coincidentemente contra a Ponte Preta.
 Nos anos 80/81 Romeu teve passagem pelo Palmeiras, oscilando algumas boas atuações com outras discretas. Curioso é que após essa experiência ele fez uma revelação que provocou indignação entre palmeirenses: “Já vesti a camisa do Palmeiras, mas tenho a cara do Corinthians”.
 No final de carreira, Romeu seguiu exemplos de vários veteranos brasileiros ao se transferir para o Milionário de Bogotá, na Colômbia. Claro que no futebol colombiano já não era nem sombra daquele ponteiro dos tempos de Atlético Mineiro e Corinthians.

 E mesmo depois de deixar a carreira de atleta profissional, ainda continuou ligado aos meios esportivos em equipes de veteranos e máster formadas por ex-profissionais que participam de exibições no País. E aí mostra um futebol diferenciado em relação aos companheiros de faixa etária.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Oito anos sem João Avelino, o folclórico

 Este 24 de novembro marca o oitavo ano da morte do folclórico treinador João Avelino, o popular 71. Vítima do Mal de Alzheimer, meses antes de morrer sequer reconhecia as pessoas. Antes de adoecer permaneceu ligado ao futebol como consultor para treinadores e cartolas. Transmitia catimba e malandragem que usava no futebol. Ele deixou histórias inacreditáveis.
 Imagine um vestiário no intervalo de uma partida: boleiros ofegantes, falatório e treinador aos berros tentando ajustar a equipe. Acreditem: Avelino isolou-se desse ambiente quando dirigia o CAT (Clube Atlético Taquaritinga) num jogo noturno contra o Guarani, no Estádio Brinco de Ouro, na década de 80.
 Seu time jogava tão mal que, revoltado, se recusou entrar no vestiário para orientações de praxe aos jogadores, após derrota por 2 a 0 no primeiro tempo. Surpreendentemente ele colocou uma cadeira no túnel que dá acesso ao vestiário visitante e, com um canivete afiado, descascava e chupava laranjas com se tivesse em momento de descontração.
 - João, e as instruções para o seu time? - questionou o radialista Paulo Moraes, na época repórter da Rádio Central, de Campinas.
 - Perda de tempo. Nada entra na cabeça desses caras - retrucou Avelino.
 Cerca ocasião, o treinador foi trabalhar no Fortaleza e se espantou com o tamanho do goleiro, pouco mais de 1,70m de altura. E sabem o que ele fez para resolver o problema? Mandou diminuir a altura da trave. E quando perceberam a tramóia, ele já havia festejado um título cearense perseguido há cinco anos.
 Em 1959, o Guarani corria risco de rebaixamento à divisão inferior do paulista e tinha jogo decisivo em casa contra o Santos. E sabem o que fez Avelino? Exigiu que os jogadores bugrinos usassem meias pretas, nada a ver com as tradicionais cores verde e branca do Bugre.
 Superstição ou não, o certo é que o Guarani teve atuação fantástica naquela partida e ganhou do Peixe por 3 a 2, dois gols de Ferrari - um ponteiro-direito adaptado à lateral-esquerda - e outro de Rodrigo.
 Avelino foi homem de confiança do saudoso treinador Osvaldo Brandão, e por isso foi seu auxiliar por muito tempo, num ‘casamento’ batizado de corda e caçamba. E Avelino era a caçamba.
 O ex-treinador Antonio Augusto, o Pardal, conta que Avelino foi o inventor do treino coletivo sem bola. ‘O João ficava cantando as jogadas e o atleta simulava estar com a bola’, detalhou Pardal.
 Naquele treino, de repente Avelino gritava para o ponteiro cruzar, para o atacante driblar e chutar para o gol, tudo sem a bola. E os obedientes boleiros cumpriam à risca a maluquice.
 Ex-jogadores corintianos como Palhinha e Basílio citam que quando Avelino deparava com jogadores de chutes fracos dava-lhes uma bolota de cinco quilos, para que fizessem embaixadas. Assim, ganhavam força muscular e o chute era mais forte.


Atacante França gostou do Japão e lá ficou

 No próximo Dia de Natal o ex-atacante França, do São Paulo, vai completar 38 anos de idade, e até o ano passado levava vida de adolescente que adora balada, discoteca, pista de dança, requintados restaurantes, mulherada e companhia de amigos bilionários. Assim, cultivava a atraente vida noturna de Tóquio, no Japão, completada sem traumas da insegurança do Brasil e com uma educação no trânsito de fazer inveja.
 Foi esta a confissão do ex-jogador sobre a definição da capital japonesa que optou para viver depois que parou de jogar futebol no Yokohama F.C. em 2011. A fascinação pelo estilo de vida daqueles asiáticos era tal que sequer fazia planos para retornar ao Brasil, exceto uma vez por ano para visitar a filha de um casamento que durou até 2004.
 A gorda conta bancária dele foi reflexo dos milionários contratos de seis anos feito no Kashiwa Reysol e de pouco menos de um ano no Yokohoma. Soma-se a isso a independência financeira já garantida na passagem pelo futebol alemão de 2002 a 2005, no Bayer Leverkusen.
 Para que ganhasse notoriedade no mercado do exterior, França se destacou no São Paulo como o quinto maior artilheiro de todos os tempos do clube com 182 gols em 327 partidas, no período de 1996 a 2002. A fase foi tão boa que a convocação à Seleção Brasileira à Copa do Mundo do Japão e Coréia do Sul era tida como certa, não fosse uma lesão ter precipitado o corte da relação do treinador Luiz Felipe Scolari, o Felipão.
 O São Paulo ainda negociou os direitos econômicos do jogador por 12 milhões de dólares. Os alemães se renderam à habilidade no domínio da bola, facilidade para se desvencilhar de zagueiros adversários, e frieza para enfrentar goleiros.
 Este estilo começou a ser aprimorado em 1993 quando se profissionalizou no Nacional de Manaus (AM). Depois ganhou mais visibilidade na passagem pelo XV de Jaú, despertando interesse dos cartolas são-paulinos e trajetória de dois anos na Seleção Brasileira, com direito ao gol de empate por 1 a 1 contra a Inglaterra, no Estádio de Wembley.
 Claro que este ‘vidão’ no primeiro mundo contrasta com a pacata cidade de Codó, interior do Maranhão, onde França nasceu e foi registrado com o nome de Françoaldo Sena de Souza. Segundo censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010, aquela cidade maranhense, que dista 292 quilômetros da capital São Luís, contava com 118.072 habitantes e ganhou fama nacional como terra da macumba.
 De Codó igualmente saíram outros dois boleiros que brilharam em grandes centros. Primeiro o habilidoso volante Fausto, apelidado de Maravilha Negra, que foi jogador do Vasco e defendeu a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1930, no Uruguai. Depois o lateral-direito Maranhão, que entre outros clubes passou por Bragantino, Guarani, Santos e Atlético Paranaense.


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Paulo Rick, de goleador a político

 A história de vida do ex-atacante Paulo Roberto Rink, eterno ídolo dos torcedores do Clube Atlético Paranaense, é marcada por situações diametralmente opostas. Quem diria que de goleiro de futsal, na pré-adolescência, fosse se transformar num atacante nos gramados? E mesmo aprovado para jogar nas categorias de base do Atlético Paranaense, no início houve desconfiança sobre as suas possibilidades, tanto que em meados da década de 90 acabou emprestado a Atlético Mineiro e Chapecoense.
 A reviravolta começou no segundo semestre de 1995 no retorno ao Atlético Paranaense, ao formar dupla de ataque com Oséas, revivendo a ‘dobradinha’ Assis-Washington (ambos falecidos) da década de 80, no próprio clube.
 Paulo Rink foi um canhoto que driblava em velocidade e chutava forte ao se aproximar da área adversária. A boa pontaria e facilidade para enfrentar goleiros o transformaram num dos principais artilheiros do futebol do Brasil na época, fato que despertou cobiça do Bayer Leverkusen, que pagou seis milhões de dólares pela contratação em 1997.
 A descendência de avós paternos alemães não significava familiaridade com o dificílimo idioma daquele país, caracterizado por 16 formas para se falar o artigo definido ‘o’ ou ‘a’, por exemplo. E contrariando o americano John Madison, que escreveu livro citando que não vale a pena aprender a língua alemã, o destemido jogador topou o desafio.
 Assim, bastou um ano de sucesso no futebol Leverkusen para que se naturalizasse alemão e abrisse caminho para convocação à seleção daquele país através do treinador Berti Vogts, e atuasse 23 vezes. Ele foi o primeiro brasileiro a atingir o objetivo com futebol recheado de gols. “Optei por jogar na Alemanha porque não tinha espaço na Seleção Brasileira”, justificou.
 Em 1999, no curto período de empréstimo ao Santos, os objetivos não foram atingidos. Depois passou por outros clubes alemães de menor expressão, futebol do Chipre, Coréia do Sul até o retorno ao Atlético Paranaense em 2006, com propósito de jogar mais um ano e, incontinenti, iniciar trajetória como dirigente do clube.
 Como mudança de rota tem sido frequente para Paulo Rink, a política entrou na vida dele com a eleição para vereador de Curitiba em 2012, com os 5.625 votos obtidos pela legenda do PPS (Partido Popular Socialista). Aí caiu na besteira de apresentar projeto que isentaria clubes profissionais da cidade de pagamento do IPTU, rejeitado pela Câmara de Vereadores e pela população em geral.

 Apesar disso, o gosto pela política o animou a se candidatar a deputado federal, mas obteve insuficientes 19.307 votos para se eleger, bem mais que o ex-goleiro Raul Plassman (9.082) e o atacante do Galo mineiro Reinaldo (840 votos pelo PT do B). Dos ex-jogadores, foi expressiva a votação do goleiro Danrlei: 158.520 votos.

domingo, 2 de novembro de 2014

Adeus ao polivalente Oldair do Galo mineiro

Apenas citação da morte do então lateral-esquerdo Oldair Barchi do Atlético Mineiro, dia 31 de outubro passado, provavelmente geraria questionamento sobre quem foi este jogador. Acrescendo-se que foi polivalente, é possível recontar período do futebol em que atletas mudavam sistematicamente de posições a pedido de treinadores.
Quando foi contrato pelo São Paulo em 1977, o uruguaio Dario Pereyra chegou como meia de armação, posição originária no Nacional de Montevidéu. Todavia, na sequência foi recuado à função de volante e por fim à quarta zaga.
O lendário Nilton Santos - já falecido – atuava como meia-esquerda no time varzeano da praia de Flexeiros na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, até se transformar num dos principais laterais-esquerdos do futebol brasileiro defendendo a única camisa profissional do Botafogo (RJ).
Décadas passadas, comumentemente meias de armação se transformavam em volantes. São os casos de Dino Sani - São Paulo e Corinthians -, Lorico - Vasco, Portuguesa e Botafogo (SP) -, Paulo Isidoro e Zé Carlos, que fizeram sucesso por Atlético Mineiro e Cruzeiro respectivamente.
Igualmente são adaptações de praxe as de volantes a quarto-zagueiro, ou de laterais como zagueiros. Vagner Basílio, que jogou no São Paulo e Corinthians como quarto-zagueiro, originariamente foi volante. Leandro, Djalma Santos e Carlos Alberto Torres foram laterais-direitos que terminaram a carreira na zaga central.
Quanto a Oldair Barchi, a trajetória no futebol foi marcada de quem inicialmente atacava e terminou a carreira se defendendo. Quando se profissionalizou no Palmeiras e participou como reserva da campanha do título paulista de 1959 atuava como meia-direita, nomenclatura modificada para ponta-de-lança, característica do jogador que mais se aproximava do centroavante.
Sem espaços no Palmeiras e com a cobiça do treinador Zezé Moreira para se que se submetesse a teste no Fluminense, Oldair aceitou o desafio em 1960 e saboreou o título do Torneio Rio-São Paulo daquela temporada.
Cinco anos depois, já adaptado à função de volante, foi jogar no Vasco após outra indicação de Zezé Moreira. O diferencial é que na decisão de título da Taça Guanabara foi deslocado à lateral-esquerda e anulou o ponteiro-direito Mané Garrincha na vitória vascaína por 2 a 0, um dos gols dele.
A carreira foi coroada ao se transferir ao Atlético Mineiro em 1968. Tão logo o lateral-esquerdo uruguaio Cincunegui se desligou do clube Oldair assumiu a posição, e ali foi intocável até 1973. Dois anos antes foi campeão brasileiro numa final com triangular. O Galo venceu o São Paulo por 1 a 0 com de falta marcado por ele, enquanto na repetição do placar sobre o Botafogo, no Rio, Dario fez o gol da vitória. A carreira foi encerrada no Ceub do Distrito Federal.

domingo, 26 de outubro de 2014

Antonio Carlos Zago, craque e encrenqueiro

 A história do zagueiro central Antonio Carlos Zago, 45 anos de idade, é marcada por títulos nos quatro grandes clubes do futebol paulista, 37 partidas pela Seleção Brasileira sem ter disputado uma Copa do Mundo, e por em encrencas nos clubes que passou, a mais grave a acusação de racismo quando atuava no Juventude em 2006.
 Num jogo contra o Grêmio, no Estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul, ele praticou o citado crime contra o volante Jeovanio. A rigor, na carreira dele já havia sido registrada cusparada no argentino Simeone - então jogador da Lazio -, em confronto com a Roma do zagueiro. “O Simeone era muito chato. Ficava me provocando, passando a mão na minha bunda e aí perdi a cabeça, fui expulso e suspenso por quatro jogos”, contou o brasileiro, que jogava no futebol italiano com zagueiro Aldair, volante Emerson e lateral-direito Cafu. Pela indisciplina a pena de suspensão foi estendida para 120 dias.
 O destempero emocional de Antonio Carlos implicou em atrito com o atacante Edmundo nos tempos de Palmeiras em 1994, quando ambos saíram no tapa, segundo revelação da imprensa na época. Um dos motivos é que o zagueiro defendia escala proporcional nos valores de bichos entre titulares e reservas.
 Foi o ano em que o Palmeiras sagrou-se bicampeão brasileiro, provando que elenco qualificado - embora rachado - atinge os seus objetivos. E aquele time, comandado pelo treinador Vanderlei Luxemburgo, era formado por Veloso; Cláudio, Antonio Carlos, Cléber e Roberto Carlos; César Sampaio, Mazinho, Flávio Conceição e Rivaldo; Edmundo e Evair.
 Antonio Carlos começou a escrever a sua história no futebol paulista no São Paulo. Sob o comando do saudoso treinador Telê Santana conquistou em 1991 o título brasileiro, já no segundo ano como titular. Foi numa final com goleada sobre o Corinthians por 3 a 0 na primeira partida - três gols de Raí -, com público de 106.142 pagantes. Na segunda partida foi registrado empate sem gols. Eis o time são-paulino: Zetti; Cafu, Antonio Carlos, Ronaldão e Nelsinho; Sidnei, Suélio e Raí; Macedo, Muller e Elivélton.
 No Corinthians, durante o biênio 1997-98, Antonio Carlos ratificou o futebol de raça e sobretudo de técnica para desarmar o adversário antecipando-o na jogada. Assim, conquistou o título brasileiro no segundo ano de clube, num time formado por Ronaldo; Fábio Augusto, Antonio Carlos, Henrique e André; Romeu, Gilmar Fubá, Souza e Marcelinho Carioca; Mirandinha e Donizete.

 O gostinho de título brasileiro se completou em 2004 no Santos, outra vez com Luxemburgo no comando, só que desta vez sem que fosse titular absoluto. E após passagem pelo Juventude o zagueiro encerrou a carreira no Santos em 2007, iniciando, incontinenti, funções de treinador e gerente de futebol. Hoje ele está no futebol da Ucrânia.

domingo, 12 de outubro de 2014

Quarenta anos sem o lateral Everaldo

 Outros tempos jogador de futebol era idolatrado pelos fãs mesmo quando parava de jogar. Alguns sabiamente exploravam a popularidade e enveredavam para cargos políticos mesmo sem aptidão, notadamente no Legislativo. A certeza da votação maciça os encorajava a enfrentar as urnas e são incontáveis os exemplos daqueles eleitos com folga.
 Mesma sorte não teve o lateral-esquerdo Everaldo, o gaúcho tricampeão mundial em 1970, na Copa do Mundo do México. Em 1974, quando pendurou as chuteiras, tinha como certa uma cadeira na Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul e se engajou na campanha política de tal forma que podia ser visto em até dois comícios no mesmo dia. E tudo ia bem até que perdeu a vida em acidente de automóvel na BR-286, justamente quando voltava de um comício por volta das 22h30 do dia 27 de setembro daquele ano. O automóvel Dodge Dart do jogador entrou sob uma jamanta e ficou quase irreconhecível. Na ocasião, também morreram a esposa Célia e a filha Denise Marques.
 Everaldo deixou uma história de persistência pela vitória. Revelado no Grêmio, só se firmou como titular após ter sido emprestado ao Juventude, em 1965. Era um lateral-esquerdo sem técnica, mas seguro na marcação. E mesmo raramente passando do meio de campo ganhou a posição do veloz e ofensivo Marco Antonio às vésperas da Copa do Mundo do México de 1970, até que dois anos depois, no Mundialito realizado no Brasil, sequer fosse convocado. Por sinal, o único tricampeão esquecido na lista do treinador Zagallo.
 Aquela decisão provocou revolta dos gaúchos, pois o Rio Grande do Sul tinha histórico de furar o bloqueio do eixo Rio-São Paulo em convocações de jogadores às Copas. Em 1950, na competição disputada no Brasil, Nena, do Grêmio, e Adãozinho, do Internacional, foram vice-campeões mundiais.
 Na decadente Seleção Brasileira de 1966, na Copa da Inglaterra, lá estava o atacante Alcindo Bugre, do Grêmio. E em Mundiais subseqüentes, o Estado quase sempre esteve representado por atletas, os principais deles o goleiro Tafarell e o volante Falcão.
 Taffarel atravessou fase espetacular no Mundial dos Estados Unidos de 1994, quando foi decisivo em defesas de pênaltis. Já o volante Falcão, das Copas da Espanha de 1982 e do México em 1986, sabia defender e organizar o time com elegância.  

 Não fosse a tragédia há 30 anos, o negro Everaldo teria completado 70 anos de idade no dia 11 de setembro passado e, de certo, recordaria as 30 partidas disputadas na Seleção Brasileira, a recepção calorosa no desembarque em Porto Alegre após a conquista do tri e a besteira cometida num jogo contra o Cruzeiro em 1972, no Estádio Olímpico, quando deu um soco no árbitro paulista José Faville Neto. Sorte sua, na época, é que a suspensão de um ano foi reduzida para seis meses. 

sábado, 4 de outubro de 2014

Moacir, o reserva de Didi na Copa de 58

 O prenome Moacir só será perpetuado porque pai coruja o transfere para o filho e segue com o neto. Afora isso, prevalecem nomes bíblicos para registros de nascimentos como Davi, Miguel, João Pedro, Lucas, Gabriel e Matheus, segundo dados da Arpen-SP (Associação de Registro de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo) de 2013. O portal BabyCenter acrescenta que nomes como Luan, Guilherme, Gustavo, Felipe, Rafael, Victor, Henrique e Kauan também estão na lista dos mais escolhidos.
 Moacir é nome de origem indígena e faz parte do relato do romance ‘Iracema’ de José de Alencar. Então, quais as pessoas populares com o nome de Moacir?  Raras. A mais famosa é o humorista-cantor Moacyr Franco, que neste cinco de outubro completou 78 anos de idade. No futebol, os dois últimos relativamente conhecidos são aquele lateral-direito reserva de Alessandro do Corinthians em 2010 e o treinador Moacir Júnior, familiarizado com equipes de menor expressão no futebol mineiro.
 O mais famoso dos ‘Moacires’ da bola é Moacir Claudino Pinto, igualmente com 78 anos de idade completados em maio, e que fixou residência em Guayaquil, Equador, cidade admirada por ele desde a passagem pelo Barcelona local, o último clube de sua carreira de atleta em 1970.
 Moacir ficou famoso nos seis anos de Flamengo, a partir de 1956, quando driblava com facilidade e tinha boa visão de jogo. Segundo o almanaque do clube ele participou de 233 jogos e marcou 57 gols, ora atuando como meia de armação, ora como ponta-de-lança. Em 1958 participou de um time formado por Fernando; Jouber, Pavão, Jadir e Jordan; Dequinha e Moacir; Joel, Henrique, Dida e Zagallo.
 A recompensa foi convocação à Seleção Brasileira daquela temporada na reserva de Didi. Na ocasião aparecia nas fotos de álbuns com o bigode bem ralo e, por vezes, amarrando a faixa até metade da canela. No total, atuou sete vezes pelo selecionado e marcou dois gols.
 A carreira fora do país começou no River Plate da Argentina, prosseguiu no Pañarol do Uruguai e terminou no Equador com passagens por Everest e Barcelona de Guayaquil, ocasião em que alardeava ter adquirido propriedades que garantiriam sustento pelo resto da vida. Depois, ainda foi escolhido como treinador da seleção equatoriana infantil em 1986 que disputou o Mundial no Canadá, e bem remunerado.

 Apesar disso está em dificuldade financeira, mas não esmorece. Ainda se anima falar que está tudo bem, mesmo faltando dinheiro para tratar do câncer de próstata. Hoje, a vida dele está difícil como na adolescência, nos tempos de bairro Ipiranga em São Paulo, quando abandonou a casa do pai após ter sido surrado. Tudo porque foi participar de uma pelada e esqueceu o dinheiro para que fazer fezinha no jogo do bicho embaixo de uma pedra. Aí foi parar em um albergue e posteriormente no Flamengo.

domingo, 28 de setembro de 2014

Capão, treinador avesso a jogador líder

  A valorização da preparação física mudou a cara do futebol. Treinadores discursam sobre compactação de equipes, transição e recorrem frequentemente a avanços tecnológicos para aprimoramento técnico-tático de seus jogadores. Isso contrasta com estilo e comportamento de comandantes de décadas passadas como o saudoso Wilson Francisco Alves, o Capão, que morreu em dezembro de 1998 pouco antes de completar 71 anos de idade.
 Por que Capão? Quando ele se submeteu a teste como zagueiro do Vasco, aos 15 anos de idade, Roque Calossero, técnico do juvenil, aprovou a postura vigorosa dele e perguntou-lhe onde morava. Bastou a resposta bairro Magalhães Bastos no Rio de Janeiro, perto do Moro do Capão, para que o apelido se eternizasse.
 Capão ficou marcado no futebol na função de treinador e dizia abertamente que trabalhava de olho no ‘tutu’. Acordo com clubes eram verbais, mas deixava claro que não admitia palpite de cartola. “Vocês contratam e eu escalo”. E quando apresentado aos elencos deixava claro que não gostava de líderes e adotava a troca de capitão a cada jogo. Aos boleiros ‘mascarados’ o recado era curto e grosso: “Ou tira o tamanco, ou eu tiro o dito cujo do time”. Também enfatizava que em seu time não havia apadrinhamento e apenas os melhores seriam escalados, mesmo que trocados de posições se julgasse conveniente.
 Capão era avesso a preleções a todo grupo antes de jogos. Preferia reunir jogadores de mesmo compartimento pra dizer aquilo que pretendia e valorizava a parte técnica. Estrategicamente fazia vistas grossas a boleiros que participavam de farras noturnas, mas cobrava rendimento durante os jogos.
 Como de praxe nos treinadores entre as décadas de 60 a 80, o barrigudo Capão usava sapato branco sem meia, camisa fora da calça e tinha hábito de usar óculos escuros nas ruas centrais de cidades do interior paulista de clubes que dirigia. Marília, São José do Rio Preto e Sorocaba foram os locais em que ficou mais tempo. Para a mídia falava que revelou Zé Maria, Marinho Peres e Leivinha nos tempos de Portuguesa, mas na prática apenas lapidou aqueles jogadores.
 Como atleta fez carreira no Vasco de 1943 a 1952 e atuou ao lado de Japão, Augusto, Moacir, Jair da Rosa Pinto, Ademir de Menezes e Chico. Foi treinado por Ondino Vieira e Flávio Costa, e se orgulhava de ter participado do expressinho da vitória do Sul-Americano de 1949.

 A boa fase no Vasco o premiou com vaga na Seleção Brasileira que conquistou o Sul-Americano também de 1949. Depois ainda jogou na Portuguesa Santista e Santos, até que em 1957 assumiu interinamente o comando técnico do Peixe, visto que o treinador Lula foi chamado para ser auxiliar de Zezé Moreira na Seleção Brasileira. E Capão gostou da experiência tanto que posteriormente foi trabalhar como auxiliar do técnico Francisco Sarno no Jabaquara em 1958.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Sete anos sem o quarto-zagueiro Roberto Dias

 Vinte e seis de setembro marca o sétimo ano da morte do quarto-zagueiro Roberto Dias, do São Paulo, lançado no time principal em 1961, e no ano seguinte se firmou como titular numa equipe comandada pelo disciplinador Osvaldo Brandão e formada por Poy; De Sordi, Belini, Roberto Dias e Sabino; Cido e Benê; Faustino, Prado, Jair e Agenor.
 Roberto Dias, que atuou no São Paulo até 1973, foi considerado um dos principais da posição pela capacidade de desarme e esbanjar técnica quando conduzia a bola. A precisão no passe lhe permitia fazer ligação direta da defesa ao ataque. A matada de bola no peito era com elegância.
 Com aquelas virtudes, por vezes era adaptado à função de volante e correspondia, transformando-se em cobrador oficial de faltas. A passagem pelo São Paulo foi marcada basicamente no período de construção do Estádio do Morumbi, quando o investimento da diretoria era limitado no futebol.
 Assim, primeiro fez dupla de zaga com Belini. Depois atuou com Jurandir, um negro alto, forte, e quase intransponível no jogo aéreo, virtude que compensava as bolas que Dias não alcançava pela estatura de 1,71m de altura, apesar da fantástica impulsão dele.
 Jogador de pernas curtas, Dias não tinha passadas largas. Logo, perdia jogadas na velocidade para Edu Bala (ex-Lusa, Palmeiras e São Paulo) e Jairzinho Furacão (ex-Botafogo e Seleção Brasileira).
 Dias sempre contava em detalhes aquele 14 de agosto de 1963 quando participou do jogo do ‘cai-cai’ provocado pelo Santos, que perdeu por 4 a 1. Pelé e Coutinho foram expulsos no primeiro tempo e o lateral Cido Jacaré, com fratura no perônio, deixou o campo numa época em que não se permitia substituição de jogador. Assim, após o quarto gol de Pagão para os são-paulinos, Dorval e Pepe simularam contusões a fim de que o Santos não contasse com número mínimo exigido de jogadores para prosseguimento da partida.
 Tudo ia relativamente bem para Dias até 1969, ocasião em que médicos do clube diagnosticaram problema no coração dele, que lhe provocou afastamento do futebol por um ano. Naquele time jogavam Picasso; Cláudio, Jurandir, Dias e Edson: Nenê e Terto; Paraná, Zé Roberto, Téia e Bobó.
 Ano seguinte o São Paulo montou equipe competitiva e pôde comemorar o bicampeonato paulista em 1970/71. Em 1973 Dias recebeu carta de liberação do passe e assinou contrato com o Jalisco do México. Depois passou por Ceub do Distrito Federal e Dom Bosco de Mato Grosso, quando a vida útil como jogador de futebol já havia acabado.

 Na antevéspera da morte, ele ainda comandava treino para filhos de associados do São Paulo, ocasião em que aqueles meninos jamais dimensionaram como aquele velhinho magricelo de 64 anos de idade, de cabelos prateados, era bom de bola, com participação em 25 partidas pela Seleção Brasileira.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Ronaldão, zagueiro armário campeão mundial

 Faltou pouco para que voz e imagem do ex-zagueiro Ronaldão, 49 anos de idade, aparecesse no horário eleitoral gratuito da televisão para pedir votos à eventual candidatura quer à Assembléia Legislativa de São Paulo, quer à Câmara Federal.
 Ronaldo Rodrigues de Jesus até que foi convencido a se filiar no PCdoB (Partido Comunista do Brasil), mas resistiu à insistência da candidatura porque, embora politizado, tem outras prioridades, uma delas prosseguir o trabalho com investimentos e projetos do setor imobiliário em Campinas, onde está radicado.
 E para se especializar no segmento executivo cursou a Faculdade de Administração no final da carreira de jogador. A primeira experiência executiva foi como diretor de futebol remunerado da Ponte Preta, durante três anos.
 Como convém à nova função, Ronaldão se transformou num executivo trilingue. Diferente da boleirada por aí cujo vocabulário se restringe a poucas dezenas de palavras, ele fala um português impecável. Igualmente cursou nível intermediário do inglês e espanhol. Por isso ‘sobrevive’ bem nas viagens ao exterior.
 Com 1,90m de altura, foi o típico zagueiro armário. Valia-se basicamente da compleição física avantajada para se impor diante de atacantes habilidosos, em clara amostragem do erro de avaliação de seus treinadores nas categorias de base que o mantiveram como lateral-esquerdo.
 Foi na equipe principal do São Paulo que acabou fixado como quarto-zagueiro, e como recompensa conquistou o primeiro título na carreira durante o Campeonato Paulista de 1987. O auge ocorreu no bicampeonato mundial do Tricolor paulistano em 1993 no Japão, na vitória por 3 a 2 sobre o Milan da Itália, ocasião em que formou dupla de zaga com o ‘baladeiro’ Válber, um indisciplinado capaz de ‘matar’ a avó três vezes e justificar incontáveis pneus furados nas ausências aos treinamentos.
 Após aquela memorável vitória são-paulina vista por 52.275 torcedores no estádio, Ronaldão desabafou: “Se o Milan era o super time, o que é o São Paulo afinal? Os gols são-paulinos foram anotados por Palhinha, Toninho Cerezo e Muller, num time comandado pelo saudoso Telê Santana e formado por Zetti; Cafu, Válber, Ronaldão e André Luiz; Doriva, Dinho, Cerezo e Leonardo; Palhinha e Muller.
 Apesar da boa fase, Ronaldão só foi convocado à Seleção Brasileira visando a Copa do Mundo de 1994 porque Ricardo Gomes foi cortado, por contusão. E se naquela competição foi reserva de Márcio Santos, no geral esteve em convocações desde 1991, com histórico de 14 jogos e três gols.
 Ele também jogou 46 partidas pelo Shimizu do Japão naquele ano. No Brasil, além das 75 partidas com a camisa do São Paulo, jogou 37 vezes no Flamengo e 69 na Ponte Preta, onde encerrou a carreira em 2002.

Ele ainda teve passagens por Santos, Coritiba e Rio Preto. 

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Clemer, história de um campeão mundial

 O ex-goleiro Clemer, 46 anos de idade, sonha levar a cabo projeto de se transformar em treinador de futebol, e o primeiro passo foi dado ao comandar a equipe sub 23 do Inter (RS), após estágio como preparador de goleiros e comandante de categorias de base no próprio clube. Foi o período em que confessa ter aprendido a ‘engolir sapo e dar cutucadas no boleiro quando necessárias’.
 A experiência de comandante virá na sequência, mas o maranhense Clemer Melo da Silva sempre demonstrou postura de líder nos tempos de jogador. E o exemplo mais claro ficou evidenciado na campanha da conquista do Mundial de Clubes da Fifa no Japão do Inter, ao vencer o badalado Barcelona por 1 a 0 de Ronaldinho Gaúcho e Deco naquela final, gol do meia Adriano Gabiru aos 36 minutos do segundo tempo. A partida foi disputada no dia 17 de dezembro de 2006 e contou com público de 67.128 torcedores.
 “O foco no trabalho de qualquer equipe tem que ser total, com cobrança a todos os jogadores. E quando alguém sai da linha, indo para a noite, tem que ser advertido, principalmente se não estiver correspondendo em campo”, revelou Clemer à imprensa gaúcha.
 O então goleiro daquele respeitado time do Inter também confessou que, no auge daquela comemoração, enrolou-se na bandeira do Brasil, estourou champanhe no hotel e brincou de esparramá-la nos companheiros. E só depois se deu conta que o preço da bebida era caríssima em Yokohama. O time daquele memorável conquista foi de Clemer; Ceará, Índio, Fernando Eller e Rubens Cardoso; Edinho, Wellington Monteiro, Alex e Fernandão; Iarley e Alexandre Pato. “Foi um duelo de Davi contra o Golias, o Barcelona era o favorito, mas o importante foi o nosso time não tremer”, revelou Clemer.
 Gostinho de títulos era coisa corriqueira na carreira de Clemer. Nos quatro anos de Flamengo, até 2001, foi o titular absoluto no título estadual de 1999, na vitória por 1 a 0 sobre o Vasco, gol de Rodrigo Mendes, num time que tinha Clemer; Pimentel, Fabão, Luís Alberto e Athirson; Leonardo Ávila, Jorginho, Beto e Fábio Baiano; Rodrigo Mendes (Maurinho) e Romário.
 Num dos raros anos dourados da Portuguesa, em 1996, Clemer ajudou o time chegar à disputa de título contra o Grêmio, ao praticar brilhantes defesas naquele vice-campeonato brasileiro. Ele era arrojado na saída da meta e tinha elasticidade até em bolas no chão para praticar defesas, apesar da estatura de 1,90m de altura. O time luso da época tinha Clemer; Walmir, Émerson, César e Carlos Roberto; Capitão, Gallo, Caio e Zé Roberto; Alex Alves e Rodrigo Fabri.

 Antes da chegada na Portuguesa, Clemer rodou durante dez anos por clubes de média ou pequena expressão no cenário nacional. Tudo começou em 1987 no Moto Clube. Depois, passagens por Guaratinguetá, Santo André, Catuense, Maranhão, Ferroviário (CE), Remo e Goiás.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Dois anos sem o volante Ruço do Corinthians

 Há 15 anos relato biografias daqueles que construíram a história do futebol brasileiro. De certo vai passar batido por aí, mas a coluna resgata um pouco do rendimento do volante Ruço do Corinthians, que morreu no dia primeiro de setembro de 2012, portanto há dois anos.
 A coluna pauta pelas homenagens em vida, porém, por algumas razões, nem sempre isso é possível. Às vezes faltam informações para produção do texto, e por isso o personagem em questão continua na fila até que, a exemplo de Ruço, entra obrigatoriamente na pauta semanal quando de seu falecimento.
 Quanto tempo não se ouvia falar no volante Ruço? Ele foi mais um dos atletas do passado que saíram do ostracismo quando morreram. Vítima de AVC (Acidente Vascular Cerebral), ele morreu no Rio de Janeiro aos 63 anos de idade.
 Nos tempos em que Ruço jogou no Corinthians, de 1975 a 1978, o então presidente Vicente Matheus - já falecido - exigia que até os ‘cobras’ assinassem contratos em branco, na base da confiança. Depois avaliava quanto deveria pagar para o atleta e preenchia o valor no vínculo contratual.
 Logo, aquilo que Ruço ganhou jogando no Timão, Remo (PA), Botafogo (RJ), Cruzeiro, Juventus e Rio Branco (ES) não lhe permitiu que ficasse endinheirado. Teve que se virar em outro ramo de atividade, e uma das opções encontradas foi montar um bar no Rio de Janeiro.
 Vejam que diferença para o atual momento de boleiros de grandes clubes brasileiro! Volante como Ruço, que marca e sabe trabalhar a bola, não ganha menos que R$ 30 mil por mês até em clubes de médio porte.
 Diferente de atletas badalados, Ruço quase não era requisitado pela mídia para entrevistas. Quando isso ocorria em emissoras de rádio, ele usava o tradicional bordão da época para iniciar a fala: “Ouvintes, meus cumprimentos”.
 Falar e esbravejar se resumia aos companheiros em campo, quando exigia posicionamento adequado. Embora jogador de marcação, de vez em quando ele aparecia no ataque e justificava o atrevimento com alguns golzinhos, o principal deles contra o Fluminense no dia 5 de dezembro de 1976, ocasião em que 70 mil corintianos invadiram o Estádio do Maracanã.
 Foi um gol de voleio, tipo meia bicicleta, naquele empate heróico por 1 a 1, fato que estendeu a definição do finalista do Campeonato Brasileiro daquela temporada às cobranças de pênaltis. Aí a vantagem corintiana foi de 4 a 1.
 Corintiano nostálgico de certo ainda guarda o pôster da equipe campeã paulista de 1977, da final contra a Ponte Preta, quando terminou o jejum de títulos de quase 23 anos. Naquele time estavam cabeludos estilo black power como Romeu Cambalhota, Luciano Coalhada, Geraldão e Ruço.

 Ruço e russo (natural da Rússia) são palavras homônimas homófonas, ou seja, pronúncia idêntica com grafias diferentes. Coisas desta complexa língua portuguesa.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Palmeiras vendeu Chinesinho e enriqueceu patrimônio

 Na comemoração do centenário do Palmeiras ídolos imortais são lembrados a todo instante, principalmente o meia Ademir da Guia, considerado o melhor jogador de todos os tempos que passaram pelo clube. Da Guia completou 72 anos de idade em abril passado, continua  ‘batendo’ a sua bolinha, e avisa que vai levar a botinha para o túmulo.
 Também deveria ser lembrado frequentemente o antecessor de Da Guia, que foi o meia Chinesinho, falecido em abril de 2011 aos 76 anos de idade. Ele foi um baixinho de caixa torácica avantajada, tinha excelente visão de jogo, contundência nos arremates e estilo semelhante ao do ex-meia Zenon, que passou por Guarani, Corinthians e Atlético (MG).
 Quem não o conheceu jamais imagina o retorno financeiro que propiciou ao Palmeiras com a venda do passe ao Modena da Itália. Maior parte do dinheiro foi aplicada na construção do Jardim Suspenso em meados da década de 60. O Estádio Palestra Itália foi ampliado e o recorde de público foi registrado por ocasião da conquista do título paulista em 1976, na vitória por 1 a 0 sobre o XV de Piracicaba, com 35.913 pagantes.
 Chinesinho, gaúcho registrado com o nome de Sidney Colônia Cunha, chegou ao Palmeiras em 1958 em companhia do goleiro Valdir de Moraes e o meia Ênio Andrade. Eles ajudaram a sedimentar a estrutura da equipe para o Campeonato Paulista de 1959, com a quebra de jejum de títulos de nove anos.
 Na época foram realizados três jogos decisivos contra o então invicto Santos, após ambos empatarem na pontuação em dois turnos de pontos corridos. Nos dois primeiros jogos ocorreram empates por 1 a 1 e 2 a 2. Na terceira partida, o Santos vencia com gol de Pelé, mas o Palmeiras virou através de Julinho Botelho e Romero. Eis os campeões: Valdir; Djalma Santos, Waldemar Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho Botelho, Nardo, Américo e Romero.
 Chinesinho teve passagem pela Seleção Brasileira de 1956 a 1961, e lá jogou 20 vezes. Com isso encantou o jornalista-empresário italiano Geraldo Sanela que o levou ao Modena em 1962, com conseqüente repasse ao Catânia. Em 1965 ele foi contratado pela Juventus de Turim. Os últimos cinco anos de Itália foram no Lanerossi de Vicenzo, quando serviu de inspiração para o ainda menino Roberto Baggio, que o acompanhou até o término da carreira em 1973, aos 38 anos de idade.
 Incontinenti, Chinesinho foi lançado na carreira de treinador e fracassou na experiência no próprio Lanerossi, com a queda da equipe à Série B daquela competição nacional. Ele não dimensionou a falta de vocação para exercer a função.
 Antes de adoecer, Chiquinho freqüentava regularmente o Bar do Elias, nas imediações do Estádio Palestra Itália, ainda reduto de ex-jogadores palmeirenses que cultivam amizades. Lá ele apreciava goladas de chope.


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Cinco anos sem o zagueiro Pinheirense

 Nos anos 60 a Ferroviária de Araraquara (SP) ficou conhecida como produtora de jogadores qualificados, e o São Paulo se apressava em buscá-los para reabastecer o seu elenco. Foi assim com a dupla de ataque Maritaca e Téia e os ponteiros-direitos Peixinho e Faustino, para não se alongar nos exemplos. Nos anos 80 essa mesma ‘Ferrinha’ foi propagada nacionalmente porque contava com um dos jogadores mais violentos do futebol brasileiro: Antenor José Cardoso ou simplesmente Pinheirense, que morreu no dia 21 de agosto em Recife (PE) de 2009.
 Pinheirense completaria 54 anos de idade em novembro daquele ano, era natural do Maranhão, e a sua aparição deu-se no Náutico no final dos anos 70. A fama de homem mau se consolidou na Ferroviária, nos anos 80, quando impiedosamente ‘abria a caixa de ferramenta’, diziam antigos locutores esportivos. Na maioria das vezes acertava meio gomo da bola e metade do pé do adversário. Logo, foi recordista de expulsões e, apesar disso, ainda arrumou emprego em clubes do interior de São Paulo, Londrina (PR) e Coritiba.
 Quis o destino que Pinheirense vivesse os últimos anos em uma cadeira de roda. Ficou paraplégico ao ser alvejado com um tiro nas costas em 2000, disparado pelo marido de uma ex-namorada, na capital paulista.
 Alguns treinadores do passado foram responsabilizados por violência de seus jogadores. Mandavam bater da medalhinha pra cima, ou a referência de ‘bola ou bolim’, em que passava a bola e não passava o adversário.
 O falecido zagueiro Moisés - que jogou no Bangu e Corinthians - tinha fama de xerife, mas raramente foi expulso. Ele confessou que jogava duro, porém sem deslealdade. “Quase ganho o Belfort Duarte”, brincou certa ocasião, numa referência ao prêmio instituído pelo Conselho Nacional de Desportos em 1945, entregue a atleta que passava dez anos sem ser expulso de campo.
 Márcio Rossini - ex-Marília (SP), Santos, Bangu e Flamengo - jogava duro e muitas vezes recebeu o cartão vermelho. Foi o típico zagueiro temido por atacantes adversários, embora não se valesse só da truculência para se impor. Era bom marcador, tanto que jogou em grandes clubes e foi campeão paulista no Santos em 1984, quando formava dupla de zaga com Toninho Carlos.
 Na época, parte dos zagueiros extrapolava em jogadas mais duras quando seus times eram mandantes de jogos. Pressionada, a ‘juizada’ pipocava no momento da expulsão, porque não tinha segurança nos estádios e temia por agressões.

 Agora, quem abusa do antijogo na maioria das vezes recebe o cartão vermelho até mesmo no primeiro tempo. E o ex-árbitro Almir Ricci Peixoto Laguna ficou marcado num dérbi campineiro - Ponte e Guarani - há 31 anos, ao expulsar o lateral-direito pontepretano Édson Abobrão aos 40 segundos, após entrada violenta sobre o meia Neto.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Mauro Cabeção, boleiro da noite

 Pouca gente lembrou que no dia seis de agosto foi registrado o décimo ano na morte do polêmico lateral-direito Mauro Cabeção, revelado pelo Guarani, e que deu continuidade à carreira no Grêmio, Cruzeiro, Santos e Portuguesa. E a história se prolongou em três ocasiões na Seleção Brasileira na década de 70, paralelamente a passagem pelo selecionado olímpico que disputou os jogos em Montreal, no Canadá, em 1976.
 Mauro Campos Júnior morreu aos 48 anos de idade vítima de seis disparos de revólver e, segundo versão do delegado de polícia de Nova Odessa (SP) da época, Antonio Donizete Braga, o então atleta foi vítima de crime passional e encomendado, com relato de triângulo amoroso envolvendo sua companheira e uma outra mulher.
 O pintor Felipe Delgado, que havia escondido o rosto com capuz, teria aceitado oferta de R$ 4 mil para a execução de Mauro Cabeção em um bar na periferia de Nova Odessa, com promessa de adicional de R$ 100 por cada disparo.
 Após a polícia desvendar o assassinato qualificado, a Justiça do município condenou o pintor a 13 anos de prisão em 2007. A companheira de Mauro, acusada de ser mandante do crime, ficou presa por um período.
 Quem foi o Mauro jogador? Paradoxalmente um dos raros boleiros da noite a sobreviver no futebol. Bebia, fumava e se divertia com a mulherada em boates, e de uma delas contraiu doença venérea. Apesar de noites mal dormidas tinha disposição para o trabalho. Era um marcador qualificado e, de vez em quando, abusava de botinadas em hábeis ponteiros-esquerdos.
 O vigor físico permitia-lhe que também atacasse, mas de forma consciente. Nas raras vezes que chegava ao fundo de campo, o cruzamento saía com efeito e encontrava o atacante de frente para o gol.
 Curiosamente não foi a vida desregrada que encurtou o seu histórico no futebol. Insistia em jogar apesar de contusão crônica no joelho. No final de uma carreira de pouco mais de dez anos já não fazia o vaivém constante, e por isso optou pela fixação no miolo de zaga. Ali deu conta do recado, a exemplo dos laterais Carlos Alberto Torres, Leandro e Djalma Santos. Na época, exigia-se de laterais boa impulsão para coberturas no meio da área.
 Fora de campo, Mauro era só alegria. Bem que tentou evitar o apelido de cabeção, mas com aquela imensa cabeça seria impossível sustentar tal briga. Também travou uma luta titânica para conseguir aposentadoria e vivia de míseros salários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), até arrumarem-lhe um emprego de porteiro no ginásio de esportes do Guarani. De lá foi transferido para uma escolinha de futebol mantida pelo clube, e ensinava a molecada carente como se bate na bola.

 À noite, como ninguém é de ferro, encostava-se em balcão de bar e não fazia distinção de bebidas, desde que fossem alcoólicas. Assim foi tocando a vida até a morte.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Tupãzinho, o talismã do Corinthians

 Por questão protocolar, o eterno ídolo corintiano Tupãzinho recebe tratamento formal apenas na Câmara Municipal de Tupã, interior de São Paulo. Quando citado por quaisquer dos parlamentares, a referência é nobre vereador Pedro, ou então o nome completo: Pedro Francisco Garcia.
 A popularidade advinda do futebol garantiu-lhe uma cadeira no legislativo de Tupã com 908 votos na eleição municipal de 2012 pela sigla PSBC (Partido Social Democrata Cristão), com subsídio mensal atualizado de $ 2.408,85. Logo, a renda é completada no trabalho como olheiro e revelador de jovens atletas de futebol, assim como atividades comerciais. Ele já foi criador de gado e fabricante de fraldas em Campo Grande (MS).
 Tupãzinho jamais será esquecido por ter marcado o gol que deu o primeiro título brasileiro ao Corinthians no dia 16 de dezembro de 1990, na vitória sobre o São Paulo por 1 a 0. Foi gol de carrinho aos oito minutos do segundo tempo, quando ‘voou’ em direção à bola como ‘voam’ zagueiros para interceptar avanços de adversários. Com isso fez a fiel torcida estremecer o Estádio do Morumbi, que naquela ocasião registrou público de 100.858 pagantes. Foi um prêmio para quem jogou 24 partidas e ficou de fora apenas contra o Náutico.
 Daquele time corintiano comandado pelo treinador Nelsinho Baptista, o lateral-direito Giba já faleceu. Eis a equipe: Ronaldo; Giba, Marcelo, Guinei e Jacenir; Márcio, Wilson Mano, Neto e Mauro; Tupãzinho e Fabinho. Já o São Paulo, do saudoso técnico Telê Santana, teve Zetti; Cafu, Antonio Carlos, Ivan e Leonardo; Flávio, Bernardo e Raí; Mário Tilico, Eliel e Elivelton (já falecido).
 Ano passado Tupãzinho foi homenageado pelos dirigentes corintianos com a imagem do lance de carrinho no muro do Centro de Treinamento Joaquim Grava, dividindo espaço com Ronaldo, Sócrates, Basílio, Viola e Neto.
 Apesar da estatura de 1,69m de altura, ele repartia bola com zagueiros de caixa torácica avantajada. Seu forte, todavia, era a velocidade e bom balanço para infernizar marcadores. Fazia isso desde a infância em Tupã e depois no São Bento, despertando interesse do Corinthians para contratá-lo - juntamente com o zagueiro Guinei - dia 27 de janeiro de 1990.
 Durante seis anos consecutivos Tupãzinho jogou no Corinthians, a maior parte como reserva que entrava no segundo tempo para decidir partidas. Por isso foi tido como jogador ‘talismã da fiel’, amuleto dos treinadores do clube, nos tempos em que ele usava cabelo caído nas costas, copiando os sertanejos Chitãozinho e Xororó.

 Após se desligar do Timão no amistoso de 28 de junho de 1996, na goleada por 4 a 0 sobre o Operário de Campo Grande (MS), ele foi para o Fluminense. Depois passou por América (MG), XV de Piracicaba, Matonense, Itumbiara, Rondonópolis e Jaboticabal em 2002, na Série A3 do Paulista.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Hélio Maffia, que baita preparador físico!

 Hoje, a realidade do futebol atribui ao treinador responsabilidade total sobre desempenho de seus comandados, e exatamente por isso é ele quem monta a comissão técnica do clube que dirige, trazendo profissionais de sua estreita confiança. Esta constatação contrasta com décadas passadas quando o preparador físico desenvolvia um trabalho paralelo e não se submetia ao crivo do treinador que, quando demitido, simplesmente dava lugar a outro profissional do setor, preservando-se o restante da equipe.
 Assim foi a maior parte da trajetória do preparador físico Hélio José Maffia nos tempos de Palmeiras, São Paulo, Guarani e Corinthians. A rigor, a participação dele em comissões técnicas transcendia o trabalho de educador da parte física. Pode-se dizer que acumulava a função de supervisor ao exigir pontualidade dos atletas para horários de treinos, viagens, café da manhã e refeições em hotéis, assim como exigia que se vestissem de forma condizente.
 Certa ocasião, na passagem pelo Guarani entre o final dos anos 70 e meados da década de 80, Maffia flagrou o então lateral-esquerdo Miranda se apresentando para a concentração com uma bermuda vermelha e imediatamente exigiu que ele vestisse calça.
 Cozinheiras dos clubes em que o professor trabalhava não se atreviam a preparar refeições sem que o cardápio fosse especificado. E esta exigência de controle disciplinar no Guarani era apoiada por líderes de grupo como o zagueiro Gomes e o goleiro Neneca, que tinham plena ascendência sobre companheiros do elenco.
 Maffia foi um profissional com inteira independência para agendar os dias de treinos físicos. Também aplicava exercícios sem o uso de cordas e desconsiderava programações em que o atleta corria sobre degraus de arquibancadas. Nas semanas longas de trabalho, após a folga às segundas-feiras, as terças eram bem puxadas e começavam com o velho modelo de o jogador correr ao redor do gramado, ocasião em que era avaliado sobre o real condicionamento. Foi um período em que atletas com uns gramas a mais acusados na balança, decorrente dos excessos, eram submetidos a sequências de abdominais que pareciam intermináveis. Quando necessário, não dispensava a boa conversa ao pé do ouvido, um conceito pedagógico que acreditava.
 Na passagem pelo Corinthians, Maffia chegou a ser treinador interino por aproximadamente seis meses, entre 1984-85, sempre deixando claro que não tinha intenção em dar prosseguimento na função.

 Agora, aos 82 anos de idade completados no dia 21 de julho, Maffia goza de merecida aposentadoria, sem que isso implique em distância do esporte, tanto que participa ativamente de entidades ligadas ao meio em sua cidade natal de Jundiaí (SP), onde nunca deixou de residir durante o período em que estava na ativa.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Adeus ao polêmico árbitro Armando Marques

 Ex-árbitros de futebol de muita popularidade geralmente arrumam empregos de comentarista de arbitragem em rádio e televisão. Armando Nunes Castanheira da Rosa Marques, morto no Rio de Janeiro no dia 17 de julho de insuficiência renal, aos 84 anos de idade, foi além. Ganhou um programa de variedades na extinta Rede Manchete de Televisão em 1993, num esquema de rodízio entre apresentadores: o Show da Manchete. Ele o apresentava às segundas-feiras, e nos outros dias Otávio Mesquita, Ivon Curi, Monique Evan e Rosana Hermman se alternavam no comando.
 Armando Marques foi um comunicador por excelência. Apesar da fragilidade física, a velocidade de raciocínio ainda pôde ser manifestada no dia 21 de abril passado, quando entrevistado pelo eclético Jô Soares na TV Globo, ocasião em que revelou nunca ter medo na vida. “Eu agradeço a Deus porque ele me privou do sentimento do medo”.
 O ex-árbitro integrou a equipe de comunicadores da TV Manchete no período em que ela havia investido maciçamente no jornalismo, teledramaturgia, esportes e entretenimento, e por isso incomodava a Rede Globo de Televisão. O jornal da emissora, apresentado pelo casal Eliakim Araújo e Leila Cordeiro, tinha uma hora de duração. O programa Documento Especial era a marca do jornalismo investigativo. Atores consagrados como Maitê Proença e Gracindo Júnior alavancaram a audiência da novela ‘Dona Beija’, mas o pico no Ibope foi alcançado por Pantanal. Clodovil Hernandes, Xuxa e Angélica participaram da grade da programação.
 Como árbitro, tecnicamente Armando Marques foi tido como um dos melhores nas décadas 60 e 70, apesar de erros crassos na carreira. Santos e Portuguesa dividiram o título do Campeonato Paulista de 1973, porque na definição através de cobranças de pênaltis o time santista vencia por 2 a 0, o árbitro deu a partida por encerrada com a Lusa ainda tendo chances vencer, e assim restou à Federação Paulista de Futebol premiar os dois clubes.
 Na decisão do Paulistão de 1971 ele anulou gol de cabeça legítimo de Leivinha, do Palmeiras, contra o São Paulo, interpretando que o atacante tivesse usado a mão. O erro foi determinante para que o adversário ficasse com o título da competição.
 Num período em que atletas eram identificados predominantemente pelos apelidos, Armando Marques os chamavam pelo nome. Pelé, por exemplo, era senhor Edson, que ele ousou expulsar num jogo contra o São Paulo em 1963.
 Embora educado, Armando Marques repreendia os atletas energicamente para manter a disciplina. Tinha o hábito de adverti-los com dedo em riste no rosto, e por isso levou um soco do lateral-esquerdo Nilton Santos, já falecido.

 Por causa dos trejeitos nos gramados, o público nos estádios, predominantemente conservador, entoava o coro de ‘bicha’. Seja como for, o certo é que ele morreu solteiro.

Adeus a Di Stéfano, o melhor antes de Pelé


 A natural concentração do noticiário esportivo sobre Copa do Mundo engoliu a repercussão da morte do argentino naturalizado espanhol Alfredo Di Stéfano neste 4 de julho, aos 88 anos de idade, proveniente de problemas cardíacos. A história mostra que antes da aparição de Pelé - indiscutivelmente o melhor jogador de futebol do planeta -, todas as honras do topo se concentravam em Di Stéfano.
 Paradoxalmente, este gênio do futebol não disputou uma Copa do Mundo sequer. Quando defendia o River Plate da Argentina, a partir de 1945, participou do Sul-Americano de Clubes de 1948, ocasião em que marcou quatro gols. Um ano depois o futebol argentino enfrentou uma greve de jogadores que reivindicavam melhores condições de trabalho, porque a pauta elaborada de negociações foi negada. Disso se aproveitou o clube Milionários da Colômbia para levá-lo, acenando com boa proposta financeira e sem necessidade de pagamento do passe, visto que a liga colombiana era amadora e não havia como a Fifa intervir.
 Lá, Di Stéfano participou de 292 partidas e marcou 267 gols. Logo, chegou ao selecionado da Colômbia, onde ficou conhecido como ‘a flecha loira’. Por isso despertou interesse dos rivais espanhóis Barcelona e Real Madrid, que se digladiaram para contratá-lo. E naquele impasse surgiu uma proposta alternativa para que ambos se revezassem na vinculação do jogador a cada ano durante um quadriênio. Houve discordância do Barcelona e assim Di Stéfano se transferiu ao Real a partir de 1953.
 Velocidade, habilidade e gols aos montes consagraram este ponta-de-lança já naturalizado espanhol, que não se constrangia com a fama de ‘fominha’, com a justificativa de que “o goleador tem mesmo é que ser egoísta”. Só que a Espanha não se classificou à Copa do Mundo da Suécia de 1958, e assim ele aguardou quatro anos para a competição no Chile, jamais contando que fosse se lesionar às véspera do embarque, o que provocou o corte da delegação.
 Assim, restou continuar brilhando no Real Madrid até 1966, quando pendurou as chuteiras, sem contudo sair do meio. Optou por morar na Espanha e lá foi treinador de clubes e até presidente honorário do Real. E entre as muitas histórias que gostava de contar, Di Stáfano ressaltava que mesmo integrando o time do River Plate teve que serviu ao Exército argentino simultaneamente à carreira de atleta, obrigatoriedade da época tanto lá como cá.
 Talvez seja de desconhecimento da maioria que Pelé, mesmo após ter sido campeão mundial em 1958, um ano depois foi o soldado Nascimento do Grupo Motorizado da Costa da Praia Grande, do Exército brasileiro, conciliando a atividade de profissional do Santos F.C. E isso se repetia aos montes com jogadores brasileiros, que tinham naturais regalias de liberação para participação nos chamados treinos aprontos e dias de jogos.


segunda-feira, 7 de julho de 2014

Assis perambulou dez anos até ser reconhecido

 Na atualidade, jogador que se destacar em quaisquer das divisões de campeonatos de seu estado logo será contratado por agremiações de maior porte, principalmente as das capitais de grande centro. Esta situação contrasta com décadas passadas quando ‘revelações’ permaneciam por mais tempo em seus clubes interioranos, e um claro exemplo disso foi o centroavante Careca, que durante cinco temporadas - a partir de 1978 - defendeu o Guarani, transferindo-se posteriormente ao São Paulo.
 Naquele período os clubes sobreviviam basicamente de bilheterias e não havia o abismo financeiro entre grandes e médios do futebol brasileiro. Apesar disso, é difícil explicar como um jogador com o talento do atacante Assis, falecido neste dia seis de julho, ficou perambulando por clubes do interior paulista durante oito anos até se transferir ao São Paulo em 1980.
 Benedito de Assis Silva se profissionalizou na Francana em 1972 e no ano seguinte transferiu-se para o São José, onde ficou durante quatro anos. Após passagem pela Internacional de Limeira em 1977, voltou à Francana. E em 1979 participou do time que pela primeira vez disputou aquele inchado Campeonato Brasileiro com 90 clubes, cuja formação era de Geninho; Gaspar, Poli, Zé Mauro e Cláudio; Pavan, Paranhos e Antenor; Marinho, Assis e Delém. O goleiro Geninho hoje é treinador.
 No São Paulo, mal Assis formou dupla de ataque com Serginho Chulapa já perdeu a vaga para Renato ‘Pé Mucho’, que veio do Guarani. No pouco tempo que atuou por lá participou deste time: Valdir Peres; Antenor, Nei, Bezerra e Airton; Teodoro, Ailton Lira e Assis; Paulo César, Serginho Chulapa e Zé Sérgio.
 Posteriormente, a passagem relâmpago no Inter (RS) nem conta. A carreira dele decolou mesmo no Atlético Paranaense em 1982, quando ratificou a postura de jogador envolvente com a bola nos pés, boa visão como assistente de goleador, assim como também sabia fazer gols com bola no chão ou no alto. Lá ele formou a histórica dupla de ataque com Washington, batizada na época de ‘Casal 20’, alusão a um seriado de TV criado pelo romancista Sidney Sheldon. E ambos ajudaram o ‘Furacão’ a quebrar jejum de título estadual de 12 anos numa equipe formada por Roberto; Ariovaldo, Jair, Bianchi e Jorge Luís; Sérgio, Lino e Nivaldo; Capitão, Washington e Assis.
 Aquilo que era bom ficou melhor com a transferência da dupla para o Fluminense em 1983, que ajudou a quebrar a hegemonia do Flamengo no campeonato estadual, com vitória por 1 a 0 sobre o rival na final, e o gol do título marcado por Assis aos 45 minutos do segundo tempo. Eis o time: Paulo Vitor; Aldo, Duílio, Ricardo Gomes e Branco; Jandir, Delei e Leomir; Assis, Washington e Paulinho. E lá Assis ficou até as pernas pesarem em 1987. Depois jogou futebol profissional até 1990, encerrando a carreira no Paysandu.

Como montar a Seleção Brasileira desde 1958?

 Em tempos de Copa do Mundo, que tal se projetar um combinado de atletas brasileiros que já participaram desta competição desde 1958, e que não precisam necessariamente ter sido os melhores da posição?
 Taffarel, campeão mundial nos Estados Unidos em 1994, obrigatoriamente é o goleiro. Afinal, foi participante de três Mundiais consecutivos a partir de 1990, tem histórico de brilhantes passagens por Inter (RS) e Galo mineiro, encerrou a carreira no Parma da Itália em 2003, e agora atua como preparador de goleiros no Galatasary da Turquia.
 Convenhamos que Leandro, que fez carreira apenas no Flamengo, se encaixa bem na lateral-direita. Em 1986, às vésperas da viagem dos brasileiros à Copa do México, foi solidário ao companheiro Renato Gaúcho, cortado por indisciplina, e pediu dispensa do grupo.
 Evidente que uma dupla de zaga formada por Luiz Pereira e Ricardo Rocha provocaria raríssimas objeções. Luizão ganhou notoriedade no Palmeiras e Seleção Brasileira em 1974, antes de se transferir ao Atlético de Madrid, da Espanha. E ao encerrar a carreira nos anos 80, aos 43 anos de idade, voltou à Espanha e atualmente trabalha como diretor da equipe B do mesmo Atlético. Ricardo Rocha teve brilhantes passagens por Guarani, São Paulo e Fluminense e Seleção Brasileira.
 Escalem Júnior na lateral-esquerda, porque tecnicamente superou os falecidos Nilton Santos e Marinho Chagas. A ótima visão de jogo como comentarista da TV Globo ele já mostrava nos gramados, nos tempos de Flamengo e Seleção Brasileira.
 Igualmente não dá pra colocar restrições num trio de meio de campo formado por Clodoaldo, Rivellino e Pelé. Exceto Clodoaldo, aposentado em Santos, os outros continuam ligados ao futebol. Rivellino atua como comentarista da TV Cultura de São Paulo, enquanto Pelé divulga o futebol brasileiro nos continentes, continua requisitado como ‘garoto propaganda’, e se mantém no ramo empresarial.
 Claro que as honrarias no ataque ficam para a trio formado por Ronaldo Fenômeno e Romário, ambos com carreiras bem sucedidas quando penduraram as chuteiras, e o falecido ponteiro-direito Mané Garrincha. Ronaldo agencia jogadores de futebol e soube se infiltrar com sucesso no marketing. Romário enveredou para a carreira política e no final de 2014 vai completar o primeiro mandato parlamentar de deputado federal.
 Treinador do selecionado brasileiro?  Paradoxalmente o escolhido não conquistou título, mas montou uma das melhores equipes na Copa do Mundo de 1982. Trata-se do também falecido Telê Santana.
 E jogadores como Mauro Ramos de Oliveira, Nilton Santos, Marinho Chagas, Falcão, Zico, Reinaldo, Carlos Alberto Torres, Tostão e Jairzinho ainda ficaram de fora.


Oberdan só morreu aos 95 anos de idade

Desconfiem das pessoas que mecanicamente divulgam profundo pesar pela morte de outra de 95 anos de idade. Pois foram constatadas várias manifestações deste tipo por ocasião da morte do lendário goleiro Oberdan Catani, do Palmeiras, no dia 20 de junho passado.
 Conforme antigo bordão, ninguém fica para semente. O caminho natural de uma pessoa quase secular é a morte e não seria diferente com Oberdan, que estava internado no Hospital do Servidor Público da cidade de São Paulo. Restou, todavia, uma história de um palestrino que em 1942 viu o então presidente da República do Brasil, Getúlio Vargas, exigir que o antigo Palestra trocasse de nome para Palmeiras, porque nosso país e Itália estiveram em lados opostos por ocasião da Segunda Guerra Mundial.
 Oberdan Catani foi absoluto na meta do Palmeiras de 1941 a 1954, período em que o distintivo do Palmeiras era caracterizado por um P (maiúsculo). Elasticidade e boa colocação eram tidas como as principais virtudes dele, que a conduziram à Seleção Brasileira. Assim, participou do Sul-Americano de países de 1945 ao lado de renomados jogadores como os meias Zizinho e Jair da Rosa Pinto, o zagueiro Domingos da Guia e o centroavante Ademir de Menezes, o Queixada. E o Brasil foi vice-campeão daquela competição, atrás da Argentina.
 Oberdan foi reverência no Palmeiras, embora antigos conselheiros tenham torcido o nariz pelo fato dele ter encerrado a carreira no Juventus. Assim, o então goleiro procurava se defender justificando que foi obrigado a procurar outro clube porque o consideraram velho entre os palmeirenses.
 Ele abriu a história de quatro inesquecíveis goleiros do Palmeiras. Em 1958 chegou ao clube o gaúcho Valdir Joaquim de Moraes, igualmente com virtudes de boa colocação e elasticidade. Não fosse isso jamais sobreviria no futebol com apenas 1,70m de altura, estatura jamais permitida para a posição na atualidade. Valdir, que jogou no Palmeiras até 1969, participou da era ‘Academia do Futebol’ entre 1964 e 1966, numa defesa formada por Valdir; Djalma Santos, Djalma Dias, Valdemar Carabina e Ferrari. E quando encerrou a carreira de jogador criou a função de preparador de goleiros no próprio Palmeiras, nos anos 70.
 A história de bons goleiros do Palmeiras teve sequência com a chegada de Emerson Leão no final dos anos 60. A regularidade o levou à Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970 e foi titular absoluto nas Copas de 1974 e 1978.
 Depois dele, o Palmeiras contou com Marcos Roberto Silveira Reis, o ovacionado Marcos, que saiu da Lençoense para brilhar no Parque Antártica a partir de 1992.
 Marcos tem uma história singular ligada ao Palmeiras. Em 2003 recebeu proposta milionária do Arsenal da Inglaterra, mas preferiu continuar no clube e para defendê-lo na disputa da Série B do Campeonato Brasileiro.