segunda-feira, 31 de julho de 2017

Perivaldo, da Seleção Brasileira a morador de rua

 A história do baiano e ex-lateral-direito Perivaldo Lúcio Dantas, morto em 27 de julho passado aos 64 anos de idade, é mais uma daquelas que deveriam ser refletidas por jovens jogadores que vislumbram fama e contratos rentáveis em grandes clubes do mercado nacional ou lá fora.

 Como nem todo atleta se escora em procuradores ou empresários de futebol devidamente confiáveis e competentes para administração da carreira, coloca a perder o dinheirão proveniente de lucrativos contratos com mulheres, noitadas, bebidas e gastança com amigos ou aproveitadores que o surrupiam impiedosamente.

 Pois Perivaldo se encaixava no contexto da irresponsabilidade, e por isso foi nocauteado pela vida quando morou em Portugal. Reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, em outubro de 2013, o flagrou vagando pelas ruas da ‘terrinha’ como mendigo.

 Aquele cenário contrastava com o Perivaldo de pulmões invejosos ainda nos tempos de atleta do Bahia, quando fazia transição da defesa ao ataque com incrível velocidade, num time que contava, entre outros, com Douglas Onça, Baiaco e Beijoca.

 Logo, contratado pelo Botafogo (RJ) em 1977, o vínculo só foi encerrado cinco anos depois, entremeado a rápida passagem por empréstimo ao São Paulo. Se a princípio pecava nos cruzamentos, a persistência nos treinos permitiu a correção, e disso se aproveitou o ponta-de-lança Mendonça para marcar gols.

 Assim, chegou à Seleção Brasileira em 1981 quando, arrogante, julgava que apenas Carlos Alberto Torres e Toninho Baiano haviam sido laterais-direitos mais qualificados de que ele, cujo currículo aponta passagens por Palmeiras, três anos no Bangu (RJ) e futebol da Coréia do Sul, quando confessou ganhar salário de US$ 9 mil por mês.

 Em 1989 ele caiu no conto da sereia para jogar no futebol português, e sem qualquer garantia mudou àquele país à espera de proposta que nunca apareceu. Foi quando torrou o dinheiro em farras, com hábito de gastar bem mais de que recebia quer como cozinheiro, quer como vendedor de roupas e objetos usados em feira de rolo.


 Depois, já sem receita, a dependência era da ajuda de custo de familiares no Brasil. Foi quando se transformou em morador de rua, e o Sindicato dos Atletas de Futebol do Rio de Janeiro ofereceu-lhe emprego de auxiliar técnico para jogadores desempregados e tarefas administrativas.

terça-feira, 25 de julho de 2017

Adeus a Waldir Peres, a muralha

 Com a morte do ex-goleiro Waldir Peres dia 23 de julho, é recomendável recapitulação de coluna publicada em maio de 2003, com citação do jogo Flamengo e Guarani de 1985 no Estádio do Maracanã, pelo Campeonato Brasileiro, quando ele defendeu três pênaltis para os bugrinos e deixou o gramado como herói naquele empate por 1 a 1.

 Um ano anos havia caído em desgraça no São Paulo, transferindo-se ao América do Rio de Janeiro. Aí, ao recuperar a forma, veio para o Guarani, clube que paradoxalmente deveria ter iniciado a carreira em 1970. Embora aprovado no teste, a morosidade dos dirigentes para definição de contrato possibilitou que a rival Ponte Preta atravessasse a negociação, após indicação do ex-técnico Ilzo Neri.

 Vindo de Garça (SP), na ocasião ele deixava os longos cabelos caírem sobre testa e pescoço. Com a camisa pontepretana, Waldir Peres ficou um ano como reserva. Ao assumir a titularidade, só deixou o clube em 1973 na transferência ao São Paulo, precisando de apenas três meses para barrar o goleiro Sérgio. E lá foi absoluto na posição durante onze anos.

 Boa colocação, elasticidade e reflexo para praticar defesas cara a cara com adversários eram as principais virtudes, embora pecasse na saída da meta. Assim, participou daquele time 1977, treinado por Rubens Minelli, campeão brasileiro contra o Atlético Mineiro.

 Após empate sem gols, a definição ocorreu em cobranças de pênaltis. O São Paulo acertou três contra duas do Galo e festejou o título no Estádio do Mineirão. Waldir estava iluminado num time que tinha ainda Getúlio, Tecão, Bezerra e Antenor; Chicão e Teodoro (Peres); Zé Sérgio, Mirandinha, Dario Pereyra e Viana.

 Waldir Peres participou de três Copas do Mundo. Em 1974, na Alemanha, foi convocado como terceiro goleiro devido ao corte do lesionado Wendell, do Botafogo (RJ). Assim, pôde observar a regularidade do titular Émerson Leão e aprender com o reserva Renato (Flamengo).

 Em 1978, no Mundial da Argentina, foi reserva imediato de Leão. E em 1982, na Espanha, chegou a sua vez de jogar ao lado de uma patota que encantou o mundo, mas foi despachada pela Itália do carrasco Paolo Rossi.

 Foram 650 jogos na carreira de 19 anos como jogador, com passagens ainda por Corinthians e Portuguesa, ocasião em que se julgava habilitado a desempenhar funções de treinador, sem contudo obter s

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Edinho, zagueiro de três Copas do Mundo

 A maioria dos desportistas que vê trocas de bolas lentas e improdutivas entre zagueiros no futebol de hoje, com chance de recomposição à equipe adversária, provavelmente desconheça que o comunicativo comentarista esportivo do canal SporTV, Edino Nazareth Filho, carioca de 62 anos de idade, foi um quarto-zagueiro que desprezada essa frescura e arrancava com a bola ao perceber brechas na marcação adversária.

 Quando se lê Edino, não entenda que trata-se de erro de digitação ou desatenção do escrevente de cartório de registro quando do registro do nome. Desde à infância, para facilitar a identificação, foi chamado de Edinho. Assim construiu uma carreira de sucesso no futebol do Fluminense, fruto do investimento feito pelo clube à época nas categorias de base, quer incentivando revelação de talentos, quer garimpando no eixo Rio-São Paulo a procura de promessas para lapidá-las.

 No primeiro como profissional do Fluminense, em 1975, Edinho já se encaixou no time que se convencionou chamar de ‘maquina tricolor’, time pelos adversários, e que reeditou boas campanhas no ano subsequente.

 Aquele primeiro time contava com Félix; Toninho Baiano, Silvério, Edinho e Marco Antonio; Zé Mário, Cléber e Rivellino; Gil, Manfrini e Paulo César Caju. Na sequência, restou apenas Edinho no quinteto defensivo, formado por Renato; Carlos Alberto Torres, Miguel, Edinho e Rodrigues Neto. Os meio-campistas foram Pintinho, Caju e Rivellino; ficando o ataque com Gil, Doval e Dirceu.

 Além da técnica apurada para valorizar a saída de bola de trás, Edinho recebia aplausos pelo estilo raçudo, e foi premiado com convocações da Seleção Olímpica à principal, com participação em três Copas. Mesmo zagueiro de origem, atuou como lateral-esquerdo na Argentina em 1978, visto que a posição ficou com Amaral. Na Copa da Espanha de 82 foi reserva de Luizinho, até que quatro anos depois, na França, fez dupla de zaga com Júlio César.

 Apesar da identidade com o Fluminense - onde ficou por sete anos - teve passagem pelo rival Flamengo como atleta e treinador. Há registro - na carreira que se estendeu até 1990 no Grêmio (RS) - na Udinese da Itália, em 1982.

 Também aproveitou o livre trânsito no Fluminense para treiná-lo duas vezes, assim como passou pelo Marítimo de Portugal e futebol mexicano até 2011, quando optou transmitir a sua vasta experiência em televisão.

domingo, 9 de julho de 2017

Winck, lateral dos bons e treinador

 Quando encerrou a carreira de lateral-direito no São José do Rio Grande do Sul em 1996, Luiz Carlos Coelho Winck projetou incontinenti trajetória igualmente vitoriosa como treinador naquele mesmo clube. Idealizou que aprendizagem com renomados treinadores - como o saudoso Ênio Andrade - fosse suficiente para captar virtudes de liderança, psicologia, controle físico do grupo, treinamentos técnicos de aprimoramento, e aspecto tático.

Após cruzar o país em equipes de média e pequena expressão, apenas agora, no Criciúma, ganha visibilidade no Campeonato Brasileiro da Série B. Topou o desafio ao assumir o clube na quarta rodada, após três derrotas consecutivas. Agora, nos últimos oito jogos, reverteu o cenário com quatro vitórias e quatro empates, o último deles diante do Inter em Porto Alegre, numa amostragem que extrai competitividade de seus jogadores.

 Enquanto atleta mostrava pulmão de aço, que permitia chegar ao ataque sistematicamente. Como pegava bem na bola nos cruzamentos, vislumbrava companheiros em condições de completar jogadas.

 A recompensa foram convocações à Seleção Brasileira, com histórico de 17 partidas. Foi quando participou da Copa América de 1993, no Equador, com eliminação do Brasil nas quartas-de-final. Após empate com a Argentina por 1 a 1 no tempo normal, perdeu por 6 a 5 na definição através das cobranças de pênaltis.

 Por duas ocasiões Winck sonhou com a conquista da medalha olímpica. A primeira em 1984, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, Estados Unidos, com derrota para a França por 2 a 0 na final. Quatro anos depois, em Seul, Coréia do Sul, outra derrota da final, desta vez para a União Soviética por 2 a 1. Uma fratura na perna o impediu de participar da Copa do Mundo da Itália de 1990.

Gaúcho de Portal, Winck completou 46 anos de idade em janeiro passado. A profissionalização no Internacional (RS) ocorreu aos 17 anos de idade, com conquistas de seis títulos regionais pelo clube até 1989, quando se transferiu para o Vasco e comemorou o título do Campeonato Brasileiro na vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo, no Estádio do Morumbi.


 O time vascaíno da época era de Acácio; Luiz Carlos Winck, Quiñones, Marco Aurélio e Mazinho; Zé do Carmo, Boiadeiro e Bismarck; Sorato, Bebeto e William. De lá saiu em 1993 e passou novamente por Inter, Grêmio, Atlético (MG), Botafogo e Flamengo. 

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Um ano sem o raçudo volante Caçapava

O que seria do médico não fosse o enfermeiro ? Como se vê, o coadjuvante também é essencial em qualquer atribuição. No futebol, há compartimentos do campo em que boleiros de melhor compleição física correm e desarmam para que o talentoso possa brilhar.

 O volante Luís Carlos Melo Lopes, apelidado de Caçapava, por ter nascido em cidade gaúcha de mesmo nome, está incluso entre coadjuvantes merecedores de aplausos. Fazia de seu vigor físico a ferramenta imprescindível na engrenagem de uma equipe. Era um brutamente, distribuído em 80 quilos, que por vezes causava até intimidações a adversários, sem que pudesse ser rotulado de violento.

 Claro que se prevalecia nas bolas divididas, nas disputas ombro a ombro. A recompensa foi uma carreira em grandes clubes, a começar pelo Inter (RS), quando carregava o piano para favorecer ídolos como Falcão e Paulo César Carpegiani, sendo bicampeão brasileiro em 1975-76 nesse esquadrão: Manga; Cláudio Duarte, Figueroa, Hermínio (Marinho Perez) e Vacaria; Caçapava, Falcão e Carpegiani (Batista); Valdomiro (Jair), Flávio (Dario) e Lula (Escurinho).

 Pois esse Caçapava que passou pela Seleção Brasileira e abandonou o futebol em 1987, atuando pelo Fortaleza, só voltou a ser lembrado quando de sua morte no dia 27 de junho do ano passado, aos 61 anos de idade, vítima de ataque cardíaco. Ele chegou a pesar 132 quilos.

 Do Inter, caiu nas graças da torcida corintiana em 1979, adepta de jogador voluntarioso que sai de gramados com camisa ensopada de suor. Lá viveu o pior momento dois anos depois, quando o Corinthians ficou em oitavo lugar no Campeonato Paulista, e sequer conseguiu classificação por índice técnico ao Brasileirão, num time formado por Rafael; Zé Maria, Gomes, Rondinelli e Wladimir; Caçapava, Biro Biro, Sócrates e Zenon; Mário e Paulo César Caju.


 Em 1982 Caçapava já estava no Palmeiras. A partir disso trilhou a estrada da volta no futebol, com passagens por Vila Nova (GO), Ceará, Novo Hamburgo e Fortaleza. Depois ainda arriscou a carreira de treinador em clubes do Piauí, sem prosperar. Em seguida se identificou como consultor espiritual, com cobrança de consultas. O então centroavante Vamberto, do River (PI), o procurou para destravar um longo jejum de gols, e o reflexo, de imediato, foram quatro gols em partida contra o 4 de Julho.