domingo, 20 de fevereiro de 2022

Dezesseis anos sem Jorge Mendonça

O 17 de fevereiro passado marcou o 16º ano da morte do meia Jorge Mendonça, que havia fixado residência em Campinas a partir de 1980, quando foi contratado pelo Guarani. Num gesto carinhoso de bom filho, ele trouxe à cidade os pais que moravam no Rio de Janeiro.

Decisivo nos gramados, mas problemático fora dele, Jorge Mendonça foi alvo de rugas mal explicadas nos tempos em que trabalhou com o saudoso treinador Telê Santana, no Palmeiras. Rancoroso, o comandante foi à forra ao não relacioná-lo à Copa do Mundo da Espanha, em 1982, quando treinava a Seleção Brasileira, justamente no período em que o atleta atravessava uma das melhores fases da carreira.

Todavia, quem jogou ao lado dele, como o ex-meia pontepretano Dicá, em 1983, dá outro testemunho do então companheiro: “Parecia uma moça”. O também falecido treinador Zé Duarte, que o comandou de 1980 a 1982 no Guarani, foi além: “O Jorge era um bobão. Gostava de todo mundo e não aprendeu a gostar dele mesmo”.

Zé Duarte ficava indignado com a vida de seu ex-craque de bar em bar, exatamente porque tinha um carinho especial por ele, tanto que lhe dispensava tratamento diferenciado em relação ao grupo de jogadores. “De vez em quando o Jorge tomava umas a mais à noite e, quando isso acontecia, no dia seguinte eu o deixava descansando”.

Depois, na conversa ao ‘pé do ouvido’, o paizão Zé Duarte cobrava dele que decidisse a próxima partida. “E o Jorge decidia”, lembrava o treinador, justificando ao grupo as razões de regalias ao craque.

Em 1980, quando o saudoso Antonio Tavares Júnior, então presidente do Guarani, o contratou para repor a saída do meia Renato ‘Pé Murcho’, um jornalista o contestou em off (sem divulgação): “Presidente, trazer refugo do Vasco! Jorge Mendonça já era”. O atleta respondeu com 58 gols em 1981, 38 deles no Campeonato Paulista. Na passagem pelo Palmeiras, marcou o gol de cabeça da conquista do título paulista de 1976.

Pena que ele foi mais dos boleiros que não sabem o que fazer quando as pernas ficam cansadas após a carreira. A Ponte lhe deu chance para ingressar na função de treinador dos juniores, mas faltou-lhe a aptidão de comandante. Assim, não prosperou na atividade.

Sem projeto definido para retomada de emprego, com dinheiro rareando e família dividida, ele enfrentou repetidas dificuldades decorrentes de boleiros naquela situação.

domingo, 13 de fevereiro de 2022

Adeus ao ex-meia-atacante e treinador Tata

 A morte do ex-meia-atacante Tata, neste nove de fevereiro, aos 68 anos de idade, nos remete aos tempos em que clubes como Portuguesa Desportos, Juventus, Paulista de Jundiaí e São José faziam parte da primeira linha de futebol paulistas, depois definharam e hoje tentam se reerguer. Além deles, Tata também passou pelo Santos, São Paulo e Santo André, numa carreira de atleta que se estendeu de 1974 a 1987.

Paulistano Mário Felipe Peres, o Tata, participou dos tempos em que atletas contrariaram a lógica sobre preservação do físico e eram adeptos do tabagismo. No caso dele, foi fumante inveterado, e o reflexo do abuso foi um câncer no pulmão. Como atuou no período de prevalecimento da técnica ao físico, soube usar os atalhos do campo para correr menos e manter eficiência com dribles, visão de jogo, chutes fortes e gols.

Na prática, a carreira dele foi iniciada no Juventus, e na passagem pela Lusa atuou ao lado do saudoso Enéas e meia Alexandre Bueno. No entanto, foi o São José o clube em que teve mais identificação. Lá, participou da campanha que levou a agremiação a elite do Brasileirão em 1982, num time que tinha, entre outros, o goleiro Tonho, zagueiros Darcy e Ademir Gonçalves, atacantes Edinho, Tião Marino e Nenê. E no histórico de 232 jogos registrou 53 gols, o quarto maior artilheiro de todos os tempos do clube, ocasião em foi batizado de 'Metralhadora Martins Francisco', nome do estádio da agremiação.

Foi lá, também, que encerrou a carreira de atleta aos 33 anos de idade, em decorrência de contínuas lesões. Incontinenti, aceitou convite do então técnico da equipe Vail Motta para que fosse o seu assistente. Todavia ganhou relevância na função ao formar parceria com o treinador Muricy Ramalho em 1999, na Portuguesa Santista, com trajetória recheada de títulos estaduais - bi no Náutico e Inter (RS) -, campeão paulista com o São Caetano em 2004, brasileiro pelo Fluminense, tri do Brasileirão pelo São Paulo, Libertadores e Recopa Sul-Americana pelo Santos; e ambos só se separaram em 2016, quando problemas de saúde implicaram em abandono de carreira de Muricy, um amigo de infância.

Tata tentou carreira solo de treinador registrada com título paraense pelo Paysandu, mas sem sucesso nas demais agremiações que trabalhou, como São José, Portuguesa Desportos, Santo André, Portuguesa Santista, Remo, Moto Club e Vila Nova (GO).


domingo, 6 de fevereiro de 2022

Gol de título vascaíno consagrou atacante Sorato

Quem se dispuser recorrer a publicações sobre Sorato, centroavante herói do Vasco no título do Campeonato Brasileiro de 1989, vai constatar que uma pergunta não foi feita nas incontáveis entrevistas que lhe fizeram: por que escolheu o Vasco da Gama para se submeter a testes nas categorias de base?

Natural de Araras, interior de São Paulo, à época com pouco mais de 80 mil habitantes, conhecida pela monocultura da cana-de-açucar, havia aos montes opções no interior paulista para enfrentar o desafio na carreira de atleta, mas quis o destino que no segundo ano como profissional do Vasco a cabeçada dele na bola, em cruzamento do então lateral-direito Luiz Carlos Winck, fosse fatal para o então goleiro são-paulino Gilmar Rinaldi, na vitória do time carioca por 1 a 0 com essa formação: Acácio; Winch, Quiñonez, Marco Aurélio e Mazinho; Zé do Carlo, Marco Antonio Boiadeiro e Bismarck; Sorato, Bebeto e William.

Agnaldo Luís Sorato, que em abril vai completar 53 anos de idade, ainda goza de prestígio na comunidade vascaína pelo registro de duas passagens: de 1988 a 1992 e no biênio 1997/98, com novo título do Brasileiro e da Libertadores, totalizando 235 jogos e 82 gols.

Na primeira saída do Rio de Janeiro, foi mais um dos altos investimentos feito pela empresa Parmalat, na época co-gestora do Palmeiras, uma aposta que pudesse repetir o futebol de homem-gol, e ele comemorou dois títulos paulista, um do Brasileiro e outro do Torneio Rio-São Paulo.

A partir de 1994 ele foi transformado em andarilho do futebol, intercalando grandes clubes como Cruzeiro e Botafogo com outros medianos como Juventude e Bangu, para depois percorrer a estrada da volta do futebol em Comercial de Ribeirão Preto, Paulista de Jundiaí, Ituano e Marília (SP), Gama (DF), América, Madureira e Cabofriense (RJ) e Videoton (HUN), entre outros.

Após rodar por mais de 20 equipes e ter atuado até os 40 anos de idade, Sorato encerrou a carreira no Tigres do Espírito Santo, onde, incontinenti, ingressou na função de auxiliar-técnico. Depois agregou experiência na base do Vasco, e agora está na direção técnica do Doze, equipe que integra o futebol capixaba desde 2015, com conquista de acesso à divisão principal já no primeiro ano de fundação. E com ele está o ex-goleiro Carlos Germano - ex-companheiro de Vasco - como seu auxiliar-técnico.