segunda-feira, 19 de maio de 2014

Morre o ousado e polêmico Eduardo Farah

 A expressão descansou, quando encaixada como sinônimo de morreu, expressa a realidade da morte do ex-presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol) Eduardo José Farah, aos 80 anos de idade, neste 17 de maio, em São Paulo. Farah estava internado desde novembro passado em São Paulo.
 Farah foi um dirigente polêmico e sobretudo criativo. Quando assumiu a presidência da FPF prometeu gestão revolucionária e não se pode dizer que deixou de cumpri-la, senão vejamos: quem introduziu sete bolas para que as partidas ficassem mais rápidas? E o teste de dupla arbitragem, quem idealizou? Farah introduziu a parada técnica, spray para demarcação de barreiras e dançarinas (farazetes) para entreterem os torcedores em intervalos de jogos.
 O grande salto de qualidade na gestão Farah foi dado em 1998, dez anos após assumir ao cargo, quando o futebol ganhou conceito de negócio e o torcedor caracterizado como cliente. O desinteresse do público na freqüência a estádios exigiu em choque e por isso foi elaborado um projeto empresarial com o investidor Grupo VR (Vale Refeição), que destinou R$ 41 milhões ao Campeonato Paulista daquela edição, com repasse de R$ 500 mil aos grandes clubes enquanto mandantes de cada partida, e R$ 100 mil igualmente aos pequenos clubes e na mesma condição.
 O Grupo VR absorveu receita de bilheterias de todos os jogos, e uma das contrapartidas foi se responsabilizar pela distribuição de prêmios através de sorteios. Foram 50 automóveis, imóvel no valor de R$ 50 mil e um caminhão com objetos de utilidade.
 Foi o período em que Farah criou a torcida vip nos estádios, atendendo-a com redução de filas nas bilheterias e criando o modelo móvel de compra de ingresso. Aí surgiram os bilhetes eletrônicos e a conseqüente substituição das catracas mecânicas. Limpeza em sanitários foi outra exigência, e por isso o setor foi terceirizado.
Claro que a ousadia de Farah gerou polêmica, como a contestação do projeto ‘Disk Marcelino’, que visava repatriar o meia ao futebol brasileiro, quando atuava na Espanha. O projeto consistia em que o torcedor fizesse ligação ao custo de R$ 3 e o clube com percentual maior de ligações receberia o atleta sem bancar a compra do passe. Foi aí que 62,5% de corintianos telefonaram e o time venceu a disputa, contra 20,3% de são-paulinos, aparecendo os demais clubes em cotação inferior.
 Em 2001 Farah extrapolou. Nenhum jogo poderia terminar sem vencedor, pois havia prolongamento nas disputas de pênaltis. Aí o vencedor ganhava um ponto e o perdedor nenhum. Nos empates com gols quem ganhava nos pênaltis levava dois pontos, enquanto o perdedor somava apenas um. Vencedores de partidas por qualquer contagem ganhavam três pontos.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O refinado Djalma Dias


 Quem vê zagueiros do Palmeiras dando chutões para a arquibancada talvez desconheça a história de Djalma Dias, zagueiro de técnica refinada e avesso aos ‘bicões’. Ele marcou época no clube na década de 60, nos tempos de ‘academia alviverde’.
 O dia primeiro maio marcou o 24º da morte dele, vítima de aneurisma cerebral. Fosse vivo, hoje ele estaria hoje com 74 anos de idade e teria muitas histórias para contar, uma delas é que ainda como jogador já era dono de oficina mecânica, empresa de importação de produtos químicos e de modesta editora.
 A bela carreira teve início no América do Rio de Janeiro, participando do time campeão carioca de 1960. Três anos depois já era titular absoluto do Palmeiras e encantava a torcida com seu estilo clássico. Tinha o tempo exato da bola e se destacava pela capacidade de antecipação. Este estilo o levou à Seleção Brasileira em 1965, e ganhou todas as 16 partidas que participou. Inexplicavelmente, em 1966 foi cortado às vésperas da Copa da Inglaterra, e a história se repetiu em 1970, no México, sendo que um ano antes havia sido titular absoluto nas Eliminatórias. “São águas passadas. O futebol me deu muito mais alegrias do que tristeza”, resumia, na época, para evitar polêmica.
 Em 1968, Djalma Dias saiu brigado do Palmeiras por causa do pagamento dos 15%, da venda de seu passe para o Atlético Mineiro. Com o impasse, ficou sem jogar vários meses, e a situação só foi contornada depois que se transferiu ao Santos. E anos depois, ele esclareceu porque comprou o briga com o Palmeiras: “Estava ancorado em um dos maiores dirigentes de futebol que o Brasil já teve: Nicolau Moran Vilar, vice-presidente do Santos. Ele queria me levar para a Vila Belmiro e pagou-me salários durante todo tempo que fiquei sem clube”.
 Djalma encerrou a carreira como jogador profissional no Botafogo do Rio, em 1974. Lá, formou dupla de zaga com Brito, num time que contava, entre outros, com os atacantes Roberto Miranda e Jairzinho.
 Depois foi jogar no Milionário, equipe de veteranos que fez sucesso na década de 70, e integrou a seleção brasileira de máster do radialista Luciano do Vale - já falecido -, ocasião em que respondia insistentes perguntas sobre os segredos para conservar 66 quilos, distribuídos em 1,77m de altura. “Meu termômetro é minha cerveja diária. Essa é sagrada”, garantia.
 Djalma Dias partiu cedo, mas deixou um herdeiro que faz tanto ou mais sucesso: o meia Djalminha, que já parou de jogar. O zagueiro viveu um dia de grande emoção em 4 de janeiro de 1987, quando seu filho, ainda juvenil do Flamengo, o esperava no quarto do hotel depois que a seleção de máster goleou a Itália por 4 a 0. “Pai, você arrebentou com o jogo”, disse espontaneamente o menino, ao abraçá-lo. E o velho Djalma retrucou: “Se eu sofresse do coração, teria morrido”.


segunda-feira, 5 de maio de 2014

Kazu, o primeiro japonês no futebol brasileiro

 Quando se observa o Japão atingir a quarta Copa do Mundo consecutiva, com a iminente edição no Brasil, a história mostra o ponteiro-esquerdo Kazu como um dos precursores da nova escola de futebol japonesa. E se a modalidade começava a engatinhar por lá na década de 80, ele não quis esperar a natural evolução e preferiu arriscar a sorte no Brasil em 1982, nas categorias de base do C.A. Juventus.
 Evidente que a solidária comunidade japonesa no Brasil, estimada hoje em cerca de 1,5 milhão de habitantes, segundo recente Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), bem acolheu o imigrante asiático, principalmente para o domínio da língua portuguesa. Assim, restava a Kazu mostrar no campo o futebol rápido e habilidoso, na época sem espaço em clubes de seu próprio país.
 O Santos apostou nas virtudes dele e o contratou em 1986, ocasião em que foi considerado o primeiro nipônico a jogar profissionalmente no Brasil. E nos quatro anos subseqüentes foi repassado a clubes como Palmeiras, XV de Jaú, Matsubara, CRB de Alagoas, Coritiba e novo estágio no Santos em 1990, antes de regressar ao Japão, onde atuou como profissional por mais de dez anos, visto que nas temporadas 1994-95 passou pelo Gênoa da Itália, e em 2005 encerrou a carreira no Sydney F.C. da Austrália.
 A marcante passagem de Kazu pelo futebol brasileiro ocorreu em Jaú, no XV de Novembro local, quando recebeu atenção especial do treinador José Poy, já falecido, um argentino que arrastava um portunhol mesmo com quase 30 anos radicados no Brasil.
 Poy foi um técnico disciplinador que só deu certo em clubes de médio e pequeno porte, após início na função no São Paulo, clube em que atuou como goleiro dos anos 50 até meados da década 60, vindo do Rosário Central da Argentina. E ele sobreviveu na carreira mesmo com estatura de 1,72m de altura, num período em que havia espaço para goleiros baixinhos que pautassem por boa colocação e elasticidade.
 Portanto, naquele empate sem gols do XV de Jaú com o Palmeiras, dia 30 de março de 1988, Kazu participou de um time formado por João Luís; Adilson Neri, Marcelo, Telila e Toninho Paraná; Mário, Elcio e Paulinho; Ponga, Osvaldo (Nilson Pirulito) e Kazu. O Palmeiras da época? Zetti; Jairo, Toninho Cecílio, Nenê Santana e Carlos Alberto; Célio, Lino e Cesar Pereyra; Rodinaldo, Bizu e Ditinho Souza.
 Evidente que após o retorno ao Japão Kazu jamais deixou de acompanhar informações sobre o XV de Jaú, inclusive especulou-se há pouco mais de um ano a hipótese de que poderia voltar a jogar futebol na cidade, apesar dos 46 anos de idade na época, visto que há dois anos havia atuado pelo Yokohama. Por isso ele lamentou a derrocada do time a partir de 1993, com quedas consecutivas de divisões, culminando com rebaixamento à quarta divisão paulista em 2012.