segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Adeus ao centroavante Alcindo, do Grêmio

 Nas Copas do Mundo de 1958 e 1962, quando a Seleção brasileira sagrou-se bicampeã mundial, só a integrava jogadores do eixo Rio-São Paulo dos 22 convocados. Abertura para atletas de outros estados, naquele grupo, passou a ocorrer em 1966, quando o meia Tostão do Cruzeiro e atacante Alcindo do Grêmio portoalegrense foram convocados, contemplando-se mineiros e gaúchos respectivamente.

 Não se pode dizer que a convocação de Alcindo teria sido política, para contemplar os gaúchos. De fato ele era uma máquina de fazer gols, tanto que o histórico de 13 anos pelo Grêmio aponta 264 gols, o maior artilheiro na história do clube, distante do ponta-direita Tarciso, segundo colocado, com 222 gols.

 Igualmente Alcindo era jogador decisivo nos Genais. Marcou 13 gols naqueles clássicos gaúchos, mas erroneamente atribui-se a ele o retrospecto de maior artilheiro nesses jogos. Carlitos 42, Vilalba 20, Tesourinha 17 e Adãozinho 16, todos pelo Inter, estão à frente, como o também gremista Luiz Carvalho 17.

Pois esse Alcindo Martha de Freitas, nascido em Sapucaia do Sul (RS), que escreveu história de goleador no futebol brasileiro e mexicano, morreu na noite do dia 27 de agosto em Porto Alegre (RS), aos 71 anos de idade, vitimado por complicações de seu quadro de diabetes.

 Alcindo chegou à Seleção Brasileira como dono da camisa nove desde que o treinador Vicente Feola convocou 45 jogadores na fase preparatória, até que às vésperas da Copa do Mundo de 1966 definisse os 22. Na estreia contra a Bulgária, na vitória brasileira por 2 a 0, gols de Pelé e Garrincha - ambos em cobranças de faltas - o quarteto ofensivo foi formado por Garrincha, Alcindo, Pelé e Jairzinho.

 Com Pelé contundido à segunda partida, Tostão foi escolhido para substitui-lo diante da Hungria, e ele fez o gol de honra do Brasil na derrota por 3 a 1, com Frenc, Farkas e Méssoly, de pênalti, marcando para os húngaros, em jogo que Alcindo se machucou e na ocasião não era permitido substituição.

 Por causa de lesões de atletas e busca de opções técnicas no grupo, Feola fazia mudanças a cada jogo. Diante de Portugal, com Alcindo vetado, Silva - atacante do Flamengo -, foi o substituto, na derrota brasileira por 3 a 1, gol de Rildo para os derrotados.


 Aí, no processo de renovação da Seleção Brasileira, Alcindo foi perdendo espaço e restou o histórico de sete jogos, quatro vitórias, dois empates e uma derrota. Todavia, seu estilo rompedor e destemido continuou a serviço do Grêmio até 1971, quando se transferiu para o Santos. Depois, no México, atuou no Jalisco e América. Voltou ao Grêmio em 1977 e encerrou a carreira na Francana, interior de São Paulo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Peu, um reserva de luxo no grande Flamengo

 Basta um exemplo para se ratificar a degradação técnica do futebol brasileiro nas últimas décadas. O atacante Júlio dos Santos Ângelo, conhecido na bola apenas como Peu, que foi reserva no timaço do Flamengo em meados da década de 80, seria candidatíssimo a vaga na atual Seleção Brasileira.

 Peu era veloz e habilidoso. Apesar disso, como ocupar lugares de Bebeto, Nunes, Tita e Lico no time flamenguista? Foram tempos em que o clube conquistava seguidamente Taça Guanabara, Campeonato Carioca, Campeonato Brasileiro, Libertadores e Mundial de Clubes.

 Por isso o alagoano Peu era um reserva de luxo naquela patota. Geralmente entrava no segundo tempo e deixava a sua marca, como na fase semifinal do Campeonato Brasileiro de 1982, na vitória sobre o Guarani por 2 a 1. Ele e Zico construíram o placar no Estádio do Maracanã.

“Naquela tarde, foram 145 mil torcedores no Maracanã. Depois ganhamos do Guarani em Campinas e decidimos o título com o Grêmio”.

 Após empate com os gaúchos por 1 a 1 no Maracanã, o time venceu no Estádio Olímpico por 1 a 0, gol de Nunes. E Peu festejou bastante aquele título ao lado do amigo Zico, cujo relacionamento continua estreito. Logo, jamais poderia rejeitar convite para desfilar na Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense, cujo enredo foi em homenagem a Zico no Carnaval do Rio de Janeiro de 2014.

 Foram quatro anos de Flamengo, os dois últimos como titular, quando exibia a cabeleira black power, fazia gols, e nas frequentes entrevistas recordava a ligação com o CSA, clube de Alagoas que frequentava desde os dez anos de idade, até porque os pais tinham vínculo empregatício com a agremiação: mãe lavadeira e pai segurança e roupeiro.

 Claro que os pais não serviram para influenciar o ingresso dele nas categorias de base. Já se destacava entre a garotada, e os cartolas do clube negociaram o passe no primeiro assédio do Flamengo em 1981.

 Quando Peu deixou de repetir atuações convincentes, perdeu espaço no Flamengo. Aí começou o repasse de clubes como Santa Cruz, Atlético Paranaense, Botafogo de Ribeirão Preto (SP) e até passagem pelo Monterrey do México, onde se sagrou campeão nacional em 1986.

 O encerramento da carreira deu-se em 1994 no mesmo CSA de Maceió, cidade onde nasceu em abril de 1960.

 Desde 2008 Peu perambula por equipes do Norte e Nordeste como treinador, ainda sem atingir a projeção planejada. Por isso até aceitou convite do PTB de Maceió para se candidatar a vereador em 2012, provavelmente convencido de que o prestígio no futebol seria o maior cabo eleitoral para que se elegesse. Abertas as urnas veio a decepção: apenas 374 votos.

domingo, 14 de agosto de 2016

Geraldo, morte aos 22 anos de idade

 Há 40 anos, em 26 de agosto de 1976, o talentoso meia Geraldo, do Flamengo, morreu vítima de choque anafilático, provavelmente por reação à algum medicamento composto na anestesia quando se submetia a cirurgia para extrair as amigdalas. Morte aos 22 anos de idade, no Rio de Janeiro.
 Se naquela época Geraldo atendeu recomendação médica para que se submetesse a cirurgia, hoje é possível controle clínico de infecções das amigdalas devido aos avanços terapêuticos. Médicos otorrinolaringologistas prescrevem tratamentos através de antibióticos mais eficazes e seguros, com respostas satisfatórias.
 Quando a cirurgia é indicada por causa de prejuízo de respiração, sono, alimentação, fala, ou registro de infecções frequentes, pacientes se submetem previamente a exames pré-operatórios com o anesteriologista. Aí é avaliado o histórico de rejeição a remédios, que se juntam ao diagnóstico sobre aqueles que podem interagir com os anestésicos, para não haver anormalidade.
 Geraldo foi um meia extremamente habilidoso da equipe do Flamengo no biênio 1975-76, com lógica chegada à Seleção Brasileira, e frequentes elogios do então treinador Oswaldo Brandão, já falecido. Assim, disputou a Copa América de 1975, e foi considerado como promessa à Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Não deu tempo.
 Mineiro de Barão de Cocais - cidade que dista cem quilômetros de Belo Horizonte -, Geraldo Cleofas Dias Alves foi revelado nas categorias de base do Flamengo, em companhia do irmão mais velho Washington, que não vingou. Assim, Geraldo integrou a geração de ouro do clube comandada por Zico. Geração em que meias sequer precisavam olhar para a bola para conduzi-la com sabedoria, quer no drible, quer no passe. Pela extrema habilidade, cronistas cariocas até extrapolaram com projeções do surgimento de um novo Pelé.
 Geraldo corria de cabeça erguida, e o defeito incorrigível foi a falta de ambição para finalizar contra metas adversárias. Preferia o passe a companheiro, e isso reflete no retrospecto de apenas 13 gols nas 168 partidas com a camisa do Flamengo, segundo o almanaque do clube.
 Consta do histórico dele o título carioca de 1974, em época que contabilizava-se dois pontos por vitória. Como o Flamengo venceu o América por 2 a 1 e empatou sem gol com o Vasco, chegou a três pontos, em jogo presenciado por 165.358 torcedores. Já o Vasco empatou com o América por 1 a 1 e ficou com dois pontos. Eis o Flamengo da época: Renato; Júnior, Jayme, Luiz Carlos e Rodrigues Neto; Zé Mário, Geraldo e Zico; Paulinho, Édson e Julinho.

 Irônico, Geraldo tinha hábito de assoviar quando fazia jogadas de efeito. Logo, o vício lhe rendeu o apelido de Geraldo do Assovio. Zico, entretanto, acrescentou que o hábito de assoviar também era fora de campo, principalmente a música ‘You Song, do cantor Elton John e interpretada pelo saudoso Billy Paul.

Vadão

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