domingo, 25 de outubro de 2015

Lidu e Eduardo, vítimas de tragédia em 1969

 O saudoso narrador de futebol Fiori Gigliotti produzia um quadro imortalizado no rádio brasileiro intitulado ‘Cantinho de Saudade’, quando mergulhava na poesia para enaltecer jogadores do passado. Assim, não seria exagero se pinçasse frases bonitas de escritores para relatar as trágicas mortes do lateral-direito Lidu e ponteiro-esquerdo Eduardo do Corinthians em 1969, decorrentes de acidente de automóvel na capital paulista.
 O Timão havia empatado com o São Bento por 1 a 1 no dia 27 de abril daquela temporada, no alçapão do extinto Estádio Humberto Reali, de Sorocaba, mando de jogos do time da casa até 1979. No retorno a São Paulo, Lidu, recém habilitado como motorista, entrou em seu Fusquinha na área de estacionamento do Estádio Parque São Jorge e foi jantar, em companhia de Eduardo.
 Diria Fiori que, quando vazava o seio negro da noite, ambos retornavam à residência pela Marginal do Tietê ocasião em que o veículo, desgovernado, capotou várias vezes, chocou-se contra pilastra da ponte da Vila Maria, matando-os. É possível que o narrador tenha acrescentado que Lidu morreu na flor dos anos, pois havia completado um mês antes 22 ‘primaveras’, justamente quando a felicidade transbordava-lhe a alma como titular absoluto do Timão em 36 jogos.
 À torcida corintiana enlutada, Fiori lembraria que a espada impiedosa da dor atravessou-lhe o coração. E descreveria Lidu, o Ludgero Pereira da Silva, como o moço que veio de Presidente Prudente, que no primeiro ano de Prudentina, em 1966, havia mostrado raça e firmeza na marcação, despertando interesse do Londrina que o contratou. A chegada ao Corinthians deu-se no início de 1969.
 Sobre Eduardo Neves certamente Fiori enfeitou um pouco mais. Afinal foi um ponteiro-esquerdo habilidoso que se destacou no América (RJ) em quatro temporadas a partir de 1964, e já no Corinthians foi convocado à Seleção Brasileira oito vezes. Não passou batido no relato de Fiori que Eduardo fez parte do time corintiano de 1968 que quebrou tabu de dez anos sobre o rival Santos, na vitória por 2 a 0 no Estádio do Pacaembu.
 Aquele Corinthians de 1969, no Campeonato Paulista, já havia vencido Santos, São Paulo, Palmeiras e a então respeitada Portuguesa até a tragédia que vitimou os dois jogadores. Depois, a incerteza sobre os substitutos. Na lateral-direita foi improvisado o lateral-esquerdo Pedro Rodrigues, Alvacir e até o deslocamento do zagueiro Mendes. Na ponta-esquerda passaram Adnan, Reinaldo, Buião e o deslocamento do centroavante Benê.

 Assim, do time base de Lula; Lidu, Ditão, Luís Carlos e Pedro Rodrigues; Dirceu Alves e Rivellino; Paulo, Tales, Benê e Eduardo ocorreram várias modificações e queda na classificação. Na época o clube mandava jogos no Estádio Alfredo Schurig, conhecido como Parque São Jorge e Fazendinha.

domingo, 18 de outubro de 2015

Pelé chega aos 75 anos com saúde recuperada

 Até 2012, aos 72 anos de idade, o ex-jogador Pelé tinha saúde de ferro e não havia registro de internação hospitalar. Aí começou a se queixar de dores quando jogava tênis e em caminhada. Por isso se submeteu à cirurgia no quadril para colocação de prótese de titânico e cerâmica no Hospital Israelita Alberto Einstein, na capital paulista.
 Claro que Pelé jamais imaginava permanência mais freqüente nas alas de pacientes daquele hospital. Em novembro do ano passado foi operado para retirada de cálculos renais. Neste ano retornou ao local duas vezes para outros procedimentos. Em maio, diagnosticado com hiperplasia benigna na próstata, passou por nova cirurgia. Voltou a ser operado dois meses depois para correção na coluna.
 Neste outubro, quando completa 75 anos no dia 23, Pelé voltou às manchetes com a língua afiada para criticar a corrupção na Fifa. Também cobra na Justiça R$ 2,1 milhões devido pelo Santos, por atraso de pagamento do contrato vitalício de direito de exploração de sua imagem.
 Pelé, registrado como Edson Arantes do Nascimento, jamais deixou de freqüentar o noticiário mesmo depois que pendurou definitivamente as chuteiras em 1977 no New York Cosmos (EUA), quando recebeu o equivalente a R$ 7 milhões por contrato de dois anos.
 Depois disso foi ministro dos Esportes no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, divorciou-se de Resemeri Cholbi e casou-se mais duas vezes: com Assíria Nascimento e Márcia Aoki. Ainda em família, recorreu enquanto pôde para evitar o reconhecimento de paternidade de Sandra Regina, filha de um relacionamento extraconjugal com Anísia Machado.
 Por causa da resistência, Sandra havia lhe mandado um recado curto e grosso em entrevista no dia do aniversário dele, quando indagada sobre o presente que lhe daria: “Um olhinho de peroba para lustrar bem aquela cara de pau dele”.
 Exames de DNA foram implacáveis e a Justiça obrigou o reconhecimento da paternidade em 1996. Eleita vereadora de Santos em 2000, Sandra não completou a segunda legislatura com a morte em 2006, vítima de câncer aos 42 anos de idade. Pelé preferiu enviar coroas de flores a ir ao velório, mas a família dela optou por devolvê-las.
 Títulos pelo Santos F.C., tri na Seleção Brasileira e histórico de 1.281 gols condizem com procedimento da imprensa francesa ao coroá-lo ‘rei do futebol’ em 1961 e defini-lo como ‘atleta do século [passado]’ 20 anos depois. Isso inspirou narradores de televisão a criar bordões para identificá-lo. Todas as vezes que pegava na bola o saudoso Walter Abrahão o definia como ‘Ele’. Para o também falecido Geraldo José de Almeida era ‘o craque Café’, que ‘mata no peito e baixa na terra’. O igualmente saudoso jornalista Nelson Rodrigues dizia ‘aquele garoto de cor também possui a sanidade mental de um Mané Garrincha’.


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Gilberto Sorriso, lateral de São Paulo e Santos

 Qual jogador de futebol tem histórico de 73 partidas consecutivas como titular da mesma equipe durante todo tempo regulamentar de confrontos? Qual? Pois o detentor desta marca - provavelmente recordista de todos os tempos no Brasil - é o então lateral-esquerdo Gilberto Ferreira da Silva, identificado no meio da bola como Gilberto Sorriso, e por motivos óbvios.
 O histórico foi cravado nos tempos de São Paulo, de 1968 a 1977. Ele havia sido aprovado em treino peneira dos juvenis do tricolor paulistano, após reprovação nos testes feitos no terrão do Corinthians.
 Destro, Gilberto Sorriso começou a carreira como lateral-direito, mas a ingrata disputa de posição com o botinudo e temido uruguaio Forlan serviu para que aceitasse a improvisação na lateral-esquerda, alternativa do então treinador José Poy para que ocupasse o lugar do decadente lateral Tenente.
 As campanhas mais expressivas de Gilberto no São Paulo foram no biênio 1970-71, com os treinadores Zezé Moreira e Oswaldo Brandão, respectivamente. No título de 70, o time são-paulino era formado por Sérgio; Forlan, Jurandir, Roberto Dias e Gilberto Sorriso; Edson Cegonha e Gérson; Paulo Nani, Terto, Toninho Guerreiro e Paraná.
 Gilberto Sorriso revelou que naquele período áureo do São Paulo pessoas influentes no clube não davam importância à Libertadores. “Valorizavam campeonatos Brasileiro e Paulista”, contou.
 No primeiro ano de Santos, em 1978, Gilberto Sorriso já comemorou título paulista participando de um grupo treinado pelo saudoso Chico Formiga e identificado como ‘Meninos da Vila’. Eis a formação: Flávio; Nelsinho Baptista, Joãozinho, Neto e Gilberto Sorriso; Toninho Vieira, Rubens Feijão e Pita; Claudinho, Juari e Célio. Detalhe: na segunda partida daquela final contra o São Paulo, no Estádio do Morumbi, o público foi de 107.485 pagantes.
 Mesmo na reserva, o gostinho de faixa de campeão se repetiu em 1984, no time santista comandado pelo também saudoso Carlos Castilho e formado por Rodolfo Rodrigues; Chiquinho, Márcio Rossini, Toninho Carlos e Toninho Oliveira (Gilberto Sorriso); Dema, Paulo Isidoro, Lino e Humberto; Serginho Chulapa e Zé Sérgio.
 Quando parou de jogar em 1989 na Portuguesa Santista, já sem a cabeleira black power e barba, Gilberto Sorriso revelou que nunca bebeu ou fumou, mas confessou que gostava da noite. Dez anos depois enfrentou injusta acusação de que teria cometido homicídio em 1999, com decretação de prisão preventiva, e o caso rendeu-lhe muita dor de cabeça até provar a inocência. Tudo porque ele havia perdido documentos que foram utilizados pelo real homicida.

 Hoje, aos 64 anos de idade completados em setembro passado, paradoxalmente ele trabalha como empregado de empresa de propriedade da ex-esposa. Os cabelos rarearam, mas o sorriso continua o mesmo.  

domingo, 4 de outubro de 2015

Kita, primeiro pé amputado, agora a morte

 Em junho de 2011, ao se submeter a uma cirurgia para reconstruir os ligamentos do tornozelo esquerdo, o atacante Kita foi vítima de infecção hospitalar, agravada pelo diabetes. Por isso foi amputado o pé. Neste três de outubro, aos 57 anos de idade, o ex-jogador morreu e deixou uma rica história no futebol.
 Centroavante que se preza chuta com os dois pés, naturalmente um de cada vez para não cair. E para o gaúcho Kita, natural de Passo Fundo, era indiferente a bola cair na direita ou na canhota. O giro sobre o zagueiro era quase certo e, incontinente, o chute forte em direção ao gol adversário.
 Por causa desse estilo e do bom aproveitamento no jogo aéreo foi cobiçado e contratado por grandes clubes do futebol brasileiro como Flamengo, Inter (RS), Grêmio e Atlético Paranaense. Em nenhum deles, entretanto, atormentou tanto os zagueiros como nos tempos de Internacional de Limeira em 1986, quando foi decisivo para que o clube conquistasse o título inédito do Campeonato Paulista, e com direito à artilharia: 24 gols.
 Outro duro golpe que custou a absorvê-lo foi a esculhambação no governo Fernando Collor de Melo de confisco de dinheiro da poupança do povo brasileiro nos anos 90. Duro porque ele havia votado no homem para presidente.
 Chega de coisa ruim. Melhor ficar com a imagem positiva que Kita, ou João Leithard Neto, no futebol. Inquestionavelmente a principal lembrança dele no segmento foi no dia 3 de setembro de 1986, quando a Inter de Limeira (SP) sagrou-se campeã paulista ao vencer o Palmeiras por 2 a 1 no Estádio do Morumbi.
 Na época o time interiorano era treinado por José Macia, o Pepe, e contava com Silas; João Luís, Juarez, Bolívar e Pecos; Manguinha, Gilberto Costa e João Batista (Alves); Tato, Kita e Lê (Carlos Silva).
 Três anos antes Kita despontou para o futebol com os 15 gols marcados no Juventude, no Campeonato Gaúcho. Em 1984 já estava no Inter (RS), e conta ter sentido indescritível emoção ao colocar a medalha de prata no peito quando atuava pela seleção olímpica brasileira, em Los Angeles (EUA).
 A estréia com a camisa do Flamengo em 1986 foi emocionante. De cara marcou dois gols contra o Corinthians, ano em que conquistou o título carioca. Outras conquistas ocorreram no Grêmio e Atlético Paranaense, sempre com gols. O final da carreira foi em 1995 no E.C. Passo Fundo (RS).  Nem por isso fez bons contratos na carreira.
 “Pena que nos anos 80 não se ganhava tanto dinheiro como hoje”, lamentou reiteradas vezes. Por isso, depois do confisco na poupança do governo Collor, o máximo que conseguiu foi montar um pequeno empreendimento de vídeo locadora.

 Antes de ter o próprio negócio foi funcionário da Secretaria de Esportes de Passo Fundo durante oito anos, mas foi pra rua com a mudança na cadeira no Executivo, após eleição municipal.