segunda-feira, 7 de novembro de 2011


Edson Cegonha, um ex-mulherengo



O maldito Alzheimer castigou e originou mortes dos ex-jogadores Ramos Delgado, Waldemar Carabina, Francisco Sarno, Urubatão e Washington, ex-atacante de Guarani e Corinthians. Agora, desde o dia 20 de outubro, apaga de vez a memória do ex-boleiro Edson Cegonha, que não sabe voltar para a sua casa em Bonsucesso, no Rio de Janeiro.

Na maioria das vezes o drama do Alzheimer começa com a procura de um objeto mantido no lugar costumeiro. Remédio é apenas paliativo para retardar o agravamento da doença.

Mas quem é esse Edson Cegonha? Edson de Souza Barbosa nasceu no dia 20 de junho de 1943, e foi amigo de figurões do meio artístico, entre eles o cantor Roberto Carlos. Décadas passadas, ambos atuaram juntos como atores de cinema.

Boa pinta, elegantemente vestido e 1,85m de altura, despertava atenção da mulherada e havia reciprocidade.

Foi um mulherengo incorrigível. E fruto de relacionamento com a intérprete de samba Beth Carvalho teve uma filha - a atriz Luana Carvalho -, uma dos 11 herdeiros de relacionamentos conjugal ou não. A caçula tem seis anos de idade. Daí o apelido de cegonha.

Originalmente lateral-esquerdo, Edson Cegonha transferiu-se do São Cristóvão ao Corinthians na década de 60. E adaptado como volante, formou notável dupla de meio-de-campo com Rivelino naquele time de 1968 que venceu o Santos por 2 a 0 no Estádio do Pacaembu e quebrou um jejum de 12 anos de títulos. Eis a equipe: Diogo; Osvaldo Cunha, Ditão, Luiz Carlos e Maciel; Edson e Rivelino; Buião, Paulo Borges, Flávio e Eduardo.

No ano seguinte se transferiu ao São Paulo. E com Teodoro absoluto na cabeça-de-área, retornou à lateral-esquerda. Depois, jogou ao lado de Gérson e Pedro Rocha.

CARACTERÍSTICAS

Edson Cegonha desarmava com classe, passava bem a bola, arriscava chutes de longa distância e tinha aceitável aproveitamento no jogo aéreo. Chutão? Nem pensar. Pressionado por adversário, usava as pernas compridas para esconder a bola.

Como bom malandro, nas disputas descaradamente acertava meio gomo da bola e, por extensão, pés de adversários. E com a maior ‘cara de pau’ dizia: “Fui na bola”.

Quando entrava mais duro, virava às costas e saía de perto da jogada, despistando a arbitragem.
Também era dos tais que ‘apitavam’ partidas. Na final do Campeonato Paulista de 1971, jogando pelo São Paulo, induziu o árbitro Armando Marques ao erro, ao citar que Leivinha, do Palmeiras, havia usado a mão em gol legítimo de cabeça. Conclusão: o Tricolor venceu por 1 a 0 e foi bicampeão.
Em 1972 os cartolas do Tricolor optaram por ‘limpeza’ no elenco e Edson entrou na lista de dispensa, ocasião em que se transferiu ao Palmeiras.

Edson Cegonha ainda tentou ser treinador, porém sem sucesso. Também já ‘empresariou’ jogadores.




segunda-feira, 31 de outubro de 2011



Enfim, uma Lusa como antes



 Nosso infalível arquivo de memória registra coluna produzida no dia 12 de novembro de 2007, quando foi citado que a rotina de jogos às terças e sextas-feiras estava com os dias contados para a Portuguesa. A publicação explicitava que após penosos cinco anos o time voltava ao grupo de elite do Campeonato Brasileiro, e que ainda naquela temporada já havia recuperado vaga perdida no Paulistão de 2006. Só que a Lusa voltou a ser rebaixada à Série B em 2008, e só agora reassume o seu lugar entre os principais clubes do futebol brasileiro.

 Portanto, um ano de glória para a colônia lusitana, desfazendo suspeitas das previsões que o clube seguisse o descompasso do Bangu (RJ), que já foi temido por grandes clubes quando contou com jogadores do nível de Ademir da Guia, Paulo Borges, Jaime, Zózimo e Aladim.

 Em 2006, a Lusa corria sério risco de rebaixamento à Série C do Brasileiro, e a contratação do técnico Wagner Benazzi foi preponderante para que escapasse da degola.

 Nas décadas de 40 e 50 passou pela Lusa o lendário Pinga, um meia-esquerda rápido, driblador e com excelente visão de gols, tanto que entrou para a história do clube como o principal goleador, com 190 gols. Ele jogou ao lado de Júlio Botelho, o ponteiro-direito Julinho, já falecido.

 Na década de 60 a Portuguesa contou com os pontas-de-lança Leivinha e Servílio (falecido), ambos eméritos cabeceadores; o habilidosíssimo Ivair, apelidado de "o príncipe"; meia-esquerda Nair, baixinho Ratinho (falecido) que vestia a camisa 7; lateral-direito Jair Marinho e os zagueiros Ditão (falecido) e Marinho Perez, entre outros.

 A década de 70 foi marcante para a Portuguesa que tinha incrível facilidade para reposição de ‘peças’. Havia perdido Nair para o Corinthians ainda nos anos 60, mas Basílio foi um substituto à altura. O volante Lorico preferiu trocar a Capital pelo interior paulista, mas Badeco estava preparado para ocupar a posição.

 Lembram-se do ataque da Lusa em meados da década de 70? Era formado por Xaxá, Enéas, Cabinho e Wilsinho. Xaxá foi um baixinho rápido e está radicado nos Estados Unidos. O centroavante goleador Cabinho veio do América de Rio Preto (SP), enquanto Wilsinho era um ponteiro-esquerdo funcional, num ataque que tinha em Enéas (falecido) o principal jogador.

 Enéas Camargo cravou seu nome como segundo maior artilheiro na história do clube com 179 gols. Ele morreu em 1988, aos 34 anos de idade, vítima de acidente de automóvel em São Paulo.

 O último grande ídolo da Portuguesa foi Dêner, também ponta-de-lança, que coincidentemente perdeu a vida em acidente de automóvel, no Rio de Janeiro, em 1994, quando defendia o Vasco, por empréstimo.

 O último momento marcante da Portuguesa foi em 1996, com o vice-campeonato brasileiro. Depois, restou só paciência ao torcedor luso.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011


Lico, merecida aposentadoria em Imbituba

  

 Imbituba, sul do Estado de Santa Catarina, continua uma cidade paradisíaca com belas praias, pequenas ilhas, paisagem, lagos, gastronomia predominante de frutos do mar e uma população de cerca de 40 mil habitantes. O que se querer mais de qualidade de vida de um lugar como esse?

 Pois Antonio Nunes, o Lico campeão do Mundial de Clubes pelo Flamengo de 1981, é filho da cidade. De lá saiu na adolescência porque precisava de centros maiores para desenvolver o seu futebol de habilidade.

 Durante a década de 70 ele perambulou por clubes da região Sul do país como Grêmio, Avaí, Figueirense e Joinville, até que em 1980 aportasse no Flamengo para desempenhar as funções de quarto homem do meio-de-campo, que também ajudava na marcação.

 Embora franzino com os redondos 50 quilos, Lico não tinha medo de cara feia de adversários violentos. Partia com bola dominada e aplicava dribles secos e desconcertantes. Usava bem o lado esquerdo do campo para cruzamentos até de trivela, que visavam principalmente o centroavante Nunes.

 “Na minha época, a habilidade contava muito. Hoje a força prevalece no futebol”, constata esse catarinense que julga ter atuado no melhor time do futebol mundial de todos os tempos. “Acho que nem o Santos de Pelé foi melhor do que aquele Flamengo”.

 Exagero ou não, aquela equipe comandada por Paulo César Carpeggiani sagrou-se campeã da Libertadores no dia 23 de novembro e, embalada, 20 dias depois sapecou 3 a 0 no Liverpool da Inglaterra pelo Mundial de Clubes, no Japão, num time formado por Raul Plasmann; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio, Zico e Lico; Tita e Nunes.

 A rigor, se Lico tem alguma coisa a lamentar no período de jogador, elencaria ter ficado de fora do terceiro e decisivo jogo da Libertadores contra o Cobreloa, no Uruguai, na vitória por 2 a 0; lembraria da terceira grave contusão no joelho que travou a sua carreira em 1984; e da falta de orientação e experiência sobre finanças para assinar melhores contratos. “Jogava porque gostava. Nem ligava muito para contratos”.

 Lico só ficou de fora da final da Libertadores porque o maldoso zagueiro Mario Soto quase o cegou durante o segundo confronto da final no Chile, na vitória do Cobreloa por 1 a 0. Vítima de violenta cotovelada, seu olho ficou complemente tapado.

 E quando prematuramente teve que encerrar a carreira de atleta, contou com a indispensável ajuda da fiel companheira Simone, com quem está casado há mais de 31 anos, para desenvolver atividades paralelas no futebol. Foi diretor técnico, supervisor e treinador, quando tentou copiar o esquema ofensivo de seu Flamengo em equipes de qualidade inferior. “Meu time joga no ataque para vencer, independente de ser em casa ou fora”. De positivo na função foi a valorização de treinos técnicos para extrair o máximo da condição do atleta.



Pelé, rei no campo; polêmica fora dele


 Por algum período o rei Pelé pode até ficar no ostracismo, menos no mês de outubro. É que a cada dia 23 do mês a sua caixa de e-mail e a caixa postal do celular são entupidas com mensagens felicitando-o pelo aniversário, afora aqueles mais próximos que conseguem abraçá-lo.

 Afinal, ele chega aos 71 anos de idade ‘vendendo’ saúde, e por brincadeira cartolas do Santos até cogitaram a inclusão dele na decisão do Mundial de Clubes em dezembro.

 Agora, o foco do Pelé aniversariante não é a reafirmação de que tão já não será destronado. A maioria também não desconhece que marcou 1.281 gols em 1.363, exatamente porque dominava todos os fundamentos exigidos para um jogador de futebol. Também foi sobejamente divulgado que foi um dos raros atletas a integrar a Seleção Brasileira aos 16 anos de idade. Então, que tal se dissertar um pouco sobre o Pelé trapalhão fora de campo?

 A lei 9.615-98, que ele elaborou enquanto ministro de Esportes, e que leva o seu nome - Lei Pelé -, sancionada pelo ex-presidente FHC em março de 1998, foi uma bandeira contra aquilo que ele chamava de ‘escravidão dos atletas’, a extinção da lei do passe.

 Não se questiona a melhor das intenções de Pelé quando assinou a carta de alforria para o atleta. Faltou percepção que estava contemplando segmento minoritário da categoria. Não projetou o desserviço prestado aos demais atletas, de pequenos clubes, afetados diretamente na proporção que essas agremiações se enfraqueceram quando deixaram de ser formadoras de nova geração de atletas. O investimento nas categorias de base passou a ser incompatível com o retorno. Sintetizando: foi relegado.

 É que o garoto rapidamente se apodera do passe e faz dele aquilo que bem entender, preferencialmente alianças com empresários do meio que administram a carreira e cuidam juridicamente do direito federativo. A troca é a obtenção de bons lucros neste balcão de negócios.

 Por fim o Pelé namorador, de relacionamentos extraconjugais que resultaram em duas filhas reconhecidas de forma diferente. Se no campo não encontrou barreiras que impedissem seus dribles, fora dele duelou e perdeu para a Sandra Regina Machado Arantes do Nascimento Felinto, ‘a filha que não quis’, que se tornou título de livro.

 Sandra travou batalha judicial de seis anos para que fosse legitimada como filha. Obstinada, de balconista foi eleita duas vezes vereadora de Santos. Ela morreu aos 42 anos de idade vítima de câncer.

O reconhecimento da paternidade da fisioterapeuta Cristina Kurtz de Carvalho, gaúcha de Porto Alegre, foi amistoso.

Afora isso, foi muito propagado o romance dele com a então modelo Xuxa, que abriu portas para que ela ingressasse no meio artístico.

Kita, o pé dos gols foi amputado



 Centroavante que se preza chuta com os dois pés, naturalmente um de cada vez para não cair. E para o gaúcho Kita era indiferente a bola cair na direita ou canhota. O giro sobre o zagueiro era quase certo e, incontinente, o chute forte em direção ao gol adversário.

 Por causa desse estilo e do bom aproveitamento no jogo aéreo foi cobiçado e contratado por grandes clubes do futebol brasileiro como Flamengo, Inter (RS), Grêmio e Atlético Paranaense. Em nenhum deles, entretanto, atormentou tanto os zagueiros como nos tempos de Internacional de Limeira em 1986, quando foi decisivo para que o clube conquistasse o título inédito do Campeonato Paulista, e com direito à artilharia: 24 gols.

 Hoje, aos 53 anos de idade, Kita se orgulha das boas recordações. Quis o destino, entretanto, que não mais participasse até de ‘peladas’ com amigos. É que em junho passado, ao se submeter a uma cirurgia para reconstruir os ligamentos do tornozelo esquerdo, foi vítima de uma infecção hospitalar, agravada pelo diabetes. Por isso teve que amputar parte do pé.

 Outro duro golpe de ser absorvido foi a esculhambação no governo Fernando Collor de Melo de confisco de dinheiro da poupança do povo brasileiro nos anos 90. Duro porque ele havia votado no homem para presidente.

Chega de coisa ruim. Melhor ficar com a imagem positiva que Kita, ou João Leithard Neto, no futebol. De certo ele dirá que a principal lembrança foi naquele dia 3 de setembro de 1986, quando a Inter de Limeira (SP) sagrou-se campeã paulista ao vencer o Palmeiras por 2 a 1 no Estádio do Morumbi.

 Na época o time interiorano era treinado por José Macia, o Pepe, e contava com Silas; João Luís, Juarez, Bolívar e Pecos; Manguinha, Gilberto Costa e João Batista (Alves); Tato, Kita e Lê (Carlos Silva).

 Três anos antes Kita despontou para o futebol com os 15 gols marcados no Juventude, no Campeonato Gaúcho. Em 1984 já estava no Inter (RS) e conta ter sentido indescritível emoção ao colocar a medalha de prata no peito pela seleção olímpica brasileira, em Los Angeles.

 A estréia com a camisa do Flamengo, também em 1986, foi emocionante. De cara marcou dois gols contra o Corinthians, ano em que conquistou o título carioca. Outras conquistas ocorreram no Grêmio e Atlético Paranaense, sempre com assinaturas de seus gols. O final da carreira foi em 1995 no E.C. Passo Fundo (RS).  Nem por isso fez bons contratos.

 “Pena que nos anos 80 não se ganhava tanto dinheiro como hoje”, lamenta. Por isso, depois do confisco na poupança do governo Collor, o máximo que conseguiu foi montar um pequeno empreendimento de vídeo locadora.

 Antes de ter o próprio negócio foi funcionário da Secretaria de Esportes de Passo Fundo durante oito anos, mas foi pra rua com a mudança na cadeira no Executivo, na última eleição municipal.

Adeus a Escurinho, um bom reserva


 
A morte do atacante Escurinho no dia 27 de setembro nos remete a duas discussões: o diabetes que o aniquilou terá cura total num futuro não muito distante? Outra pessoa com o mesmo apelido terá respaldo da lei contra o racismo em caso de denúncia?

A perna direita do ex-centroavante Luiz Carlos Machado, o Escurinho, 61 anos de idade, que lhe deu apoio extraordinário para magnífica impulsão nos cabeceios, foi amputada do joelho para baixo há dois anos. Recentemente a perna esquerda dele também sofreu amputação, só que acima do joelho. Em ambos os casos a justificativa foi insuficiência renal e diabetes não controlados com tratamentos para regularizar o funcionamento vascular.

Pena que Escurinho não pôde usufruir dos avanços tecnológicos no processo de cura do diabetes, que caminham em plena velocidade. Estudo realizado na Índia indica que a doença pode ser combatida com moléculas encontradas na urina da vaca. Testes preliminares são feitos em ratos.

Racismo? Por analogia sim, na interpretação de um advogado gaúcho. É que ele impetrou ações de indenização por danos morais contra o Internacional (RS) por abandonar seu antigo mascote ‘saci’ e substitui-lo por um macaco que foi batizado com o nome de Escurinho.

Evidente que Escurinho jamais censurou o apelido que ganhou aos sete anos de idade, em Porto Alegre, por ser negro. Seu negócio era jogar futebol e a sua história começou a ser contada no Inter (RS) quando fez parte daquele elenco formado por jogadores altos e fortes na década de 70, comandados pelo técnico Rubens Francisco Minelli.

O time foi pentacampeão gaúcho de 1971 a 76 e bicampeão brasileiro em 75/76. Nele atuaram jogadores como o goleiro Manga, o zagueiro chileno Elias Figueiroa, lateral-esquerdo Vacarias, meio-campistas Batista, Caçapava, Falcão e Bráulio, e atacantes definidores como Valdomiro, Dario e Claudiomiro.
Com tantos ‘cobras’ naquele elenco, era difícil sobrar um lugar entre os titulares para Escurinho, que tinha a sina de entrar no segundo tempo e decidir jogos, invariavelmente com gols de cabeça.

Escurinho também jogou no Palmeiras e fez os costumeiros gols de cabeça no segundo tempo. E quando eles começaram a rarear perdeu espaço no Verdão. Foi castigado com a tradicional estrada da volta no futebol, jogando no interior paulista na Inter de Limeira e Bragantino. A experiência no futebol equatoriano foi coroada com título, jogando no Barcelona de Guayaquil, em 1981. A carreira foi encerrada no Caxias do Rio Grande do Sul, em 1985.

Uma de suas últimas aparições na mídia foi em dezembro de 2009, ao compor o hino do centenário para o Internacional (RS), exibido em vídeo no site do jornal Zero Hora, de Porto Alegre. Na letra, enfatizou que “ganhamos tudo”, quando alardeou seu amor ao clube colorado.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011


Dois pontos por vitória



 Desde que a dona Fifa mudou o critério de pontuação por vitória de clube para três pontos, e o futebol brasileiro o adotou em 1995, os prognósticos descartando essa ou aquela agremiação das primeiras posições ou rebaixamento são arriscados. Vejam que em determinado momento do atual Campeonato Brasileiro da Série B o Bragantino ganhou 19 dos 21 pontos disputados e deu uma arrancada legal.

 Antes da mudança prevaleciam dois pontos em caso de vitória e um ponto para empate, exceto experiências esporádicas que FPF (Federação Paulista de Futebol) e CBF (Confederação Brasileira de Desportos) fizeram.
 Até 1970 contabilizava- se pontos perdidos para efeito de classificação. Os campeonatos estaduais eram disputados no formato de turno e returno, com contagem de pontos corridos. Na época, grandes clubes entremeavam excursões internacionais e competição regional. Santos e Botafogo (RJ) buscavam dólares no exterior e ficavam com jogos atrasados nos campeonatos Paulista e Carioca.

 Claro que não se usava o formato detalhado de número de vitórias, empates, derrotas, gols pró e contra nas tabelas de classificação. Convencionava-se caracterizar que duas ou mais equipes dividiam a liderança ou segundo e terceiro lugares.
 Na década de 70, os chamados clubes pequenos abusavam de retrancas para evitar derrotas em disputas desiguais com os grandes. O Juventus (SP), do técnico Milton Buzetto, abdicava totalmente do ataque. Fixava jogadores em seu campo defensivo e comemorava empate sem gols. Foi uma década de poucos gols e dizia-se que quem fazia o primeiro gol vencia as partidas.
 A escassez de gols preocupou a CBF que, em 1976, decidiu premiar equipes que ganhassem por três gols de diferença, uma goleada. Hoje, a nova escola do jornalismo esportivo tenta mudar esse conceito, considerando goleada até vitória por diferença de dois gols, bastando que o placar seja 4 a 2.
 Não bastasse isso, naquela época as regras do futebol não penalizavam recuo de bola aos goleiros e abuso da "cera". O último homem da defesa tinha recomendação para "matar" as jogadas. Eram as chamadas faltas necessárias e sem punição. Lembra-se?
 A CBF repetiu a experiência de bonificação de pontos no Campeonato Brasileiro de 1978 e isso encorajou o então presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo Farah, a também buscar alternativas diferenciadas no Campeonato Paulista dez anos depois. Vitória valia três pontos. Empate com gols provocava disputa de pênaltis e o vencedor ficava com o segundo ponto.
 Em 2001, Farah extrapolou. Nenhum jogo poderia terminar sem vencedor. Em caso de empates, a definição seria nos pênaltis. No zero a zero, o vencedor nos pênaltis ganhava um ponto e o perdedor nenhum. Nos empates com gols quem ganhava nos pênaltis levava dois pontos, enquanto o perdedor somava um.  

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Marião, descanse em paz

Meses atrás a coluna focalizou o ex-zagueiro Mauro do Corinthians, felizmente ainda gozando de boa saúde e atento às coisas do futebol. O foco agora é Marião, zagueiro que atuou em grandes clubes como São Paulo, Inter (RS) e Sport Recife, falecido neste 24 de agosto, aos 59 anos de idade, em decorrência de problemas cardíacos.

O que ambos tiveram em comum nos tempos de jogador? Foram zagueiros ‘cintura dura’, tiveram fama de grossos e acabaram sortudos por atuarem ao lado de craques. Mas se não dá pra falar bem deles na bola, as qualidades como pessoas são inquestionáveis.

Mauro ainda foi titular na maioria dos nove anos de Corinthians com o seu estilo ‘feijão com arroz’, xerifão e virtudes no jogo aéreo. O mesmo não se pode dizer de Marião, que atuou apenas 50 vezes no período de 1978 a 1980 em que esteve vinculado ao São Paulo.

Marião tinha dificuldade até para sair do chão por causa do peso. Só até o início dos anos 80 admitia-se zagueiros literalmente gordos jogando futebol profissionalmente.

Na época os clubes não dispunham de tecnologia sofisticada para dimensionar a capacidade física dos atletas e os métodos adotados pelos profissionais da época careciam de cunho científico.

Jornalistas gentis definiam Marião como zagueiro forte, de ótimo vigor físico. Mas não tinham como esconder a lentidão do jogador, que de certo rezava para não enfrentar o rápido atacante Juari, do Santos. Numa das raras vezes que levou a melhor naquele duelo o seu São Paulo venceu por 2 a 1, com gols de Serginho Chulapa e Getúlio para o Tricolor e Claudinho para o Peixe. A partida foi válida pelo terceiro turno do Campeonato Paulista de 1979, com 73.803 pagantes no Estádio do Morumbi.

Naquele time do São Paulo, na ocasião sem o quarto-zagueiro titular Bezerra, jogaram Valdir Peres; Getúlio, Marião, Tecão e Antenor (Estevam); Chicão, Teodoro e Dario Pereyra; Edu Bala, Serginho (Viana) e Zé Sérgio, comandados pelo técnico Rubens Minelli.

Marião sabia usar bem a avantajada caixa torácica sobre o adversário, numa época em que a arbitragem interpretava esse estilo como jogo de corpo e jogada normal. Ele se deu melhor no Sport Recife a partir de 1980. Nos dois anos subseqüentes foi campeão pernambucano e dizem que teve atuação regularíssima na vitória sobre o Náutico por 2 a 0 em 1981, na primeira comemoração no Nordeste.

Ainda em Pernambuco passou pelo Náutico e continuou a trajetória no Operário de Campo Grande e equipes de menor expressão, encerrando a carreira no São José (SP), onde tudo começou no futebol, nos tempos em que era magrinho.

Marião, ou Mário Gomes Amado - o nome verdadeiro -, chegou a ser treinador no São José quando já havia fixado residência no Vale do Paraíba.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Doutor preocupa doutor

Quando foi internado no dia 18 de agosto passado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Albert Einstein em São Paulo, o ex-jogador Sócrates deixou a coletividade desportista preocupada com a divulgação de que o seu estado de saúde era grave.

Os boletins médicos diagnosticavam hemorragia digestiva resultado de hipertensão, mas o quadro foi controlado com procedimento cirúrgico.

Quem atingiu a faixa etária de 25 anos de idade tem conhecimento da história de Sócrates por ouvir dizer, porque ele parou de jogar profissionalmente há mais de 20 anos.

Sócrates foi um universitário de Ribeirão Preto (SP) que se dedicava demais ao curso de Medicina. Apesar do pouco tempo para treinos, jogava muita bola no Botafogo. Exibia requintados toques de calcanhar e descobria atalhos no gramado para ludibriar marcadores.

Quando marcado de forma implacável variava a postura tática. Às vezes buscava a bola em sua defesa e ditava o ritmo de jogo. Era capaz de lançamentos de 40m, e com isso colocava companheiros na cara do gol.

Outro comportamento que dificultava a marcação adversária era a transformação em autêntico centroavante. Ficava a espera de bolas alçadas à área para colocar em prática a virtude de cabeceador, aproveitando a estatura beirando 1,90m de altura.

Assim foi Sócrates no começo de carreira em Ribeirão Preto, e o estilo foi aperfeiçoado no Corinthians, onde ganhou títulos.

Ele odiou o frio europeu quando se transferiu para a Fiorentina da Itália em 1984. Um ano depois foi anunciado como inesperado reforço da Ponte Preta, bancado pelo projeto Luque - empresa de marketing esportivo - mas recuou ao perceber que as regalias combinadas verbalmente não constavam no contrato.

Preferiu prosseguir a carreira no Flamengo e posteriormente no Santos, onde sucumbiu. O fim da trajetória foi em 1989 no Botafogo (SP).

O Sócrates de rosto desfigurado por espinhas e cravos, criador da democracia corintiana, avesso à concentração, que ousava tomar cerveja com cartola em véspera de jogo, e dava péssimo exemplo como fumante acabou cedo para a bola. Incontinenti passou a ser clínico geral em hospitais de Ribeirão Preto.

Em 1997 voltou ao futebol para treinar os juniores do Flamengo e de lá se transferiu ao Cabofriense (RJ) como coordenador técnico e treinador, sem sucesso.

Assim, o jeito foi assumir a administração de seus negócios em Ribeirão Preto. Geralmente nos finais de tarde se reunia com amigos em choperias para falar mal de políticos e jogar conversa fora.

No retorno a São Paulo voltou a clinicar e comentar futebol na TV Cultura. A barba rala e falha não mudou, mas há tempo não justifica o apelido de ‘Magrão’ pela barriga de cerveja.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Renato, de goleiro a comentarista

Acadêmicos da faculdade de jornalismo ainda debatem por aí a admissão de ex-jogadores de futebol na função de comentarista esportivo de rádio, como se o espaço tivesse que ser deles, futuros jornalistas.

Ledo engano. Ex-jogadores providos de cultura mediana e que falam corretamente, via de regra têm mais subsídios para discutir com propriedade as variantes de bola rolando e bastidores do futebol. Afinal, vivenciaram fatos que lhes deram inequívoca habilitação pra dominar o assunto.

E um desses ex-jogadores que agora participa do outro lado do balcão, que deixou de ser vidraça para se transformar em estilingue, é o goleiro Renato da Cunha Valle, que em dezembro vai completar 68 anos de idade.

Radicado na progressista cidade mineira de Uberlândia, o ex-goleiro Renato recebeu recentemente o título de cidadão honorário da cidade e desmentiu boatos de que teria amputado uma perna. Lá ele se ocupa em duas atividades profissionais: servidor público municipal e comentarista esportivo da Rádio Cultura.

Renato é natural do Rio de Janeiro e a sua trajetória no futebol teve início no Flamengo em 1960, lá ficando durante cinco anos sem se firmar como titular. Aí começou o período de empréstimos, passando por Entrerriense (RJ), Uberlândia e Taubaté (SP). Em 1970 foi contratado pelo Atlético (MG), e um ano depois sagrou-se campeão brasileiro num time comandado pelo treinador Telê Santana, já falecido, que também contava com o zagueiro Vantuir e o atacante Dadá Maravilha.

A ascensão de Renato no futebol desqualifica o conceito de que o bom goleiro nasce feito. Fruto do redobrado trabalho corrigiu defeitos inerentes a principiantes, ganhou confiança e colocou em prática a voz de comando àqueles que guarneciam as proximidades de sua área.

Apesar da regularidade de Renato, o Atlético (MG) copiou a mania de clubes brasileiros da época de contratar goleiros sul-americanos. E com a chegada do uruguaio Mazurkiewicz ele teve que deixar o clube.

Por sorte o Flamengo o requisitou novamente. E na segunda passagem pela Gávea foi contemporâneo do então lateral-esquerdo Vanderlei Luxemburgo e o meia Zico, quando conquistaram títulos do Campeonato Carioca de 1972 e 1974.

A brilhante carreira foi premiada com convocação à Seleção Brasileira em 1973 e participação na Copa do Mundo da Alemanha no ano seguinte, na condição de primeiro reserva de Emerson Leão. O outro goleiro convocado foi Valdir Peres, o terceiro da relação.

Renato ainda fez sucesso no Fluminense, naquele time identificado como ‘máquina tricolor’, com Rivellino, Carlos Alberto Pintinho e Doval, entre outros. E teve passagens por Bahia e Emirados Árabes antes de encerrar a carreira.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Zagallo, 80 anos de idade

Quantos títulos Mário Jorge Lobo Zagallo ganhou prestando serviço à Seleção Brasileira quer como jogador, quer como técnico ou coordenador técnico? Talvez você não saiba, mas com certeza a frase "vocês vão ter que me engolir" jamais será esquecida.

Neste 9 de agosto Zagallo está completando 80 anos de idade e desfruta de merecida aposentadoria, deixando uma recheada biografia. A saúde ficou debilitada após retirada de um tumor no aparelho digestivo.

Em 1997, como treinador da Seleção Brasileira, após a conquista da Copa América e irado com sucessivas críticas, Zagallo devolveu provocação de parte da imprensa, e a partir daí a sua frase foi imortalizada.

A história de Zagallo começou a contragosto dos pais, como meia-esquerda do juvenil do América (RJ), e se estendeu como jogador de Flamengo e Botafogo até 1963. Em 1950, Freitas Solich era técnico do Flamengo e o deslocou à ponta-esquerda, para explorar a característica de jogador veloz e driblador. E o fôlego privilegiado de Zagallo permitiu que incorporasse ao seu futebol o estilo de fechar espaços no meio-de-campo, para ajudar na marcação, mudando a característica do time de 4-2-4 para 4-3-3.

Pode-se dizer que Zagallo foi um jogador de sorte, pois nas Copas de 1958 e 1962 foi confirmado no time por causa de contusões do titular Pepe. Na primeira conquista da Seleção Brasileira, na Suécia, Zagallo marcou o quarto gol da goleada por 5 a 2 sobre os anfitriões. E após isso, com direito a parcela do passe, transferiu-se para o Botafogo, onde atuou ao lado de Garrincha, Quarentinha, Didi, Amarildo e Manga, entre outros.

Depois que abandonou a carreira de jogador Zagallo continuou ligado ao meio como técnico do juvenil botafoguense. Na sequência treinou equipes profissionais, sem projetar que seria o sucessor de João Saldanha no selecionado canarinho de 1970, que sagrou-se tricampeão mundial no México.

Acreditem: durante aquela preparação, Zagallo colocou Pelé no banco de reservas em amistoso contra a Bulgária, com a camisa 13, número de sua superstição.

Quatro anos depois, na Alemanha, Zagallo subestimou o forte selecionado holandês ao citar que não o conhecia e que "eles é que têm que se preocupar com a gente". Pagou para ver e viu a eliminação brasileira na semifinal.

Após passagem de quase oito anos na Arábia Saudita, voltou a comandar clubes brasileiros, até que em 1994, como coordenador técnico da Seleção, sagrou-se tetracampeão nos Estados Unidos.

Depois, de volta ao comando técnico da Seleção Brasileira, protagonizou aquela coreografia imitando um aviãozinho, ao devolver provocação do treinador da Seleção da África do Sul, num amistoso em que o Brasil ganhou de virada por 3 a 2, em Johanesburgo, em 1996.

Em 1998 foi o comandante na perda do Mundial para a França.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Geraldo Scotto, carrapato na marcação

Más línguas já rotularam este espaço de funeral da mídia esportiva brasileira, pela sequência interminável de homenagens aos entes queridos que se foram. Nem por isso será modificada uma vírgula sequer da linha editorial definida de reverenciar ídolos do passado, misturando-se a alguns ‘mais ou menos’ e poucos ‘grossos’. Na impossibilidade da lembrança em vida, com certeza na morte serão enfocados.

O lateral-esquerdo palmeirense Geraldo Scotto foi bater bola no céu no dia 27 de julho, aos 76 anos de idade, vítima de parada cardíaca. Foi integrar o time de ex-companheiros como os zagueiros Djalma Dias, Aldemar e Valdemar Carabina; meio-campistas Zequinha, Ênio Andrade e Chinesinho; e os atacantes Julinho, Servilio, Tupãzinho e Ademar Pantera.

Scotto foi um ótimo marcador. Um dos raros a anular o ponteiro-direito Mané Garrincha. “Eu olhava para a bola e não para o corpo dele. Aí dava certo”, era a explicação simples para o sucesso nos duelos com o ídolo botafoguense.

O estilo de grudar no atacante adversário resultou no apelido de ‘Carrapato’ desde que estreou no Verdão no dia 29 de maio de 1958, no jogo amistoso em que seu time venceu o Nacional, da capital paulista, por 2 a 1.

Um ano depois foi convocado à Seleção Brasileira, e jogou nesse time: Gilmar; Djalma Santos, Belini, Vitor e Geraldo Scotto; Dino e Chinesinho; Julinho, Almir, Delém e Roberto.

Não é porque Scotto morreu que devem super dimensionar o futebol dele, transformando-o em lateral que apoiava bem o ataque. Aos desavisados cabe informar que nas décadas de 50 e 60 um dos raros laterais-esquerdos abusados no apoio foi Nilson Santos, do Botafogo e Seleção Brasileira.

Scotto teve o melhor período na carreira até 1962, num time formado por Valdir, Djalma Santos, Waldemar Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Américo Murolo; Gildo, Hélio Burini, Vavá e Geraldo II.

Naquele ano Scotto quebrou a perna e o Palmeiras foi buscar Ferrari, do Guarani, e posteriormente contratou Vicente Arenari. Ao se recuperar, Scotto alternou períodos como titular e reserva. Em 1965, quando o Verdão representou a Seleção Brasileira na inauguração do Estádio do Mineirão, o lateral-esquerdo foi Vicente Arenari. Resultado: Palmeiras 3 x 0 Uruguai.

A história de Geraldo Scotto no Palmeiras terminou no dia 17 de dezembro de 1967, na vitória por 2 a 1 sobre o Juventus, também em amistoso, quando totalizou 352 partidas.

Um ano antes jogou na Ponte Preta por empréstimo e ainda passou por Juventus e Nacional.

Já que a bola não lhe garantiu independência financeira, foi trabalhar como vendedor de chapa de aço. E assim levava a vidinha até que roubaram-lhe o carro.

Depois disso não quis mais trabalhar. Gastava o tempo limpando quintal e em bate-papos com amigos. “Fico vagabundeando”, resumiu.

Boleiros, da fama ao cárcere

A prisão do ex-volante Zé Elias por falta de pagamento de pensão alimentícia nos remete a casos de outros famosos do meio que enfrentaram a dura rotina do encarcerado, mesmo que por poucas horas. Divórcio é algo freqüente entre jogadores de futebol, muitas vezes pela infidelidade deles.

O fato reforça a opinião de que boleiro só não é mulherengo se não quiser, tais as facilidades para se envolver com mulheres, principalmente as chamadas ‘Maria Chuteira’.

O cara pode ser feio, jogar em equipe de pouca expressão, mas no imaginário do ‘mulherio’ é transformado num galã. Imaginem, então, aqueles atletas de gordas contas bancárias, carros importados e que fazem sucesso na mídia? Seja como for nasce um relacionamento, que por vezes é transformado em matrimônio e daí à rotina de se ‘descasar’.

É praxe arestas em separações desses casais e o intolerável é ignorar a pensão alimentícia. A ex-mulher de Zé Elias cobra dívida de aproximadamente R$ 1 milhão, acumulada desde 2008. E sabendo da ordem de prisão, ele antecipou-se à captura e se apresentou no 33º Distrito Policial de São Paulo, com imediata detenção neste 21 de julho.

Evidente que a situação desconfortante de Zé Elias contrasta com a história de quem foi ídolo no Corinthians, Santos, Inter de Milão, Olympiakos e Bayer Leverkusen. O que dirá, então, do ex-atacante Romário? Em julho de 2009 o juiz Antonio Aurélio Abirania, do Rio de Janeiro, acatou denúncia de Mônica Santoro, ex-mulher do craque, e expediu ordem de prisão por atraso de dois meses de pensão alimentícia.

Romário ainda tentou provar através de recebidos a quitação da dívida de R$ 42 mil referente a custeio de dois filhos, mas não adiantou. Faltava ainda acerto dos juros e por isso pernoitou em cela do 16º Distrito Policial do Rio.

Melhor sorte teve o lateral-esquerdo Roberto Carlos que provou ser descabida uma cobrança de suposta dívida de R$ 900 mil de pensão alimentícia em 2003. Pelo acordo, após a separação matrimonial, ele pagaria R$ 35,8 mil por mês enquanto ex-esposa e filhos morassem na Espanha.

O mesmo não se pode dizer do lateral-direito Orlando Lelé, já falecido. Nos anos 90, quando treinava o Vila Nova (GO), foi preso às véspera de um jogo contra o América (MG) por dívida de pensão alimentícia. Ele havia sido condenado em ação movida por uma mulher moradora em Pires do Rio (GO), com quem se envolveu quando dirigia o clube local.

Orlando participou do chamado ‘esquadrão’ vascaíno de 1977, que não sofreu um gol sequer em 18 partidas e foi derrotado uma vez em 25 jogos do Campeonato Carioca. Por isso a defesa foi batizada de ‘barreira do inferno’.

Antes da morte em 4 de setembro de 1999, vítima de embolia pulmonar, ele foi duramente castigado. É que ficou tetraplégico após sentir tontura, sofrer queda durante o banho, e bater a cabeça no chão.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Paulo Borges, um sorriso a menos

“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaio. Por isso cante, chore, ria, dance e viva intensamente até que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”.

Esta célebre frase de Charles Chapin foi encarnada integralmente pelo ponteiro-direito Paulo Borges, com passagens por Bangu, Corinthians, Palmeiras, Nacional (AM) e Vasco. Sabiamente ele descobriu a beleza do sorriso. Achava graça de tudo e por isso ganhou o apelido de ‘Risadinha’.

De repente, o traiçoeiro câncer no pulmão roubou dele a característica extrovertida e foi castigando-o até este 15 julho, dia de sua morte em São Paulo.

Provavelmente a última homenagem recebida foi do Bangu em 2004, ano do centenário. Na ocasião a patota de 1966, campeã carioca, se reencontrou, e os ausentes foram Ari Clemente e Ladeira. Mário Tito morreu em 1994.

Paulo Borges, carioca das Laranjeiras, nasceu no dia 24 de dezembro de 1944. Aos 18 anos de idade já se destacava pela velocidade no time do Bangu. O diferencial é que fechava em diagonal e fazia gols. Por isso terminou a carreira como centroavante.

No jogo do título contra o Flamengo ele fez gol na goleada por 3 a 0, com 143.978 torcedores no Estádio do Maracanã. Ocimar e Aladim completaram o placar, em partida que não chegou ao final. O centroavante Almir Pernambuquinho (já falecido), do Flamengo, protagonizou uma pancadaria, e maldosamente pisou nas costas do ponta-de-lança Ladeira, caído, provocando fratura na costela.

Curioso é que um dia após o jogo, quando Ladeira se convalescia em hospital do Rio de Janeiro, Almir surpreendeu ao visitá-lo. Arrependido, e em prantos, pediu perdão pelo ocorrido. E Ladeira - treinador identificado com juniores -, que nunca guardou rancor, o perdoou.

Naquela competição o Bangu marcou 50 gols, 16 deles através de Paulo Borges. O técnico Alfredo Gonzáles escalava o time com Ubirajara; Fidélis, Ari Clemente, Luís Alberto e Mário Tito; Jaime e Cabralzinho; Paulo Borges, Ladeira, Ocimar e Aladim.

A rigor, depois daquele título, outro grande momento do Bangu foi no Campeonato Brasileiro de 1985, com o vice-campeonato diante do Coritiba.

O Bangu se dizimou após a morte do bicheiro Castor de Andrade, que injetava dinheiro da contravenção no clube, e só em 2008 ressurgiu das cinzas com acesso à divisão principal do futebol do Rio de Janeiro.

Paulo Borges trocou o Bangu pelo Corinthians em 1968 e, de cara, compartilhou com a torcida a quebra de um tabu de 11 anos sem vencer o Santos. Na noite do dia 6 de março, no Estádio do Pacaembu, ele e Flávio Minuando marcaram os gols na vitória do Timão por 2 a 0.



O Corinthians era comandado por Luís Alonso Peres, o Lula, que faleceu em junho de 1972. O time corintiano era formado por Diogo; Osvaldo Cunha, Ditão, Luís Carlos e Maciel; Edson Cegonha e Rivelino; Buião, Paulo Borges, Flávio e Eduardo.



segunda-feira, 11 de julho de 2011

Mauro, zagueiro grosso que deu certo

O futebol tem as suas razões que a própria razão desconhece. Como pode um zagueiro cintura dura, com claras limitações técnicas, jogar no Corinthians durante nove anos, como foi o caso do zagueiro central Mauro?

Se para a maioria dos desportistas Mauro foi um sortudo ao ser escalado ao lado de renomados zagueiros como Amaral, Luís Pereira, Juninho e Daniel Gonzáles, para o ex-técnico Chico Formiga, que comandou a equipe em 1987, o atleta foi “um sustentáculo lá atrás”.

Pendia a favor de Mauro a raça exigida pela torcida corintiana. O desnível desfavorável na balança era a fama de jogador grosso. Dói n’alma admitir que não estivesse à altura do Corinthians. Mas se não dá pra falar bem dele na bola, as qualidades como pessoa são inquestionáveis. “É gente boa. Quieto. Humilde. Diferentes do boleiro ‘entrão’ por aí”, revela um dos amigos, que preserva a identificação por motivos óbvios.

Contudo, para minimizar o foco sobre deficiência técnica de Mauro, o mesmo amigo lembra que o ponteiro-direito Paulo Nani, do São Paulo, e Beto Fuscão, do Palmeiras, também foram além da conta no futebol paulista.

De fato Paulo Nani parecia um estranho no ninho num ataque formado por ele, Terto, Toninho Guerreiro e Paraná, campeão paulista de 1970. O técnico Zezé Moreira - já falecido - deu-lhe a camisa sete por causa da obediência tática de recuar e ajudar na marcação.

Quanto a Beto Fuscão, só o estilo clássico justifica passagens por Grêmio, Palmeiras e Seleção Brasileira em 15 partidas, entre 1976-77. No quesito desarme recebia reiteradas críticas.

Mauro Rubens da Silva foi aquele prata-da-casa do Corinthians que cansou de ouvir sons estridentes das sirenes instaladas no Parque São Jorge, anunciando chegada de reforços, mas nem por isso se convencia que os problemas do time estariam resolvidos. “No Corinthians, nome joga pouco”, alertava.

Em 1976, após ascensão ao profissionalismo, foi ganhar experiência na Esportiva de Guaratinguetá, que anos depois seria extinta. Na época, já prevalecia o seu estilo ‘feijão com arroz’. A preocupação era não deixar o adversário passar, mesmo que isso custasse índice anormal de faltas cometidas, com complacência de árbitros.

Esse estilo xerifão, que lembrava o antecessor Moisés, já tinha aceitação na dupla formada com Amaral em 1979, ano do primeiro gostinho de título paulista.

No período de democracia corintiana, no bicampeonato paulista de 1982-83, Maurão foi elogiado pela performance no jogo aéreo e preocupação em devolver a bola do jeito que ela vinha. O time de 82 tinha Solito; Alfinete, Mauro, Daniel Gonzáles e Wladimir; Paulinho, Zenon e Sócrates; Ataliba, Casagrande e Biro-Biro.

O time de 1983, com Jorge Vieira no lugar de Mário Travaglini no comando técnico, teve poucas mudanças: Leão no gol, Juninho na quarta-zaga e Eduardo Amorim na ponta-direita.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Evaldo, atacante de poucos gols


Via de regra faz-se rasgados elogios, indiscriminadamente, a atletas que integraram renomadas equipes de futebol do passado. Contudo, é necessário que se coloque os pingos nos devidos ‘is’ para que situe corretamente quem foi quem.

O fato de o centroavante Evaldo Cruz ter integrado aquele timaço do Cruzeiro nos anos 60 não significa que tenha sido um craque ou atacante definidor de jogadas. Quem duvida, basta recorrer às estatísticas de artilharia da época e constatar que o número de gols marcados foi aquém do esperado para quem jogava num time com características eminentemente ofensiva, num ataque formado por Natal, Evaldo, Tostão e Hilton Oliveira, abastecidos pelo meia Dirceu Lopes.

Observem que em 296 partidas disputadas pelo Cruzeiro na primeira passagem pelo clube, de 1966 a 1971, ele marcou apenas 111 gols. Na média, arredondando, o registro é algo próximo de um gol para cada três partidas disputadas.

Esse histórico fica abaixo se comparado ao de seu companheiro Tostão: 248 gols em nove anos de clube, números que o colocam como o maior artilheiro do Cruzeiro de todos os tempos.

Ao trocar Minas pelo Rio de Janeiro e se transferir ao Vasco em 1972, Tostão não conseguiu dar prosseguimento à carreira por causa de deslocamento da retina do olho, enquanto Evaldo trilhou caminho descendente no futebol. Simultaneamente deixou o Cruzeiro para jogar no Esab, um clube já extinto de Contagem (MG). Lá ele ficou durante dois anos, saindo para jogar no Marília, interior de São Paulo.

Depois intercalou nova passagem pelo Cruzeiro e caiu no ostracismo. Pouca gente se deu conta que ele encerrou a carreira no Deportivo Itália da Venezuela, em 1977.

Evidente que a sua trajetória na carreira de jogador de futebol jamais será esquecida. Natural de Campos (RJ), o primeiro estágio foi no infantil do Americano aos 15 anos de idade. Como era veloz, logo despertou interesse do Fluminense, transferindo-se às Laranjeiras em 1962.

Tudo parecia um sonho àquele centroavante de 1,65m de altura, 65 quilos e na época com 18 anos de idade. É que durante a infância já era torcedor do tricolor carioca e ligava o rádio à válvula no último volume para ouvir transmissões dos jogos. Na época jamais projetava que jogaria ao lado de ídolos que tanto admirava como o goleiro Castilho e o lateral-esquerdo Altair.

A principal recordação no Fluminense foi ter participado da final de 1963 diante do Flamengo. O empate deu o título ao adversário, mas valeu a emoção que aqueles 177.020 pagantes transportaram ao gramado do Estádio do Maracanã. O Fluminense, sob o comando do técnico Freitas Solich, formou com Castilho; Carlos Alberto Torres, Procópio, Dari e Altair; Oldair e Joaquinzinho; Edinho, Manoel, Evaldo e Escurinho. No ano seguinte o Flu venceu o Bangu por 2 a 1, foi campeão, mas ele ficou fora da foto.



segunda-feira, 27 de junho de 2011

Pintinho, um jogador polivalente

Leitor envia e-mail questionando se a fonte de personagens enfocados na coluna não seca após 12 ininterruptos anos de publicação. A resposta, obviamente, foi não. Vejam que ainda não foi citada uma linha sequer do aplaudido meio-campista Carlos Alberto Gomes, identificado no futebol como Carlos Alberto Pintinho, do Fluminense, nos anos 70.

Pintinho cravou seu nome na história do Fluminense por ter participado na ‘Máquina Tricolor’, montada pelo revolucionário presidente Francisco Horta, um advogado e juiz de direito que trouxe para as Laranjeiras os principais jogadores do futebol carioca a partir de 1975, como o goleiro Renato, lateral Rodrigues Neto e atacante Doval do Flamengo; meio-campista Dirceu, do Botafogo, e zagueiro Moisés, do Vasco. Horta criou uma bolsa de trocas de jogadores entre clubes do Rio de Janeiro, e foi bem sucedido na empreitada. Além disso, contratou jogadores renomados como Carlos Alberto Torres, do Santos; Rivelino, do Corinthians; e Paulo Cesar Caju, que voltava do futebol francês. O time base do Fluminense de 1975 foi de Renato; Carlos Alberto Torres, Miguel, Edinho e Rodrigues Neto; Pintinho, Rivelino e Paulo César Caju; Gil, Doval e Dirceu.

Não perguntem a origem do apelido Pintinho, que nada tem a ver com o nome. Isso fica por conta do imaginário de cada um. O certo é que jamais foi um volante de contenção. Polivalente, era capaz de marcar e atacar com a mesma desenvoltura. Não fosse assim jamais estaria posicionado como um autêntico centroavante quando fez o gol do Fluminense naquele empate em 1 a 1 com o Corinthians, em 1976, no jogo marcado como ‘invasão corintiana’ ao Estádio Maracanã, quando 70 mil torcedores apoiaram o time alvinegro.

Se com o gol e boa atuação Pintinho tinha motivos para comemoração, saiu frustrado de campo quando o seu Fluminense perdeu a chance de ser finalista do Campeonato Brasileiro na definição através de cobranças de pênaltis. O Corinthians ficou com a vaga porque ele, Pintinho, e Rodrigues Neto desperdiçaram cobranças.

O timaço do ‘Nense’ - forma do torcedor identificar o time - começou a ser desmontado com a transferência de Rivelino para a Arábia Saudita em 1978. Dois anos depois foi a vez de Pintinho trocar o Fluminense pelo Vasco, e posteriormente registrar passagens por Sevilla e Cardiz - ambos da Espanha - e Farense, de Portugal.

Quando retornou ao Fluminense em 1986, Pintinho já era praticamente um ex-jogador e já começava a contar histórias do passado como os títulos regionais conquistado pelo clube em 1973, 75 e 76. Também pode falar de boca cheia que integrou a Seleção Brasileira em seis jogos, alguns correspondentes à Copa América de 1979.

Hoje, radicado na Espanha, trabalha empresariando jogador de futebol, mas acalenta o sonho de se transformar em treinador.


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Adãozinho ficou de fora da foto

O meia-esquerda Adãozinho, que morreu no dia 12 de junho aos 59 anos de idade, foi um dos exemplos enigmáticos no futebol. O período de quatro anos como reserva de Roberto Rivelino no Corinthians, até 1974, foi compreensivo. Afinal, ambos jogavam na mesma posição. Claro que Adão Ambrósio sempre entrava no segundo tempo, ou às vezes até iniciava a partida.

Com a transferência de Riva para o Fluminense, era voz corrente que Adãozinho iria explodir no Timão. Na prática, ficou lembrado apenas pela atuação memorável em 1971, na virada corintiana sobre o Palmeiras por 4 a 3, quando marcou um gol antológico. Paradoxalmente, nos momentos capitais da equipe até 1979, quando esteve vinculado ao clube, ficou de fora da foto. Na invasão de 70 mil corintianos ao Estádio do Maracanã, pela semifinal do Campeonato Brasileiro de 1976, no empate em 1 a 1 com o Fluminense, o time escalado foi de Tobias; Zé Maria, Moisés, Zé Eduardo e Wladimir; Givanildo, Ruço e Neca; Vaguinho, Geraldão (Lance) e Romeu Cambalhota. O público naquele 5 de dezembro foi de 146.043 pagantes.

No ano seguinte, marcado pelo desjejum de título, Adão só enfrentou a Ponte Preta na primeira partida da final do Campeonato Paulista. Na chamada negra – terceira partida – só assistiu a festa, num time com três mudanças em relação ao ano anterior: Ademir Gonçalves na quarta zaga; Luciano e Basílio nos lugares de Givanildo e Neca.

Em 1979, ao se reencontrar com a Ponte Preta em final de Campeonato Paulista, o Timão estava bem modificado: Jairo; Zé Maria, Mauro, Amaral e Wladimir; Caçapava, Biro-Biro e Sócrates; Piter, Palhinha e Romeu Cambalhota.



Quando Adãozinho foi fixado como titular, a cobrança por título foi intensificada. Aí, o cantor-compositor Bebeto decidiu homenageá-lo com a gravação da música ‘Adão, você pegou o barco furado’. Eis a letra: “Você está com tudo garoto, e não tá prosa. Camisa 10, chuteira, meia e calção! Como é que é Adão? A galera não é mole não.

Você pode passar até por dez. Matar no peito, chutar forte, fazer gol. O sapo canta, o time perde, o povo chora. Você lamenta e fica triste com razão. Mas de nada você é culpado. Você já pegou o barco furado.

Largaram uma bomba em suas mãos. Você sente a falta do velho Tião. O meio-campo anda russo, preocupado. Você lamenta e fica triste com razão. Mas de nada você é culpado. Você já pegou o barco furado.

Na época o modismo era fazer música associada ao futebol. O sambista Luiz Américo, preocupado com a falta de substituto para Pelé na Seleção Brasileira à Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, compôs a música Camisa 10: “Desculpe seu Zagallo, mexe nesse time que tá muito fraco. Levaram uma flecha, esqueceram o arco. Botaram muito fogo e sopraram o furacão, que não saiu do chão. É camisa dez da Seleção. Dez é a camisa dele, quem é que vai no lugar dele...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Dinamite, bom na bola e na presidência

A era Roberto Dinamite na presidência do Vasco atingirá o terceiro ano em julho e durante este período o torcedor passou por muitas emoções. Em dezembro de 2008, durante o primeiro ano de mandato, a triste recordação da queda do clube à Série B do Campeonato Brasileiro, após derrota em casa para o Vitória (BA) por 2 a 0. Lembram-se do gaiato que ameaçou se jogar da marquise do Estádio São Januário? Na ocasião o rapaz exigiu dupla mobilização: apreensivos torcedores estenderam um bandeirão com a finalidade de amortecer eventual queda, enquanto em outra linha de atuação bombeiros conseguiram imobilizá-lo e evitaram a tragédia.

O Vasco se revigorou em 2009 com o retorno à Série A do Campeonato Brasileiro, e nesta temporada consolidou a boa fase ao conquistar a Copa do Brasil. O fato provocou marcante carreata de torcedores do Aeroporto Santos Dumont (RJ) ao Estádio São Januário, com a interrogação se o doido da marquise estava misturado à multidão.

Assim como nos tempos de jogador, Roberto Dinamite deu a volta por cima na administração vascaína e desmobilizou a tímida oposição do clube capitaneada pelo ex-presidente Eurico Miranda.

No início de carreira como atleta, Dinamite era apenas o centroavante rompedor, com presença exclusiva na área adversária. Afinal, com 1,86m de altura e bom aproveitamento no jogo aéreo, teria que ser explorado no cabeceio. No entanto ele queria mais. Consciente das limitações, trabalhou para melhorar o condicionamento técnico, aprendeu a sair para os lados do campo para construir jogadas, e aliou o útil ao agradável. Conseqüência: participação decisiva nas conquistas dos títulos vascaínos do Campeonato Brasileiro de 1974 e das competições estaduais de 1977, 1982 e 1987.

Quem tem o histórico de 1.100 partidas com a camisa cruzmaltina, das 1.201 oficiais disputadas, obviamente teria que ser idolatrado pela torcida vascaína, e com justiça postular a cadeira de 43º presidente do clube.

Dados estatísticos não precisos apontam 744 gols na carreira iniciada em 1971, em partida contra o Inter (RS). Com essa montanha de gols, exceto Romário, evidente que não enxerga, pelo retrovisor, alguém se aproximando, em relação àqueles que passaram pelo clube.

Uma das principais vítimas de Dinamite foi o Corinthians, como na goleada que o time sofreu para o Vasco por 5 a 2 no Rio de Janeiro em 1980, cinco gols do atacante vascaíno. No ano seguinte, o goleador marcou 62 gols na temporada, superando o flamenguista Zico, que havia marcado 45 gols.

Dinamite era nome obrigatório nas convocações à Seleção Brasileira, mas os treinadores preferiam escalar centroavantes habilidosos.

Uma particularidade na vida do ex-atacante era a intromissão da esposa Jurema, tida como macumbeira, que ‘quebrava’ o pau’ com cartolas. Jurema morreu precocemente de câncer.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Carpeggiani, carreira curta

Até o final da década de 70, quando o atleta se submetia a cirurgia de meniscos, ortopedistas faziam rasgos em joelhos de pacientes conforme literatura médica da época. Aquele procedimento cirúrgico conhecido como artrotomia clássica implicava em recuperação lenta. A cicatrização do corte, justamente numa articulação, também era demorada, contrastando com a modernidade da artroscopia, que consiste em duas pequenas incisões no local, os chamados furinhos, suficientes para a correção da área lesionada. No mesmo dia o paciente anda sem problemas e, geralmente, um mês depois já volta a jogar futebol se cumprir regiamente a programação de fisioterapia prescrita.

Se a evolução em cirurgias de joelhos e da dinâmica da fisioterapia ocorressem há 31 anos, de certo o então jogador Paulo César Carpeggiani não teria interrompido uma brilhante carreira no Flamengo em 1980, aos 31 anos de idade. As constantes dores impediram de fazer o tradicional vaivém nos gramados e saiu de cena.

Carpeggiani foi um jogador polivalente. Se no começo de carreira no Inter (RS) em 1970 foi aquele meia-de-armação que driblava, lançava e arriscava finalizações de média distância, as competições gaúchas ensinaram-lhe a praticar o futebol solidário, com entrega total também na marcação. Em 1974 compunha o meio-de-campo com Falcão e Escurinho, e a sua eficiência foi bem observada pelo então técnico Zagallo, da Seleção Brasileira, que o levou à Copa do Mundo da Alemanha como reserva do volante Clodoaldo. Com a contusão do titular, ele ocupou a posição e deu conta do recado.

No bicampeonato brasileiro do time colorado em 1975-76, lá estava Carpeggiani. A base do time era formada por Manga; Cláudio Duarte, Figueiroa, Hermínio e Vacarias; Falcão, Carpeggiani e Escurinho; Valdomiro, Flávio Minuano e Lula. Em 1977 transferiu-se para o Flamengo e jogou ao lado de Zico, numa trajetória que durou três anos. Por capricho do destino, em 1981, no mesmo Flamengo, foi fixado na função de treinador após a morte de Cláudio Coutinho por afogamento no litoral do Estado do Rio de Janeiro.

Sabiamente Carpeggiani deu prosseguimento àquilo que dava certo. O reflexo disso foram títulos da Copa Libertadores da América e Mundial de Clubes naquela mesma temporada. No ano seguinte ainda sagrou-se campeão do Campeonato Brasileiro.

Valorizado, em seguida foi em busca dos ‘petrodólares’ na Arábia Saudita. Só voltou ao Brasil em 1986, para comandar o Náutico, começando ali a andança por clubes brasileiros e até o Cerro Portenho do Paraguai, em 1994. O comando da seleção daquele país, quatro anos depois, no Mundial da França, foi conseqüência do bom trabalho feito por lá. Um fato marcante na carreira foi barrar o goleiro Roger, do São Paulo, em 1999, após o atleta posar nu para uma revista gay.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Geovani, vitória na saúde


Existem dores n'alma que machucam mais que a dor física. Imaginem o drama vivido e superado pelo ex-meia Geovani Faria de Silva, do Vasco da Gama, que ficou quase um ano em uma cadeira de rodas? Aquelas pernas que lançaram atacantes com precisão ficaram sem coordenação motora no final de 2006, vítima que foi de uma doença chamada polineuropatia. Na literatura médica é uma inflamação de múltiplos nervos das pernas provocada por diabetes, alcoolismo ou até mesmo hereditária. A falta de controle muscular aumenta o risco de quedas, e exatamente por isso Geovani fez uso de uma bengala quando o tratamento fisioterápico começou a dar resultados e possibilitou que voltasse a andar.

Esse histórico foi detalhado durante visita do jogador ao Estádio São Januário, antes dos jogos do Vasco contra o Avaí pela fase semifinal da Copa do Brasil. Na equipe cruzmaltina foram registrados os melhores momentos da carreira dele como jogador de futebol, que ganhou embalo a partir de 1982, quando trocou a Desportiva capixaba pelo Vasco sem ainda ser profissionalizado.

Em 1983, aos 19 anos de idade, 1,68m de altura, Geovani foi um dos destaques da seleção brasileira sub-20 na conquista do título mundial. Na época incorporava a verdadeira função do meia-esquerda, ao organizar jogadas de ataque e municiar principalmente seu companheiro Bebeto. Nas cobranças de falta, geralmente a bola passava pela barreira e dificultava defesas dos goleiros.

No Vasco ainda jogou com Romário, Roberto Dinamite, Mazinho, Paulo Roberto e Mauricinho, entre outros. Em 1988 foi relacionado pelo então técnico Carlos Alberto Silva aos Jogos Olímpicos de Seul, Coréia do Sul, conquistando a medalha de prata após derrota para a extinta União Soviética por 2 a 1. Também integrou a seleção principal em 23 partidas.

Geovani ficou no Vasco até 1989, quando apostou no sucesso da carreira na Itália, no Bologna. Ledo engano. Jogou num time com características defensivas durante um ano e sucumbiu. Outra experiência desastrosa foi no Karlsruher da Alemanha, o que resultou no retorno ao Vasco em 1993.

A partir daí já não manteve regularidade e foi mais um dos nômades do futebol: Tigres do México, Paulista de Jundiaí (SP), XV de Jaú (SP), novamente na Desportiva, Linhares, Serra e Vilhavelhense. A carreira de atleta profissional foi encerrada em 2002. Depois foi eleito deputado estadual, e agora ocupa a função de sub-secretário de Esportes do Espírito Santo. Ele ainda sonha volta a 'bater uma bolinha'.

Dramas de jogadores aflitos são revelados rotineiramente, um deles o lateral-direito Maílson do Bahia, nos anos 90. Ele sofre de doença degenerativa que complica movimentos de mãos, pernas e afeta a fala. E continuam as campanhas para custeio de sessões de fisioterapia, fonoaudiologia e compra de medicamentos.

Abel Braga, vitória da persistência


O técnico Abel Carlos da Silva Braga desliga-se do Al-Jazira dos Emirados Unidos no dia 8 de junho, quando acaba o seu vínculo. O desafio, a partir daí, será resgatar o bom futebol do Fluminense. E mais uma vez será persistente. Foi assim que atingiu sucesso quer como jogador, quer como treinador.

Abelão, como é identificado no futebol, vai completar 59 anos de idade no dia primeiro de setembro, sendo 43 deles vividos no mundo da bola. Se desse ouvido a conselheiros corneteiros das Laranjeiras - estádio do Fluminense - sequer teria continuado no time juvenil, porque era chamado de "grosso". Enxergavam nele apenas virtudes no jogo aéreo.

Na auto-avaliação, Abel reconhecia que precisava melhorar a cobertura, antecipação e desarme. Assim, com determinação, teve a recompensa ao ser fixado no time principal do Fluminense até 1976, quando se transferiu ao Vasco.

Em São Januário, Abelão sabia do histórico do clube em montar times com zagueiros de destaque, casos de Orlando Peçanha, Belini, Brito, Miguel e Moisés. A rigor, o Vasco teve anos dourados na década de 70. Em 1974, treinado por Mário Travaglini, foi o primeiro carioca a sagrar-se campeão brasileiro, num time que tinha Andrada; Fidélis, Miguel, Moisés e Alfinete; Alcir; Zanata e Ademir; Jorginho Carvoeiro, Roberto Dinamite e Luís Carlos. Na vitória por 2 a 1 sobre o Cruzeiro, Jorge Carvoeiro marcou o gol do título, e morreu anos depois.

Abel foi um dos responsáveis pela inigualável performance da defesa do Vasco. Em 1977, por exemplo, o time sofreu só cinco gols em 28 jogos. Consta nos acervos do clube súmulas com a seqüência de 17 partidas sem sofrer um gol sequer.

Cláudio Coutinho (já falecido), então treinador da Seleção Brasileira, admirava o futebol de Abel e o levou à Copa do Mundo de 1978, na Argentina, como reserva de Oscar. Houve quem alegasse que Abel era o típico zagueiro "limpa trilho", que só havia sido chamado porque jogava no Rio de Janeiro. Lembraram que apesar da escassez de bons zagueiros no futebol brasileiro, Osmar Guarnelli, no Atlético Mineiro, reunia mais condições.

Um ano após aquela Copa, Abel foi jogar no Paris Saint-Germain, da França. Nos três últimos anos de carreira o zagueiro atuou no futebol carioca. Em 1983/84 esteve no Botafogo. E em 1985 no Goytacaz.

Abel foi um jogador falante e liderança nata. Logo, transferiu essas virtudes à função de treinador. Consta em seu enriquecido currículo passagem pelo Olympique de Marselha, da França.

Nas últimas passagens pelo futebol do Rio de Janeiro ele colecionou título da Taça Guanabara e Campeonato Carioca pelo Flamengo, em 2004. Foi campeão regional pelo Fluminense em 2005. O ápice da carreira ocorreu em 2006 no Internacional (RS), culminando com conquistas da Libertadores da América e do Mundial de Clubes.



quinta-feira, 19 de maio de 2011

Chegamos!

Eduardo Mattos, meu mestre no jornalismo impresso, apanhou uma lauda que eu acabava de digitar na velha máquina de escrever Olivetti, após um jogo de futebol em 1978, mandou que eu fixasse bem nela, e a deixou cair no cesto de lixo no canto de sua mesa.

A justificativa pela reprovação do texto foi curta e grossa: “Que o Guarani ganhou por 2 a 0 todo mundo sabe. Que o time marcou um gol em cada tempo, também. Trate de procurar um gancho diferenciado que estimule o leitor. Que seja o complemento de uma informação ainda não explorada”.

Trinta e três anos se passaram e ainda ouço e leio matérias sobre futebol com abertura discorrendo sobre reapresentação de jogadores de tal time, dos treinos físicos, etc. Quanto desperdício!

E a proposta de ocupação deste espaço é no mínimo exigir reflexão ao caro internauta. Logo, não cabe aqui explanação sobre o óbvio e ululante. Arrogância a parte, meus cabelos brancos representam a multiplicação de incontáveis experiências de bastidores, a absorção de parte da sabedoria de treinadores extraordinários e o longo convívio com os artistas da bola.

Há 12 anos o destino reservou-me experiências em outros segmentos jornalísticos e sou grato pelo riquíssimo acervo ‘cravado na cachola’. Agora, de volta ao velho ninho, sugiro um tempo mínimo para readaptação, realinhamento, etc.

No ‘passeio’ diário pelo portal, o enfoque prioritário será a Série B do Campeonato Brasileiro. Claro que sugestivos assuntos da bola também serão apimentados.

Venha comigo!



Horários inconvenientes

Ditatorialmente a CBF impõe horários dos jogos do Campeonato Brasileiro da Série B? Talvez nem tanto. Quem consultar a tabela verá que durante o primeiro turno os horários são bem flexíveis: 16h20 aos sábados e às 19h30, 21h e 21h50 terças e sextas-feiras. Dito isso, a diretoria da Ponte Preta deve no mínimo uma explicação aos seus torcedores sobre programação de jogos noturnos em casa nunca antes das 21h, quando se sabe perfeitamente que o horário racional para jogos à noite é 19h30.

Há ingerência da televisão? Sim. Ela paga e tem o direito de ‘meter o bedelho’. Convenhamos também que alguns jogos de menor expressão poderiam ser marcados para as 19h30. Fora de casa, por exemplo, a Ponte vai jogar uma vez nesse horário: dia 19 de agosto em Natal (RN), contra o ABC. O torcedor pontepretano ainda é castigado pelo perverso horário das 21h50 em jogos contra Salgueiro (PE), Goiás e Ituiutaba (MG).

BUGRINO

O bugrino fiel igualmente vai dormir mais tarde na maioria dos jogos noturnos do clube no Estádio Brinco de Ouro. Restaram as minguadas partidas contra Duque de Caxias, dia 26 de julho, e Paraná Clube, 16 de agosto, com início às 19h30.

Pior ainda é a agenda de jogos do Americana. Ninguém merece programação às 21h em um sábado, no dia 7 de julho, contra o Ituiutaba (MG). Além disso, também vai jogar às 21h50 duas vezes: contra São Caetano, no dia 16 de junho, e Sport Recife, em 16 de agosto. Pra compensar, pelo menos duas vezes ele inicia jogos às 19h30: diante de Bragantino e Criciúma.



segunda-feira, 16 de maio de 2011

Perfumo, boa escola argentina

 “Los técnicos no son miedosos por sacar a los creativos. La cátedra se inquieta tres técnicos que predican buen fútbol sacan a la hora de los cambios a quienes juegan bien, si es que vale la expresión para los de buen, pie a quienes tratan bien la pelota. Los técnicos esta vez fueron Juan José López, Cappa y Schurrer”.
 Traduzindo do espanhol para o português, “os técnicos não têm medo de puxar a cadeira criativa. Está em causa três técnicos que pregam o bom futebol quando as mudanças para aqueles que jogam bem, se é uma boa expressão para a posição, que tratavam bem a bola. Os técnicos desta vez foram Juan José López, Cappa e Schurrer”.
 Essa breve introdução de texto é do ‘El Marechal’ Roberto Perfumo, que integra a equipe de colunistas esportivos do portal argentino ‘Olé’. Hoje, aos 68 anos de idade, esse ex-zagueiro mantém-se vinculado ao futebol com opiniões abalizadas. E fala com a autoridade de quem se aproximou da perfeição quando esteve em campo entre as décadas de 60 e 70. Saudosistas atestam que ele conciliou a indispensável raça portenha ao talento. Tinha velocidade para cobertura pelos lados do gramado e cálculo exato do tempo de bola para antecipação das jogadas. Também sabia acompanhar o bom balanço de atacantes habilidosos, para não se enganado facilmente.
 Perfumo fez história na seleção argentina a partir do Mundial de 1966 na Inglaterra, quando injustamente seu companheiro e volante Antonio Ratin foi expulso de campo pelo árbitro alemão Rudolf Kreitlein por reclamação, mesmo não entendo espanhol. Naquele selecionado jogou até 1974, ocasião em que integrou clubes como River Plate e Cruzeiro. Chegou a Belo Horizonte em 1971, e lá ficou durante quatro anos. A estatura de 1,79m de altura era aceitável a zagueiros da época. Além disso, tinha uma tremenda impulsão, e chegou precedido da fama dos argentinos revelarem zagueiros de bom nível técnico, contrastando com os vulneráveis Samuel e Demichelis na Copa do Mundo de 2010 na África do Sul.
 Aquela vinda de Perfumo ao Brasil foi num período em que a ‘imigração’ de portenhos havia crescido consideravelmente. Pode-se dizer que o saudoso zagueiro Ramos Delgado abriu a ‘porteira’ quando chegou ao Santos em 1967. Três anos depois ele ganhou companhia do compatriota Cejas, um goleiro que dispensa comentários. Um ano antes o Palmeiras apostou nos gols do artilheiro Luis Artime para conquistar títulos.
 Tal como outrora, hoje vê-se uma invasão de jogadores argentinos espalhados por clubes brasileiros. O título de melhor atleta do país para o meio Conca do Fluminense, ano passado, foi quase uma unanimidade. Os meio-campistas Guiñazu e D’Alessandro caíram nas graças da galera do Inter (RS) pela volúpia nas disputas de bola. Já o Cruzeiro, bem sucedido com argentinos, conta com o meia Montillo.



segunda-feira, 9 de maio de 2011

Luizinho, o driblador

Se você é zagueiro, diga o que faria se um atacante adversário aplicasse dribles consecutivos, colocasse a bola entre as suas pernas - a chamada caneta - e, por fim, no maior estilo provocador, sentasse literalmente na bola?

Saiba que Luizinho, o ‘Pequeno Polegar’, levou a torcida corintiana ao delírio quando humilhou o zagueiro argentino Luis Villa, do Palmeiras, há 59 anos, exatamente numa jogada como a descrita. Saiba que em outras dezenas de vezes arrancou aplausos dos torcedores pela identificação com o drible e assumia o rótulo de arrogante. "Não sou atleta para jogar para público inferior a 30 mil torcedores".

Foi Luizinho o autor do gol do título corintiano do 4º centenário da cidade de São Paulo, em 1954, no empate em 1 a 1 com o Palmeiras, na penúltima rodada do Campeonato Paulista, que se arrastou até o mês de fevereiro de 1955.

Na época, a cidade de São Paulo tinha 2,5 milhões de habitantes e os bondes corriam sobre trilhos. O Timão precisava do empate e, ao consegui-lo, sua torcida entoou o coro "Corinthians, campeão dos campeões", obra de Osny Silva. O time, comandado pelo técnico Oswaldo Brandão – já falecido -, era formado por Gilmar (Cabeção), Homero e Olavo; Roberto, Idário e Goiano; Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Simão.

A identificação de Luizinho com o Corinthians vinha da adolescência quando jogava no Maria Zélia, time da várzea paulistana, e freqüentava o Estádio Parque São Jorge para se espelhar nos atacantes Teleco e Servílio. Teleco marcou 243 gols em 234 partidas.

O apelido de ‘Pequeno Polegar’ é decorrente da estatura de 1,67m de altura. Com 55 quilos, rápido e ágil, evitava choques com zagueiros gandalhões. E assim deu seqüência à carreira até 21 de setembro de 1967, na vitória por 4 a 0 sobre o Bragantino (SP).

E quando pendurou as chuteiras não se separou do futebol. Continuou ligado ao Corinthians como funcionário, e por três vezes foi chamado para desempenhar as funções de técnico tampão da equipe. "O Corinthians me deu tudo e eu dei minha vida pelo clube".

Luizinho foi um baixinho encardido. Em 1957, num jogo amistoso com o São Paulo, discutiu asperamente com o atacante Gino, do Tricolor, ofendeu a mãe dele, e o revide foi sintomático.

Aparentemente, o bate-boca parecia restrito ao gramado, mas bastou se encontrarem casualmente na residência do jogador Alfredo - amigo comum de ambos - para, surpreendentemente, Luizinho atirar um tijolo na cabeça de Gino. O corte foi profundo, esguichou bastante sangue, e o fato ganhou manchete de jornais. Aí, o apresentador de televisão Manoel da Nóbrega, que tinha um programa com propósito de reconciliar desafetos, os recolocou frente a frente diante das câmeras, e eles se abraçaram como velhos amigos.

Luiz Trochillo nasceu no dia 3 de março de 1930 e morreu em 1998.




segunda-feira, 2 de maio de 2011

Bons tempos dos marqueteiros da bola

Paradoxalmente, num período em que o marketing se infiltrou com peso no futebol, os boleiros perderam a criatividade de outrora e poucos se arriscam a sacadas que visam promover determinados jogos. Alguns propagam ódio com manifestações dispensáveis em twitter. Infelizmente saíram de cena atletas que faziam a saudável provocação e com isso o futebol perdeu um pouco de seu glamour. Eram autênticos marqueteiros que propagavam apostas atrativas, como aquela em que o zagueiro Juninho, da Ponte Preta, teve que carregar nas costas o atacante Serginho, do São Paulo, de gol a gol.

O fato ocorreu em 1981 no Estádio do Morumbi, na partida entre aqueles clubes pelo Campeonato Paulista. A Ponte ganhou por 2 a 1, mas foi Serginho quem saiu sorrindo ao ganhar a aposta que consistia em marcar gol sobre o zagueiro. Claro que esse ingrediente motivou ainda mais o público.

Naquele mesmo ano Serginho e o volante Chicão – já falecido – também toparam outro desafio de um deixar sua marca de artilheiro e o outro de impedir o gol. Estava em jogo o corte da vasta cabeleira black power do atacante ou o preservado bigodão do volante, que na época havia trocado o Tricolor pelo Santos. E com um Morumbi lotado, Chicão torceu o nariz quando o ponteiro-direito são-paulino Paulo Cesar Capeta sofreu pênalti e Serginho se habilitou à cobrança. E após o gol, com a natural provocação do ganhador da aposta, Chicão chiou: “Gol de pênalti não vale nessa aposta!”.

Serginho não polemizou, convicto que outras chances de gols surgiriam. Na sequência, ao ser lançado, protegeu a bola ao seu estilo, girou e marcou seu segundo gol no jogo. “Esse valeu, Chicão?”, debochou. Final: São Paulo 3 x 2 Santos, com um gol de cabeça de Chicão.

César Maluco, Dadá Maravilha, Túlio e Vampeta também colocavam mais combustível na fogueira com alfinetadas e promessas de gols. Dadá exaltava sua virtude de cabeceador: “Só três pessoas param no ar: helicóptero, beija-flor e Dadá”. E promovia jogos com promessas de gols, um deles o ‘Fepasa’ nos tempos de Ponte Preta. Era uma homenagem ao torcedor ‘durango’ que assiste jogos na linha do trem, num morrinho atrás do gol da cabeceira sul do Estádio Moisés Lucarelli.

César Maluco, atacante do Palmeiras na década de 60, também prometia gols e corria ao alambrado quando cumpria. Por quê maluco? Quem teria coragem de pegar a única bola de um jogo contra o Corinthians e levá-la ao vestiário após ter sido expulso de campo, interrompendo a partida por alguns minutos?

Tal como no seu período áureo no futebol, Túlio ainda se diverte em seu site oficial com frases do tipo “Túlio e a bola são duas almas que se advinham no recanto nada poético da grande área. Ele, sereno, glacial. Ela, chegando dissimulada para a trama final que fulminará o goleiro sem dó e nem piedade”.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Farah explorava o marketing

A queda de público em campeonatos regionais de futebol, principalmente nos estádios do Estado de São Paulo, favorece setores da mídia que questionam fórmulas de disputa dessas competições. Radicalismo daqueles que pregam a extinção dos estaduais à parte, o desinteresse durante a fase classificatória do Paulistão 2011 foi demonstrado através dos borderôs dos jogos. O maior público na primeira fase da competição foi de 26.138 pagantes no jogo entre São Paulo e Palmeiras, dia 27 de fevereiro, no Estádio do Morumbi. Até mesmo o Corinthians, tido como campeão de bilheteria, ficou atrás. Em suas partidas contra Palmeiras e Santos foram registradas vendas de 23.714 e 19.440 ingressos respectivamente, números que contrastam com épocas em que a competição era organizada com mais competência.

Forçosamente o torcedor paulista recorre à ‘era Farah’, ocasião de campeonatos mais criativos e charmosos. Eduardo José Farah, que completa 77 anos de idade neste primeiro de maio - presidiu a FPF (Federação Paulista de Futebol) entre 1988 a 2003 e indicou um sucessor que sequer é conhecido pela maioria dos freqüentadores de estádios, caso de Marcos Paulo Del Nero.

No décimo ano na presidência da FPF, Farah lançou um projeto que visava revolucionar o Campeonato Paulista: ‘era empresarial’, com o torcedor tratado como cliente. Para aumentar a visibilidade da competição, cogitou a hipótese de transformar o Araçatuba em clube de aluguel do Flamengo. E o mesmo se aplicaria em relação a Atlético Mineiro e Vitória da Bahia.

Claro que na prática a migração de clubes era inviável. E nem precisava disso. O impulso do marketing no futebol de São Paulo já era realidade com o contrato assinado com o Grupo VR (Vale Refeição), no valor de R$ 41 milhões. O dinheiro garantia cota de R$ 500 mil por jogo para os grandes clubes quando mandantes.

Evidente que havia a contra partida dos clubes. O acordo previa destinação de toda receita de bilheteria ao Grupo VR, que assumiria risco ou êxito no negócio, conforme citação do vice-presidente comercial do grupo da época, Cláudio Szajman: “Não somos patrocinadores, mas investidores”.

O ambicioso projeto previa a criação da Torcida Vip com assento demarcado nos estádios, facilidade para compra de ingressos, bilheterias móveis, sanitários terceirizados, sorteio de 50 automóveis para torcedores, caminhão do Paulistão repleto de prêmios, sorteio de um imóvel no valor de R$ 50 mil ao final do campeonato, introdução de dançarinas - as farazetes – em jogos transmitidos pela TV e cobranças de pênaltis envolvendo jogadores reservas nos intervalos das partidas.

Clubes do interior, enquanto mandantes, recebiam cota de R$ 100 mil por jogo. Além disso, a FPF repassou dez jogadores que chamassem a atenção da torcida àqueles clubes.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Renda e público não divulgados

Bons tempos em que o locutor de voz grossa do serviço de som de estádio de futebol anunciava público e renda. Naquele período passavam a mão no dinheiro descaradamente com divulgação de público bem inferior àquele projetado pelo ‘olhômetro’ do torcedor. Incontinenti ouvia-se vaia ensurdecedora dos indignados com manipulação dos números. Afinal, como um estádio de reconhecida capacidade de público podia ‘encolher’ inexplicavelmente?

Naqueles tempos - coisa de duas ou três décadas - repórter de rádio que não se apressasse na busca pela informação do borderô de jogo acabava, por vezes, repreendido no ar pelo narrador. A tal informação era imprescindível. Fazia parte da cultura do futebol, e exatamente por isso centenas de torcedores arriscavam apostas em dinheiro que premiavam aquele que mais se aproximava do público anunciado. Esse tipo de aposta nos estádios só tinha demanda inferior ao bolão de linha, que consistia no torcedor cravar quem marcaria o primeiro gol de seu time, com opções de atletas de camisas do sete ao onze.

Bons tempos em que o formato de ingresso era de papel e o torcedor ficava com o canhoto como garantia de reapresentação em portarias de clubes na hipótese de adiamento de jogos provocados por chuva ou interrompimento de energia elétrica, diferentemente dos cartões digitais de hoje.

Outro diferencial é que naquela época a arrecadação do jogo era dividida após deduções de despesas, com percentual exagerado ao INSS. Geralmente em competições regionais a partilha compreendia partes iguais, após deduções das despesas de praxe. Com a introdução do Campeonato Brasileiro, a antiga CBD (Confederação Brasileira de Desporto) determinou que clubes vencedores ficassem com a parcela de 60% da renda líquida. Assim, os 40% restantes eram destinados aos perdedores. A divisão igual se aplicava em caso de empates. O mesmo critério é adotado na Copa do Brasil em casos de apenas uma partida do mata-mata, com a decorrente eliminação do mandante.

Esse conceito de divisão de renda sempre foi contestado pelos grandes clubes, com o argumento de que em seus mandos arrastam mais torcedores aos estádios. A pressão foi intensificada e tanto federações como a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) cederam, optando por renda integral ao mandante. A partir daí coordenadores do serviço de arrecadação raramente abastecem repórteres de rádio e cabines de som dos estádios com borderôs.

Quem supunha que o Estatuto do Torcedor, em vigência desde maio de 2003, reintroduzisse a obrigatoriedade dessas informações se equivocou. A exigência se restringe a publicações em sites de federações e CBF no mínimo um dia após o citado jogo. Assim, restou ao torcedor assimilar a reprovável informação de público e renda não divulgados em veículos de comunicação.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Ditão, o zagueiro limpa área

Zagueiro sem velocidade perdeu espaço no futebol moderno, contrastando com “beques” lentos do passado, cuja condição essencial era a boa compleição física. Outras décadas, a ‘treinadorzada’ priorizava zagueiros com caixa torácica avantajada, porque o uso do corpo no contato físico era tido como imprescindível na tentativa de evitar o drible.

Nesse contexto estava Ditão (já falecido), que marcou época na Portuguesa e Corinthians na década de 60. Geraldo de Freitas Nascimento, cujo nome nada tinha a ver com o apelido, nascido em 10 de março de 1938, integrava uma família de atletas. Seu irmão Gilberto de Freitas Nascimento, também apelidado de Ditão, igualmente jogou na zaga central, no Flamengo. Outro boleiro da família foi Flávio, zagueiro de poucos recursos que não prosperou na carreira jogando pelo Bragantino (SP). Adílson – já falecido -, único dos irmãos a enveredar para o basquete, fez sucesso no Corinthians e Seleção Brasileira.

Ditão foi o típico zagueiro limpa área. Era um brutamonte de tronco largo e pernas finas que ganhava a maioria das jogadas com o uso do corpo, sem violência. Jamais foi expulso de campo ao longo da carreira iniciada na Portuguesa, período em que atuou ao lado de Félix, Jair da Costa e Servilio, em 1962. Também valia-se da boa estatura e posicionamento.

Transferiu-se ao Corinthians juntamente com o meia Nair em 1966, e formou dupla de zaga com Luís Carlos durante quatro anos. No primeiro ano de Timão jogou com Heitor, Jair Marinho, Dino Sani, Édson Cegonha, Mané Garrincha, Nair e Flávio, entre outros. Em 1969, no jogo em que o Corinthians venceu o Cruzeiro por 2 a 0, foi despachar a bola que, involuntariamente, atingiu o rosto de Tostão. Houve deslocamento da retina do olho do cruzeirense, que, anos depois, teve que abandonar o futebol.

Ditão era um jogador mudo. Só soltava o vozeirão na roda de amigos, na cerveja. Era mulherengo, porém tímido. Certa ocasião, após jogo do combinado paulista de veteranos, um amigo o sacaneou numa bem arquitetada brincadeira, ao combinar com uma amiga para que flertasse o zagueiro. E quando ela avançou na investida e Ditão projetou que pudesse conquistá-la, ela sacou o revólver e mirou na direção dele, que tremeu na base, enquanto os amigos ‘caíram’ na gargalhada.

Numa época em que raras vezes um zagueiro ultrapassava o meio de campo, Ditão se projetava na área adversária em cobranças de escanteios, a partir dos 35 minutos do segundo tempo, para tentar o gol de cabeça. De vez em quando decidia partidas, como em 1968 na virada sobre o Palmeiras por 2 a 1.

Com a chegada de Baldocchi ao Corinthians em 1971 foi para a reserva. Desanimado, deixou a bola. E em 1994, divorciado e vivendo sozinho, morreu em Guarulhos, vítima de ataque cardíaco quando estava no banheiro.





terça-feira, 29 de março de 2011

Danrlei, campeão de votos


Em 2007, dois anos antes do encerramento da carreira no futebol, o goleiro Danrlei, na época vinculado ao modesto E.C. São José de Porto Alegre (RS), se identificou como pessoa autêntica: “Se não gosto da pessoa, não consigo falar com ela; se eu gosto, morro por ela. Não consigo ficar sorrindo para quem não gosto”.

Danrlei de Deus Heinterholz ficou marcado como ídolo do Grêmio portoalegrense porque se superava em grenais e falava exatamente aquilo que pensava, independentemente de agradar as pessoas. Resta saber se agora que trocou o uniforme de atleta pelo terno e gravata dos políticos vai manter a postura. Dos ex-jogadores postulantes a cadeira na Câmara Federal na última eleição, Danrlei foi o mais bem votado com 173.787 votos dos eleitores gaúchos, número que também o colocou na quarta colocação entre candidatos a cargos legislativos do Estado do Rio Grande do Sul.

Danrlei se abrigou na sigla do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), criada sob inspiração do então presidente da República Getúlio Vargas em 1945, na época de forte tradição trabalhista, e hoje nem tanto. Independente de filosofia partidária, um dos desafios do ex-goleiro é desmistificar o pensamento do escritor luso Eça de Queiroz, ainda no século XIX: “Políticos e as fraudas são semelhantes. Possuem o mesmo conteúdo”. Ou provar que o pessimismo do escritor britânico Plilip Chesterfield no século XVIII não se aplica aos dias de hoje: “Os políticos não conhecem nem ódio, nem amor. São conduzidos por interesse e não por sentimento”.

O tempo dirá qual será o comportamento de Danrlei. O indesmentível é que ele foi goleiro a nível de Seleção Brasileira nos primeiros dez anos de carreira. Passou pelo Grêmio entre 1993 a 2003, quando conquistou a Libertadores da América, Copa do Brasil, Recopa sul-americana e Campeonato Gaúcho.

Em 2004, aos 31 anos de idade, sem a típica regularidade, iniciou o processo de repasse de clubes: Fluminense, Beira-Mar de Portugal, São José (RS) e Brasil de Pelotas, clube onde guarda a mais triste recordação no futebol. O ônibus que conduzia a delegação do clube no anel de acesso à BR-392 caiu num barranco e três ocupantes morreram: Giovani Guimarães, preparador de goleiros; Régis Gouveia, zagueiro; e o atacante uruguaio Claudio Millar.

Foi jogando também pelo Brasil que se envolveu em confusão generalizada no jogo contra o Ulbra. Conseqüência: suspensão de 120 dias. E foi em Pelotas seus últimos passos como jogador de futebol. Depois veio a despedida oficial em Porto Alegre no dia 12 de dezembro de 2009, com registro de 30 mil pessoas no Estádio Olímpico.

O ex-goleiro completa 38 anos de idade neste 18 de abril e a sua trajetória é contada em detalhes no livro ‘Danrlei, uma Lenda Gremista’, escrito pelo jornalista Eliziário Goulart Rocha.