sábado, 29 de novembro de 2008

Mazzola, dupla nacionalidade

Por Élcio Paiola (interino)

Geralmente ex-jogador de futebol que envereda para a função de comentarista esportivo evita críticas contundentes a boleiros, por já ter sentido o peso desses comentários. Como toda regra tem exceção, pode-se dizer que o piracicabano João José Altafini, o Mazzola, é uma delas.
Língua afiada, não poupa jogadores com atuações comprometedoras nas análises das partidas do Campeonato Italiano, quer no rádio, quer na TV. Mazzola foi atacante dos bons entre as décadas de 50 e 70 e é intolerante com o chamado “cabeça-de-bagre”.
Altafini ganhou o apelido de Mazzola ainda no Clube Atlético Piracicaba em 1954, no início de carreira. A justificativa era a semelhança com o jogador Valentino Mazzola, ídolo do Torino na década de 40. A transferência ao Palmeiras deu-se em 1956, ocasião em que se transformou num dos principais ídolos de todos os tempos do clube, apesar da passagem por apenas dois anos. No alviverde disputou 114 jogos e marcou 85 gols.
A montanha de dinheiro oferecida pelo Milan, da Itália, jamais poderia ser recusada e, com parte do dinheiro, o Palmeiras contratou a ala direita da Portuguesa, formada pelo lateral Djalma Santos e o ponteiro Julinho Botelho (já falecido).
Antes da despedida, Mazzola integrou o selecionado brasileiro que sagrou-se campeão mundial na Copa do Mundo da Suécia, em 1958, tendo participado das duas primeiras partidas. Na estréia contra o Áustria, na goleada por 3 a 0, marcou dois gols e o outro foi anotado pelo lateral-esquerdo Nilton Santos. O time, comandado pelo técnico Vicente Feola, jogou com Gilmar; De Sordi, Belini, Orlando e Nilton Santos; Dino Sani e Didi; Joel, Mazzola, Dida e Zagallo.
Originariamente Mazzola era centroavante, embora se adaptasse bem à função de ponta-de-lança. Contra a Áustria jogou na sua posição, formando dupla de ataque com Dida. Na segunda partida, no empate sem gols com a Inglaterra, atuou como segundo atacante, pois o camisa nove foi Vavá, e Dida perdeu a posição.
Diante da União Soviética, com Pelé recuperado de contusão, Mazzola ficou de fora e o Brasil ganhou por 2 a 0, gols de Vavá. Feola havia escalado o volante Zito no lugar de Dino Sani e Garrincha entrou no posto de Joel. Consta da biografia de Mazzola na Seleção 11 jogos e oito gols.
Filho de italianos, três anos depois da transferência àquele país, ganhou dupla cidadania e passou a integrar a seleção da Itália. Na época, a Fifa permitia dupla nacionalidade de jogador em Mundial e, assim, Mazzola participou do fiasco da squadra azzurra no Chile, na Copa do Mundo de 1962, quando a equipe sequer passou à segunda fase.
A redenção do atacante foi em âmbito doméstico, no futebol italiano, com continuidade no Napoli e Juventus de Turim. Ele ganhou o mesmo respeito de ídolos como Luigi Riva, Gianni Rivera, Dino Zoff, Paolo Rossi, Francesco Totti, Fabio Cannavaro, Luca Toni, Alessandro Del Piero e Gianluigi Boffon.
Quando encerrou o ciclo como jogador na Itália, em 1976, Mazzola se convenceu que tinha bola para prolongar a carreira no futebol suíço e lá jogou no Chiasso e Mendrisio Star, onde pendurou as chuteiras em 1981, aos 43 anos de idade.
Anualmente Mazzola vem ao Brasil e a última vez foi em junho passado, quando se emocionou ao reencontrar campeões mundiais de 50 anos, em Brasília, num jantar.

Marinho com jeito de Marião

Por Élcio Paiola (interino)


O jornalista e escritor Luís Fernando Veríssimo já nos brindou com um delicioso texto sobre diminutivo. Em determinado trecho citou que no Brasil usa-se o diminutivo principalmente em relação à comida. Também em mesa de bar é natural o pedido de cervejinha e bem geladinha. São diminutivos devidamente incorporados ao cotidiano. Estranho, convenhamos, é se chamar um brutamonte de Marinho, como é o caso do ex-zagueiro flamenguista dos anos 80.
Digamos que na infância e adolescência, em Londrina (PR), sua cidade natal, Mário Caetano Filho fosse franzino, induzindo o apelido no diminutivo. Quando adulto, com quase 1,90m de altura, ombros largos e caixa torácica avantajada, evidentemente estava mais para Marião. Paradoxalmente no futebol os “ao” se transformam em “inho” e vice-versa.
Após ter sido mal avaliado pelo São Paulo, em 1977, Marinho se deu bem no Flamengo de 1980 a 1984, e conquistou todos os títulos cobiçados por um boleiro. Em 1981 foi campeão carioca, da Libertadores da América e do Mundial Interclubes. Colocou faixas três vezes no Brasileirão: em 80, 82 e 83.
Tanto na finalíssima da Libertadores como no Mundial formou dupla de zaga com Mozer. Na competição sul-americana, Flamengo e Cobreloa, do Chile, venceram em seus domínios e, conforme o regulamento da época, o campeão saiu do jogo extra no Uruguai. Por sinal, um jogo conturbado, a exemplo do segundo, no Estádio Nacional, em Santiago, capital chilena. É que o árbitro uruguaio Ramon Barreto fez de conta que não viu o zagueiro Mato Soto, do Cobreloa, abrir o supercílio de Marinho, cortar uma das orelhas de Lico e acertar o olho de Tita.
Aí, o Flamengo foi para o terceiro jogo com espírito vingativo. O meia Zico deu show, marcou os dois gols da vitória flamenguista por 2 a 0 - aos 18 e 34 minutos do 2º tempo - e o técnico do time brasileiro, Paulo César Carpegiani, foi imprudente ao recomendar ao atacante Anselmo que entrasse em campo para ajustar contas com Mario Soto.
Assim, aos 42 minutos, após entrar no lugar de Nunes, o obediente Anselmo se aproximou do zagueiro chileno e desferiu-lhe um forte soco no rosto, provocando nocaute. Evidente que Anselmo não ficaria dando sopa para irados chilenos. Sequer esperou o cartão vermelho e saiu no pique, logicamente perseguido por um bando de inimigos.
Pronto. O Flamengo estava duplamente vingado: na bola e no tapa.
Emoção maior de Marinho apenas por ocasião do título mundial em Tóquio, no Japão, na goleada sobre o Liverpool, da Inglaterra, por 3 a 0, com dois gols de Nunes e um de Adílio.
Na época, o Flamengo tinha um time ofensivo, e contava basicamente com a pegada de Andrada no meio-de-campo, porque Adílio, Lico e Zico eram jogadores de criação. Como os laterais Leandro e Júnior apoiavam sistematicamente o ataque, invariavelmente os zagueiros Mozer e Marinho ficam mano a mano com atacantes adversários e davam conta do recado. Eis o melhor Flamengo de todos os tempos: Raul: Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio, Zico e Lico; Tita e Nunes.
Marinho foi um zagueiro do tipo André Dias, do São Paulo, com o diferencial da maior estatura. Com a saída de Mozer, formou dupla de zaga com Figueiredo. Depois passou por Botafogo (RJ) e encerrou a carreira em Londrina, onde está radicado aos 53 anos de idade.

Jairzinho, furacão da Copa de 70

Por Élcio Paiola (interino)


Em 1970, o Galvão Bueno da televisão brasileira era Geraldo José de Almeida, com transmissões de futebol caracterizadas por bordões do tipo "vamos Brasil, porque a tua fé te empurra".
O narrador identificava Pelé como "craque café"; Rivelino era o "reizinho do parque"; Gerson o "chuteira de ouro", e quando a bola caía nos pés de Jairzinho, Geraldo José de Almeida estufava o peito, empostava a voz, e o identificava como "furacão da Copa".
O mulato Jair Ventura Filho fez jus ao bordão. Entrou para a história das Copas como único jogador a marcar gol em todas as partidas. Foram dois na goleada por 4 a 1 sobre a Tchecoslováquia; foi dele o gol no apertado 1 a 0 sobre a Inglaterra; marcou na vitória por 3 a 2 sobre a Romênia; repetiu a dose nos 4 a 2 diante do Peru; no 3 a 1 contra o Uruguai; e 4 a 1 na conquista do tricampeonato sobre a Itália. Portanto, sete gols em seis jogos. E nem por isso foi artilheiro da competição. Muller, da Alemanha, fez 10 gols.
Curioso é que às vésperas daquela Copa Jairzinho era reserva do ponteiro-direito Rogério. Outra curiosidade é que Jairzinho só vestiu a camisa sete na Seleção Brasileira. Sua posição originária era ponta-de-lança. Admitiu ser deslocado para a ponta porque o técnico Zagallo abdicou de especialistas nas extremas, tanto que o meia Rivelino jogou com a camisa 11.
Jairzinho nasceu no dia de Natal (25 de dezembro), em 1944, e em 1958 era gandula do Botafogo-RJ. E de pegador de bola no Estádio São Januário se transformou em artilheiro no time juvenil do "Fogão.
Aos 20 anos de idade teve a responsabilidade de vestir a camisa 10 de Amarildo, e caiu no gosto da galera. Das 82 partidas disputadas em 1964 marcou 34 gols. Ele explorava as passadas largas e facilidade para finalizar, virtudes determinantes para que fosse relacionado à Copa de 1966, jogando contra Bulgária, Hungria e Portugal.
A trajetória de Jairzinho na Seleção Brasileira se prolongou até 1974, ocasião em que completou 107 jogos, 87 deles considerados oficiais. E se despediu com histórico de 44 gols.
Jairzinho brilhou igualmente no Botafogo até 1974, quando se transferiu para o Olimpique de Marselha, na França. Dois anos depois, de volta ao Brasil, sagrou-se campeão da Taça Libertadores da América pelo Cruzeiro, teve passagens por Wilstermann da Bolívia e Portuguesa da Venezuela, ocasião em que estava na torturante estrada da volta do futebol. Mesmo assim, brindou torcedores do Noroeste, de Bauru (SP), e Fast Clube (AM), com algumas boas jogadas.
O encerramento de carreira tinha que ser no Botafogo e aconteceu em 1981, em retribuição ao reconhecimento do clube que o colocou na galeria dos principais ídolos de sua história.
O botafoguense da velha guarda jamais esquecerá o gol de letra marcado por Jairzinho na goleada por 6 a 0 sobre o arquiinimigo Flamengo, em 1972.
Jair Ventura Filho ainda está ligado ao futebol, empresariando jogador. E como tem bom discernimento para avaliar "boleiros" foi o descobridor do atacante Ronaldo “Fenômeno”. Por essas e outras a sua agenda está sempre comprometida com negócios.

Éder, o canhão

Por Élcio Paiola (interino)


Quando o ex-ponteiro-esquerdo Éder Aleixo Assis observa fãs com descontrolável assédio ao meia Kaká, do São Paulo, de certo comenta com amigos que “esse filme” não só assistiu como foi protagonista. Nos tempos de boleiro, Éder era boa pinta, vestia-se elegantemente e às vezes tinha que se desvencilhar dos agarrões da mulherada.
Éder tem pouco mais de 1,80m de altura e no auge da forma, na década de 80, dirigia carros importados e tinha hábito de não acompanhar ônibus de delegações de clubes pós-jogo. Naquelas ocasiões, alguns amigos estavam sempre a esperá-lo em portas de estádios, conduzindo o carro chic.
No campo, Éder era unanimidade. Arrancava aplausos por causa do chute forte, com efeito, e geralmente mortífero. Narradores de futebol não se cansavam de gritar gols que ele marcava do “meio da rua”, uma metáfora criada há décadas para caracterizar o chute de longa distância ao gol adversário, e que ainda resiste.
Éder atravessou o melhor período da carreira em 1982, levado pelo técnico Telê Santana aquele memorável selecionado brasileiro que tinha “cara” de campeão, na Copa do Mundo da Espanha, mas foi atropelado pelos gols do atacante Paolo Rossi e sua Itália.
Naquele Mundial, Éder marcou um golaço na vitória por 2 a 1 sobre a extinta União Soviética e na goleada por 4 a 1 diante da Escócia. Ele fez parte daquela “patota” que tinha Waldir Peres; Leandro, Oscar, Luizinho e Júnior; Falcão, Sócrates, Zico e Toninho Cerezo; Serginho e Éder.
É um equívoco citar Éder como um ponta veloz. Também exagera quem o rotula de ex-jogador fora de série. A principal virtude era bater na bola, mas também sabia dominá-la. Conseguia escapar de marcadores e arrancava aplausos como lançador. Assim, com bola estilada de 40 metros, colocava companheiros na “cara” do gol.
Éder não era ponteiro de fazer jogadas de fundo de campo e nem precisava. Quando chegava ao lado da grande área, pelo lado esquerdo, o passe era invariavelmente com precisão. Foi assim no Grêmio (RS), Atlético (MG), Palmeiras e Inter (SP), porque as passagens por Santos, Sport Recife, Botafogo (RJ), Cerro Porteño (Paraguai), Fenerbach (Turquia), União de Araras (SP), Monte Claro (MG), Atlético (PR) e Cruzeiro foram discretas.
Éder está radicado em Belo Horizonte e se transformou num empresário de posto de combustível. Sonha romper o seleto grupo de treinadores e espera transmitir à boleirada o muito que aprendeu ao longo da carreira. Como bom discípulo, absorve os segredos para se transformar num respeitável comandante de grupo. E sabe que para ser bem sucedido na carreira de treinador não basta só conhecer o “riscado”. Mais importante é saber como executá-lo.