domingo, 29 de outubro de 2023

Mané Garrincha, 90 anos

Se vivo fosse, o lendário ponteiro-direito Mané Garrincha completaria 90 anos neste 28 de outubro. O site oficial da CBF bem descreveu que 'se a obra de arte requer beleza e harmonia em sua expressão maior, o legado de Garrincha não deixa dúvidas: foi um dos gênios do futebol-arte'. Ele explodiu na Copa do Mundo na Suécia, em 1958, pois, de reserva do flamenguista Joel, entrou na terceira partida, contra a extinta União Soviética, e seguiu até a conquista do título.

Dizem que, em meio à comemoração, teria murmurado ao zagueiro Belini: “Eta torneinho curto e sem graça. Não tem nem segundo turno!”. E com os seus dribles também foi protagonista no bicampeonato mundial de 1962, com passagem no selecionado estendida até 1966, quando totalizou 60 jogos, 17 gols, 52 vitórias, sete empates e uma derrota.

Garrincha é tido como um dos dez melhores jogadores do planeta de todos os tempos. No Botafogo foram 614 jogos e 245 gols, nas décadas de 50 e 60. Foi quando debochava de seus marcadores ao chamá-los de João. Em situações que poderia progredir com a bola, insistia em mais um drible. Consequência disso, raivosos adversários deixaram marcas das travas de botinas nas pernas tortas dele, a esquerda 5cm mais curta que a direita.

Sem consciência dos malefícios de jogar com joelho lesionado, a queda de rendimento foi sintomática. E quando as pernas já não obedeciam ao cérebro, teimava entrar em campo e era anulado com facilidade. No final de carreira, Corinthians e Flamengo tentaram reabilitá-lo, porém sem sucesso.

Nos tempos áureos de Botafogo, Manoel Francisco dos Santos não se importava com o amanhã. Sem apego a bens materiais, gastava seu dinheiro sem dó. Sustentava pais, irmãos, parentes e torrava o resto com amigos em noitadas, bebedeiras e mulheres. Durante a farra, contava piadas e sorria à-toa. De vez em quando, abandonava treinos para caçar passarinhos e tomar cachaça com amigos de infância em Magé, interior do Rio de Janeiro, onde nasceu.

Após encerramento da carreira, ainda participou de jogos festivos de ex-atletas, da equipe Milionários. No final dos anos 70, refugiado no álcool, testemunhei um dos incontáveis pileques dele em balcão de bar, na cidade paulista de Pirassununga. Assim, foi destruindo a vida até a morte, em dia 20 de janeiro de 1983, aos 49 anos de idade, vítima de cirrose hepática.

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Goleiro Bruno cumpriu pena por assassinado da parceira

Quando se fala no então goleiro Bruno, raramente se lembra que teve carreira promissora no futebol, no início do século, tido como um dos responsáveis pela conquista do título brasileiro do Flamengo em 2009, num time que contava com essa formação: Bruno; Léo Moura, Ronaldo Angelim, David Braz e Juan; Willians, Aírton, Toró e Petkovic; Zé Roberto e Adriano.

Com 1,90m de altura, Bruno mostrava elasticidade para praticar defesas - algumas em cobranças de pênaltis - e coragem para saída da meta. Poucos lembram que entrou para a história do clube como quem marcou dois gols, como desconhecem que discutiu asperamente com Andrade, quando ele era técnico do Flamengo, durante rachão dos jogadores, ao citar que o comandante ainda não havia ganhado nada na função.

Também afirmou estar se lixando para o que a torcida do Flamengo pensava a seu respeito, quando foi criticado por falhas numa derrota por 3 a 2 para a Universidad de Chile, no Estádio do Maracanã, pela Libertadores, quando também se desentendeu com o meia Petkovic, de sua equipe. E a trajetória dele se desenvolvia no clube até que em 2010 foi acusado de ter planejado e participado do sequestro e assassinato da modela Eliza Samudio, de um relacionamento iniciado um ano antes, que resultou no nascimento do filho Bruno Samudio, só reconhecido por ele em 2012.

Aquela acusação resultou em encarceramento, reafirmado em 2013 ao ser julgado e condenado a 22 anos e três meses de prisão, cumprida inicialmente até 2017, quando conseguiu liminar do então ministro Marco Aurélio Mello, do STF. Na sequência, com o processo julgado por demais membros da instituição, ficou decidido pelo retorno dele à prisão, até que dois anos depois conseguiu progressão de pena para o regime semiaberto.

Ele ainda jogou no Rio Branco do Acre e Atlético Carioca, ficando o histórico de início da trajetória no Tombense em 2002, e ascensão rápida no futebol, com transferência ao Atlético Mineiro. Na sequência, a efêmera passagem dele pelo Corinthians, quando caiu em desgraça com o então treinador Emerson Leão, por ausência em treino. Aquele episódio precipitou a saída dele do clube, com transferência ao Flamengo.

Mineiro de Ribeirão das Neves, nascido em dezembro de 1984, Bruno Fernandes das Dores de Souza teve carreira marcada por desavenças e principalmente o assassinato de Eliza Samudio.

domingo, 15 de outubro de 2023

Búfalo Gil unia velocidade e força no Fluminense

 Que tal uma viagem no tempo há cerca de 50 anos? Aí você depara com o veloz, caixa torácica avantajada e dádiva para fazer gols como o ponteiro-direito Búfalo Gil, que marcou época no Fluminense durante o biênio 1975/76, batizado de 'Máquina Tricolor'. Foi um período em que homens da mídia colocavam apelidos em jogadores, como a citada colocação búfalo para caracterizar força.

 Quando aprovado em treino-peneira da cateria juvenil do Cruzeiro, no final da década de 60, o mineiro Gilberto Alves, nascido em Nova Lima (MG), projetou fazer carreira no futebol, mas, no acesso ao profissional, ouviu do grosseiro treinador Yusrick, já falecido, comunicado que soava como ofensa: “Aqui você não vai ter espaço. Trate de procurar outro time”.

 Emprestado ao Uberlândia, recomeçou a empreitada. Depois passou por Vila Nova (MG) e Comercial (MS), até chegada no Fluminense em 1973, quando defensores do lado esquerdo de quipes adversárias não conseguiam contê-lo nas rápidas e manjadas investidas. Lançamentos de 40 metros, geralmente feitos pelo então meia Rivellino, permitiam que fizesse a diagonal, explorasse o porte avantajado para ganhar jogadas de adversários na disputa corpo a corpo, e aí mostrar facidade para enfrentar goleiros. Essa característica originou o apelido de Búfalo.

 No segundo ano de Fluminense foi o quarto maior artilheiro do Campeonato Carioca, com 11 gols. Aí, no final da temporada de 1976, com histórico de 75 gols em 172 partidas, se desligou do clube, pois o revolucionário presidente Francisco Horta ousou fazer troca com o Botafogo (RJ), ao ceder, além de Gil, Paulo Cezar Caju e Rodrigues Neto, para receber o já falecido lateral-esquerdo Marinho Chagas. 

 No rival carioca, Gil ficou mais de três anos. As outras passagens foram no Corinthians, Real Murcia (ESP), Coritiba, America (RJ), São Cristóvão e Farense (POR) até 1983, quando migrou à função de treinador daquele clube. Depois treinou Botafogo (RJ), clubes médios brasileiros e outros de menor expressão como Marília e Portuguesa Santista.

 Agora, aos 72 anos de idade e radicado em Niterói (RJ), tem histórico de 49 jogos pela Seleção Brasileira, com 13 gols. O auge na equipe foi durante o Torneio Bicentenário dos EUA, em 1976. Na vitória da final contra a Itália, por 4 a 1, marcou dois gols. Também participou da Copa do Mundo de 1978. 

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Ronaldão, muito mais zagueiro do que lateral

Convenhamos que um atleta de 1,90m de altura, porte físico avantajado, 'casaria' mais como zagueiro do que lateral. Pois o canhoto Ronaldo atuou na ala-esquerda do São Paulo até 1991, quando o saudoso treinador Telê Santana teria que buscar alternativa para cobrir a lacuna deixada pelo zagueiro Ricardo Rocha, que havia se transferido ao Real Madrid, da Espanha.

E a solução prática foi o deslocamento do atleta, então identificado como Ronaldo, para a posição. Aí, em 1994, já no futebol japonês, vinculado ao Shimizu, ele foi chamado às pressas para integrar a Seleção Brasileira na Copa do Mundo dos EUA, com o corte do lesionado Ricardo Gomes. Como na equipe havia outro Ronaldo, o Fenômeno, ficou mais familiarizado identificá-lo como Ronaldão, e assim ficou. E no selecionado participou de 14 jogos de 1991 a 1995.

Embora tenha nascido em São Paulo, agora com 58 anos de idade, o zagueiro Ronaldo Rodrigues de Jesus começou a carreira no Rio Preto, interior paulista, em 1985. Já na temporada seguinte, foi contratado pelo São Paulo e habitualmente arrancava com a bola ao ataque, clube em que ficou até 1993, ao se transferir ao Japão, já como zagueiro. O regresso ao Brasil deu-se dois anos depois, com passagens por Flamengo, Santos, Coritiba, até o ingresso na Ponte Preta em 1998, onde ficou durante quatro anos.

Desses clubes, a passagem marcante foi no São Paulo, com dois títulos do Brasileirão, quatro do Paulistão, dois deles tanto na Libertadores da América como Mundial de Clubes nas temporadas de 1992/93, Recopa Sul-Americana de 1993/94 e a Super Copa da Libertadores de 1993. Isso abrangendo o histórico de 294 partidas, sem que marcasse um gol sequer.

No título do Mundial de Clubes de 1992, em partida disputada no Japão, o Barcelona era o tido como franco favorito pela imprensa mundial, mas com dois gols do meia Raí o time venceu por 2 a 1, no dia 13 de dezembro daquela temporada, contando com essa formação: Zetti; Vítor, Adílson, Ronaldão e Ronaldo Luís; Pintado, Toninho Cerezo (Dinho), Raí e Cafu; Palhinha e Müller.

Por onde passou, prevaleceu em Ronaldão aquele zagueiro decisivo no desarme a adversários, explorando a caixa torácica avantajada. No Flamengo, formou dupla de zaga com Júnior Baiano. E ao se aposentar, passou a ser gerente do futebol da Ponte Preta, cargo que ocupou até 2005.


segunda-feira, 2 de outubro de 2023

André Cruz, zagueiro técnico do século passado

Outrora, jovens atletas com potencial para servir selecionados de base do Brasil muitas vezes vestiam mais a camisa amarelinha do que propriamente de seu clube de origem. E um dos exemplos típicos foi André Cruz, quarto-zagueiro formado na categoria juvenil da Ponte Preta, porém com restrita participação no elenco principal durante a década de 80, pois frequentemente era requisitado para defender as seleções.

Nos cinco anos subsequentes a 1983, participou de torneios de Toulon, Montaigu e Cannes da França, e Qatar em 1986, além da Copa TDK do Japão. Em 1987, ele conquistou o título dos Jogos Pan-Americanos. E, na temporada seguinte, a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Seul, ano em que igualmente participou do Torneio Bicentenário da Austrália, até que em 1989 integrou a Seleção Brasileira principal na conquista da Copa América, disputada no Brasil.

André Cruz passou a ser referência na Seleção Brasileira porque se diferenciava dos tradicionais zagueiros rebatedores. Canhoto de 1,82m de altura, tinha o tempo de bola para antecipação nas jogadas, e desfilava nos gramados o estilo clássico de valorização em saída de bola e excelência em cobranças de faltas. Logo, dirigentes da Ponte Preta frequentemente recebiam sondagens de grandes clubes para contratá-lo, até que em 1987 o Flamengo ganhou a disputa com o Vasco, e na Gávea ele ficou durante dois anos, saindo para jogar no futebol europeu.

Inicialmente defendeu o Standard de Liège da Bélgica, para posterior passagens por Napoli e Torino da Itália, Paris Saint-Germain da França e Sporting de Portugal. O regresso ao Brasil deu-se após 12 anos, ao intercalar passagem pelo Inter (RS) nas duas vezes em que esteve vinculado ao Goiás, clube que encerrou a carreira em 2004, mesmo com a cobiça do Napoli para que retornasse ao futebol italiano.

E saiu de cena com histórico de 33 jogos pela Seleção Brasileira principal, em convocações durante dez anos a partir de 1988, sendo a Copa do Mundo da França o último estágio, quando foi chamado para ocupar o lugar do zagueiro Márcio Santos, que havia se lesionado.

Natural de Piracicaba, interior de São Paulo, 55 anos de idade completados no último 20 de setembro, André Alves da Cruz optou por fixar residência na vizinha cidade de Santa Bárbara d'Oeste, mas há décadas mantém uma escolinha de futebol em Campinas